Quinta-feira, 29 de Outubro de 2009

As cotações de corredor dos funcionários públicos

Um dos aspectos mais interessantes na gestão dos serviços de uma Administração Pública, que foi partidarizada ao longo de anos, é o facto de os funcionários de muitos serviços já não valerem pela sua competência e honestidade, mas por uma cotação de corredor, que corresponde ao poder que se pensa que um funcionário tem em função das suas amizades com gente do poder.

Já quando entrei para o Estado, vão mais de vinte anos conheci funcionários sem qualquer qualificação que nas cotações de corredor estavam quase ao nível dos directores-gerais.

Como se ganha esta cotação de corredor?

Antes de mais pelos laços com o poder, basta ser militante do PS ou do PSD para se subir na cotação, se for militante do partido do poder sobe-se, mas se for militante do partido da oposição é-se respeitado porque com a alternância convém evitar militâncias.

A partir daqui há todo um conjunto de parâmetros que podem valorizar um funcionário.

Se o funcionário for conhecido como sendo amigo de um alto dirigente do PS ou do PSD a sua cotação sobe exponencialmente, pouco importa se o dirigente for do partido da oposição porque a partir de certo nível as inimizades são apenas para consumo público.

Se um funcionário se encontra neste grupo nem precisa de meter a cunha para alcançar os cargos que pretender, com a sua alta cotação é tratado como se fosse portador de uma espécie de passe social válido para ascender a todo e qualquer cargo ou para todas as promoções.

Depois há os conhecidos, basta ter-se a fama de se ter um namorico com algum figurão ou constar que se toma a bica do Sábado com alguém importante da praça para se subir na cotação, basta ser primo do primo ou pouco mais.

Com uma Administração Pública onde nos lugares de direcção pontuam muitos cobardes e lambe-botas esta situação leva a quês haja uma total inversão de valores, a competência é desvalorizada em favor do amiguismo, a honestidade dá lugar a um sistema de cunhas.

Não bastam os “simplexes” para modernizar o Estado, não basta melhorar na aparência para manter uma máquina podre geradora de maus valores, onde muito inútil se torna um pequeno déspota e ainda é pago com dinheiro dos contribuintes. [O Jumento]



Publicado por Xa2 às 07:50 | link do post | comentar

7 comentários:
De ''e vivam os rebentos para-quedistas'' a 29 de Outubro de 2009 às 09:08
Desta vez o jumento tocou-me fundo na alma.
Ainda queria acrescentar mais uma acha para a lareira...

Um funcionário só é apreciado se puder render alguma coisa lá fora para os que estão dentro (e por cima).
Intrigante?
Eu exemplifico:
- se estiver ligado a um qualquer político influente, ou empresário (que até pode ser um gabinete de contabilidade ou escritório de advogados) que possa encaixar o chefe quando este se reformar ou arranjar um lugar para os rebentos do mesmo ... então pode sempre contar com uma nomeaçãozita que o chefe há-de promover ou recomendar que lhe façam.

Agora, se não tem nada disso ou não usa esses trunfos ... então bem pode esperar sentado, mas ao pé do frigorífico que é para não morrer de fome...

Ressabiado eu?
Não ... já fiz um pouco de tudo na vida e, só de função pública foram 40 anos ...
Ah, mas isto ainda vai ficar melhor daqui para a frente, podem crer...
O Hodaquif | 10.23.09 - 10:01 pm | #


De Zé T. a 29 de Outubro de 2009 às 09:14
sobre o SIADAP, Carreiras, Vínculos, …na Administração Pública:

O anterior sistema de avaliação na Administração Pública… era muito mais simples, democrático e responsabilizador/ motivador (se o dirigente o quisesse assumir), permitia a existência de uma verdadeira 'comissão paritária', e uma perspectiva de ‘carreira’ ...

Para além da ‘burrocrática’ trabalheira, o SIADAP é totalmente discriminatório, é mal feito, aldrabado, imposto, feito a meio do ano, sem existir directivas claras do planeamento e objectivos das direcções e serviços, ... sem organização racional e gestão eficiente.

Pior, a legislação laboral aprovada pelo PS (com a capitulação total da UGT e as ‘palmas’ das confederações patronais) - em conjugação com a da 'mobilidade especial', com o novo estatuto de carreiras e com o (não-)funcionamento da Justiça -, permite todos os abusos e prepotências sobre os (ex-) funcionários públicos ... e a promoção da subserviência, do ‘amiguismo’ e do nepotismo.

