Domingo, 28 de Fevereiro de 2010

O ordenamento do território feito pela especulação imobiliária

O momento é o de enterrar os mortos e tratar dos vivos. O momento é o de acudir à tragédia de tanta gente com apoio material e apoio moral.
Mas o momento de pedir contas e medir responsabilidades virá, tem de vir e rapidamente, para que a tragédia e as  mortes não ocorram ciclicamente como se a responsabilidade coubesse apenas ao mau tempo. 
 
Nada do que aconteceu constituiu surpresa para os que estudam o ordenamento do território. Há muito que as denúncias e avisos tinham surgido. As imagens são bem elucidativas da construção anárquica no leito de rios e linhas de água (torrencial).  Mas as autoridades, Governo Regional e Câmaras municipais cúmplices dos interesses imobiliários tentarão esconder a suas responsabilidades com a lágrima no olho para a televisão e a denúncia dos "malvados" que os denunciam como fez o cacique local Jardim.

No post acima refere-se um artigo do engenheiro silvicultor Cecílio Gomes da Silva, no Diário de Notícias do Funchal, em Janeiro de 1985, em que ele avisa dos perigos que a baixa do Funchal corre. É uma antevisão impressionante, sob a forma de um mau sonho, que retrata com incrível semelhança o que agora se passou. Não era adivinhação era a simples análise da situação no terreno.
E apelava a medidas correctoras, que outros técnicos têm proposto, e que teriam agora seguramente poupado vidas e haveres.

 



Publicado por Xa2 às 00:05 | link do post | comentar | comentários (7)

Sábado, 27 de Fevereiro de 2010

Veja o video e saiba como esta tragédia estava prevista e o governo e as autarquias da Ilha da Madeira deveriam ser responsabilizados:



Em 2006, um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro apresentou no 10º Congresso Nacional de Geotectina, em Lisboa, um estudo sobre as consequências da construção excessiva no concelho do Funchal, desde o aluvião registado em 1993.

Intitulada "Impacte Ambiental Provocado pela Construção subterrânea na baixa citadina do Funchal", a investigação desenvolvida por João Batista Silva, Fernando Almeida e Celso Gomes, chama a atenção para "a crescente construção na baixa citadina do Funchal". Para os académicos, "o estreitamento e ocupação dos leitos das ribeiras conduziram à impermeabilização do solo e subsolo, que tem vindo a danificar o património edificado, e que representa um perigo crescente face à possível ocorrência de cheias".

Os especialistas, que foram apelidados de "cientistas loucos", pelos governantes madeirenses, sugeriram então seis medidas "para minimizar os efeitos das aluviões":

1 - Recuperação da floresta indígena (Laurissilva) nas zonas montanhosas e nas cabeceiras dos principais cursos de água para aumentar a infiltração de água e combater a erosão dos solos;

2 - Planeamento do território que envolva a gestão integrada dos recursos hídricos;

3 - Identificação, caracterização, controlo e monitorização do movimento de depósitos nas ribeiras, que possam dar origem a escorregamentos e/ou correntes de lamas;

4 - Remoção de vegetação, materiais geológicos e entulhos e lixos do leito das ribeiras;

5 - Definição de um modelo hidrodinâmico capaz de prever em tempo real a ocorrência de cheias na baixa citadina e gestão dos canais de escoamento;

6 - Elaboração de cartas de risco de cheias (Aluvião) que tenha em conta para uma dada área as condições geológicas, geomorfológicas, pedológicas e hidrológicas.
[Expresso]


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Publicado por [FV] às 12:15 | link do post | comentar | comentários (2)

(I e II)
 

De há semanas a esta parte, sobretudo com a divulgação das escutas do “Face Oculta”, o país anda ao rubro com as alegações de que o governo teria um plano para controlar órgãos de comunicação social incómodos usando como instrumento uma empresa privada (a PT) onde o Estado detém uma golden share que, porém, lhe dá apenas direito formal de veto. A situação está longe de estar esclarecida. Porém, como bem sublinhou Rui Tavares, o problema do PS e do governo é que as alegadas maquinações ganham plausibilidade por causa das dificuldades de relacionamento com a comunicação social: ataques do primeiro-ministro a certos media; inúmeros processos do premier a jornalistas e bloggers; etc. Mas ganham também plausibilidade por causa de notícias vindas a público no ano passado e que davam conta de uma eventual utilização da publicidade do Estado para “premiar” ou “punir” órgãos de comunicação social… Independentemente do que falta esclarecer, este caso mostra também que, por um lado, os jornalistas e os órgãos de informação parecem muito preocupados com a possibilidade de governamentalização dos media mas, por outro lado, pouco lhes parecem importar muitos e evidentes enviesamentos ideológicos que caracterizam os mass media portugueses, embora em graus variáveis.

