Sábado, 31 de Dezembro de 2011
O GOVERNO, SA e uma visão do nosso futuro... por Daniel Estulin
(Partes duma Conferência de Imprensa no Parlamento Europeu em 01.12.2011)
 


Publicado por [FV] às 09:57 | link do post | comentar | comentários (2)

Sexta-feira, 30 de Dezembro de 2011

 É preciso romper com a troica e obrigá-la a renegociar a dívida

 

Para o politólogo belga, Éric Toussaint, a dívida de Portugal à Europa e ao FMI é ilegítima e deveria ser renegociada. O grande problema da crise, defende, não está nos estados, mas nos bancos. (Hoje no Público)
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Éric Toussaint não está optimista, mas tem uma visão diferente da actual crise e do que fazer para sair dela. O politólogo e professor universitário belga esteve recentemente em Lisboa para ajudar a lançar a iniciativa por uma Auditoria Cidadã da Dívida Pública. Experiência não lhe falta. É presidente do Comité para Anulação da Dívida do Terceiro Mundo e fez parte da equipa que realizou, entre 2007 e 2008, a auditoria sobre a origem e destino da dívida pública do Equador, ao servico do novo Governo de esquerda do país, num processo que levou ao julgamento de vários responsáveis políticos e à decisão unilateral de não pagar parte da dívida equatoriana. Acredita que o mesmo pode acontecer na Europa. Mas isso implica romper com as exigências da troika.
Depois das decisões que saíram da última cimeira europeia acha que a crise da dívida está próxima do fim?
Esta é uma crise que vai durar 10 ou 15 anos, porque o problema fundamental não é a dívida pública, mas sirn os bancos europeus. E não estou a falar dos pequenos bancos portugueses ou gregos. O problema é que os grandes bancos - Deutsche Bank, BNP Paribas, Credit Agicole, Société Generale, Commerzbank, Intesa Sampaolo, Santander, BBVA - estão à beira do precipício. Isso é muito pouco visível no discurso oficial. Só se fala da crise soberana, quando o problerna é a crise privada dos bancos.
Está a referir-se à exposição dos bancos à dívida pública de alguns países do euro? Não, não é a exposição à dívida soberana, mas sim a derivados tóxicos do subprime [crédito de alto risco]. Está a ocultar-se que todo o conjunto de derivados adquiridos entre 2004 e 2008 continuam nas contas dos bancos, ... [continua aqui]

Etiquetas: Equador, renegociar a dívida, Romper com a troica


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Publicado por Xa2 às 20:04 | link do post | comentar

Judiarias de um cristão ou cristandades de um judeu?

Afinal, o próprio cristo, não era, ele mesmo, judeu?

Há alguns dias, numa conferência de imprensa o Presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores, (ACEGE), o, prestigiado (?) advogado António Pinto Leite terá afirmado, conforme o jornal Negócios fez eco, que “a legislação laboral deveria ser alterada para permitir às empresas baixarem os salários!”.

O legalista, como valida argumentação, defende, não a correção da ilegalidade mas, vejam bem, que a lei seja adequada ao que se pratica na realidade e, portanto, haveria que adequar a lei a esta realidade! Isto é legalize-se a criminalidade.

É destes, autoproclamados, cristãos que o país precisa para a, necessária e urgente, saída da crise, financeira, muito naturalmente, para quem o Causídico trabalhará em causas tão nobres embora tão poucos sociais.

Já perceberam porque, tantos figurões que poa aí andam à solta, não vão presos?

É muito difícil, sobretudo sem que tais palavras cheirem a hipocrisia, desejar bom Ano Novo aos leitores do LUMINÁRIA, numa sociedade impregnada com tanta sacanagem, por isso desejo-vos muita Saúde.



Publicado por Zé Pessoa às 15:44 | link do post | comentar

Aqui está mais outro exemplo, que dá razão à realização de “Auditorias Cidadãs” às contas públicas e à forma como são utilizados os impostos cobrados à classe média deste país.

O relatório que, segundo noticiado pela Comunicação Social, ficou, pelo menos algum tempo, na gaveta demonstraria que a introdução de portagens nas Scut prejudicou não só os automobilistas, que passaram a pagar o que antes já havia sido pago com as verbas provenientes de impostos (vindos de Bruxelas e dos cofres do Ministério das Finanças), mas foi igualmente ruinosa para o Estado com ainda mais agravados encargos futuros.

Antes, o Estado devia às concessionárias 178 milhões de euros. Agora, a empresa pública Estradas de Portugal ficou comprometida com um dívida superior a 10 mil milhões de euros. Com a renegociação de contratos, para introduzir portagens, as estradas ficaram 58 vezes mais caras.
O problema é que a receita de portagens, conforme se vem constatando, fica longe dos novos encargos assumidos pelo erário público, com pagamentos por disponibilidade às concessionárias.

«As concessionárias passaram a beneficiar de rendas Avultadas», denuncia o Tribunal de Contas.
Na sua própria previsão, a Estradas de Portugal vai cobrar 250 milhões de euros de portagens em 2011, mas terá de pagar rendas de 650 milhões. Resultado: 62% de prejuízo.

