Domingo, 31 de Outubro de 2010

 

 

            Há pessoas que aparecem na televisão do Mário Crespo e noutros canais a dizer que não há política económica em Portugal.

            Essas pessoas deveriam conhecer algo do mercado nacional e saber que os “clusters” apontados por Porter há 16 anos como polos (nova ortografia) de competitividade e desenvolvimento só começaram a surgir em Portugal há poucos anos e, precisamente, com o governo Sócrates, funcionando com apoios do QREN, incentivos fiscais e outros apoios ligados è formação profissional e investigação.

            Portugal tem hoje já constituídos 18 polos de competitividade, mas nem todos em pleno funcionamento, ou antes, todos em concretização, apesar de alguns estarem a produzir resultados de muitos milhões de euros.

            O “cluster” da aeronáutica está ligada à empresa brasileira Embraer, parceira do Estado nas OGMA, onde detém 65% do capital e fabrica peças para os seus aviões, tendo instalado uma primeira fábrica em Évora para componentes aeronáuticas, estando previstas mais duas ou três e outras tantas de empresas fornecedoras.

            Só a Embraer o investimento seria da ordem dos 170 milhões de euros, mas Barroso e os seus comissários estão a opor-se ao montante de incentivos a conceder pelo atual Governo Socialista, nomeadamente de natureza fiscal. A Embraer começa a ser um importante concorrente do gigantesco oligopólio mundial de aviação formado pela Airbus e Boeing que dividem entre si o mercado de quase toda a aeronáutica de transporte e parte da militar. Alemães, ingleses e franceses temem que a Embraer concretize o seu projeto de avião militar de transporte com muitos componentes portugueses e que será bem mais barato que o concorrente da Airbus A400M e o novo C-130J da Boeing/Lockeed.

            A fábrica da Embraer e outras está e estarão instaladas no importante pólo tecnológico de Évora com aeródromo junto e todo o tipo de equipamento para fornecimento de água, electricidade, saneamento básico, ligações rodoviárias, etc., numa área superior a 135 hectares.

            O “cluster” aeronáutica, nunca identificado por Porter, inclui já um vasto grupo de empresas como a PITVANT que lançou um avião não tripulado para vigilância de costa e de floresta contra incêndios, além de muitas outras missões, ligada ao Centro de Pesquisa da Academia da Força Aérea e que faz parte do PAIC (Portuguese Consortium for the Aerospace Industry). Também a TAP- Manutenção e Engenharia, as OGMA e muitas PME como a Amorim Cork Composites, Caetano Componentes, Lismoldes, LN Moldes, Moldes RP e empresas portuguesas de base tecnológica como “Evolve Space Solutions”, “Skysoft”, “Edaetech”, “Optimal Structural Solutions”, Moldoeste, Holos, “Active Space Technologies”, etc.

            Mas o “cluster” mais importante em Portugal e a funcionar é o da saúde, também nunca referido por Porter, denominado HCP-Health Cluster de Portugal, que resultou do muito que se investiu no Serviço Nacional de Saúde. Este “cluster” tem como objectivo exportar mais de 5 mil milhões de euros em 2018, nomeadamente medicamentos e dispositivos médicos inovadores. As atuais empresas farmacêuticas e biomédicas deste HCP já são responsáveis por um volume de negócios de 1.250 milhões de euros e exporta em valor mais que o vinho do Porto. Saliente-se que Portugal tem gasto 10% do PIB em saúde e daí esperar-se como muito provável que em 2050 venha a ter 36% da população com mais de 64 anos de idade.

            Temos ainda o importante “cluster” das eólicas com empresas como a Efacec que atingiu um nível mundial no fabrico de transformadores, geradores, etc. com um volume de negócios de mil milhões de euros, a Martinfer no fabrico de estruturas, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo na produção de pás dos aerogeradores, estando a funcionar outras fábricas para o mesmo material. Os próprios parques eólicos que produzem 16% da eletricidade (nova ortografia) consumida no País fazem parte deste gigantesco “cluster” também não identificado por Porter.

