António José Seguro garante que os partidos mais à esquerda do PS não são a solução. Uma resposta direta ao Bloco de Esquerda que continua a falar em negociações de esquerda. Sobre as negociações com PSD e CDS, Seguro explicou que foi em nome da coerência que fechou as conversas.
Nota pessoal: As «esquerdas» à esquerda do PS não querem ser governo. Gostam de estar no Parlamento, mas somente como oposição verbal. Não querem ser governo nem fazer parte de nenhum porque sabem que no dia em que isso viesse a acontecer estavam finitos como partidos políticos.
Sentem-se bem no cómodo lugar de parlapié alternativo na Assembleia da República. Têm visibilidade. Têm notoriedade. Têm um rendimentozinho assegurado. Com as suas intervenções «limpam» a consciência (própria e de mais alguns portugueses que com eles se podem pontualmente identificar) e mantém-se como um esperança de alternativa que não pretendem ser.
Prova provada disso mesmo é a pressa com que o BE vem dizer que se fizer uma coligação com o PS, Portugal terá que sair da NATO. Esta descabida intervenção (que é meramente exemplificativa) mostra o «medo» com que o BE tem de o PS os poder levar «a sério» quando afirmam que querem fazer uma coligação de esquerda ao regime vigente. E quando digo BE, poderia dizer CDU, porque são farinha do mesmo saco... São os «cotas da esquerda» não governativa. São os «avós» dos anterores, politicamente falando.
Por vezes ponho-me a pensar se este tipo de partidos políticos ou de seus representantes não são ainda mais perniciosos que a outra cambada que nos tem «governado» em alternâncias de conveniência.
É por «isto» que em Portugal não existe alternativa credível aos habituais partidos do governo. É por «isto» que infelizmente para os portugueses o PR não tem alternativa regimentar que possa vir a solucionar a grave crise que Portugal atravessa. Contudo, para mim. estes factos não o ilibam de ser um dos responsáveis por este período negro da nossa história ou até o mais responsável~, dado o percurso político do senhor. Nem tão pouco um dos anteriores presidente, Mário Soares, que parece um »santinho saído da sacristia» para quem o houve falar agora e não viveu os anos da sua governação quer como PM quer como PR... poderia até afirmar que o Mário socialista «saíu da gaveta».
Quando António Seguro afirma que rompeu as negociações em nome da coerência, esqueceu-se de explicar-nos em que é que ele tem sido coerente. Porque não apareceu na política agora, nesta legislatura do PSD/CDS. Ou já se esqueceu da conivência política com a anterior governação dita de socialista? Porque alguém me pode afirmar que José Sócrates governou como um verdadeiro socialista o faria?
Se estivessemos em monarquia o cognome de António Seguro bem poderia ser o de «O Entalado». Mas ao contrário do Martim (O Moniz), não o seria por outros o terem feito mas por se ter posto a jeito ou mesmo, de voluntariamente se ter «entalado» a ele mesmo.
Embora sem grande impacto mediático (excepto em França, que defende as especificidades culturais), estão em curso as negociações para a criação de uma zona de livre comércio entre os EUA e a UE.
O acordo é apresentado como uma oportunidade para redinamizar o crescimento económico de ambos os blocos, que representam à volta de metade de todas a exportações mundiais.
De forma explícita ou implícita, velhas e novas teorias são convocadas para apoiar o processo, da teoria das vantagens comparativas de David Ricardo - onde a cada país trocará os bens onde detém vantagens comparativa pelos bens produzidos onde estes são relativamente menos custosos de produzir - até à "nova economia política" - a concorrência acrescida entre as empresas conduziria a ganhos de eficiência face a ambientes proteccionistas onde as empresas se concentrariam na captura dos poderes públicos.
A História mostra, no entanto, que, na verdade, o livre-cambismo é o proteccionismo dos mais ricos e fortes. Com muito poucas excepções (Holanda, Suiça), todos os países desenvolvidos adoptaram fortes medidas proteccionistas para proteger os seus mercados nacionais da concorrência externa, por forma a permitir o desenvolvimento de indústrias que, no seu estado inicial, são necessariamente menos competitivas.