O Estado, para cobrar portagens, assumiu ele o risco de tráfego. Com a crise e o previsível aumento do preço dos combustíveis, menos carros vão circular nas antigas Scut. O Estado receberá menos dinheiro, mas as empresas estão a salvo porque recebem avultadas rendas fixas, suportadas pelos contribuintes e pelos automobilistas, que financiam a EP com uma parte do imposto sobre combustíveis.

O Tribunal de Contas quantifica o ganho dos consórcios privados com cada estrada.

Tudo parece rolar em torno de interesses banqueiros: segundo o que foi divulgado o consórcio Ascendi, liderado pela Mota-Engil e pelo Grupo Espírito Santo terão garantidos, independentemente do número de carros a circular, mais 2532 Milhões de rendas pela da Beira-Litoral e Alta, mais 891 Milhões na Costa de Prata, mais 1977 milhões na concessão Grande Porto. Já o consórcio Euroscut, liderado pela Ferrovial, ganhou direito a um adicional de 1186 milhões pela concessão Norte Litoral.

A renegociação visou desorçamentar a despesa com o ambicioso Plano Rodoviário do Governo, criando «receitas» para a Estradas de Portugal, que permitissem apresentá-la à Europa como mais dependente do mercado do que do orçamento de Estado. O objectivo, falhado, levou à renegociação dos contratos que já antes tinham portagem.

A EP passa a ter receitas de portagem da própria Auto-Estrada do Norte, a grande concessão da Brisa, mas ficou devedora de mais 2500 milhões de euros. O mesmo na concessão Grande Lisboa, em que vai ter de pagar mais 1023 milhões.

Almerindo Marques, presidente, a seu tempo, da Estradas de Portugal, que entretanto se passou para o lado oposto, remeteu para o Governo a responsabilidade na renegociação dos contratos. O homem já estava mesmo de saída e não poderia ser acusado de conflito de interesses ou de juiz em causa própria, pois claro. A honestidade acima de tudo, o senhor não iria querer ser acusado, infundadamente, como tantos outros.

Um dos malabarismos conseguidos pelos poderosos lobbys das empresas de Obras Públicas foi o de, através da Lei 48/2006, de 29 de Agosto alínea d) do nº 1 do Artigo 47º, excluir da fiscalização prévia do Tribunal de Contas «contratos adicionais aos contratos visados».

Esta auditoria, que a seu tempo a TVI revelou em primeira mão, Presidente do Tribunal de Contas, Guilherme D`Oliveira Martins, entendeu, contudo, que ela deveria ser discutida no plenário, de 9 juízes, quando, normalmente seria aprovada por um colectivo de 3 juízes.

O estranho (será que é?) é pouco se falar em renegociações das, famigeradas, Parcerias Publico Privadas (PPP) que tanto sugam os cofres do Estado, os dinheiros dos contribuintes e quem tenha necessidade de circular em tais vias. Alguém referiu e com muita propriedade que “sendo o país tão pequeno, como é que Portugal aguenta tanto ladrão?”



Publicado por Zurc às 08:55 | link do post | comentar | comentários (1)

Terça-feira, 27 de Dezembro de 2011

Afinal para haver bons alunos têm de haver bons professores. O exemplo do que escrevo são o então chamado “Capitalismo Popular” na ocasião tão propalado pelo então primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva quando a EDP fez a primeira OPV em 17 de Junho de 1997 e passou a estar cotada na BVL considerado na altura um grande sucesso. O então primeiro-ministro fez campanha aludindo que qualquer português se poderia tornar accionista desse colosso energético. Quem diria a evolução que tal capitalismo haveria de experimentar e onde iria cair!

Agora e, precisamente, quando uma empresa de capitais publicos Chinesa, paradoxalmente, adquire 21,45% da mesmíssima EDP vem, igualmente, o primeiríssimo primeiro-ministro, presumível aluno daquele outro senhor já referenciado, afirmar, em natalícia alocução que quer promover uma “democracia económica” no país.

Já podem adivinhar o que daí sairá. Vamos ficar todos ricos e sem qualquer necessidade de preocupação com o futuro. Pois temos o “capitalismo popular” de uma “China democrática” entre nós.

Os mais de 100 mil portugueses que, ao longo deste ano de 2011, abandonaram o país vão ficar muito arrependidos pois, esses, ficarão arredados de tão enriquecedora democratização levada a cabo por essa excelsa personalidade que dá pelo nome de PMMPC.

 

P.S.

É caso par desejar um Novo Ano de 2012 cheio de muitas riquezas a todos os capitalistas portugueses, não há necessidades de nos preocuparmos com os pobres, coisa que deixará de existir em Portugal a partir da publicação do decreto implementador da "democracia económica".



