Segunda-feira, 19 de Outubro de 2009

Religiões para que vos quero

José Saramago até pode não colher razão nas suas predicas criticas ao “livro sagrado” dos católicos e contra as religiões que, frequentemente, demasiadas vezes, ao longo da historia dos povos e dos tempos idos se colocaram mais ao lado dos poderosos que dos oprimidos e necessitados.

Religiões, elas próprias, organizações de poderes estabelecidos na sociedade, promotoras ou alimentadoras de lutas fratricidas envolvendo crentes, ateus, agnósticos e gente sem pensamento nem opinião na matéria, quando não, acusados sem razão nem sentido a não ser o da tentativa hegemónica do poder da força em vez da razão.

Os altares dos deuses em que são ofertados sacrifícios dos fracos para glória dos poderosos variam conforme os tempos e as circunstancias.

Segundo a Liturgia Geral e os Santos Lugares os altares dividem-se em vários tipos e naturezas. Apenas alguns exemplos

Há no rito romano, liturgicamente, quanto à estabilidade, três espécies de altares: fixos, quase-fixos e portáteis.

1. O altar fixo (C. P. 786) deve ser “sagrado pelo bispo”, feito de uma mesa de pedra inteiriça, unida com cal ou cimento à sua base também de pedra, ou muro de alvenaria, aderente ao pavimento ou parede. Em todo o caso as colunas, que sustentam a mesa, devem ser de pedra natural. O altar fixo (cân. 1201) deve ser dedicado a um mistério ou a um santo, não pode ser dedicado a um bem aventurado, sem indulto papal.

2. O altar quase fixo é “altar semelhante ao fixo, construído de madeira ou de outra matéria, aderente a parede, a uma coluna, ou ao pavimento, tendo embutida no meio da mesa uma pedra de ara igualmente sagrada. Liturgicamente, o altar quase fixo não é altar fixo, mas só altar portátil. Mas pelo direito canónico se distingue deste e se assemelha ao altar fixo: a) a erecção do altar quase fixo requer a licença do bispo; b) pode e deveria ter um título como o altar fixo (cân. 1201) ; c) este título só pode ser mudado com licença do bispo; d) pode ter anexo o privilegiam altaris e uma fundação.

3. O altar portátil ou pedra de ara (altare portatile, petra sacra, ara) é formado de uma pedra natural, inteiriça, bastante grande para que nela se possam colocar a hóstia e o cálix. (Cân. 1198, § 3.)

Os altares portáteis são mencionados pela primeira vez no princípio do século VI, são porém mais antigos, porquanto se fala deles como de objeto conhecido. Era formado de madeira ou pedra, sem relíquias, às vezes de tão pouca extensão que só parte pequena da hóstia e do cálix nele cabia.

Quanto ao uso, o altar também assume diferentes designações conforme a hierarquia da importancia assim se poderá chamar diferentemente:

a) altar-mor (altare maius, principale), ou lateral (altare minus, laterale);

b) altar paroquial (altare parochiale), do povo (altare laicorum) em oposição ao altar no coro dos monges ou dos cónegos.

Há ainda altares privilegiados uns em relação aos outros, por exemplo:

1) Um em que se pode dizer certa missa votiva em dias proibidos pelas rubricas, ( p. ex., o de uma qualquer de Nossa Senhora num santuário a ela dedicado);

2) Um que o celebrante pelo santo sacrifício pode aplicar uma indulgência plenária a um defunto. Por altar privilegiado simplesmente sempre se entende o privilegiado em favor das almas.

O C. B. (ciborium, umbraculum, Braun) declara que o altar-mor das igrejas catedrais e paroquiais é altar privilegiado todos os dias e para sempre, contanto que não haja outro. Este altar tenha a inscrição: Altare privilegiatum quotidianum perpetuum. (Cân. 918, § 1; C. B. n. 250.)

Antigamente havia em cada igreja um só altar. Mas já Constantino erigiu, dizem, na igreja de Latrão, sete altares. Na idade média aumentou o número dos altares, de sorte que, na catedral de Magdeburgo, p. ex., se contavam 48 altares. Pio VI defendia a pluralidade dos altares na mesma igreja contra o sínodo de Pistóia (Denzinger, n° 1531), que desejava só um altar em cada casa de Deus, estigmatizando esta tentativa como “temerária e injuriosa” para a Igreja.

Assim sendo, é pelo menos, de colocar a hipótese de que isto das religiões, como tudo o mais, andou mais ao sabor da vontade dos homens do que da necessidade de um qualquer deus do universo, vá-se lá saber porquê!


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Publicado por Zurc às 16:22 | link do post | comentar

2 comentários:
De '' semi-panteísta '' a 20 de Outubro de 2009 às 15:41
interessante o post e a abordagem agnóstica / ateísta de Saramago ...

porém, entre 'gente com muitas debilidades' e cautelosa (...) também são justificáveis princípios como :

«Yo no creio en las bruxas, pero que las hai, hai !»...

ou como fazem alguns orientais:
«se essa (imagem de) deusa / NªSrª (ou santo...) é assim tão importante e milagrosa, vamos lá acrescentá-la ao nosso altar caseiro de deuses e santos...» - o que importa é estar de bem com todos, para ver se obtemos o que precisamos/ pretendemos.



De Liberdade de expressão sem violência a 23 de Outubro de 2009 às 09:58

Com Voltaire
por mais que se discorde de uma ideia livremente expressa, um cidadão de bem estará disposto a dar a vida para defender a liberdade, para que essa opinião se exprima,

mas nunca uma ameaça proto-fascista/estalinista, do tipo desta que este deputado profere, que começa a fazer alguma carreira em Portugal, contra quem tem a coragem de dizer o que pensa, sem nunca produzir um incitamento à violência.

Será que o Sr. Deputado não quer renunciar à cidadania portuguesa?
João Pedro Bernardo, 2009-10-23

Creio que a tomada de posição do Sr. Deputado do PE Mário David é muito mais grave para imagem de Portugal do que a opinião de José Saramago sobre a Bíblia.

Afinal de contas, o Sr. Deputado faz parte de uma instituição fundamental da democracia e a democracia implica liberdade de opinião e da sua expressão, mesmo que essa opinião possa para alguns tocar a blasfémia, ou atacar a sua fé religiosa.

Não se pode condenar os ataques feitos aos autores das caricaturas de Maomé e o mesmo tempo, defender que um cidadão deve deixar de ser português porque tem uma opinião muito negativa sobre a Bíblia.

Creio que este Sr. Deputado talvez gostasse de suspender a democracia por uns 6 meses para tratar de pôr na ordem os desviados portugueses que não partilham das aparentes convicções religiosas dominantes.


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