Dos EUA ao Reino Unido, passando pelos mais recentes casos de sucesso asiático (China e Vietname), o livre - cambismo só foi adoptado numa fase mais tardia do seu desenvolvimento como forma de penetrar nos mercados externos. Os elogios ao papel do comércio internacional no desenvolvimento, como este aqui de Martin Wolf, têm, por isso, que ser tomados com uma boa dose de cepticismo. O acordo agora em negociações entre a UE e os EUA coloca, mais uma vez, não só problemas ao impacto global desta liberalização em determinados sectores, como devia ser tomada com especial atenção por países como Portugal, cujas estruturas económicas diferem radicalmente dos países que comandam as negociações europeias.
A experiência das negociações com a OMC (Organização Mundial de Comércio) e a forma como conduziram à depressão de regiões inteiras do país são razão suficiente para ver estas negociações com preocupação.
A globalizaçãotornou-se um sistema prejudicial para todos os trabalhadores, para todas as classes populares e médias do mundo inteiro; uns porque perdem o que alcançaram com tanto custo, outros porque nada ou muito pouco ganham (...) o comércio livre é a guerra de todos contra todos (...) o proteccionismo europeu, simultaneamente ecológico e social, é o keynesianismo do século XXI, uma forma política realista, justa e eficaz de organizar a economia de mercado mundial. Excertos do pequeno livro-manifestolançado por Arnaud Montebourg aquando da sua candidatura nas primárias socialistas francesas, onde foi o terceiro candidato mais votado.
A ('démondialisation') desglobalização, um proteccionismo na escala certa, ambiental e socialmente consciente, e que não se confunde com autarcia (isolamento e autosuficiência), é uma das ideias à esquerda que é preciso desenvolver :
os países mais desenvolvidos têm o direito a proteger os seus arranjos sociais, laborais e ambientais e a sua base industrial e fiscal das chantagens das transnacionais e do capital financeiro ;
enquanto que os países subdesenvolvidos têm direito a pôr em prática, com toda a autonomia, as políticas públicas de intervenção para o desenvolvimento que hoje a OMC e tantos tratados tentam impedir.
Bom, agora Montebourg é ministro da “recuperação industrial” e está a ter o seu primeiro e bem duro teste com o anúncio recente de milhares de despedimentos na Peugeot, símbolo da desindustrialização da França, muito acentuada pelo euro e por uma crise que tem gerado uma sangria de empregos industriais. Assumindo o projecto de dizer a verdade ao poder, Jacques Sapir, um dos principais teóricos da desglobalização, lembra ao governante Montebourg o que há a fazer se quiser permanecer fiel ao espírito do candidato Montebourg:
entrar pelo gabinete de Hollande (e órgãos da UE) e dizer-lhe que sem proteccionismo selectivo e política cambial não vamos lá.
Se a linha de Montebourg for derrotada, e tudo está feito para que o seja se não houver forte pressão social e política de baixo, capaz de contrariar a que vem de cima, a Frente Nacional certamente que saberá monopolizar o cada vez mais popular discurso proteccionista, dando-lhe o cunho xenófobo e regressivo que alguns à esquerda estranhamente julgam que é indissociável de uma palavra na realidade aconquistar e a usar sem medos nem hesitações pelos que estão na margem certa.
"Na política, como sabeis, o comportamento rectilíneo, sem argúcia alguma, - sincero, aberto, desartificioso, claro, - usa ser censurado, como sendo ingénuo: e, nessa sua qualidade de comportamento ingénuo, como prejudicial, ou pateta. Paciência. Seja. (…) Os essencialmente habilidosos (não faço empenho em negá-lo) alcançam a sua hora de simulacro e de vista. Mas é uma hora e nada mais; mas é simulacro, e só vista. Logo a seguir a esse instante, comunica-se-lhes o fogo da sua iluminação de artifício, e fica tudo em fumaça, que pouco depois não é nada." "Aos nossos socialistas, quanto a mim, compete-lhes resistirem ao tradicional costume de se empregarem espertezas e competições de pessoas para apressar o momento em que há-de chegar ao poder…" "Antes de tudo, buscai prestigiar-vos ante a nação inteira pelo timbre moral da vossa alma cívica; porque (como acreditais, creio eu) não é indispensável conquistar o poder para se influir de facto na orientação do estado." "Não tenhais a ânsia de vos alcandorar no poleiro com prejuízo das qualidades a que se tem chamado "ingénuas". As habilidades dissipam-se; os caracteres mantêm-se." "Não existam ciúmes e invejas recíprocas entre os vários componentes da vossa grei socialista: nem tampouco os ciúmes, nem tampouco as invejas, para com os homens que compõem as outras facções da esquerda. Seja vosso lema a unidade. Por mim, quero trabalhar pela unidade, pelo entendimento recíproco, pela existência de convivência amável entre os homens políticos de orientações discordes. Incorrigivelmente "ingénuo", fraterno, cordial."