            A floresta com as indústrias de cortiça, pasta de papel e papel são um importante “cluster” com fabricos a partir de matéria prima nacional e com uma posição nos mercados mundiais de primeira grandeza. Portugal é dominante nos papéis de qualidade para impressão e no papel “tissue” para guardanapos, toalhas, etc.

            O sector da construção civil já foi muito importante, mas está e estará a recuar devido à imposição de uma moratória sobre as obras públicas, mesmo às largamente financiadas pela União Europeia). Portugal vai perder 18 mil milhões de euros em fundos comunitários com a moratória imposta pelo PSD e comunicação social que tem feito tanta propaganda contra qualquer obra.

 Contudo, as grandes empresas como a Mota-Engil, Soares da Costa e outras meteram-se em outros negócios e estão já bastante internacionalizadas, exportando a sua experiência na construção de autoestradas, pontes, edifícios, etc. Para o mercado nacional fica a manutenção e reabilitação do edificado nacional.

            As tecnologias de informação são um “cluster” dinâmico em crescente atividade com numerosas empresas de software e, entre outras, a J.P. Sá Couto que a Assembleia da República queria mandar fechar apesar de realizar mais de 200 milhões d euros de volume de negócio cada vez mais orientado para a exportação. As universidades e os milhares de doutorados e licenciados estão lentamente a impor a marca Portugal no Mundo das altas tecnologias e da qualidade, única forma de vencer a concorrência da escravatura chinesa.

           Portugal tem futuro e sabe-o quem está no mercado a trabalhar, mas o desenvolvimento mais recente é produto de uma política governamental orientada para as novas tecnologias informáticas, eólicas, saúde, etc. Quase nada apareceu sem o apoio do Estado como financiador, fornecedor de condições ou como o cliente muito importante. Por si próprio, os empresários pouco ou nada fizeram. Uma grande parte notabilizou-se mais pelas declarações de falência do que pela sua atividade, apesar de os salários ainda serem dos mais baixos da União Europeia.

 



Publicado por DD às 17:41 | link do post | comentar | comentários (7)

"Nesta voracidade estonteante de acontecimentos e factos convém distinguir a forma das coisas do seu conteúdo.

As causas da crise actual do sistema capitalista (iniciada em Agosto de 2007) radicam, por um lado, na contradição entre a sobreprodução e sobreacumulação de meios de produção. Por outro, na contracção dos mercados e níveis de consumo decorrentes das desvalorizações salariais e abismais assimetrias de rendimentos, agravadas pelas reduções das despesas públicas e pouca solvabilidade de inúmeros países.

Nesta crise há claramente quem seja mandante e há executantes. Mandantes são os grupos económicos e financeiros, as grandes multinacionais. E alguns dos seus instrumentos fundamentais…

Esta crise veio oferecer de mão beijada, aos detentores do capital e seus executantes, a tentação de pôr em prática uma pretensa "estratégia de choque" como saída da crise. O processo do Orçamento do Estado (OE) revela com evidência que este é o Orçamento dos banqueiros, e, ao mesmo tempo, um brutal instrumento de injustiça social e de afundamento do país.

Lê-se que 2.913.028.265 é o escandaloso número dos lucros obtidos pelas 23 maiores empresas portuguesas no primeiro semestre de 2010. Como alguém escreveu, a questão não é se o défice se cifra em 7,8 ou 15 por cento, mas se o percentual do aumento dos lucros das maiores empresas se mantém em 8,5 por cento. Ou, até, se continua a crescer. Somado, tudo se resume ao objectivo da manutenção da política que permite que, por cada dia que passa, o capital arrecade 16 milhões de euros de lucros.

Nesta proposta de OE mais de 90% da factura é dirigida aos trabalhadores. Eles são os alvos directos quer das medidas de aumento da receita (1700 milhões de euros), quer do corte na despesa (3420 milhões de euros).