Publicado por DC às 12:07 | link do post | comentar | comentários (2)

Quinta-feira, 22 de Dezembro de 2011

Indignados - um Símbolo Histórico para o Século XXI

O Movimento dos "Indignados" mereceu a capa da prestigiada revista "Time" na sua edição da "Pessoa do Ano 2011", a cuja imagem foi associado o texto que justifica o destaque: "Da Primavera Árabe a Atenas, do Ocupa Wall Street a Moscovo"! Deste modo consagra-se o fenómeno social criado pelos Indignados como uma inequívoca marca da História neste final da 1ª década do século XXI... Felizmente!... pelo poder democrático que as nossas manifestações cívicas representam, de forma universal como convém à Humanidade (- e independentemente do que a História tiver que escrever nos anos que se vão seguir)... 
      (-por A.P.Fitas )
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. Congelamento de progressões e actualizações, corte nos salários, corte nas pensões, corte dos subsídios de Natal e Férias, corte no valor das horas extraordinárias;
. aumento do custo de vida, aumento de taxas moderadoras na saúde, aumento de propinas, aumento de impostos (IVA, IMI, ...), menos deduções nos impostos, menos apoios sociais;
. aumento de horas de trabalho e irregularidade de horários,  aumento do assédio e 'mobbying' no trabalho, menos dias de férias, menos feriados, menos dias de indemnização por despedimento, menos subsídio de desemprego;
. desregulamentação do trabalho, aumento do desemprego (agora +30.000 na AP), aumento da emigração (também entre diplomados), aumento da pobreza, aumento da fome (mesmo entre crianças e estudantes), aumento da criminalidade (para além da corrupção, dolo/má gestão e 'desvio' de bens públicos, ...), aumento da disparidade de rendimentos (e compressão da 'classe média'), aumento da insegurança e da injustiça, ...
 
Com promessas e 'prendas' destas ... é ''Tempo de Protestar'' e mudar ... a sério.


Publicado por Xa2 às 07:39 | link do post | comentar | comentários (5)

O euro e a "vida fácil" , (-por Daniel Oliveira, Expresso online)

 O Presidente da República disse uma mentira e uma verdade. Disse que os portugueses beneficiaram do euro e tiveram uma "vida fácil". É falso. E que negligenciámos a produção de bens transacionáveis. É verdade.
    A primeira mentira resulta da inversão entre causa e consequência. Vamos partir do princípio que a acusação de "vida fácil" não é dirigida a maioria dos portugueses. Se for o caso, o Presidente não vive no mesmo País que eu.
 Vamos então dar o beneficio da dúvida e achar que se refere à nossa economia. Não é verdade que a nossa economia tenha beneficiado com o euro. Pelo contrário, todos os dados económicos (é ver a balança comercial e a dívida externa a partir de 2000) demonstram o oposto: com uma moeda forte as importações foram facilitadas. Mas exportar tornou-se extraordinariamente difícil. Essa dificuldade começou, aliás, um pouco antes: com a convergência com o marco, que começou depois de Maastricht e antecedeu a adesão à nova moeda.
 Resultado: o País perdeu liquidez e endividou-se no exterior.
    A aposta em bens não transacionáveis, em serviços e na distribuição de produtos importados não resulta de uma negligência dos "portugueses". As privatizações de empresas de serviços, que canalizaram enormes investimentos privados, terão ajudado à subversão das prioridades. Mas a principal razão é a que já referi: com uma moeda forte e tendo perdido um dos argumentos competitivos que as economias fracas têm, os empresários procuraram outros negócios. Se exportar é caro e importar é barato, a escolha fica fácil. Importa-se em vez de se produzir. Por cá, dedicamo-nos ao que está, apesar de tudo, menos exposto à concorrência externa, por depender mais da proximidade.
    A verdade é esta: o euro foi mau para a nossa economia porque inverteu todas as prioridades. A "negligência" a que se referiu o Presidente resultou de escolhas empresariais racionais. E essas escolhas resultaram de uma adesão ao euro mal preparada e mal negociada.
    Os únicos portugueses que viram a sua vida facilitada foram os que viajam para o estrangeiro e os que importam bens e serviços. Não foram uns malandros sem escrúpulos. Apenas fizeram o lógico. Ficaram a perder os exportadores e os que, produzindo para o mercado nacional, deixaram de conseguir competir com produtos importados. Mesmo as nossas empresas que se internacionalizaram fizeram-no sem incorporar produtos ou mão de obra nacional. Ou seja, sem grande vantagem para a nossa economia. Em alguns casos, como o da EDP, com desvantagens óbvias.
    Sim, foram cometidos erros por parte dos sucessivos governos:
- a aposta quase exclusiva nas obras públicas (mais protegida da competição externa) e nos serviços;
- as privatizações feitas sem critérios de interesse nacional;
- a multiplicação de grandes superfícies que centralizaram a distribuição e esmagaram os produtores;ou
- o desinvestimento (apoiado pelo Europa) na indústria, na agricultura e nas pescas.Tudo foi feito para consumirmos importado em vez de produzirmos para exportar. Esses erros não resultam da nossa adesão ao euro. São anteriores. O euro apenas os acentuou. E neles, o ex-primeiro-ministro Cavaco Silva deu o mote para os que lhe seguiram.
    O problema do discurso moralista sobre os portugueses e infantil sobre a economia que agora está em voga - "vida fácil", "viver a cima das nossas possibilidades" ou "viver com o que se tem" - é que não tem qualquer rigor económico.
 Vende uma narrativa para impor sacrifícios aos que nunca viveram com desafogo. Desta narrativa resultam falsos culpados e falsos inocentes. Os culpados são "os portugueses", que, apesar de viverem no País mais desigual da Europa, são tratados como uma massa uniforme de privilegiados e gastadores. Os inocentes são os sucessivos governantes, onde está seguramente incluído o homem que governou na nossa primeira década europeia.


