1 comentário:
De .Canadá: Democracia multi-étnica a 30 de Novembro de 2015 às 11:09
Carta do Canadá: Regresso à normalidade

29/11/2015 por fleitao , Aventar

...
Vivo há muitos anos no Canadá, um país de democracia parlamentar. Por decisão referendada, a chefe do estado canadiano é a Rainha de Inglaterra. O Canadá tem 10 províncias e 3 territórios, vai do Atlântico ao Pacífico, tem ao norte o mar Árctico. Cada província tem o seu parlamento e este elege o governo local. Na capital federal, em Otava, a Rainha está representada pelo Governador Geral, que tem guarda de honra como a soberana. É ali que está o parlamento federal, eleito por todo o país, donde sai o governo federal. Nas capitais provinciais a representação é garantida pelo Governador-Adjunto. Quando os imigrantes, depois duns anos de residência e de provas dadas, requerem a cidadania canadiana, juram respeito ao país e à Rainha. As pessoas com mérito para o cargo, tenham a origem, a religião e a raça que tiverem, podem ser escolhidas.Nos anos que levo deste país, vi como governadores gerais uma senhora francófona, um ucraniano, uma senhora chinesa e outra negra do Haiti. Todos eles cumpriram com brio os seus mandatos, mas devo sublinhar que as cidadãs de Hong Kong e do Haiti, ambas jornalistas da TV estadual, respectivamente Adrienne Clarckson e Michaelle Jean, foram brilhantes e são tidas com respeito e afecto pela população. No Ontário, tivemos um governador-adjunto negro, Sir Lincoln Alexander, um verdadeiro ícone de elegância e popularidade. É comum termos ministros e altos funcionários públicos negros, mestiços, indianos, chineses, índios. O mesmo se diga do jornalismo, audiovisual e escrito, das equipas hospitalares. Em todos os sectores da vida canadiana, há pessoas de todas as raças e credos. Viver no respeito pela diversidade, faz parte do ADN do Canadá. Ninguém refere a raça, a religião, a origem ou a orientação sexual dos outros. Somos todos canadianos, temos todos os mesmos deveres e direitos perante a lei, prezamos a paz e a harmonia.

De passagem refiro que, em todos os níveis da vida pública canadiana, temos servidores com deficiências físicas que executam as suas tarefas como qualquer pessoa escorreita. Por exemplo, no Ontário já tivemos um governador-adjunto paraplégico, que vivia na sua cadeira de rodas. Era um jornalista muito simpático e bem disposto, janotíssimo nas cerimónias oficiais. A maior prova de respeito do estado canadiano pelas pessoas atingidas por uma deficiência, é que há em todo o lado rampas, elevadores e sinais auditivos nas passadeiras das ruas. Eles não são uma excepção, têm a sua vida normal como cada um de nós.
...
...
Para compreenderem o orgulho e a alegria que senti ao ver Francisca van Dunen jurando o seu compromisso de honra como Ministra da Justiça do governo liderado por António Costa, vou explicar-vos algumas coisas. E jurou de cabeça levantada, a olhar de frente, em voz forte e serena.
...
Depois, nasci e cresci em Angola. Vi injustiças que desejaria nunca ter visto e que foram decisivas nas minhas opções cívicas. Felizmente, a minha família não era racista. Fiz a escola primária no ensino público, lado a lado com meninos negros e mulatos. Os meus companheiros predilectos eram a negra Angelina e o mulato Aristófanes. Frequentavam a minha casa e partilhávamos merendas. Em Portugal, tanto no Colégio de Tomar como na Universidade, nunca deixei de ter esta postura. Por isso, mesmo longe, sempre segui, com apreço e orgulho, a carreira de duas magistradas da minha terra: Francisca van Dunem, de Luanda, e Maria José Morgado, de Malanje (a cidade onde nasci).

Tenho de confessar a minha perplexidade e desconforto por não ver em altos cargos da vida portuguesa muitos cidadãos doutras raças. Pergunto-me, em sobressalto, se 40 anos não chegaram para integrar, educar e valorizar aqueles que, por decisão própria, se abrigaram em terra portuguesa. Ou mais claramente, que espécie de integração foi essa? Provavelmente, a mesma, eivada de incompetência e desleixo, que dá origem ao abandono escolar, à mão de obra indiferenciada a quem mandam, desenvergonhadamente, emigrar.

Podem perceber agora a minha alegria por termos como Ministra da Justiça a Francisca van Dunem, uma secretária de estado cega e um secretário de estado de ascendência cigana. E, também, por a Cultura merecer ministério e haver pr


Comentar post