Um Orçamento que destina mais mil milhões para instituições financeiras, 400 milhões dos quais para o BPN. Que anuncia um imposto sobre a banca. Um imposto que contribui com cerca de 100 milhões de euros. Ao mesmo tempo que se sabe que o Estado pagou, só até ao final do primeiro trimestre deste ano, 888 milhões de euros em encargos com as parcerias público-privadas. Ou que a verdadeira dimensão do "buraco" no BPN ronda já os 7000 milhões de euros!!! É este o valor da factura que, não tarda muito, vai ser cobrado aos portugueses que pagam impostos.

Neste cenário as consequências estão à vista. A economia portuguesa registou na última década um crescimento do PIB de apenas 6,47 por cento. Ou seja, um valor que ficou abaixo da inflação registada no mesmo período. E que representa um dos piores desempenhos na Europa e no mundo, apenas superada pelo Haiti (-2,39) e a Itália (2,43) por cento.

A realidade está a demonstrar, em cada dia que passa, que a solução passa inevitavelmente por uma ruptura com estas políticas. Não o fazer é adiar e agravar os problemas estruturais de Portugal. E ficar sujeito ao PEC IV, ao PEC V, e por aí fora

 

Público


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Publicado por Izanagi às 12:32 | link do post | comentar | comentários (4)

De 2002 até hoje a economia portuguesa, basicamente, não cresceu. Se tomarmos os dados do Rendimento - e não do Produto -, a situação é ainda mais triste. Porquê? Não conheço estudos que possam dar uma resposta quantificada e mais ou menos definitiva. É pena. Mas podemos pensar sobre o assunto. Não houve certamente um só factor mas uma conjugação de factores que determinaram o paupérrimo desempenho da economia portuguesa nos últimos oito anos, quase uma década.

Entre os muitos factores, parece-me relevante destacar quatro. Primeiro, o efeito da abertura das economias desenvolvidas à China e à índia. Com estes países mais envolvidos no comércio mundial, os preços de muitos bens de baixa tecnologia e de produtos mais estandardizados caiu significativamente. Desde a T-shirt à torradeira acabando na televisão, a queda dos preços foi brutal. Isso tem sido certamente muito bom para o consumidor, que viu o seu poder de compra aumentar significativamente. No entanto, muitos desses produtos concorriam com as nossas exportações, nomeadamente todo o têxtil mais tradicional. Deste modo, a queda do preço destes bens no mercado internacional configura aquilo que os economistas chamam uma perda CO) nos termos de troca. As nossas exportações viram os preços cair e as nossas empresas mais tradicionais tiveram problemas, e muitas, naturalmente, fecharam. Quando os termos de troca caem o bem-estar também cai; ou seja, teríamos de exportar mais T-shirts para podermos importar um programa de software, por exemplo...

É claro que a entrada da China no comércio mundial era bem conhecida, mas os nossos empresários sempre acharam que era só fumaça e o Estado havia de arranjar qualquer coisa. Não arranjou, nem podia.

Mas infelizmente tentou. Ou seja, com políticas de apoio à reestruturação de empresas, o Estado subsidiou empresas arruinadas, adiando e protelando os necessários ajustamentos na produção. Estes passavam com toda a certeza pelo fecho de empresas, agora inviáveis. Por isso, durou oito anos o nosso sacrifício e não apenas três ou quatro, embora os ajustamentos que tudo isto implica levem tempo. Verifica-se, desde há alguns anos, uma clara evolução nas nossas exportações para bens tecnologicamente mais evoluídos. Isto não é fruto, estou certo, de grandes políticas públicas, mas de um rearranjo nas vantagens comparativas: agora temos de exportar mais, mas fundamentalmente melhores produtos.

Um segundo aspecto tem a ver com a entrada dos países de Leste na União Europeia. A entrada de países como a República Checa ou a Hungria não só aumentou a concorrência das nossas exportações tradicionais, reforçando o efeito da China, mas também desviou muito investimento internacional. O investimento internacional, mormente da Alemanha, passou muitas vezes a preferir localizar-se em países com mão-de-obra muito mais barata e não raro mais qualificada que a portuguesa. Eram economias ávidas de capital e de novos investimentos e, para os alemães, ficavam ali mesmo ao lado. Sem dúvida que este factor explica em grande parte a queda no investimento directo estrangeiro em Portugal nos últimos dez ou quinze anos, o que contribuiu para a estagnação da última (quase) década.

