Sábado, 30 de Abril de 2011
O tacho já tem muito uso e está bastante sujo
A revista do DN deste sábado publica uma entrevista ao "cozinheiro" Miguel Relvas, que faz os petiscos do PSD e, das várias fotos publicadas na primeira e principal podemos ver que o tacho já tem muito uso e está bastante sujo. A politica, que deveria ser um "cozinhado" limpo, infelizmente não o é. Em Portugal tem sido até bastante suja, com muito desgoverno e corrupção à mistura.
A coligação negativa - formada pelo PSD, CDS, PCP, BE e Os Verdes -, é a responsável pela estagnação política vivida em Portugal nos dois últimos anos, em que o governo do PS esteve em minoria no parlamento. Num país pequeno e concentrado como Portugal, a estagnação política afecta outros sectores: económico, cultural, civilizacional... É um cancro.
Foi ela que abriu as portas ao FMI. O chumbo do PEC IV foi só a passadeira vermelha. Aliás, imediatamente após o envio do convite aos cobradores sem rosto, este promíscuo concubinato juntou de novo os trapinhos para fazer o frete à Fenprof, aprovando uma lei para suspender a avaliação dos professores.
Recorde-se que esta lei foi discutida e aprovada duma vezada, na generalidade e na especialidade, numa só tarde… Nunca o parlamento teve tanta produtividade!
Para fazer regredir as melhorias introduzidas nos últimos anos no sector da Educação, reconhecidas e valorizadas internacionalmente, aqueles partidos não olharam a meios. Nem sequer repararam na Constituição.
Este atabalhoado processo legislativo ficará para história da Assembleia da Republica como uma das suas mais negras páginas. A decisão do Tribunal Constitucional não deixa margem para dúvidas: “O decreto aprovado pelos partidos da oposição na Assembleia da República violou o “princípio da separação e interdependência dos poderes” e representou uma “invasão nas competências que cabem ao Governo enquanto órgão de soberania”.
Ao contrário de outras vezes, o boicote ao desenvolvimento do país foi mal sucedido, desta vez. Mas os responsáveis continuam por aí, a atirar pedras, na vã tentativa de esconderem os seus telhados de vidro...
É importante para os portugueses, pais e jovens em particular, identificar quem se preocupa com a melhoria das condições do ensino, não os confundindo com os que temem enfrentar as corporações, as quais, no que à educação diz respeito, têm como uma única preocupação que os professores atinjam o topo da carreira o mais depressa possível. Todos!
José Ferreira Marques [A Forma e o Conteúdo]
Primeiro de Maio, abnegação e luta
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O próximo futuro não augura nada de bom para os trabalhadores, pensionistas, reformados e para o povo em geral. Maio e luta são duas palavras indissociáveis, há mais de cem anos. Carregam sofrimento, coragem, honra, dignidade, emancipação e justiça.
Numa sociedade dual, nunca nada foi dado aos mais fracos. Tudo teve que ser arrancado aos mais fortes. Trabalho digno, direitos económicos e sociais foram emergindo do sangue, suor e lágrimas dos que celebramos no dia 1.º de Maio, e do exemplo que nos legaram.
Depois, revivescendo, e exercitando, quotidianamente, esse legado, e passando esse testemunho de mão em mão, foi possível à classe trabalhadora lavrar um terreno de maior respeito por quem trabalha, mais humano, menos injusto.
Dia após dia, ano após ano, com luta e abnegação, os trabalhadores têm vindo a forçar a sucessiva correcção das injustiças existentes. Com avanços e recuos, porque a cada avanço respondem as forças ultraliberais com uma panóplia de "munições", visando a perda dessas conquistas sociais. Muitas vezes parece um combate desigual, com sucessivos benefícios do infractor.
Não há direitos sem deveres, nem deveres sem direitos. Mas há quem, erradamente, queira impor mais deveres à revelia dos legítimos direitos de quem trabalha e produz riqueza.
