Quem sabe se não terá sido por já estar cansado de tanto ouvir falar da Gripe “A” e das campanhas de vacinação, que já deram lugar a um ror de informações desencontradas e azo a tantas dúvidas sobre a bondade da respectiva vacina, que o Cartoon de um matutino, sugeria que o país se vacinasse contra certas epidemias que ultimamente o tem atacado.
Já se percebeu que o cartonista do “Público” não se referia à gripe”A”, mas a uma outra doença, esta muito mais grave que uma simples gripe sazonal, que há uns anos a esta parte tem vindo a atacar o país, corroendo de forma imparável os seus alicerces democráticos e a credibilidade das instituições públicas. Era, já se vê, à corrupção que se referia.
Assinalava ainda o cartoon que para melhor eficácia da vacinação, a campanha imunizadora deveria começar pelas classes mais expostas ao risco, a saber, os empresários, os gestores e os políticos. Sem margem para dúvidas, uma selecção acertada.
Na realidade, há uns tempos a esta parte, o país tem acordado, em certos dias, aos sons estridentes de uns quantos bruaás que, não se enquadrando no âmbito das autoridades sanitárias, caem na alçada das polícias e dos tribunais.
Por enquanto, o que tem vindo a público acerca de alguns deles ainda não passou disso mesmo, bruaás, mas nem por isso deixam de ser preocupantes e não impedem a que se instale a dúvida se algum dia passarão da Face Oculta e venham a ser convenientemente trazidos à luz do dia.
Aqui há uns anos atrás, muita boa gente, incluindo este modesto escriba, pensava que, uma vez consolidada a instauração da democracia, tudo o que dissesse respeito às instituições e à gestão dos interesses do Estado se passaria a processar de forma cristalina e a não suscitar a mínima suspeita.
Hoje, desfeitas essas ilusões e confrontados com a triste realidade, somos forçados a concluir que o chico-espertismo, as manigâncias, os expedientes de legalidade duvidosa, senão a corrupção declarada, são, para mal dos nossos pecados, o pão nosso de cada dia e se tornaram os ingredientes necessários e suficientes para muitos subirem na vida. Aqueles tais que começaram com uma mão atrás e a outra à frente e hoje ostentam fortunas fabulosas.
Numa tentativa de boa vontade, posso talvez aceitar que a ambição desmedida e a própria condição humana, constituam um terreno fértil para fazer despertar tentações, esquecer os bons princípios e germinar a corrupção.
Mas também não tenho dúvidas nenhumas que se houvesse de quem de direito a firme determinação de não permitir o mínimo desvio dos rectos caminhos, ao invés da complacência que por vezes se tem verificado, certas coisas nunca chegariam a atingir a dimensão que têm atingido.
É que sucede que estamos todos fartos de ouvir falar da abertura de inquéritos e instauração de processos cujas conclusões ou nunca se conheceram ou deram em nada. Não raras vezes, acabaram na condição de inconclusivos e por serem sepultados no fundo das gavetas e jamais trazidos à luz do dia.
Nos tribunais, a verdade se diga, as coisas também não andam muito melhores, os processos acumulam-se e muitos deles arrastam-se “ad eternum”, e por lá andam a dançar ao ritmo dos expedientes dilatórios.
Uma coisa tenho por certo, se nada for feito pelos partidos do “Grande Centrão”, afinal aqueles mesmos que sempre nos têm governado nos tempos democráticos, ao nível da justiça e da exigência de uma maior transparência na gestão da coisa pública, este país não sairá nunca da cepa torta.
Se não é isto que os portugueses querem, então cabe-lhes a obrigação de despertar da letargia em que parecem estar adormecidos.
C. Quintino Ferreira
"Não há ninguém em melhores condições de ser presidente do PSD do que o professor Marcelo Rebelo de Sousa", veio agora dizer José Eduardo Martins.
Fazendo coro com Paulo Rangel, José Luís Arnaut, Alexandre Relvas, José Matos Correia, Nuno Morais Sarmento, Macário Correia e Guilherme Silva, entre outros (são já tantos que começo a perder-lhes a conta).
Vários destes membros do clube de 'notáveis' do partido integraram as direcções de Durão Barroso, Santana Lopes, Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite.
Só descobriram que Marcelo é "o melhor presidente do PSD" depois de terem dito o mesmo de Durão, Santana, Mendes, Menezes e Manuela.
Querem que Marcelo sirva agora de argamassa para colar os mil cacos em que se transformou o partido precisamente pela acção (e omissão) de muitos destes notáveis, sempre dispostos a empurrar os outros para o palco sem arriscarem eles próprios dar um passo nessa direcção.