Publicado por Xa2 às 07:37 | link do post | comentar | comentários (1)

Quarta-feira, 21 de Dezembro de 2011

Bancos  apossam-se  da  Europa   (-por Adriano Benayon [*]

        A oligarquia financeira está empurrando, goela abaixo da União Européia (UE), um "acordo" que estabelece regras rígidas para que a Europa seja governada (ou desgovernada), de forma absoluta, por bancos, liderados pelo Goldman Sachs, de Nova York.

   2. Embora as modificações desse acordo aos Tratados da UE dependam de aprovação legal em cada país membro – processo que poderia durar anos – os manipuladores financeiros assumiram o poder à força e irão em frente, a menos que o impeça a resistência dos povos, ainda sem organização.

   3. Com a experiência da pequena Islândia, em duas consultas ao povo, a última em abril de 2011, os predadores perceberam que qualquer outra, em qualquer país, implica a derrota de suas proposições. Bastou o ex-primeiro-ministro da Grécia falar em referendo para ser demitido.

     4. Mesmo antes de 09/12/2011 – quando foi encenada "reunião de cúpula", e Sarkozy (França) e Angela Merkel (Alemanha) anunciaram o tal "acordo" – o Goldman Sachs (GS) já havia posto três de seus prepostos/'quadros de topo' em posições-chave: Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu; Mario Monti, primeiro-ministro da Itália; Lucas Papademos, primeiro-ministro da Grécia, envolvido em operações do Goldman Sachs com a dívida grega resultantes em sua elevação.

   5. Os países da Zona Euro (os 17 membros da UE cuja moeda é o euro) serão obrigados a aceitar o "acordo". Sarkozy e Merkel dizem que os dirigentes dos outros 15 países foram consultados, mera formalidade. Nove outros Estados participam da União Europeia, mas não adotam o euro: Reino Unido e Dinamarca (isentos), e mais sete que poderiam ainda aderir à Zona.

    6. Aqueles porta-vozes apresentaram o pacote envolto neste rótulo: "salvar o euro"; "reforçar e harmonizar" a integração fiscal e orçamentária da Europa. Na realidade, trata-se de destruir a Europa econômica e politicamente, sem garantir a sobrevida do euro, além de aprofundar a depressão, com o arrasamento das políticas de bem-estar social, instituindo uma espécie de "lei de responsabilidade fiscal", como a que manieta o Brasil.

    7. O "acordo" impõe duras sanções aos países que não o cumpram, ademais de ser fiscalizados pelo Tribunal Europeu de Justiça. Os Chefes de Estado e de governo passam a reunir-se mensalmente durante a crise. Com isso, reduz-se o poder dos burocratas da Comissão Europeia, mas essa mudança nada altera, dado que estes também executam fielmente os desejos da oligarquia financeira anglo-americana.

    8. Sarkozy é cópia piorada de Mussolini, pois este pôs os bancos sob o controle do Estado – e não o contrário, como se faz agora com a Europa, EUA etc. Submisso às diretivas da oligarquia financeira, o presidente da França declara que os benefícios sociais não são sustentáveis, na hora em que eles são mais necessários que nunca, dado o desemprego grassante.

   9. O pacote quer obrigar, punindo os que não o cumpram, que os países da Zona Euro reduzam seus déficits orçamentários para 0,5% do PIB, ou seja, seis vezes menos que o limite de 3%, prescrito no Tratado de Maastricht.

   10. Isso significa que Grécia, Itália, Espanha, Portugal e outros terão de cortar ainda mais despesas, depois de já as terem cortado, fazendo, assim, a depressão aprofundar-se. A depressão já causou queda nas receitas fiscais. Combinada a queda das receitas fiscais com o crescimento do serviço da dívida pública, decorrente da alta das taxas de juros, temos, juntos, dois fatores de elevação do déficit orçamentário.

      11. Que fazer? Cortar toda despesa que não as da dívida, desmantelando as políticas sociais e deixando de investir na infra-estrutura econômica e na social. Isso trará, entre outros danos irreparáveis, o aumento da disparidade entre membros mais e menos desenvolvidos, inviabilizando a permanência destes na Zona Euro, o que implica sua desintegração.

   12. A periferia europeia está, pois, ingressando no Terceiro Mundo, caminho aberto também ao restante da Europa, já que acaba de lhe ser prescrita a receita usual do FMI, a qual ajudou a manter o Brasil e outros no subdesenvolvimento.

