... também a 2 de Março 2013 (-por Miguel Cardina, Arrastão)
O blogue da organização da manifestação do próximo dia 2 de Março está a publicar textos de gente que apoia e nesse dia estará a protestar nas ruas deste país (e em algumas cidades do estrangeiro). Aqui fica o meu:
Ao contrário do que ouvimos dizer tantas vezes, acho que «isto vai lá com manifestações». Basta olharmos para o passado: quantas afrontas ao poder dominante foram precisas para que se vivesse num lugar menos injusto? Quantas palavras de ordem foram gritadas até que o direito à greve ou a um horário de trabalho menos penoso se pudesse tornar realidade? Quantos gestos de coragem foram necessários para que os escravos e as mulheres pudessem ser gente, para que povos pudessem ter direito à autodeterminação, para que caíssem ditadores e ditaduras?
Façamos um outro exercício: o que diremos a quem nos perguntar, num futuro qualquer, o que fizemos quando se cortava como nunca o rendimento de quem trabalha ou trabalhou uma vida? O que fizemos quando se preparava a privatização da saúde e se encolhia a escola pública? O que dissemos quando banqueiros que enriqueciam à conta do Estado e de todos nós nos mandavam aguentar à imagem de um sem-abrigo? O que propusemos quando a narrativa sobre a necessidade de «honrar os compromissos» mantinha a dívida impagável e servia para dar cabo do estado social? Diremos que a melhor forma de intervenção política em 2013 consistia em ficar em casa?
«Ir um dia para a rua não chega», dirão os cépticos. Talvez não chegue. Talvez o governo não caia a seguir a esta manifestação e sejam necessárias outras. Mas o golpe que lhe desferirmos depende da nossa força na rua. «Sair à rua não basta», dirão os sisudos. Talvez não baste. Talvez seja necessário fazer cruzar e interagir o plano dos protestos ao plano das propostas. Mas é preciso ter bem claro, a este respeito, que as boas propostas só se materializarão se tiverem a suportá-las a força do protesto.
É este o segredo que será revelado a 2 de Março: o povo é quem mais ordena. Vítor Gaspar demonstrou-o de forma cristalina quando, na sequência da manifestação de 15 de Setembro, elogiou com cinismo o «melhor povo do mundo». Ele sabia que a rua faz qualquer governo tremer e que é sempre má política afrontar um rio de gente erguida. Sabia, no fundo, que isto pode ir lá com manifestações. E nisso tem razão.
De .o q. + preocupa é o SiLÊNCIO dos Bons. a 18 de Fevereiro de 2013 às 09:11
> Os silêncios
Um dia bateram-me à porta e anunciaram-me que o governo tinha decidido
cortar-me meio subsídio de Natal. Apesar de inconstitucional, compreendi o
sacrifício que o Governo me pedia.
Noutro dia bateram à porta do meu pai e anunciaram-lhe que iam cortar meia
pensão do Natal. Apesar de considerar que era um roubo, ainda admiti, porque
o pais estava em estado de emergência.
Depois bateram-me à porta e anunciaram que me iam tirar dois meses de
salário e dois meses de pensão ao meu pai. Depois da estupefacção,
resignação.
A 7 de Setembro, bateram-me à porta para me anunciar que tiravam 7% do
salário para dar 5,75% ao patrão e ficavam com os trocos, em principio para
os cofres da Segurança Social.
Desta vez fiquei indignado. Achei que estava a ser roubado e que estavam a
transformar os patrões em receptadores do dinheiro roubado.
Em reacção, corri para a rua para protestar.
Bateram-me mais uma vez à porta e informaram-me de que o ministro das
finanças ia reescalonar as taxas de IRS, de modo a torna-lo mais
progressivo.
Imaginando que iam poupar os rendimentos mais baixos e taxar fortemente os
mais altos, pensei que o Governo, finalmente, voltava ao trilho da lei.
Mas para surpresa minha, voltaram a bater-me à porta para me ameaçarem com
aumentos brutais no IMI. A minha indignação transformou-se em ira e
juntei-me ao movimento nacional de resistentes ao pagamento do IMI.
Ainda mal refeito do choque do IMI, bateram-me novamente à porta para me
mostrarem nos jornais, em grandes parangonas e cinco colunas, os novos
escalões de IRS. Afinal aumentaram as taxas dos rendimentos mais baixos,
menos os dos mais altos e não criaram nenhum escalão para os mais ricos. E a
progressividade do rei dos impostos diminuiu. A minha raiva subiu de tom e
resolvi não mais voltar a votar estou preparado para qualquer acção
revolucionária que apareça. Ao fim e ao cabo eu o meu pai e a minha família
já não temos nada a perder.
- (J. Nunes de Almeida, Ericeira)
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> Maiakovski, poeta russo escreveu, no início do século XX :
Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E na oportunidade
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.