Como disse, a situação relatada está longe de estar esclarecida. De qualquer modo, na sua alocução de quinta-feira passada, o primeiro-ministro já esclareceu o que era possível clarificar apenas com base em declarações suas: disse que nem ele nem qualquer membro do governo deram instruções à PT, ou aos seus administradores, para a compra de órgãos de comunicação (Media Capital/TVI). Note-se que as escutas divulgadas pelo SOL apenas apresentam vários indivíduos, nomeadamente os administradores da PT nomeados pelo governo e seus assessores, alegando que o governo teria um plano para controlar os media através da PT, e sugerindo que as suas acções se inseriam em tal plano e se destinavam a satisfazer os desejos do “chefe”. Ainda não vimos, porém, quaisquer escutas com falas do “chefe” e que evidenciem efectivamente que tal plano do governo existia, era do conhecimento e era dirigido pelo premier. Não significa isto que tal plano não existisse e que, a existir, o governo não tivesse conhecimento dele. Significa que existe também a possibilidade de estarmos apenas perante boys ultra-zelosos e desejosos de agradar ao líder, sobretudo tendo em conta o seu fraco CV para estarem onde estavam… (O despacho do PGR, recentemente divulgado, e onde este justifica a não relevância das escutas, aponta aliás neste sentido). Por tudo isto é que era ainda desejável que Sócrates demitisse o outro administrador que ainda não se demitiu e que representa (mal) o Estado na PT. A partir daqui, o que há ainda a esclarecer terá de basear-se num cruzamento de testemunhos (como, por exemplo, os que resultam das audições em curso no Parlamento) e outras informações (resultantes, por exemplo, do trabalho de uma eventual comissão de inquérito). Certo é que é difícil ir muito mais longe só com as declarações de membros do governo. Uns podem acreditar, outros não, mas é o domínio da crença.

Como disse, os jornalistas parecem muito preocupados, e bem, com a alegada interferência do(s) governo(s) nos media. Porém, pouco lhes parecem importar os evidentes enviesamentos ideológicos que caracterizam certos órgãos da comunicação social. Querem exemplos? Podemos começar com o célebre “Plano Inclinado”, da SIC-N, onde os convidados destilam regularmente os seus ataques generalizados à classe política e ao papel do Estado, por exemplo. Será que não há, na sociedade, pessoas prestigiadas e independentes que tenham uma visão positiva da política e dos políticos (ou, pelo menos, não apenas negativa)? Ou que tenham uma visão positiva sobre o papel do Estado? É óbvio que este tipo de programas não é minimamente plural do ponto de vista ideológico, entendido aqui em sentido amplo. Outro exemplo, com um programa muito prestigiado (e com intervenientes de qualidade!), a “Quadratura do Círculo”: será que alguém pensa que o pluralismo ideológico, em Portugal, vai apenas do PS ao CDS-PP? Mas não se pense que isto é um problema da SIC. Não, embora em menor medida, a RTP padece de idênticos problemas: basta pensar na presença regular de Marcelo e Vitorino na RTP para percebermos que também a TV do Estado promove um certo afunilamento ideológico… Ou, na imprensa (Expresso, Correio da Manhã, etc.), veja-se por exemplo a sobre-representação que têm os colunistas com orientações anti-políticos e profundamente críticas face ao papel do Estado na sociedade e na economia, designadamente de inclinação ultra-liberal. Ou ainda, a falta de pluralismo que vemos nas rádios, na TV e na imprensa em matéria de debates sobre economia (política), nos quais estão geralmente sobre-representadas as correntes associadas ao mainstream (neoliberal) da ciência económica e onde outras tendências igualmente relevantes do ponto de vista académico e político (neo-keynesianas, institucionalistas, etc.) estão claramente ausentes ou, na melhor das hipóteses, sub-representadas. Há, obviamente, liberdade de imprensa em Portugal, e essa é uma conquista crucial da democracia. Porém, há condicionamentos ideológicos de vária índole nos media portugueses. Pena é que os jornalistas pareçam só se preocupar com os condicionamentos que possam vir por via das influências dos governos e, pelo contrário, dêem pouco ou nenhum relevo (quando não os promovem eles próprios…) a vários outros condicionamentos (porventura mais graves e profundos) que caracterizam os media. A bem da democracia e do pluralismo, era desejável que não só a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação) mas também os próprios jornalistas fossem muito mais exigentes neste domínio.