   13. A dupla franco-alemã infla seus egos brincando de diretório europeu, mas Merkel, obedecendo aos bancos alemães, rejeitou a possibilidade de o Banco Central Europeu (BCE) emitir títulos para substituir os dos países devedores. Os bancos querem continuar emprestando aos governos, para receber os juros.

   14. Essa rejeição deve levar ao fim do euro, se este já não está perto do fim mesmo sem ela. Traz consequências danosas para a própria Alemanha e para a França, pois obriga os devedores mais problemáticos a continuar pagando taxas de juros demasiado elevadas nos seus títulos.

    15. Isso promove crise ainda maior de suas dívidas, com o que credores – bancos alemães, franceses e norte-americanos – chegarão mais rápido ao colapso. Mostra-se, portanto, quimérica outra pretensão do "acordo": a de enquadrar os países no limite de 60% do PIB para suas dívidas.

16. Não é para a União Europeia que os países europeus estão perdendo a soberania. É em favor da oligarquia financeira que renunciam formalmente, através de atos irresponsáveis de seus chefes de governo.

       17. A perda de soberania não se restringe às regras draconianas citadas, por si sós conducentes à ruína financeira e econômica. Inclui também que os países devedores liquidem – a preço de salvados do incêndio – inalienáveis patrimônios do Estado, como já foi determinado à Grécia e a outros. É a privatização, objeto das mais colossais corrupções vistas na história do Brasil.

   18. Os analistas ligados ao sistema de poder atribuem a crise dos países europeus mais pobres a terem estes gastado acima de suas possibilidades, e mesmo economistas mais sérios oferecem explicações para a derrocada europeia que omitem sua causa principal.
    19. Essa causa é a depressão econômica mundial, resultante do colapso financeiro armado pela finança oligárquica centrada em Nova York e Londres. Ele eclodiu em 2007, iniciando a depressão que se desenha como a mais profunda e longa da História, se não for interrompida pela terceira guerra mundial, planejada pelo complexo financeiro-militar dos EUA.

   20. Martin Feldstein, professor de Harvard, aponta diferenças institucionais e nas políticas monetária e fiscal entre os EUA e a UE. Ele e muitos, como Delfim Neto, atribuem grande importância à taxa de câmbio. Argumentam que os europeus em crise não têm como desvalorizar a moeda para se tornarem mais competitivos, uma vez que adotaram o euro.

   21. Robert Solow, prêmio Nobel, salienta que a UE transfere recursos de pequena monta aos membros menos avançados, pois o orçamento unificado da UE equivale a só 1% de seu PIB. Já nos EUA o governo federal fez vultosas transferências de recursos aos Estados e para regiões críticas.

   22. Ainda assim, Itália, Espanha, Grécia, Portugal suportaram a situação até surgir a depressão mundial. Tendo exportações de menor conteúdo tecnológico que Alemanha, Holanda, França, e dependendo do turismo, foram duramente atingidos até pela queda da produção e do emprego nos países ditos ricos, inclusive extra-continentais, como EUA e Japão.

    23. A depressão, por sua vez, adveio das bandalheiras financeiras geradas a partir de Wall Street e bases off-shore, sem regulamentação, atuantes no esquema da City de Londres, desembocando no colapso financeiro que eclodiu em 2007 e se direciona para novo estágio, mais destrutivo.

   24. Os europeus envolveram-se na onda dos derivativos, quando bancos suíços e alemães adquiriram alguns bancos de investimento de Wall Street. Mesmo assim, os bancos dos EUA estão tão ou mais encalacrados que os europeus nos títulos podres resultantes da abusiva criação dos derivativos.

   25. Ademais, Grécia, Espanha, Itália e outros foram enrolados pela engenharia financeira de Wall Street, Goldman Sachs à frente, que lesou investidores, camuflando os riscos, além de proporcionar créditos àqueles países, ao mesmo tempo em que fazia hedge, jogando contra seus devedores, com o resultado de elevar os juros das dívidas.

   26. O assaltante está tendo por prêmio ficar com a casa do assaltado. Mas, antes da ocupação dos governos pelos bancos, agora ostensiva, as pretensas democracias ocidentais já não tinham autonomia, mesmo com parlamentos eleitos escolhendo o primeiro-ministro.

      27. Como os principais partidos políticos são controlados pela oligarquia financeira – na Europa, nos EUA etc – e se diferenciam apenas por ideologias pró-forma, acomodáveis a qualquer prática, pode-se dizer que a escolha eleitoral se limita à marca do azeite com o qual os eleitores serão fritados.

   28. O "acordo" agora imposto à Europa surge como culminação de uma guerra financeira que completa o trabalho realizado nas duas primeiras Guerras Mundiais. Estas destruíram a Alemanha e a França como grandes potências. O império anglo-americano só não conseguira retirar esse "status" da Rússia, mas o logrou, ao final da Guerra Fria (1989), conquanto a Rússia busque agora recuperá-lo.

   29. Para que a Europa não afunde, terá de tomar rumo radicalmente diferente daquele em que foi colocada e no qual segue em aceleração impulsionada pelo "acordo" a ser celebrado, a pretexto de salvar a moeda única.

