O eco algo difuso da divulgação das listas de candidatos do PS à Assembleia da República está a esbater-se. O complexo político-mediático apenas se agitou ligeiramente com os nomes de dois dos três independentes convidados a participar nas listas. Hoje, pode afirmar-se já que elas, no essencial, se limitaram a seguir uma rotina previsível. Repetiram-se quase a papel químico episódios anteriores. Não se conseguiu transformá-las globalmente numa novidade que pudesse dar um contributo próprio para impulsionar o PS rumo a uma vitória que se prevê difícil.
Uma pesquisa aturada descobrirá duas dezenas de candidatos realmente qualificados, que suportariam perfeitamente um critério de escolha realmente meritocrático. Mas não são suficientes para desfazerem o tom cinzento pálido transmitido pelo conjunto das listas.
Foram poucas as Federações distritais em que se enfrentaram duas candidaturas, nos Congressos mais recentes. Mas, se não estou em erro, não há candidatos elegíveis de nenhuma das (poucas) minorias distritais.
No plano nacional, a única minoria, que se bateu no último Congresso, com base em pontos de vista assumidamente distintos dos adoptados pelos apoiantes de Sócrates, tendo apresentado moção alternativa à oficial e lista própria para a Comissão Nacional, foi a Corrente de Opinião Esquerda Socialista, constituída a partir da moção “Mudar para mudar”. Mas, apesar disso, nenhum dos seus elementos foi integrado em qualquer lugar de qualquer das listas de candidatos à Assembleia da República. E, no entanto, tem 11 % dos membros da Comissão Política Nacional e da Comissão Nacional.
Que eu saiba, uma outra corrente de opinião interna do PS, polarizada em torno do Manuel Alegre, também não tem qualquer dos seus membros integrados nas listas do PS. O pluralismo de Sócrates ficou-se, deste modo, como aliás expressamente admitiu na CN, pela inclusão nas listas de camaradas que não o apoiaram em 2004, quando concorreu contra Manuel Alegre e João Soares. Ou seja, alguns dos que, não o tendo apoiado em 2004, o apoiam agora. Ou, pelo menos, não o desapoiam o suficiente para se terem recusado a alinhar com a sua moção e para não se terem acolhido nas suas listas.
Ou seja, Sócrates negociou ostensivamente com a corrente de opinião liderada pelo Manuel Alegre, mas não chegou a um acordo que permitisse a sua inclusão nas listas.
Ignorou a única corrente de opinião que se lhe contrapôs no Congresso Nacional de Fevereiro passado, respeitando as regras estatutariamente consagradas.
Inventou um pluralismo “light”, traduzido na imensa bondade de não discriminar negativamente, entre os seus actuais apoiantes, aqueles que há cinco anos estiveram contra ele. É um pluralismo mutio ligeiro, que encoraja as conspirações de corredor, que se agacha perante as manifestações de força politicamente relevantes, mas que menospreza os militantes que discordam dele dentro do Partido, com respeito pelas regras estatutárias e com total lealdade política.
No que diz respeito aos membros da corrente de opinião “Esquerda Socialista”, se bem os conheço, não se sentiram atingidos pessoalmente pelo esquecimento. De um modo geral, têm as suas profissões e vêem o combate político como uma luta cívica a que não devem fugir e não como uma carreira de que devem cuidar. Mas ficaram desiludidos, na medida em que o Partido preferiu acolher-se às rotinas aparelhísticas habituais, temperadas por uma ou outra esforçada novidade, do que ousar transformar o processo de escolha das listas num acontecimento qualificante da política e prestigiante para a democracia.
O PS renunciou assim ao impulso positivo que lhe podia ter sido transmitido, mesmo no plano do apoio eleitoral, por um processo de formação das listas que seguisse a via das eleições primárias. E, excluídas estas, nem sequer enveredou pela modesta aventura de ancorar as suas escolhas numa ostensiva meritocracia que valorizasse os múltiplos vectores relevantes.
Por tudo isso, pela parte que me toca, na reunião da Comissão Política Nacional que votou as listas de candidatos, abstive-me quanto a todas elas. Abstive-me, depois de ter avisado, expressamente, que não estava a exprimir um juízo depreciativo sobre a pessoa dos candidatos, muitos dos quais nem conhecia. Estava sim a recusar o método de escolha, por julagar que o mais adequado é o que implica o recurso a eleições primárias, para serem designados os candidatos do PS às diversas eleições. Não me pronunciei, por isso, sobre nenhuma das listas em concreto.
No entanto, participara, embora sem direito a voto, dois dias antes, na reunião da Comissão Política da Federação de Coimbra, que escolheu os candidatos do respectivo distrito, tendo feito uma intervenção a propósito da lista apresentada. Entre outras coisas, ressalvando qualquer lapso de memória, admitindo que a lista correspondia a uma das lógicas possíveis, sustentei que a própria admissibilidade de muitas lógicas e de diversas opiniões tornava preferível a realização das referidas primárias. Considerei que, quanto à anunciada cabeça de lista, se progredira relativamente ao que ocorrera há quatro anos; e, sem conseguir identificar com precisão as suas limitações, ela me parecia globalmente uma lista fraca, principalmente, tendo em conta que tem que concorrer com outras, cujos trunfos é imprudente menosprezar.
Concluí que seria desejável que o PS de Coimbra viesse a ser capaz de criar condições, através de uma renovação do trabalho político, para que, daqui a quatro anos, pudéssemos celebrar com naturalidade a escolha de um militante socialista do distrito de Coimbra como cabeça de lista, em consequência da afirmação do seu mérito e da ostensiva excelência das suas qualidades.
Numa palavra, se é certo que a modéstia da imagem que o conjunto das listas projecta, à escala nacional, não vai decerto fazer, por si só, com que percamos as eleições legislativas, a verdade é que se desperdiçou uma oportunidade única de buscar na inovação, quanto às listas e à sua feitura, um poderoso impulso para que as vencêssemos. [O Grande Zoo, Rui Namorado]
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