A reacção dos vários Governos a esta perda de capacidade de atracção de investimento internacional não foi a melhor. Como sempre, em vez de os resolver, lançou dinheiro sobre os problemas.

Um terceiro factor que também teve influência - e, mais uma vez, actuou no sentido de deteriorar as nossas relações de troca - foi a subida dos preços do petróleo. No início da década o barril deveria rondar os 25 ou 30 dólares e, com altos e baixos, desde então a tendência geral foi de subida. Como o petróleo e o gás natural são integralmente importados, as importações ficaram mais caras, enquanto as exportações tradicionais viam os preços a cair. Infelizmente também aqui a reacção dos Governos foi a pior. Inicialmente protelou-se (mais uma vez o protelar) a subida dos combustíveis nas bombas e depois foi a moda, politicamente correcta, das renováveis, com especial destaque para os últimos cinco anos. A aposta nas energias alternativas - vento e sol - saiu caríssima às famílias e às empresas, que já estão a pagar a factura, com perdas acrescidas de bem-estar e competitividade.

Mas um quarto e último aspecto foi crucial e decorre do já referido atrás: o Estado. O que é que andámos a discutir desde 2002? Finanças públicas, o défice ou a dívida pública. E com boas razões o discutimos, porque este problema é um problema real como o sentimos hoje. E afugentou o investimento. De facto, um investidor internacional - que pode muito bem ser português - pode escolher entre investir na Hungria, na Polónia ou em Portugal. Os critérios de decisão têm certamente a ver com a prospectiva solidez financeira do Estado, com a expectativa do nível futuro de impostos, com a facilidade futura de acesso ao crédito, com o risco de o país não vir a pagar o que deve. Por tudo isto, o nosso país comparava mal. Para além dos outros factores muitas vezes referidos: ensino, justiça, burocracia... E sem investimento, não há crescimento.

Como seria de esperar, a situação orçamental deteriorou-se para níveis nunca imaginados serem possíveis. Tudo isto com custos para todos nós, com mais impostos, menor crescimento e mais desemprego. E a próxima década será outra década perdida? Tudo estamos a fazer para que seja.

 

Público


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Publicado por Izanagi às 00:29 | link do post | comentar | comentários (1)

Sábado, 30 de Outubro de 2010

 

Neste blog ninguém aprende nada.

Ninguém sabe que vivemos sob uma dupla ditadura: a da exploração do trabalhador chinês pelo Partido Comunista da China e a da senhora Angela Merkel que quer que os produtos feitos na China Comunista entrem sem pagar direitos na Europa.

A bruxa alemã é ditadora porque foi educada no comunismo e entrou na universidade como todos os estudantes nos países comunistas porque foi aprovada num exame feito pela PIDE comunista alemã Stasi) e, nesse exame, o principal era prontificar-se a dar algumas informações sobre estudantes que diziam mal do partido único que tinha sempre razão.

Quando da reunificação, a bruxa fundou logo na sua zona uma secção do partido dito democrata cristão e foi eleita deputada local e depois presidente de um Estado Regional.

Na sua fúria unificadora, os partidos alemães elegeram para líderes pessoal do leste ex-comunista para que as populações se sentissem mais alemãs e não fosse dito que quem manda são os ocidentais. O atual presidente alemão também é do país da PIDE comunista.

Bastava impor direitos aduaneiros a todos os produtos manufacturados fora da UE para se resolver o problema do financiamento dos Estados, incluindo de Portugal, protegendo-se ainda as indústrias dos 501 milhões de europeus da UE.

Não quer dizer que não haja direitos aduaneiros, mas são da ordem dos 2 a 5% que em nada influenciam o custo baixíssimo dos artigos fabricados pelos escravos chineses e Portugal perde porque o mercado é pequeno e a porcaria chinesa nem vem diretamente da China, mas sim da Holanda, Luxemburgo e Alemanha, importada por grandes armazenistas que fazem a distribuição para toda a Europa.

