Quinta-feira, 1 de Julho de 2010

 O Banco Privado Português causou sérios prejuízos aos seus depositantes. Em Abril foi decretada a sua falência. Muitos clientes, portugueses com algumas poupanças, perderam anos de trabalho que tinham depositado neste banco.

 

Nos dez anos de 1999 a 2008 o seu Presidente recebeu mais de doze milhões de euros de prémios e retribuições. Em 2008, ano em que este banco entrou em dificuldades e que solicitou ajuda ao Estado e ao Banco de Portugal, o seu Presidente recebeu três milhões de euros. Segundo o próprio beneficiário estas verbas já são liquidas, livres de impostos.

 

Esta é mais uma história do nosso capitalismo financeiro, revelador da ambição excessiva que contagiou algumas elites.

Num banco em risco de falência o seu presidente recebeu um montante absurdo, “prémio” pela sua gestão.

Somos um dos países mais desiguais de toda a Europa.

 

O Presidente da República veio no 25 de Abril condenar, mais uma vez, as remunerações excessivas de alguns gestores, nomeadamente quando estão à frente de empresas de capitais públicos.

Mas não nos bastam as palavras de condenação. São precisas politicas e medidas que combatam a actual situação.

Alguns defendem que estes salários se justificam porque se trata de gestores extraordinários, que se não forem devidamente remunerados irão trabalhar para o estrangeiro.

 

 Por não poderem receber o que merecem em Portugal, Ronaldo joga no Real Madrid e Mourinho treina o Inter. Portugal é um país de dez milhões de habitantes que não pode ter um campeonato tão competitivo como aquele que se verifica em países mais ricos, mais populosos e com maior mercado.

São os melhores do mundo e a sua saída para o estrangeiro não prejudica Portugal. Até nos beneficia e nos envaidece como povo.

António Guterres também tem um elevado cargo internacional e Durão Barroso é o “número um” a nível europeu.

Estes portugueses que trabalham no estrangeiro são uma excelente propaganda das nossas qualidades humanas e trarão para o nosso país grande parte dos ordenados que auferem.

 

Seria absurdo proibi-los de mostrar todo o seu génio fora de Portugal.

Se alguns dos gestores nas nossas empresas públicas, que estão a beneficiar de salários escandalosos, for trabalhar para outro país, porque lhes pagam mais, penso que lhes devemos desejar os maiores sucessos.

 

Se alguns se fartarem de trabalhar em empresas do Estado talvez optem por ter iniciativas empresariais próprias, onde criarão riqueza e novos ordenados.

Portugal bem precisa de livre iniciativa. O pior que lhes podemos fazer é satisfazer todos os seus desejos materiais, acomodando-os, impedindo-os de revelar todo o seu potencial.

Precisamos da sua inquietude para se tornarem mais criativos.

Nós queremos os melhores à frente dos destinos do País. Queremos escolher o melhor Presidente da República e o melhor Primeiro-ministro.

 

Mas todos sabemos que estes elevados cargos não devem ser remunerados com valores escandalosos. É um principio moral e ético de sociedade tolerar diferenças, premiar qualidades, mas também impedir excesso de desigualdades.

 

 É inadmissível que o mesmo povo, que deve escolher os melhores para as suas chefias de Estado e de Governo, venha depois permitir que simples gerentes de empresas participadas pelo Estado sejam remunerados com salários verdadeiramente pornográficos.

Está na altura de acabar com esta situação. Àqueles que detêm o poder temos de exigir medidas e não simples palavras bonitas.

 

(Publicado no Diário de Coimbra em 18.05.2010), Esquina do Tempo, 17.5.2010 , http://carlosvferreira.blogspot.com/2010/05/pornografia-salarial.html

 



Publicado por Xa2 às 00:08 | link do post | comentar

8 comentários:
De P a 1 de Julho de 2010 às 02:51
Não sei se tem alguma coisa a ver com o teor do artigo mas lembrei-me de uma senhora com um nome estrangeirado, que escreve no 31 da Armada, escandalizada com o "cheque dentista". Não querem lá ver! Pobres com assistência médica dentária!? Francamente! Com os impostos dela. Era isso que lhe doía, à tal senhora fina que escreve no 31 da Armada. Como é óbvio para quem faz psicoterapia por mor da morte do gato, o povo já é tão feio, tão sem maneiras que é um desperdício QUALQUER benesse que desvie recursos ao apoio à Arte contemporânea e outros aspectos da modernidade
Há uns 2/3 anos saiu na imprensa a média dos salários dos gestores europeus sendo que Portugal só era suplantado naquela média pelo Reino Unido. Presumo que seria para lá que os gestores portugueses iriam em massa se auferissem a média alemã de rendimentos entre gestores que era de uns míseros €180.000 anuais, contra os 270.000 auferidos na altura, em média, pelos gestores portugueses. Mas é compreensível se compararmos a relativa pobreza alemã e a pujança económica nacional.


De Zé das Esquinas o Lisboeta a 1 de Julho de 2010 às 09:34
E eu que ficava tão 'orgulhoso' se muitos destes nossos actuais gestores e políticos imigrassem. Fossem fazer pela vidinha lá fora... Mas porque é que não vão? Já é preciso ter azar!


De a a 1 de Julho de 2010 às 13:54
Eu até lhes pagava o bilhete (de autocarro) para o aeroporto...
e oferecia-lhes uma daquelas bandeirinhas de Portugal - TMN (verde-vermelha de um lado e azul com logo da empresa do outro)...