Com isso podem inviabilizar a melhor candidatura presidencial de direita, daqui a 15 meses, na hipótese de Cavaco Silva não se recandidatar.
Mas isso pouco lhes interessa desde que consigam prosseguir a tranquila gestão das suas actividades profissionais com ocasionais incursões na vida partidária para manter a espécie de baronato vitalício que lhes foi outorgada.
É caso para perguntar a alguns deles por que motivo, estando tão preocupados com o futuro do PSD, não aceitaram sequer um lugarzinho elegível nas listas parlamentares do partido.
Manuela Ferreira Leite ter-lhes-ia agradecido.
[Corta-fitas, Pedro Correia]
A Justiça está hoje como a mulher de César: não lhe basta ser séria. Se os sinais que lemos nos anunciam muitos podres na sociedade portuguesa, só com uma Justiça em que todos acreditemos arrepiaremos caminho.
Participei esta semana em muitas conversas com o mesmo tema: os "timings" da Justiça. Terá a Justiça um tempo próprio para actuar? Escolherão os agentes da Justiça a melhor oportunidade para revelarem as suas decisões? Quero crer que não e, sobretudo, quero continuar a acreditar que não.
Nessas conversas, invariavelmente, as premissas eram: o caso Freeport veio a público precisamente em final de mandato de Sócrates - como já viera noutras eleições - podendo ter contribuído para o péssimo resultado das Europeias e para a perda de maioria nas Legislativas; o excelente resultado de Paulo Portas e do PP foi "premiado", dias depois, com o caso dos submarinos; e, agora, quando o Governo fica completo e está pronto a governar, eis que rebenta a "Face Oculta", atingindo dirigentes socialistas e ameaçando espalhar-se das grandes empresas para os territórios municipais. Os argumentos destas "coincidências" não colhem: se o caso Freeport fosse público só depois das eleições dir-se-ia que assim tinha sido para proteger o primeiro-ministro; se os submarinos estoirassem antes das eleições sempre se poderia dizer que havia a intenção de prejudicar a votação em Portas; e, com a Face Oculta, sempre se poderia ter dito, se surgisse antes das eleições, que visava prejudicar o Governo.
Enfim, por uma razão ou outra ainda não descortinada, faz infelizmente caminho a convicção de que os "timings" são estudados. E uma das razões para isso acontecer reside no facto de também fazer caminho a desacreditação da independência de quem investiga ou julga. Infelizmente, não é claro na opinião pública que nestas coisas não há ajustes de contas . Toda a Justiça carrega uma cruz tão pesada que sempre continua prostrada. Os casos arrastam-se nos tribunais (veja-se o caso Casa Pia), quem pode escolher os melhores e mais caros advogados parece ganhar vantagem, além de que têm surgido, demasiadas vezes, decisões incompreensíveis não apenas para os leigos, mas até para muitas das pessoas envolvidas. Acresce que a investigação em Portugal deixa a desejar: todos nos recordamos de acusações graves mal fundamentadas e insustentáveis em juízo; e todos nos lembramos - e aí está a Face Oculta para quem se tivesse esquecido - que a Justiça não pode funcionar deixando cair uma coisa ali e outra aqui, o suficiente para que os julgamentos se façam rapidamente na praça pública, quando é no rigor das salas dos tribunais que as sentenças devem ser decididas.
A Justiça está hoje como a mulher de César: não lhe basta ser séria. E se há lóbis, protagonismo a mais de quem deve ser discreto ou indesejável pressão política, isso é mau, porque, no pé em que estamos, Portugal precisa também que a Justiça pareça séria. Se os sinais que lemos nos anunciam muitos podres na sociedade portuguesa, só com uma Justiça em que todos acreditemos arrepiaremos caminho.
[Jornal de Notícias, José Leite Pereira]
A 'Operação Face Oculta' pode ser o Watergate do PS, se se provar que diversos gestores socialistas integravam uma "rede tentacular integrada" visando assegurar negócios com grandes empresas públicas ou semi (REN, Refer, Galp e EDP).
E esta é apenas a ponta do icebergue, porque não se (quer) acreditar que um gestor bancário que ganha €40 mil por mês se venda por €10 mil.
O que se torna evidente é que, a ser verdade, a fraude só foi possível através de uma rede de pessoas integrando as estruturas de decisão destas empresas, todas da estrita confiança do poder político.
Ora quando a podridão se instala a este nível, é a própria existência do Estado acima dos interesses particulares que fica em risco. [Expresso]
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