Agora, a bruxa alemã que liberalizar os têxteis paquistaneses fabricados por crianças escravas, sequestradas nas aldeias miseráveis e postas a trabalhar apenas a troco de comida. Com a miséria acrescida provocada pelas inundações no Paquistão, até são os pais que oferecem as suas crianças aos fabricantes, o que faz com que os têxteis e calçado venham aí a preços ainda mais baixos que os chineses.

As multinacionais vão passar a fabricar as suas roupas no Paquistão, até porque os paquistaneses falam muito inglês e os quadros têm uma cultura inglesa mais adequada a lidar com as empresas ocidentais sem necessitar de intérpretes.

 

Eu, que sou de origem alemã, sei que os alemães são gente perigosa, principalmente quando têm poder na mão. Cuidado pois com os alemães e, principalmente, com a bruxa.

 

 

 



Publicado por DD às 16:01 | link do post | comentar | comentários (5)

Extraordinárias declarações

Pela primeira vez um chefe de Estado dá uma conferencia de imprensa após o respectivo Conselho e, neste caso, para repetir o que já, por diversas vezes, havia dito.

“Alertei diversas vezes para a situação difícil e perigosa em que o país se encontra….”

“Finalmente foi ouvido…”, a novidade que toda a gente sabia!

Um Presidente que cá dentro raramente é ouvido e que lá fora nunca se faz ouvir adiantará alguma coisa ao país?

Será que alguém o ouvirá agora como candidato?


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Publicado por Zurc às 12:05 | link do post | comentar | comentários (1)

Os jornalistas realizam diferentes tarefas e preenchem diferentes funções sociais. Uma dessas tarefas consiste em produzir e difundir notícias. Outra função consiste em alimentar o debate de ideias no seio da sociedade. Porém, aquilo que, aos meus olhos, é a função essencial do jornalista é o que se chama vulgarmente a "fiscalização dos poderes" e a que os anglo-saxónicos chamam de forma mais colorida a função de watchdog - servir de cão de guarda das liberdades cívicas, revelar as actividades de todos os poderes e de todos os poderosos e denunciar abusos.

Esta é a função que só os media levam a cabo de forma independente e constitui o coração do ethos jornalístico. Isto não quer dizer que não possa haver uma organização não mediática que funcione dessa forma. Mas a prossecução desse objectivo de forma independente - sem qualquer agenda predefinida, sem defender interesses particulares - é a marca de água da actividade jornalística.

Tivemos há dias um exemplo de grande impacto do que pode ser esta fiscalização dos poderes com a publicação pelo site WikiLeaks de milhares de casos de abusos perpetrados pelas tropas americanas e iraquianas no Iraque. Curiosamente, o líder do WikiLeaks, Julián Assange, não só não se considera um jornalista como recusa com veemência o rótulo, que considera "ofensivo". Porquê? Porque Assange pensa que a esmagadora maioria da imprensa, premeditadamente ou não, não só não fiscaliza os poderes como colabora activamente com eles, escamoteando ou maquilhando as suas práticas mais criticáveis. Um exagero? Talvez.

Mas vale a pena, no actual panorama de crise e recessão, quando todos os portugueses têm uma lista de perguntas que gostariam de ver respondidas pelo Governo (sobre as empresas que não pagam impostos, sobre os impostos da banca, sobre a nacionalização do BPN, a política fiscal, o real funcionamento da economia, as razões, para o optimismo com que nos regalaram nos últimos dois anos) podemos perguntar-nos a quantas dessas perguntas os media conseguiram responder. Ou quantos nomes foram responsabilizados. Ou quais foram as denúncias que vimos nas páginas dos jornais e nos ecrãs dos noticiários. Existem pequenas excepções singulares, mas contam-se pelos dedos de uma mão. No geral, a imprensa limita-se a reproduzir os discursos existentes na cena política ou económica. Claro que isso significa citar o Governo e a oposição, os patrões e (esporadicamente) os sindicatos, mas a verdade é que isso é dramaticamente insuficiente.