    30. O General De Gaulle, nos anos 60, insurgiu-se contra o privilégio dos EUA, de cobrir seus enormes déficits externos, simplesmente emitindo dólares, e exigiu a conversão para o ouro das reservas da França. Profeticamente advertiu que a entrada da Inglaterra na UE seria uma operação "cavalo de Troia".

   31. Hoje o dólar continua sendo sustentado pela condição de divisa internacional, instituída em 1944 (acordos de Bretton Woods), e mais ainda pelo poder militar. Os EUA forçam, por exemplo, que seja liquidado em dólares o petróleo comerciado entre terceiros países.

    32. Percebe-se o móvel de desviar para a Europa o foco da crise econômica e financeira, que deveria estar nos EUA e do Reino Unido. Ele foi posto na Eurolândia, através de jogadas dos bancos de Wall Street com suas subsidiárias baseadas no grande paraíso fiscal que é a City de Londres.

   33. Os mercados financeiros parecem teatro do absurdo. Se não, como explicar que os títulos de longo prazo norte-americanos paguem juros de menos de 2% a.a., enquanto os da Itália, de dois anos de prazo, subiram para 8% a.a.? E como explicar que a cotação do risco de crédito da Alemanha e da França esteja sendo rebaixada, enquanto isso não se dá com os títulos norte-americanos?

    34. Deveria ser o contrário, pois: 1) as emissões de dólares em moeda e em títulos públicos são muito maiores que as de euros; 2) a dívida pública dos EUA atinge 120% do PIB (muito mais que os países da Zona Euro), e seria muitíssimo maior sem as enormes compras de títulos do Tesouro dos EUA pelo FED e as emissões desbragadas do FED; 3) o déficit orçamentário dos EUA supera 10% do PIB, enquanto a média europeia é 4%. 4) o déficit nas transações com o exterior dos EUA, em 2010, correspondeu a 3,9% do PIB, enquanto a Alemanha teve superávit de 5,7% do PIB, e os déficits da França e da Itália foram 2% e 3% do PIB.

   35. Não bastasse, os grandes bancos americanos têm vultosas carteiras de títulos podres (sobretudo derivativos), mesmo depois de grande parte deles ter sido comprada pelo FED e por agências do governo dos EUA, em operações caracterizadas por grau incrível de corrupção.

   36. Como aponta o Prof. Michael Hudson, um quarto dos imóveis nos EUA vale menos que suas hipotecas. Cidades e Estados estão em insolvência, grandes companhias falindo, fundos de pensão com pagamentos atrasados.

     37. A economia britânica também cambaleia, mas os títulos governamentais pagam juros de só 2% a.a., enquanto os membros da Zona Euro enfrentam juros acima de 7% a.a, porque não têm a opção "pública" de criar dinheiro.

   38. O artigo 123 do Tratado de Lisboa proíbe o BCE fazer o que os bancos centrais devem fazer: criar dinheiro para financiar déficits do orçamento público e rolar as dívidas do governo. Tampouco o pode o banco central alemão, por força da Constituição da Alemanha (país ocupado).

      39. Conclui Hudson: "se o euro quebrar será porque os governos da UE pagam juros (agiotas) aos banqueiros, em vez de se financiarem através de seus próprios bancos centrais". Dois poderes caracterizam o Estado-Nação: criar dinheiro e governar a política fiscal. O primeiro já não existia para os europeus, e o segundo está sendo cassado com o presente "acordo".

  --- 2011.12.13 [*] Doutorado em Economia, autor de "Globalização versus Desenvolvimento"

 Deputado europeu sem papas na língua:




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Terça-feira, 20 de Dezembro de 2011