A única resposta reside na luta constante, ordeira e organizada, dos trabalhadores e dos seus sindicatos.
Luta é a palavra que nunca poderá sair do léxico dos trabalhadores. Luta é o comportamento permanente dos que não aceitam que se confunda empresas com "sanzalas" nem trabalho com escravatura.
Este 1.º de Maio decorre num dos momentos mais graves da nossa vida colectiva.
A vida nunca foi fácil para os portugueses. A bancarrota, no final do século XIX, os desvarios da I República, a ditadura, a guerra colonial, a descolonização, e os choques petrolíferos obrigaram-nos a enormes sacrifícios colectivos, ao longo dos últimos 115 anos. Mas esta crise, com a sua dimensão exógena, de responsabilidade exclusiva de um modelo criminoso e egoísta de capitalismo selvagem, especulativo, de "casino", apanha-nos, a nós portugueses, de uma forma brutal, e quase indefesos.
A inépcia dos nossos governantes, o silêncio dos nossos intelectuais, a cumplicidade de muitos dos que nunca desistiram de vingar as nossas conquistas sociais e a perda concomitante de alguns dos seus privilégios foram o caldo de cultura da crise portuguesa. A somar à paralisia do processo de integração europeia, onde os egoísmos nacionais se sobrepõem, adiam e postergam a solidariedade, a coesão, a convergência e a competitividade da zona euro, condição sine qua non à sobrevivência do projecto europeu.
É crise a somar à crise. Nacional, internacional, europeia e, desgraçadamente, política, com eleições, campanhas, disputas, insultos e desresponsabilizações, quando os "homens do fraque" já cá estão, para nos impor as condições que lhes garantam receber o dinheiro que nos vão emprestar, no mais curto espaço de tempo. Sem que tivéssemos feito, responsavelmente, o trabalho de casa que nos competia: a negociação de um Pacto de Salvação Nacional, que envolvesse e responsabilizasse todos (cf. por mim proposto num artigo de opinião publicado na edição deste jornal de 11 de Março de 2011), constituindo uma garantia de co-responsabilização colectiva - como aconteceu em 1983 - e, assim, travar e conter muitas das receitas que nos irão ser impostas pela troika de credores, sem racionalização, humanidade e justiça, enfraquecidos e desnorteados que estamos, perante esta "loucura" política a que nos conduziram os nossos governantes e "responsáveis"políticos, só comparáveis ao anti-herói literário Macunaíma, do escritor Mário de Andrade. "(Trata-se de) alguém que apenas transita pelo mundo ao sabor do acaso, sem outro fim ou projecto que não seja o da própria sobrevivência, capaz de tudo para consegui-la".
O presente e o futuro apresentam-se assustadores para quem trabalha.
Desde as medidas que o FMI nos vai impor como garantia do empréstimo que evite a bancarrota (um PEC IV muito mais gravoso), até às propostas do Mais (Alta) Sociedade dos amigos de Passos Coelho - com toda a tralha de políticas e soluções de pendor "reaccionário", contra quem trabalha e, preservando os interesses dos banqueiros e dos grandes grupos económicos - o próximo futuro não augura nada de bom para os trabalhadores, pensionistas, reformados e para o povo em geral.
Avizinha-se a vitória do capitalismo selvagem. Será efémera, se os trabalhadores e o seu movimento sindical assumirem sem tibiezas o seu papel prioritário - a Luta. Que este 1.º de Maio seja o ponto de partida de uma enorme mobilização dos trabalhadores, para a "guerra social" que, inevitavelmente, terá uma vez mais que ser travada, igual a todas as que desde os mártires de Chicago foram desencadeadas pela emancipação da classe trabalhadora.