Mais do que saber qual é a mensagem que os protagonistas querem transmitir, o que os cidadãos gostariam de ter é um retrato fiel da situação. Esta crise seria uma ocasião excelente para os media provarem a sua utilidade - para além do consabido "este disse, aquele disse". Todos gostaríamos de saber o que aconteceu de facto com o PECI e II. Quais são as contas reais do país. O que está a acontecer com as parcerias público-privadas (os factos e não as leituras ideológicas). Com as empresas que não pagam impostos. Com o offshore da Madeira, com as mil e tal fundações privadas que recebem dinheiro dos nossos impostos, com os privilegiados que acumulam pensões e salários, etc. A verdade é que a maioria dos media se encontra ou acantonada num confortável conformismo ou numa quase paralisia imposta por uma draconiana redução de despesas, que impede qualquer actividade de investigação. Só que, sem essa investigação, sem essa função irreverente de watchdog, os media apenas repetem as versões que interessam aos poderes. Sobrevivem, mas isso não é vida. A crise que os media estão a atravessar não é alheia a esta situação. Os media parecem empenhados em provar a sua irrelevância, sem perceberem que é esse o caminho que os está a levar à cova.

 

Público



Publicado por Izanagi às 11:14 | link do post | comentar

(por Daniel Oliveira, Antes pelo contrário)

 O orçamento é péssimo e tem de ser aprovado. A economia europeia suicida-se e ninguém pode fazer nada.  Porquê? Porque falta a política onde ela tinha de estar. Mais do que uma crise financeira, vivemos uma crise democrática.

 

Este orçamento tem de ser aprovado. Porque é bom? Não, é péssimo. Porque nos salva. Não, vai-nos afundar ainda mais. Porque ajuda a economia? Não, vai rebentar com a economia.

Vai ser aprovado porque não é aqui que se governa. Não é aqui que se governa porque a Europa é governada por dois ou três países. Os restantes são meros adereços.

A estrutura institucional do Euro e o conteúdo do último tratado que assinámos assim o determinam. Temos uma moeda à qual não corresponde nenhum poder politico com legitimidade democrática e real poder.

O resultado é este: há o poder da chantagem sem a compensação da solidariedade.

 

Não é aqui que se governa porque a financialização do capitalismo tornou o poder difuso e os Estados reféns do caprichoso jogo dos mercados. E esse poder difuso, sem a força da legitimação do voto, é estruturalmente antidemocrático. Quem julgava que o mercado livre correspondia ao máximo de democracia tem aqui a resposta. A democracia só casa com o mercado se tiver o Estado como padrinho.

 

O que este orçamento nos diz, quando todos o acham péssimo e todos o querem defender, é que não é apenas a economia que está em crise. É a democracia.

O que toda esta charada nos devia dizer, aos portugueses e aos europeus, é que vivemos uma farsa. E que um dia isto rebentará por algum lado. Os povos europeus não aguentarão muito mais vezes a chantagem de pagar a crise provocada por outros.

 Aqueles que salvámos há dois anos e que agora nos apontam uma pistola à nuca. Um dia os europeus vão ter de exigir que a política e as instituições em que ela é legitimada pelo povo se imponham. Esperemos que essa exigência venha a tempo de ter uma natureza democrática.



Publicado por Xa2 às 00:07 | link do post | comentar

Sexta-feira, 29 de Outubro de 2010

A dieta , por Daniel Oliveira

O Estado é gordo.

É isto que temos ouvido vezes sem conta. Tantas vezes dito por gente que, de uma forma ou de outra, viveu quase sempre à sombra dele. Como os católicos não praticantes, só se lembram de Deus na hora do sufoco.

Agora, que vai haver cortes a sério, é que vamos tirar a prova dos nove.

 

Veremos se o sector privado vai finalmente gastar qualquer coisa que se veja em investigação e desenvolvimento quando não tiver as universidades públicas para fazer esse trabalho.

Quero ver se as empresas começam a usar a lei do mecenato à cultura porque isso lhes dá prestígio.

Quero ver se em vez de mamarrachos encomendados a engenheiros do gabarito de José Sócrates vai haver encomendas dos privados a arquitetos que não destruam a paisagem.

Quero ver os hospitais privados a tratarem do que é caro e dá prejuízo.