Originalmente publicado no Público de 22/2/2010.

3 , Ladrões de Bicicletas


Publicado por Xa2 às 00:05 | link do post | comentar | comentários (8)

Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 2010

Propostas, em concreto, nicles

Como se fosse alguma novidade, descoberta à última hora, o candidato à liderança do PSD, Paulo Rangel diz considerar que o poder executivo e o poder judicial estão desacreditados em Portugal e propôs-se acabar com a promiscuidade entre os interesses público, privado e partidário.

O homem, que promete uma coisa e acaba por fazer o contrário, terá afirmado, ainda, que «a autoridade, a credibilidade, o prestígio, a capacidade de intervenção, a capacidade de actuação, a capacidade de direcção deste Governo estão claramente em causa neste momento. Vive-se uma erosão do poder executivo. Vive-se uma erosão, uma degradação, uma degenerescência da autoridade do Estado, que aliás assenta, neste momento, não apenas no poder executivo, mas também no poder judicial»

O coitado não percebeu que são as custas de ter havido a capacidade de alguém ter mexido em interesses, demasiadamente corporativos, instalados em alguns sectores judiciais que mais parecem uma corporação militar num qualquer regime absolutista!

Segundo ele, agora justifica, a sua candidatura «é justamente para acabar com esta situação, para pôr termo, para fazer uma quebra, um corte, uma ruptura com esta confusão, com esta mistura, com esta promiscuidade e proximidade entre interesses que têm de ser claramente separados e em que a transparência exige que de um lado esteja o público, e do outro o privado, e que em nenhum lado esteja o partidário é em nome desses valores que também me candidato».

Em concreto sobre a forma, os meios e com quem iria fazer tais modificações na política e forma de governança nacional nada disse.

Também nada adiantou como preconizaria fazer o relacionamento entre o poder político, o poder económico, o poder judicial, o poderio financeiro e o mega-poder dos media.

Nada disse, eventualmente, porque nada tem a dizer e porque saberá que mesmo dizendo alguma coisa ninguém o levaria a sério. Ou será que levaria?

 



Publicado por Zé Pessoa às 10:59 | link do post | comentar | comentários (2)

Por vezes, Portugal resvala para a política e põe-se a discutir assuntos como se eu fosse um dos donos disto. Isto é, como se eu fosse um cidadão. Falo do caso Inês de Medeiros, um caso político. Agarro-o antes que voltemos a telefonemas escutados, conversa sem valor acrescentado. Inês de Medeiros é deputada por Lisboa e mora em Paris. Uma sorte! Falo da nossa sorte: podia dar-se o caso de ela ser deputada por Lisboa e morar em Aukland (Nova Zelândia). Sendo o que é, Lisboa e Paris, a coisa fica-nos por 4500 euros/mês (todas as semanas, em executiva). Tudo começou porque, generosos, os serviços parlamentares quiseram transformá-la em deputada eleita pelo círculo da Europa para efeitos de pagamento. Eu pensava que um deputado era só para efeitos de deputar. Por exemplo, sendo do círculo da Europa é natural que se lhe pague para ir falar semanalmente com os seus eleitores. Todas as semanas? Seja, o Parlamento é que decide o seu ritmo. Em executiva? Aí, já discutia um pouco, mas dou de barato. Agora, que Inês de Medeiros queira regalia por aquilo que não trabalha, não. Eu também disse ao meu patrão que queria uma viagem semanal Lisboa- Key West, na Florida (uma mania minha). "Não", disse-me ele. É, Inês de Medeiros, o que eu, dono disto, lhe digo. Adoro discussões políticas.