- Maiakovski (1893-1930)
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> Depois Bertold Brecht escreveu:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
-Bertold Brecht (1898-1956)
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> Em 1933 Martin Niemöller criou o seguinte poema:
Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei .
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar.
-Martin Niemöller,(1892-1984) símbolo da resistência aos nazis.
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> Em 2007 Cláudio Humberto presenteou-nos assim:
Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito; Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho.
- Cláudio Humberto, em 09 Fevereiro de 2007
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> Também Martin Luther King (1929.1968):
O que mais me preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética.
o que mais me preocupa é o silêncio dos bons !.
De Bloqueio da economia e Alternativas. a 18 de Fevereiro de 2013 às 16:23
Sic Com Lusa, 18-02-2013]
O Bloco de Esquerda apresentou hoje quatro projetos de resolução para dinamizar a economia.
Baixar o IVA da eletricidade e adaptar a caixa Geral de Depósitos aos objetivos que se pretendem com a criação do Banco de Fomento.
A líder do BE apresentou um projeto de lei que impõe "uma taxa travão" no crédito a conceder às empresas, para que esse financiamento "nunca possa ser em 20% superior à taxa de juro praticada no resto da Zona Euro".
"As pequenas e médias empresas em Portugal representam 75% do emprego e estão neste momento a financiar-se na banca em condições piores do que as empresas gregas", advertiu.
Catarina Martins defendeu também que os bancos recapitalizados pelos fundos públicos devem ser obrigados a utilizar, "pelo menos, 50% desses fundos no financiamento de empresas não financeiras, da economia real, com uma taxa de juro que não ultrapasse a média da Zona Euro".
Para a Caixa Geral de Depósitos, o BE propõe também um papel mais ativo no financiamento das empresas:
O banco público usaria "o remanescente dos fundos de recapitalização dos bancos, mais de seis mil milhões de euros, para financiar empresas não financeiras".
Os bloquistas consideram que a ideia de criar um banco de fomento não faz sentido quando já existe "um banco público, que deve ser o primeiro instrumento de" dinamização da economia portuguesa.
A coordenadora do BE sublinhou que o tecido empresarial português não pode estar à espera de "um banco de fomento que não existe" e que "fragilizaria"o papel da Caixa, quando "todos os dias fecham 24 empresas".
A dirigente bloquista referiu ainda que das "várias reuniões com empresas e sindicatos" que tem tido, o custo da energia é um dos aspetos mais criticados, "é um dos mais elevados na Europa", e que mais pesa nos orçamentos.
"Uma empresa têxtil com 60 trabalhadores gasta o triplo em energia do que gasta com salários e o Governo que não tem feito nada a este propósito", apontou.
Neste contexto, a líder do BE defendeu que o IVA da energia (gás e luz) "deve baixar para a taxa mínima (6%), tanto para empresas e famílias, assim como o IVA na restauração deve voltar aos 13%.
Catarina Martins apontou ainda o aumento do salário mínimo como uma das medidas prioritárias para o BE e que pode levar a uma dinamização imediata do mercado interna.
"Aumentar os rendimentos de quem menos ganha é uma garantia de aumento da procura interna", sustentou.
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João Ferreira do Amaral vê "bloqueio total" da economia
"Um aspeto muito importante que tem sido descurado são as opções claras no investimento público".
"É um erro brutal", diz o economist
[Dinheiro Vivo/Lusa, 18-02-2013]
O economista João Ferreira do Amaral alertou hoje que Portugal pode caminhar para uma situação de bloqueio total se prosseguir com os programas que está a seguir, sem tornar a sua estrutura produtiva mais competitiva e amiga do emprego.
"Nós não podemos imaginar que estes programas que estamos a prosseguir vão dar resultado. Pelo contrário, vamos por uma situação de ausência de saídas, de um bloqueio total", considerou o economista na palestra inaugural da conferência "Economia Portuguesa: Propostas com Futuro", que hoje decorre na Fundação Calouste Gulbenkian.
"Se rapidamente nós não arrepiarmos caminho e se não começarmos a atacar o verdadeiro problema que temos, que é a discussão da estrutura produtiva, para a tornarmos mais competitiva, mas ao mesmo tempo mais amiga do emprego também, podemos ter a certeza que é a própria sobrevivência do país, que, tal como o conhecemos, pode estar em causa", acrescentou.
Ferreira do Amaral apontou como possíveis soluções para dinamizar a economia do país a criação de incentivos fiscais e incentivos ao investimento "seletivos e criteriosos".
Defendeu que é essencial que o sistema bancário português volte a conceder crédito às empresas, o que "poderia ser feito seja através de uma instituição financeira especificamente destinada a apoiar através do crédito ao investimento".
"Mas é essencial que esse apoio ao crédito seja seletivo para aqueles setores que permitam ou substituir as importações ou aumentar as exportações", considerou, salientando ainda que "o facto de as empres ...
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