Empresas a apagar fogos. A garantir escolas economicamente acessíveis.

E quero ver os privados a contratar as pessoas mais qualificadas deste país.

 

É que não é por acaso que a média salarial no Estado é mais alta do que no privado. Grande parte dos mais escolarizados é para lá que vai. A maioria das empresas, em Portugal, prefere o que é barato e descartável.

 

Agora sim, vamos poder ver as maravilhas do Estado mínimo que nos andam a vender há anos.

Quando faltarem polícias na rua, não resmungue.

Quanto não houver meios para combater os fogos, não se indigne.

Quando as escolas e cresces fecharem, as universidades se transformarem em depósitos ainda mais inúteis e não houver gente qualificada para trabalhar em lado nenhum, sorria.

Quando fecharem os centros de saúde e comprar medicamentos para ficar vivo for um luxo, não se apoquente.

Morra sabendo que o Estado sempre foi o culpado de todos os nossos males. E maravilhe-se com a sua elegância depois de uma boa dieta.

 

O que me espanta, o que sempre me espantou, é haver tantos, entre os que devem à maternidade pública o seu nascimento seguro, à escola pública quase tudo o que sabem, à universidade pública a sua ascensão social e cultural, ao Estado a sua segurança e ao hospital público a sua sobrevivência, a pedirem o seu emagrecimento.

Uns são apenas egoístas:

garantida que está a sua condição, os outros que façam pela vida. Outros são só parvos.

Esses vão ver agora como elas mordem.

 

Publicado na edição de 23 de Outubro do Expresso

 


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Publicado por Xa2 às 00:08 | link do post | comentar | comentários (11)

CICLOVIAS ...
pois... eu até sou a favor de andarmos menos de automóvel na cidade e de protegermos o ambiente... porém ...

1- As vias devem ser devidamente planeadas e serem largas para permitirem trânsito rodoviário (várias faixas), paragens e estacionamentos, passeios pedonais, árvores e ajardinamentos, ...

2- Adaptar vias existentes (geralmente saturadas ou quase) para ciclovias é mais caro, é mais problemático e requer muito bom senso (para decidir «Não», «Sim» e «Como?»)... para além de fanatismos ou populismos e de eventuais 'desvios/aproveitamentos' manhosos de dinheiros públicos.

3- Há ciclovias (bem e mal feitas, simples e caras) ... e há faixas (na rodovia ou no passeio) para uso Exclusivo ou PRIORITÁRIO de bicicletas/velocípedes (em vez de separadores usam linha contínua amarela, descontínua e linha zigzag) - esta/s opção/s, usada/s em vários países europeus, é muito mais barata, rápida de concretizar, reversível, flexível, melhor aproveitada, mais eficiente ... racional, equilibrada e ecológica.

A qualidade técnica e as opções existem... os cidadãos exercem ou não a sua cidadania e controlo sobre a Res Pública (uma questão de valores e cultura) ... os dirigentes, autarcas e governantes ... são os que temos/escolhemos e aquilo que permitimos (ou não) !

 

Zé T.



Publicado por Xa2 às 00:07 | link do post | comentar | comentários (1)

Quinta-feira, 28 de Outubro de 2010

Além de Hugo Chaves, da Venezuela, também, a china vem dar “uma mãozinha” a Portugal.

Segundo a Lusa, o Embaixador português em Pequim afirmou que visita a Portugal do Presidente chinês, Hu Jintao, a 06 e 07 de Novembro, deverá ficar marcada por vários "acordos" e "contratos de investimento", nomeadamente na área do turismo, disseram hoje à agência Lusa fontes diplomáticas.

Isto talvez não seja suficiente para calar a boca a certos detractores que acusam de ser responsabilidade (quase exclusiva) da China a situação de crise e de desgoverno que por cá se vive, inclusivé da sem vergonhice que tem sido a corrupção partidária, económica e financeira.

Até porque a china não é, efectivamente, um exemplo de guardanapo a que alguém se possa limpar!



Publicado por Zurc às 11:41 | link do post | comentar | comentários (4)

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