DN



Publicado por Izanagi às 10:34 | link do post | comentar | comentários (2)

Rui Pedro Soares passou (na juventude) das t-shirts de Che e a moção à liderança da JS "Nós vamos pela esquerda", para os voos de jacto privado entre Lisboa, Madrid e Milão, a fim de negociar "coisas"

 
Como um acidente de automóvel, por muito que queiramos evitar, não conseguimos deixar de olhar para as escutas que vão sendo publicadas por aí. Acabam por ser pouco surpreendentes, limitando-se a pôr " na primeira pessoa aquilo que o cidadão comum sempre suspeitou que os políticos faziam: espertices mais ou menos saloias, manigâncias e abusos (de poder e de linguagem). Mesmo que uma pessoa queira restaurar a "dignidade da política", torna-se difícil perante o espectáculo de esquemas, entremeados de (e cito) "pás", "gajos" ou "m...s". No meio disto tudo, duas coisas são interessantes. Primeiro, os projectos políticos dos envolvidos, que são... nenhuns. Todos eles são pessoas de esquerda. Rui Pedro Soares, por exemplo, o caso mais citado, passou (na juventude) das t-shirts de Che, mais o apoio à liberalização do aborto e da droga (tudo coisas muito modernas e bastante giras) e a moção à liderança da JS "Nós vamos pela esquerda", para os voos de jacto privado entre Lisboa, Madrid e Milão, a fim de negociar "coisas" com Cebrian, Figo e Mourinho. Segundo o amigo Paulo Penedos, "o gajo conhece toda a gente". E ideias para o País? Ignora-se. A outra coisa interessante é o dinheiro. Parece que o único método destes ases da estratégia é despejar dinheiro. Mete-se um jogador de futebol no bolso por uns milhões ou resolve-se o "problema da TVT com outro tanto. Numa das escutas publicadas, Soares queixa-se a Vara da dificuldade em resolver o "problema" da Cofina. Vara não tem dificuldade em responder-lhe: "Isso compra-se." Noutra escuta, Paulo Penedos fala de certos montantes, provocando a agora famosa reacção de Marcos Perestrello (certamente movido por preocupações sociais): "essa m... em subsídios de desemprego..." Não se trata apenas de estratagemas. Trata-se da facilidade em congeminá-los graças à bolha de dinheiro em que os envolvidos nas escutas vivem. São aprendizes de feiticeiro a nadar numa quantidade obscena de recursos. Assim também eu, mas parece que agora é assim.
 
Metro


Publicado por Izanagi às 10:15 | link do post | comentar | comentários (5)

( ' JUSTICE :  What's the right thing to do ? ')

 Em clima de quase pré-campanha para as presidenciais de 2011, e pensando nos projectos políticos que nos vão ser propostos, importa perguntarmo-nos em que tipo de sociedade queremos viver.

Num suplemento do jornal The Guardian (20 Fev.) sobre “Ética da cidadania”, o professor
Michael Sandel da Universidade de Harvard escreveu uma excelente Introdução que dá uma ideia das suas preferências. Identifico-me muito com o texto e a iniciativa do jornal. Por isso, deixo aqui a minha tradução de um extracto:

Desigualdade, solidariedade, virtude cívica

Em muitos países, a distância entre ricos e pobres está a crescer atingindo níveis que não se viam há muitas décadas. Uma distância demasiado grande entre ricos e pobres danifica a solidariedade que a cidadania democrática requer.

À medida que a desigualdade se aprofunda, ricos e pobres cada vez mais vivem em mundos separados. Os ricos mandam os filhos para as escolas mais qualificadas, deixando as restantes escolas para os filhos das famílias que não têm alternativa. Os ginásios privados substituem os pavilhões gimnodesportivos e as piscinas municipais. Um segundo ou terceiro automóvel põem de lado a necessidade de contar com o transporte público. E por aí adiante. Os abastados desertam dos espaços e serviços públicos deixando-os aos que não têm recursos para outra coisa.

Esta tendência produz dois efeitos nocivos – um orçamental, outro cívico. Primeiro, os serviços públicos degradam-se dado que os que já não os usam cada vez menos estão dispostos a pagar impostos para os sustentar. Segundo, os espaços comuns deixam de ser espaços onde os cidadãos com diferentes percursos de vida se encontram uns com os outros. A retracção do domínio público torna difícil cultivar a solidariedade e o sentido de comunidade de que depende a cidadania democrática.

Por isso, a desigualdade pode ser corrosiva da virtude cívica. Uma política orientada para o bem comum teria como um dos seus principais objectivos a reconstrução da infra-estrutura da vida cívica.”
           Insisto, em que tipo de sociedade queremos viver? 



Publicado por Xa2 às 08:05 | link do post | comentar

Quinta-feira, 25 de Fevereiro de 2010
67, um número curioso

 

Miguel Telles da GamaDois dos mais graves problemas da sociedade actual, seja ela política ou civil como agora sói dizer-se, é a falta de identificação dos objectivos e a diminuta seriedade em relação aos membros não executivos dessa sociedade.