[José Manuel Torres Couto * , Público.pt, 29-04-2011,(via MIC )
* Secretário-geral da UGT de 1978 a 1995, dirigente nacional do PS de 1978 a 2002
Sexta-feira, 29 de Abril de 2011
Por Unanimidade
TC chumba revogação da avaliação dos professores aprovada, por toda a oposição, numa das ultimas sessões da Assembleia da Republica.
O Tribunal Constitucional declarou, hoje, a inconstitucionalidade da revogação da avaliação do desempenho docente, cuja fiscalização preventiva tinha sido pedida pelo Presidente da República.
As sondagens publicadas na última semana revelam várias novidades: por um lado uma ligeira subida do PS, aproximando-se do PSD; uma continuação da descida do Bloco de Esquerda, e pequena subida do CDS-PP.
Esta evolução reflecte de forma particularmente precisa os resultados da luta que se tem travado entre os vários protagonistas políticos nas últimas semanas.
Antes de mais, é um claro sinal da resiliência do formato do nosso sistema partidário, "malgré tout". Na luta entre os grandes partidos (PS e PSD) vs os pequenos (CDS, BE e PCP) os grandes continuam a dominar. Apesar de haver a convicção generalizada de que o sistema político, com todos os seus defeitos, foi construído pelo PS e PSD, os portugueses recusam abandonar estes partidos em massa por opções irrealistas (PCP e BE) ou populistas (alguns novos partidos). Isto, não deixa de ser revelador de um extraordinário bom senso. Que é também marcado por alguma esperança no futuro, patente na sondagem do Expresso publicada na última semana, em que uma maioria de portugueses considera que a vinda da "troika" para Portugal vai ser positiva para o país.
O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, defende que "é crucial que os decisores de política e os gestores públicos prestem contas e sejam responsabilizados pela utilização que fazem dos recursos postos à sua disposição pelos contribuintes".
Carlos Costa rompe assim a tradição desresponsabilizante de Constâncio (entretanto premiado com uma sinecura no BCE), que os portugueses se habituaram a ouvir repetidamente reclamar que os sucessivos défices, alimentados pela imprudência, quando não pela gestão danosa, dos governos dos últimos 12 anos, fossem resolvidos à custa da redução de salários e pensões.
É, de facto, escandalosamente imoral que os erros dos decisores políticos sejam pagos pelos 257.745 desempregados que, segundo números da Segurança Social, perderam o subsídio de desemprego e o subsídio social de desemprego, o que significa igual número de famílias na miséria, ou pelas outras centenas de milhar que ficaram sem RSI ou abono de família (retirado a 645.600 famílias desde Novembro).
Isto enquanto os encargos com vencimentos, "despesas de representação", horas extraordinárias, ajudas de custo, suplementos, prémios, subsídios de residência e alojamento e outros mais dos "boys" e "girls" dos gabinetes ministeriais ascenderam a 19,7 milhões de euros em 2010. E ainda ficam de fora os gabinetes dos 38 secretários de Estado, às vezes mais "populosos" do que os dos próprios ministros...
Manuel António Pina [Jornal de Notícias]
por Daniel Oliveira, Expresso Online,
28.4.2011
Enquanto o debate político português continua centrado no seu próprio autismo - dedicado à autoflagelação e ignorando a crise europeia -, estão a acontecer coisas interessantes. Duas, por agora:
a lenta agonia espanhola e a ameaça de reestruturação da dívida grega.
Basta que a última aconteça para a queda de Espanha ser uma questão de dias. E depois dela, o contágio a Itália e à Bélgica.
Este efeito dominó acabará por criar uma situação financeira, mas também política, absolutamente nova. Com a queda de dois grandes a Europa será mesmo obrigada a reagir.
O egoísmo alemão terá de fazer uma escolha: ou muda de rumo ou prepara a morte do euro e da União Europeia. E a segunda escolha terá um preço de tal forma arrasador para os alemães - sempre foram os que mais ganharam com a moeda única - que nem é sequer uma alternativa para quem não queira ficar na história como o chanceler que matou a economia alemã.