(Raquel Varelana Revista de Imprensa fala sobre a reconversão do mercado laboral ... e, enquanto a elite económico-financeira enriquece, o Estado e a maioria da população empobrece.)
Os que se ofendem com o exercício dos direitos democráticos, das ofensas à República, são, precisamente os que se aproveitam dela e do facto de terem sido eleitos não para representar quem os elegeu, mas para seuexclusivo benefício. E, também já sabemos que estes são dos partidos do arco da governabilidade, pois. Sublinhar apenas que o PCP há muitos anos que apresenta projectos de lei sobre as incompatibilidades que proíbem este cenário. Claro que os partidos do arco têm rejeitado sucessivamente.
«Dos 230 deputados à Assembleia da República, 117 estão em regime de part-time, acumulando as funçõesparlamentares com outras atividades profissionais no setor privado. Advogados, juristas, médicos, engenheiros, consultores, empresários, etc. Em diversos casos, prestando serviços remunerados a empresas que operam em setores de atividade fiscalizados por comissões parlamentares que os mesmos deputados integram. Ao que se acrescem as ligações aempresas (cargos de administração, participações acionistas, serviços de consultoria, etc.) que beneficiam de iniciativas legislativas, subsídios públicos ou contratos adjudicados por entidades públicas visando a execução de obras, o fornecimento de produtos ou a prestação de serviços. Conflitos de interesses ? !! Dezenas de exemplos concretos são apresentados nas páginas deste livro. Dos corredores do poder político para as salas de reunião dos conselhos de administração, e demais órgãos sociais, das maiores empresas portuguesas, com ou sem período de nojo. Um fluxo recorrente entre cargos públicos e privados. Das 20 empresas cotadas no índice PSI 20, por exemplo, 16 contam com ex-políticos em cargos de administração. Por vezes são ex-governantes que decidiram sobre matérias que implicam as empresas para as quais vão depois trabalhar, ou até administrar.»
De repente, os comentadores de vários matizes alinharam-se no plano presidencial de “salvação nacional”. Como se a crise não tivesse culpados, como se a crise não fosse uma máquina de guerra que tira direitos aos pobres e dá dividendos e rendimentos aos poderosos. Dizem-nos com um ar de quem sofre um ataque de gases que esta é a última oportunidade de preservar o regime. Como se tivessem a colocar neste barco que se afunda a liberdade e a democracia. Nada mais falso: o regime de que falam é a negação das promessas igualitárias do 25 de Abril. O que os preocupa é garantir o regime dos negócios que permitiu o desenvolvimento de um capitalismo nacional feito à sombra do Estado – Um regime duplamente desigual: desigual porque se trata de um capitalismo, mais desigual porque é um capitalismo que vive de expropriar o Estado dos recursos do contribuinte, para os dar aos grandes grupos privados. Aqui a corrupção não é um desvio criminal, mas a normalidade de um regime económico que tem como realizações simbólicas as swaps e as PPPs, em que quando há lucros, os privados e o capital financeiro recebem dividendos; e quando há prejuízos, o contribuinte é obrigado a pagar. Vivemos num regime em que são privatizados lucros e socializados prejuízos, para o bem estar dos do costume.
Ainda esta semana ficamos a saber que o banco criado à sombra do cavaquismo, o BPN, produziu uma colecção de moedas para assinalar o europeu de futebol que se realizou em Portugal. Não se venderam? Este governo do PSD e CDS encarregou-se de arranjar forma de as comprar com o dinheiro dos contribuintes. Foram quase 27 milhões de euros, o que é isso entre amigos e cavalheiros…
No livro “Os Donos de Portugal” recenseou-se a imensa promiscuidade entre decisores políticos e grandes grupos económicos. Este capitalismo de corrupção tem como capa a alternância dos partidos da governabilidade. O regime em Portugal chama-se bloco central dos interesses (o 'centrão da governação'). Nele não estão envolvidos os militantes e os eleitores do Partido Socialista, mas alguns dos seus dirigentes aparecem alegremente em cargos de responsabilidade de empresas que negociaram chorudos negócios com o Estado. É por isso que também a direcção do PS está preocupada com este regime e participa nestas negociações à sombra de Cavaco Silva.