Lê-se hoje nos jornais, penso que no tablóide CM, que o Governo irá propor a passagem da reforma para os 67 anos. A acontecer, trata-se-á de mais uma desonestidade, dado que as reformas não dependem dos contribuintes mas sim dos trabalhadores que para elas descontaram com base em pressupostos de contrato que são alterados unilateralmente no decurso da sua vigência. Se é verdade que o tempo médio de vida tende a ser dilatado, não deixa de ser igualmente verdadeiro que quem amealha uma vida inteira tem o direito a usufruir do benefício de poder gozar os últimos anos dessa vida sem ter de cumprir horário. As pessoas têm de ter direito à felicidade e a usufruir das suas poupanças, sejam elas constituídas em amealhamento no privado ou no Estado.

Quanto aos objectivos e à obrigação de serem definidos com verdade e eficácia, há que apurar que o objectivo não é o prolongamento do tempo de trabalho (basta perceber que o Estado e os particulares não contratam trabalhadores com mais de 55 anos) mas sim a sustentabilidade dos esquemas que pagam essas reformas.

Definido o objectivo (sustentabilidade das reformas), deixem em paz e sejam honestos com os trabalhadores e desobriguem-nos da obrigação de trabalhar até aos 67 anos, limitando-se a incluir os descontos nas reformas até que se atinja essa idade.

Evitam a desonestidade de comer uma percentagem do montante a que os contribuintes têm direito (através da penalização), aliviam o mercado de trabalho, promovem o emprego nos sectores mais jovens e ajudam na felicidade de quem já começa a não ter pachorra para aturar esta malta que está convencida que é com o seu contributo que se sustentam as reformas dos que já descontaram toda a vida para as ter.
LNT  [0.078/2010],
A Barbearia 24.02.2010


Publicado por Xa2 às 00:07 | link do post | comentar | comentários (2)

"Normalmente, quando se fala de política italiana fora de Itália, pensa-se geralmente em Berlusconi, primeiro, na instabilidade política e na operação “mãos limpas”, depois. Dificilmente um observador estrangeiro irá aprofundar se entre os três fenómenos há, ou não, ligações mais ou menos profundas. Corrupção e instabilidade são considerados como pertencentes à própria natureza da política italiana e nem vale a pena deter-se nos pormenores.

Em Março de 1992, quando as investigações dos juízes contra a classe política italiana começaram a ter um impacto mediático relevante, colocou-se a questão de uma profunda reforma do sistema político italiano.
Os partidos da oposição, em particular o Partido Democrático della Sinistra (PDS – herdeiro do PCI) e o Movimento Sociale Italiano (movimento neo-fascista) logo tentaram de aproveitar-se do novo clima e, encorajados pelos discursos anti-sistema e populistas da imprensa, começam a atacar duramente os partidos da coligação governamental (em particular a Democrazia Cristiana/DC e o Partito Socialista/PSI).
Em volta da corrupção e da crise nas contas públicas, em Itália abriram-se duas frentes de discussão: sobre a reforma do sistema político e do Estado Social.

Isto porque, ao lado das investigações dos juízes, chegou também o ataque contra a moeda italiana que saiu do Sistema Monetário Europeu e foi desvalorizada em cerca de 20%.


Em 1993, foi proposto aos italianos o referendo para mudar a lei eleitoral, então muito proporcional, num sentido maioritário. Os media logo apoiaram a viragem maioritária, justificada com a necessidade de “mandar para casa os políticos corruptos”. O PDS, o único partido que parecia sobreviver do terramoto que estava a atingir Itália, também se juntou aos defensores do sistema maioritário. Cerca de 90% dos italianos votaram pela mudança, pouco sabendo de sistemas eleitorais, mas com a ideia de mudar e mandar para casa todos os “políticos corruptos”.

Se a crise política teve como solução a reforma eleitoral, a solução da crise económica foi encontrada numa drástica e dolorosa redução das despesas do Estado e na privatização da grande maioria das empresas públicas.
Por paradoxal que possa aparecer, quem mais aproveitou deste clima de renovação ética foi o próprio Berlusconi o qual, na primavera de 1994, conseguiu ganhar as eleições legislativas. O PDS não tinha percebido que, do clima populista de anti-politica e anti-parlamentarismo, só uma formação conservadora podia tirar vantagens, tal como tinha acontecido na véspera da subida ao poder de Benito Mussolini.