De . a 1 de Julho de 2010 às 12:09
PACTO PARA O EMPREGO?

O Governo e os parceiros sociais vão iniciar o debate sobre um pacto para o emprego. O contexto não é muito favorável a qualquer pacto, ao contrário das aparências.
De facto, o diálogo social nos últimos meses tem sido, em geral, um continuado monólogo.
O Governo, quando muito, faz que ouve os parceiros mas verdadeiramente não tem estado disponível para partilhar as decisões da política laboral e social ! Esta é a realidade!

Depois a posição da ministra do trabalho, ao contrário do que se possa pensar, não é muito confortável. Aliás, as últimas declarações de Helena André, nomeadamente ao Expresso da semana passada não ajudam muito a este diálogo social.

Impressiona a forma insensível como fala dos cortes no domínio social e nos custos do trabalho.
Tendo sido uma sindicalista a sua frieza espanta muita gente ! Mas não admira.
Ela no fundo pertence á burocracia de Bruxelas que vive num mundo distante dos mortais !
Ela vê números, directivas políticas, poupanças a fazer.
Diz que tem uma distância muito grande porque viveu no estrangeiro ! Ora é esse o problema.

Como boa governante do sistema e dos «mercados» não tem compaixão.
Compaixão? Isso não é para estadistas. E Helena André quer ter estofo de estadista. Quando aceitou ser ministra, opção legítima, sabia bem ao que vinha....
-por A.Brandão Guedes, Bestrabalho, 30.6.2010


De M. Tito de Morais a 1 de Julho de 2010 às 14:30
Jorge Mares :
Há pouco, num programa sobre Tito de Morais, sobre a sua vida e na recolha de testemunhos, dizia um dos seus filhos,
que o pai tinha recusado ser administrador de uma grande empresa de capitais publicos,
por saber que o ordenado mínimo nacional estaria muito aquém daquilo que iria usufruir e
isso afectava naturalmente a sua dignidade e a ética republicana pela qual se batia.
26/6 às 14:29


De Zé das Esquinas o Lisboeta a 2 de Julho de 2010 às 08:10
Também vi esse documentário e também recordo essa passagem.
Mas hoje senhores da política acham que o povo lhes deve alguma coisa.
E aqui no Luminária já referi várias vezes que dobrava a minha língua quando os visse após o desempenho das funções de estado, voltassem para os seus antigos empregos, para desempenhar as suas anteriores funções... Mas isso pelos vistos já não existe e mais, nem lhes passa pela cabeça. E porquê? Porque a política hoje não é uma honra nem para servir. É sim para se servirem dela para 'subir' na vida.


De Zé T. a 1 de Julho de 2010 às 17:51
Privado ou Público ?
ou
isto é um ASSALTO !! ?!!

( shiiuuuu ... ... é interno.... é uma 'festa' privada... é só para administradores e grandes accionistas... e já está em curso há bastante tempo ...)

Portugal Telecom... PT ... PT internacional ... PT portugal ... PT provincial ... PeTazinha ... ...puf ...! desapareceu ...

com privatizações, com 'golden share' e mais privatizações, com 'parcerias' e 'internacionalização', com OPA ou OpusD., com supra-sumos CEOs/ presidentes/ administradores ...

- empresa pública É 'nacional', 'regional' ou 'municipal' ...
- empresa privada é PRIVADA, sem assumir oportunismos regionalistas ou 'nacionalismos'...
porque $$$ DINHEIRO €€€ NÃO tem PÁTRIA !! assumam isso de uma vez por todas !!

pelo que, se os Povos, Comunidades, Nações, querem (e DEVEM ) participar activa e colectivamente na Economia (produtiva, 'estratégica', ...), devem ter as suas próprias empresas públicas, a SÉRIO (com a totalidade ou maioria de capital público), sejam bancos, seguradoras, indústrias, comunicações, transportes, estradas, imobiliário, ... escolas, hospitais, habitação, ...

e o ESTADO /governantes devem deixar de intrometer-se na gestão privada (através de 'golden shares' e de nomeações de 'boys') ...
concentrando-se 'apenas' em FAZER BEM aquilo que devem:
GERIR o que é PÚBLICO (empresas, serviços técnico-administrativos e património),
DEFENDER o interesse Público (consumidores, contribuintes e todos os cidadãos),
ASSEGURAR a igualdade de acesso, a livre concorrência e transparência em todas as decisões (escolhas e actos públicos),
assegurar a Justiça e a segurança Pública,
a língua portuguesa, a coesão e solidariedade de todos os Portugueses,
a REN -Reserva Ecológica Nacional, a RAN-Reserva Agrícola Nacional, ...
e deve REGULAR, inspecionar e fiscalizar 'os mercados' e empresas.

para tal, o ESTADO tem de ser FORTE
(e não mínimo, facilmente 'capturado'/ serviçal/ dominado pelo capital e oligarquias, castas ou seitas...),
o Estado tem de ter adequados meios técnicos-administrativos, financeiros e tributários, inspectivos e judiciais, legislativos e coercivos, ...


De . a 1 de Julho de 2010 às 17:53
ESTADO DEVE TER OS SEUS PRÓPRIOS BANCOS e EMPRESAS

«“Nos Estados Unidos entregámos à banca 700 mil milhões de dólares.
Se tivéssemos investido apenas uma fracção dessa quantia na criação de um novo banco teríamos financiado todos os empréstimos necessários”,
explicou Joseph Stiglitz em declarações ao jornal “Independent”.
Na realidade, adiantou, teria sido possível atingir esse objectivo com muito menos.


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