Quando os papagaios choram pelo regime em perigo e pretendem garantir-nos que só o salvando podemos manter a democracia e a liberdade é preciso fazer-lhes um enorme manguito e dizer-lhes: não há liberdade e democracia com um regime que promove a desigualdade, o desemprego e a miséria. Por nós estejam à vontade, enterrem esta coisa.
Continuamos entalados por um sistema caduco, entre uma direita ultraliberal, à qual uma grande parte do próprio PS se deixou amarrar, e uma esquerda incapaz de se encontrar a si própria nem encontrar ideias inovadoras que captem o interesse do eleitorado.
Seguro tenta amolecer o partido em troca de umas migalhas prometidas no bodo dos ricos. Nada de visível ou palpável que interesse verdadeiramente à vida dos portugueses, falando, claro está, do povo pobre, dos trabalhadores e da classe media. Ouvimos debater, por parte dos senhores mandantes da troica nacional, recorrendo a argumentários que nos dizem defender compromissos estranhos e que mais não são que garantias dos credores, engorda dos banqueiros e dos seus comparsas, sempre com a mesma receita “mais apertos e sacrifícios para o povo pagante”
Nem esse ministro de qualquer coisa e de coisa nenhuma, líder do PP diz o que quer nem ao que anda (além de esconder e abafar o negocio mal explicado dos submarinos e alguns outros idênticos).
Tão pouco o pseudo primeiro-ministro, que anda a passos de coelho, demonstra o mínimo de capacidade na orientação de políticas serias, honestas, de rigor e transparência para o país.
Também esse putativo timoneiro que ora avança logo a seguir recua, em zig-zag nas inépcias convicções de governabilidade futura do país, continua sem qualquer vislumbre de ideias, de propostas e de projetos que os leitores compreendam, inequivocamente.
Perante um presidente que, malogradamente e com memoria curta dos efeitos dos dois mandatos exercidos como primeiro-ministro, a maioria dos que votaram o elegeram representaram uma minoria da população que mais não tem sido do que um complicativo “salvador nacional” conforme abordou recentemente Batista Bastos no DN, Em O pesadelo, continuamos fortemente entalados,
Hoje debate-se mais uma moção de censura ao governo e às políticas por si seguidas. Mais do mesmo e de igual resultado. È o sistema a funcionar sem nada alterar. É pois necessário que se debatam mudanças do próprio sistema partidário, o sistema de representação democrática, o sistema de democracia direta e representativa. Quando o povo for capaz de encetar tal debate deixara, inequivocamente, de estar tão entalado com políticos como os que atualmente nos representa tão mal e tão desonestamente.
Alternativas ao «Compromisso de Salvação Nacional» e à errada estratégia do memorando
«Na sua exigência de obtenção de um compromisso entre PSD, CDS e PS, o Presidente da República (PR) impôs como condição a implementação plena das medidas acordadas com a troika no quadro do Memorando de Entendimento. Exigiu também aos três partidos que assegurassem a continuação da atual estratégia de «ajustamento», colocando os interesses dos credores externos da dívida nacional como prioridade da política económica. O sucesso das negociações em curso, sob a égide do PR, não podem senão significar a opção pela continuidade da política da troika. (...) No curto prazo, o corte nos salários e nas pensões, o aumento de impostos e a redução do investimento público provocam a contração do mercado interno e a destruição do tecido produtivo, sendo responsáveis pelo dramático aumento do desemprego e da emigração. O aumento do desemprego e a paralisação da atividade económica conduzem, por sua vez, à redução das receitas fiscais e ao aumento das despesas sociais, agravando o défice orçamental e tornando ainda mais insustentável o pagamento da dívida pública. (...) A busca de soluções políticas para a governação em Portugal não é nem pode ser monopólio da direita e dos interesses que esta ardilosamente foi instalando debaixo de complexos compadrios. É à esquerda que reside a possibilidade de uma governação alternativa. Ao PR exige-se a convocação de eleições antecipadas, reconhecendo que a atual maioria perdeu a legitimidade e a capacidade para governar. Aos partidos que efetivamente se opõem à estratégia da troika e da atual governação exige-se o empenho na criação de condições para uma governação que responda às exigências do momento.» - Do comunicado do Congresso Democrático das Alternativas, a ler na íntegra aqui.