Hoje, em Portugal, parece estar a soprar o mesmo vento de tempestade que atingiu a Itália em 1992, embora os protagonistas e o contexto sejam diferentes. Tentemos de arrumar as ideias: são meses em que o PS está a ser alvo de ataques por parte da magistratura: caso TVI, a questão dos graus académicos de José Sócrates e muitos outros exemplos de pequena e grande corrupção, ou tráfico de influências, que estão a ter grande relevância na imprensa de há meses a esta parte.

Internamente, o governo minoritário do PS está sujeito aos vários desafios das oposições muitas vezes coligadas de forma contra-natura; externamente, são os especuladores financeiros que tentam de ganhar terreno (e muito dinheiro) com a instabilidade política (e financeira) portuguesa.

Se, por um lado, é compreensível que o PSD e o CDS tentem aproveitar dos ataques contra o governo Sócrates, já que têm tudo a ganhar com a sua fragilização, é mais difícil perceber a posição do BE, do PCP e do próprio PS, os quais têm tudo a perder com a exacerbação deste clima.

Se o maior concorrente para o governo do PS é o PSD, é evidente que este segundo partido dificilmente poderá ser um aliado de confiança e seria talvez melhor, para o PS, um acordo com a ala esquerda do espectro ideológico. Por outro lado, o BE e o PCP têm tudo a ganhar de um acordo com o PS, já que se o PS não parece muito generoso em termos de políticas de welfare, de certeza que uma aliança entre PSD e CDS não levaria num sentido de politicas sociais mais expansionistas, muito pelo contrário.

É óbvio que um acordo deve ir no sentido de satisfazer todas as partes que o assinam. É também evidente que, por um lado, em termos de “rendimento” eleitoral, o BE e o PCP poderiam vir a perder alguns votos abrandando a atitude “virtuosista”, mas, por outro lado, poderiam alcançar uma maior atenção por parte do Governo para as camadas menos favorecidas da sociedade. O PS, da viragem à esquerda, poderia, por seu lado, ter a considerável vantagem de ter aliados que não concorrem pelo governo e portanto de maior confiança.

A pergunta subjacente é:

se o governo Sócrates não conseguir ir para a frente por causa dos ataques nas três frentes (apoio parlamentar, crise económica e corrupção), o cenário que se abriria em Portugal poderá vir a ser semelhante ao italiano de 1992-1994?

Temos a certeza de que os três partidos da esquerda portuguesa teriam alguma coisa a ganhar com uma crise política desse género?
Se o Governo Sócrates caísse, é muito provável que os dois assuntos que viriam a ser mais discutidos em Portugal seriam:

a governabilidade do pais e a necessidade de reformas económicas que reduzam o défice do Estado. A solução ao primeiro assunto poderá levar a uma lei eleitoral que privilegie os grandes partidos, e a solução ao segundo a uma redução profunda nas despesas sociais do Estado.
Num cenário deste tipo, não se vê como PS, BE e PCP possam ter alguma vantagem. Claro, nada disto pode vir a acontecer e o “caso Italiano” continuar a ser, pura e simplesmente, um conjunto de acontecimentos circunscritos ao período de 1992 e 1994. Mas e se assim não for?"

Bicicleta de André Freire emprestada a Goffredo Adinolfi (ga@goffredoadinolfi.net)
Estudante italiano de pós-doutoramento (sob supervisão de André Freire), a residir em Portugal, investigador sénior do CIES-ISCTE.

 


Publicado por Xa2 às 00:05 | link do post | comentar | comentários (3)

Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 2010

Escutas aos magistrados?

Como habitualmente se afirma o provérbio popular, revelador da, ancestral, sabedoria do povo que diz “não há fumo sem fogo” é revelador de que alguma coisa ardeu para justificar as afirmações da Procuradora-geral Adjunta, Cândida Almeida.

Aquela, experiente, magistrada do Ministério Publico, defendeu, publicamente, que, certamente (digo eu), tendo em consideração a recente evolução, negativa, de “destruição” do segredo de justiça, enquanto decorrem os inquéritos processuais, a, eventual, necessidade de fazer, também, escutas a certos magistrados detentores dos processos.

Uma sociedade que cai numa tal desgraça, em que já se reconheça a necessidade de fiscalizar os fiscais, em policiar os policias, é uma sociedade em convulsão, em processo de transe.

Para onde transitará ela? 

 

 

 



Publicado por Zurc às 17:25 | link do post | comentar | comentários (2)

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