E tal vai-se verificar e acentuar logo após as eleições (até lá, para não assustar os trabalhadores/ eleitores, houve algum cuidado para não usar em pleno os mecanismos legais). Mas já dizem por aí que os 'cortes' e despedimentos na Administração Pública são para continuar e aumentar.

E se a direita (assumida) ganhar, acabam-se os ‘paninhos quentes’ (subsídios, formação, …) e ainda vai ser pior para os trabalhadores.
Malditos neo-liberais e neo-esclavagistas !!

Noutros tempos havia motivo para uma revolução, agora, razões igualmente gravosas, são motivo de uso excessivo de comprimidos e de suicídio dos trabalhadores …
- ‘quo vadis’ militância e sindicalismo ?!

25.6.2009


De . E o burro sou eu ...?! a 29 de Outubro de 2009 às 09:28
De: = na generalidade da Admin.Púb.:
«...
sucessivas reformas ... para iludir a má gestão.

... resultado do empenho de meia dúzia de quadros e de muitos funcionários anónimos ..., foram dados louvores a quem nada fez, promoveram-se incompetentes à sombra do trabalho alheio e propagou-se a mentira do sucesso

... nada se fez para combater a corrupção ou os esquemas de influências de escritórios ... comandados por barões universitários, antigos assessores ...

o PRACE ou qualquer outra reestruturação passou ao lado,
o SIMPLEX não chegou a domínios onde a actuação roça o vergonhoso ...
o SIADAP apenas trouxe confusão,
a reestruturação das carreiras está uma m....da.
dirigentes colocados... uma boa parte deles incompetentes, foram mantidos, promovidos e até louvados

o problema (na sociedade e na Justiça) ... não se situa na (falta de) leis mas sim
(no excesso de leis, sua complexidade e lacunas, nas interpretações e processos dilatórios, e ) numa organização arcaica que não as consegue aplicar com eficácia, ...

disfarçando essa ineficácia com um aumento brutal da carga fiscal sobre a classe média e os mais pobres (que trabalham por conta de outrém...), os únicos que declaram tudo o que ganham, pagam as suas dívidas ao fisco e ainda assim são de vez em quando massacrados por vagas de multas

Administração precisa é de melhorar a sua gestão, acabar com o poder de lobbies que mandam mais nos serviços do que os ministros

o novo ... desconhece a máquina e apostará na estabilidade para não perigar resultados, isto é, tudo vai ficar na mesma.
...»


De Transparencia a 30 de Outubro de 2009 às 02:56
Não sei se a informação é fidedigna, mas hoje chegou-me a informação que os funcionários da Assembleia da República recebem mais 80% dos que os restantes funcionários públicos que desempenham idêntica função.
Será mesmo assim? se sim, com que justificação?


De país sem igualdade nem transparência a 30 de Outubro de 2009 às 09:39
Justificação?!
simplesmente porque estão mais próximos do poder ...
(e ''quem parte e reparte... '' deixa uma ''migalhas'' para os ajudantes... muitos deles entrados/colocados aí por ''cunha'', amiguismo e parentela/ nepotismo...);

o mesmo (mais remunerações ou benefícios...) acontece com os trabalhadores das Finanças, com os das conservatórias, com os da carreira diplomática, com os afectos aos gabinetes ministeriais, ...

- embora com funções e exigências de entrada iguais, há muitos grupinhos ''especiais'', mas, a maioria dos trabalhadores estão no grupo dos ''gerais'' e esses é que apanham com a tábua ou cacete ...


De anónimo a 30 de Outubro de 2009 às 09:45
recebem mais, têm melhores condições de trabalho, têm acesso a cantina de luxo com preços reduzidos, ...
e muitos ainda se pavoneiam e assumem ares de superioridade ... e alguns aproveitam ou intermedeiam 'favores' e 'cunhas' ... e às vezes até são nomeados para cargos de confiança política...


De salazarentos a 30 de Outubro de 2009 às 09:58
Coerentemente o outro que foi um grade filho da P... tinha razão "somos todos portugueses mas há uns mais portugueses que os outros".

Valha-nos o fado, Fátima e o futebol . Socialmente regredimos, continuamos salazarentos.


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