Carta aberta ao Senhor Primeiro Ministro


Este texto foi publicado hoje no Facebook por alguém que conheço pessoalmente. Tal como conheço o pai. Foi escrito pela Myriam, como podia ter sido escrito por dezenas de pessoas com quem lido diariamente ou quase. Sinto uma enorme revolta, mas pouco mais posso fazer do que dar-lhe este espaço.
     Exmo Senhor Primeiro Ministro
     Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim. Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome "de guerra". Basilio é o apelido pelo qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo amigos, se lembram de mim em anos mais recuados.
     Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer.
     Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso. Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios, desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de muito do que tinha aprendido.
   Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida. Despedi-me. Conquistei outro emprego, mais uma vez sem ajudas. Trabalhei mais. Saí de casa dos meus pais. Paguei o meu primeiro carro, a minha primeira viagem, a minha primeira renda. Fiquei efectiva. Tornei-me personna non grata no meu local de trabalho. "És provavelmente aquela que melhor escreve e que mais produz aqui dentro." - disseram-me - "Mas tenho de te mandar embora porque te ris demasiado alto na redacção". Fiquei.
     Aos 27 anos conheci a prateleira. Tive o meu primeiro filho. Aos 28 anos conheci o desemprego. "Não há-de ser nada, pensei. Sou jovem, tenho um bom curriculo, arranjarei trabalho num instante". Não arranjei. Aos 29 anos conheci a precariedade. Desde então nunca deixei de trabalhar mas nunca mais conheci outra coisa que não fosse a precariedade. Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa". Tinha como ordenado 'fixo' 485 euros x 7 meses por ano. Tinha iniciado um mestrado que tive depois de suspender pois foi preciso escolher entre trabalhar para pagar as contas ou para completar o curso. O meu dia, senhor primeiro ministro, só tinha 24 horas...
     Cresci mais. Aos 38 anos conheci o mobbying. Conheci as insónias noites a fio. Conheci o medo do amanhã. Conheci, pela vigésima vez, a passagem de bestial a besta. Conheci o desespero. Conheci - felizmente! - também outras pessoas que partilhavam comigo a revolta. Percebi que não estava só. Percebi que a culpa não era minha. Cresci. Conheci-me melhor. Percebi que tinha valor.
     Senhor primeiro-ministro, vou poupá-lo a mais pormenores sobre a minha vida. Tenho a dizer-lhe o seguinte: faço hoje 42 anos. Sou doutoranda e investigadora da Universidade do Minho. Os meus pais, que deviam estar a reformar-se, depois de uma vida dedicada à investigação, ao ensino, ao crescimento deste país e das suas filhas e netos, os meus pais, que deviam estar a comprar uma casinha na praia para conhecerem algum descanso e descontracção, continuam a trabalhar e estão a assegurar aos meus filhos aquilo que eu não posso. Material escolar. Roupa. Sapatos. Dinheiro de bolso. Lazeres. Actividades extra-escolares. Quanto a mim, tenho actualmente como ordenado fixo 405 euros X 7 meses por ano. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. A universidade na qual lecciono há 16 anos conseguiu mais uma vez reduzir-me o ordenado. Todo o trabalho que arranjo é extra e a recibos verdes. Não sou independente, senhor primeiro ministro. Sempre que tenho extras tenho de contar com apoios familiares para que os meus filhos não fiquem sozinhos em casa. Tenho uma dívida de mais de cinco anos à Segurança Social que, por sua vez, deveria ter fornecido um dossier ao Tribunal de Família e Menores há mais de três a fim que os meus filhos possam receber a pensão de alimentos a que têm direito pois sou mãe solteira. Até hoje, não o fez.
     Tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: nunca fui administradora de coisa nenhuma e o salário mais elevado que auferi até hoje não chegava aos mil euros. Isto foi ainda no tempo dos escudos, na altura em que eu enchia o depósito do meu renault clio com cinco contos e ia jantar fora e acampar todos os fins-de-semana. Talvez isso fosse viver acima das minhas possibilidades. Talvez as duas viagens que fiz a Cabo-Verde e ao Brasil e que paguei com o dinheiro que ganhei com o meu trabalho tivessem sido luxos. Talvez o carro de 12 anos que conduzo e que me custou 2 mil euros a pronto pagamento seja um excesso, mas sabe, senhor primeiro-ministro, por mais que faça e refaça as contas, e por mais que a gasolina teime em aumentar, continua a sair-me mais em conta andar neste carro do que de transportes públicos. Talvez a casa que comprei e que devo ao banco tenha sido uma inconsciência mas na altura saía mais barato do que arrendar uma, sabe, senhor primeiro-ministro. Mesmo assim nunca me passou pela cabeça emigrar...
     Mas hoje, senhor primeiro-ministro, hoje passa. Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor. Falo inglês melhor que o senhor. Francês então nem se fale. Não falo alemão mas duvido que o senhor fale e também não vejo, sinceramente, a utilidade de saber tal língua. Em compensação falo castelhano melhor do que o senhor. Mas como o senhor é o primeiro-ministro e dá tão bons conselhos aos seus governados, quero pedir-lhe um conselho, apesar de não ter votado em si. Agora que penso emigrar, que me aconselha a fazer em relação aos meus dois filhos, que nasceram em Portugal e têm cá todas as suas referências? Devo arrancá-los do seu país, separá-los da família, dos amigos, de tudo aquilo que conhecem e amam? E, já agora, que lhes devo dizer? Que devo responder ao meu filho de 14 anos quando me pergunta que caminho seguir nos estudos? Que vale a pena seguir os seus interesses e aptidões, como os meus pais me disseram a mim? Ou que mais vale enveredar já por outra via (já agora diga-me qual, senhor primeiro-ministro) para que não se torne também ele um excedentário no seu próprio país ? Ou, ainda, que venha comigo para Angola ou para o Brasil por que ali será com certeza muito mais valorizado e feliz do que no seu país, um país que deveria dar-lhe as melhores condições para crescer pois ele é um dos seus melhores - e cada vez mais raros - valores: um ser humano em formação.
     Bom, esta carta que, estou praticamente certa, o senhor não irá ler já vai longa. Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente menos. Para ser mais exacta o meu IRS do ano passado foi de 4 mil euros. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. No ano passado ganhei 4 mil euros. Deve ser das minhas baixas qualificações. Da minha preguiça. Da minha incapacidade. Do meu excedentarismo. Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara. Pode ser que os outros dois aprendam alguma coisa sobre acordos de pesca.
     Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, feliz natal OU feliz ano novo à sua escolha, senhor primeiro-ministro.
E como eu sou aqui sem dúvida o elo mais fraco, adeus.
Myriam Zaluar, 19/12/2011


