Até há quatro anos a conversa comum entre os cidadãos portugueses era feita, com inteira resignação, no sentido de que os senhores poderosos praticavam actos ilegais e não eram punidos, fugiam aos impostos e nada lhes acontecia, gozavam os privilégios e os benefícios que não estavam inscritos em lei nenhuma e que constituíam uma reserva para uso próprio.
Em certa medida, estes poderosos eram uma espécie de senhores feudais a quem era ainda reservada, na boa lógica de feudalismo, o direito de colocarem sob a sua protecção familiares ou amigos que aproveitavam das vantagens do senhor. Viveram-se muitos anos neste regime onde a ‘cunha’ era uma chave poderosa para ultrapassar dificuldades, para silenciar situações pouco claras, para atenuar os efeitos perniciosos desta ou daquela acção.
Os senhores poderosos constituíam uma espécie de casta única, quase intocável, que se passeava pelo país exibindo as suas riquezas e que muito raramente caía nas teias da lei. A maioria da população assistia passivamente sem protesto nem dor explícita a este tratamento desigual e tudo quanto aspiravam era ficar debaixo do manto protector do senhor. Nunca a revolta e a luta por garantir a igualdade dos cidadãos perante a lei.
Pois bem, por muito que distorçam a verdade, é um facto incontroverso que só no governo de Sócrates se dá uma reviravolta neste sistema iníquo, começando por um conjunto de medidas feitas lei, que passaram a atingir governantes, deputados e outros agentes de serviço público que se viram despojados desses privilégios. Por acção directa ou indirecta, o efeito de repor algum equilíbrio nesse sistema alastrou-se e foi atingindo outras áreas. Os senhores poderosos começaram então a ser incomodados pelo sistema de justiça sem nenhum gesto proteccionista do governo. Sócrates está hoje a pagar pela sua determinação em romper com o injusto e desequilibrado sistema feudal que então vigorava.
A justiça nunca levantou tantas investigações como nos últimos quatro anos. Ex-ministros, ex-secretários de estado, deputados, banqueiros, grandes empresários, conselheiros de estado, grandes produtores foram arguidos em muitos processos, alguns passaram por prisão preventiva. Outros foram condenados e presos. Por roubo, por corrupção, por tráfico de influências, por burla, por negócios ilícitos, etc. etc. Os senhores poderosos já não têm direitos especiais. ‘O Feudalismo do Século XX’ parece ter acabado. [Correio da Manhã, Emídio Rangel]
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