Se este cenário se confirmar - e cada vez mais sinais apontam para aí -, os seus efeitos dependerão da rapidez de uma reação europeia. Se for, como tem sido, a passo de caracol, estamos todos tramados. O barco vai ao fundo e ninguém se salva. Se for, por pressão dos gigantes em queda, rápida, talvez haja futuro para a Europa. E talvez haja futuro para Portugal.
Triste situação é esta, em que a nossa sobrevivência depende da desgraça alheia. Triste Europa é esta, que só acordará no dia do Apocalipse. Tristes líderes políticos são estes, tão dependentes dos poderes financeiros que só pensarão no futuro quando a tragédia lhes bater à porta.
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José Erre Ponto
"Tristes líderes políticos são estes..." Líderes? Eles são uns simples servos. Uns servozitos! Todos os dias "rezo" um terço (laico, obviamente) para que a Espanha seja já a seguir. Logo eu, que gosto da Espanha! Mas não há outra maneira de as agências e os do dinheiro, donos dos servozitos, nos desmontarem... porque nos montam, mesmo! E mandam morder-nos nas canelas os rafeiros a soldo que vão latindo pela TV. Tudo coisas que irritam!
Quinta-feira, 28 de Abril de 2011
Essa personalidade aberrante de guerras e intrigas que responde pelo nome de Manuel Maria Carrilho e que instalou ninho no Partido Socialista para alcançar objectivos que por si só dificilmente obteria, tornou-se a imagem do vilão letrado, do carente desagradecido, do companheiro que atraiçoa...
Mas vale a pena ler na íntegra o artigo exclusivo da socialista e coordenadora do Blogue de Esquerda da Sábado, Marta Rebelo, no qual o retracto do indivíduo em causa é feito na perfeição.
A. A. Barroso [Dar À Tramela]
Islandiarizar, se for preciso
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Álvaro de Campos
Não sou daqueles que defendem que precisamos de mudar de regime. Acredito na democracia como regime e bater-me-ei, sempre, para que esse seja o regime português.
Sou daqueles que defendem que precisamos de mudar de democracia. Sou também daqueles que defendem que, se os Partidos que formam esta democracia insistirem em produzir os bonecos que nos oferecem para ir a votos, vai ser necessário islandiarizar a classe política, os actuais Partidos e os mecanismos democráticos.
Sou daqueles que defendem que só é possível mudar se nos deixarmos do "eles" e do "nós" para passarmos a ser o "todos nós, Nação" com cidadãos participativos, envolvidos na busca de soluções e no repúdio ao determinismo e ao imobilismo.
Sou daqueles que defendem que a arma está no voto e que, quando entender que esse voto é inútil por não me rever em quê e em quem votar, saberei participar na construção de alternativas.
Sou daqueles que não votam em Sócrates, mas sim no Partido Socialista (e até tenho a sorte de votar em Eduardo Ferro Rodrigues que é o cabeça de lista do meu distrito) mas que entendem que compete aos Partidos políticos elegerem os seus dirigentes e que não é regra da democracia negar negociações de regime tendo como argumento os titulares que lideram os Partidos democráticos.
Sou daqueles que se estão nas tintas para os juros que os especuladores dos mercados fixam porque acredito que temos de ser capazes de trabalhar e produzir de forma a evitar pedir dinheiro para pagar a nossa preguiça e o nosso deslumbramento consumista.
Sou daqueles que combatem o subsidio para não-produzir e que não vivem da semente subsidiada que produzir o subsídio na não-colheita.
Sou daqueles que não acreditam nos bruxos que já disseram tudo e o seu contrário e que por isso têm sempre razão embora, quando foram chamados a apresentar e implementar soluções, tenham sido tão ineficazes e incapazes como todos os outros que criticam.
Sou daqueles que se recusam a olhar para os outros sem primeiro olhar para mim.
(*- da Marselhesa: ...'citoyens,...' )