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Sinais de maré

   Para os falantes de inglês, pois infelizmente sem legendas, uma interessante entrevista no HARDtalk da BBC com Steve Keen, economista pós-keynesiano australiano que é autor de uma devastadora crítica dos fundamentos epistemológicos e metodológicos da economia neoclássica no livro Debunking Economics.
   Keen, que enjeita afirmar-se anti-capitalista, dá ainda assim uma rara demonstração de lucidez no espaço mediático ao referir-se às origens sistémicas da crise actual, nas suas diversas manifestações; ao estado da economia como ciência; à relação entre a crise do endividamento soberano e o aumento exponencial do endividamento privado (só faltando assinalar a relação com a compressão neoliberal dos salários directos e indirectos); e à necessidade de proceder à eutanásia dos sectores e interesses rentistas que, se não forem detidos, irão inevitavelmente condenar as nossas sociedades a um prolongado período de pauperização.
   Keen advoga a eliminação de uma parte substancial de toda a dívida, pública e privada,  e a nacionalização da banca - e é sintomático que até um crítico relativamente tépido do capitalismo perceba a absoluta necessidade de que assim seja, como única alternativa à barbárie parasitária. A conversa perde-se um pouco na parte relativa aos detalhes de como implementar este plano - Keen sugere que a via deverá passar pelo financiamento monetário de défices públicos crescentes (precisamente o contrário do que, no contexto europeu, é actualmente imposto pelos estatutos do BCE no plano monetário e em vias de consagração constitucional nacional no plano orçamental), mas depois perde-se por alguns instantes perante a incompreensão da entrevistadora. Em todo o caso, bastantes elementos interessantes para animar a reflexão, o debate e o optimismo, nestes tempos em que ainda vão escasseando os motivos para tal. Depois de ontem ter visto a reportagem Contracorrente, na SIC, sobre os movimentos sociais anti-austeritários em Portugal, e da Convenção da Iniciativa de Auditoria à Dívida no fim-de-semana, a vontade fica um pouco mais optimista.

Ponham-se finos

O Ministro das Finanças irlandês avisa que sem uma redução significativa do fardo da dívida as novas regras europeias não serão aprovadas em referendo. Cada um usa as armas que pode, menos em Portugal onde negociar com credores é de mau tom, coisa para populistas, sei lá. Quando olhamos para um gráfico com a evolução do PIB e do PNB irlandeses - a diferença deve-se, fundamentalmente, aos rendimentos que as multinacionais transferem para o exterior - percebe-se bem a atitude irlandesa: a recuperação austeritária só existe na imaginação de elites tão subalternas quanto ignorantes (via Paul Krugman). Como é que se diz ''ponham-se finos'' em inglês ?

   

Contracorrente, 16.12.2011 Grande Reportagem SIC

 Numa altura em que Portugal está a viver uma profunda crise e a receber assistência financeira externa, têm surgido diferentes movimentos sociais que contestam as medidas de austeridade e que não aceitam a inevitabilidade do chamado resgate da Troika. Movimento 12 de Março, Plataforma 15 de Outubro, Ocupar Lisboa, Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública são movimentos que reúnem pessoas descontentes com o actual rumo do país e que querem ter voz activa nas decisões políticas.

   José Castro Caldas, economista, é um dos proponentes da Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública, para "proporcionar à generalidade das pessoas a compreensão do fenómeno do endividamento" do Estadoportuguês.
   Joana Manuel, actriz, juntou-se ao Movimento 12 de Março porque acredita que cada pessoa não pode tratar apenas da sua "vidinha" e é preciso "fazer de cada cidadão um político".
   Ana Gonçalves, professora de artes do 3º ciclo e secundário, envolveu-se na Plataforma 15 de Outubro porque não quer ter razão sozinha.
   Marco Marques, engenheiro florestal à procura de emprego, está nos Precários Inflexíveis porque acredita que "só colectivamente podemos mudar  alguma coisa no futuro".
   Miguel Marques, "infoactivista", foi à Islândia no Verão passado fazer um documentário que pretende mostrar como os cidadãos daquele país se mobilizaram para enfrentar a crise.
   Bruno Lavos, terapeuta expressivo, faz parte do Movimento Ocupar Lisboa e dormiu quase 2 meses ao relento frente ao Parlamento porque "algo tem de mudar".
 
A próxima Grande Reportagem SIC procura tomar o pulso à vitalidade dos movimentos sociais, num ano fértil em mobilização e protesto em Portugal, e saber quem são as pessoas nesses novos movimentos, o que as mobiliza e que propostas têm para a mudança que defendem.
Ficha técnica
 Jornalista: Carla Castelo, Imagem: José Silva, Edição de Imagem: Vanda Paixão, Grafismo: Isabel Cruz, Produção: Isabel Mendonça, Coordenação: Cândida Pinto, Direcção: Alcides Vieira


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