Terça-feira, 24 de Setembro de 2013

        ELOGIO   DAS   AUTÁRQUICAS      (-por JPP)
Copy of DSC00174   É fácil gozar com os candidatos das autárquicas e a Rede está cheia desse gozo, como local mal frequentado que é em Portugal. Gente que não é capaz de dizer nada contra a campanha ilegal de Menezes, em que o dinheiro escorre por todo o lado, as listas “Isaltino” e “Valentim Loureiro”, as propostas absurdas de manuais escolares e medicamentos gratuitos para todos, tuneis e pontes por todo o lado, propostas chocantes em candidatos do PSD e CDS, e capaz de no virar da esquina vir exigir os cortes retrospectivos às pensões dos reformados e despedimentos nas função pública (e silêncio sobre os trabalhadores das autarquias que irão para a rua depois das eleições), e desatar-se a rir com as cenas dos candidatos mais boçais, os cartazes ridículos, as palavras de ordem de duplo sentido, os trajes domingueiros e casamenteiros de candidatos e candidatas. De facto, eles não têm dinheiro para pagar a agências de comunicação, contratar empresas de marketing político e comprar centenas de outdoors.

     Mas a única, insisto a única, verdadeira, genuína, intensa, participação de milhares de portugueses na democracia, para além do voto e das manifestações, é esta. Uns querem o bem de si próprios, outros o bem dos seus interesses, outros o bem dos seus partidos, outros o bem das suas terras. Estes últimos são muitos, tem que ser muitos porque da sua participação não vai restar nada, a não ser despesas, cansaço e algumas zangas. Aqui a democracia ainda é o que devia ser, imperfeita, desigual, muitas vezes ineficaz onde devia ser eficaz, desregulada no pior sentido, com sistemáticas violação da lei, mas tudo ponderado, os milhares de candidatos populares e dedicados, merecem todo o respeito.
                A  CAMPANHA  DO PSD NAS  AUTARQUIAS
     Tenho observado em primeira mão algumas actividades de campanha do PSD, sozinho ou coligado com o CDS, e está completamente enganado quem pensa que, ao nível das campanhas, os estragos da governação e a hostilidade ao governo e aos seus partidos se reflectem no enfraquecimento da mobilização das candidaturas. É verdade que este tipo de mobilização interior é muito enganador, principalmente onde já o partido está no poder, e é também verdade que partidos como o PSD são hoje essencialmente partidos autárquicos. Mas, merece reflexão.
    A dimensão nacional funciona por outros mecanismos de influência, que não são “orgânicos”, nem de proximidade, e essa mesmo em campanhas autárquicas mobilizadas, está claramente em crise. É possível assistir a jantares de campanha onde estão centenas de “laranjinhas” e não ouvir o nome de Passos Coelho uma única vez. Num partido como o PSD, muito assente em lideranças pessoalizadas, é uma ruptura com o passado. E mesmo quando alguns oradores convidados fazem o possível para falar dos méritos da governação, a resposta é nula na multidão e gélida nas conversas mesa à mesa. Onde as coisas estão pior é nas ruas. Em muitas terras, habitualmente PSD e CDS, as campanhas “não são mal recebidas”, mas fora do casulo dos candidatos e suas comitivas, não há empatia. E em muitos sítios há antipatia, bocas, insultos. Aliás os candidatos que sabem disto, evitam abrir a campanha à rua principalmente nas cidades, onde por comparação com o passado, há muito menos contactos directos com a população.
               O VERDE
    Todos os cartazes, PSD e PS, tendem a ser verdes. Mais verde, menos verde, mas muito verde. Ou azul, raras vezes vermelho, quase nunca laranja. O CDS sozinho mantem o azul, o PSD sozinho abandonou o laranja para o verde e o azul, a CDU permanece com uma linha muito tradicional, e o Bloco também. Os símbolos dos partidos no PSD são ocultados por toda a parte, do CDS menos. O PS ostenta-os quase sempre. A CDU já é há muito uma maneira de ocultar a foice e o martelo. Mas, cada vez é mais difícil a uma certa distância diferenciar os partidos e cada vez mais a propaganda assenta essencialmente em outdoors. Pode haver alguns papéis – poucos – e alguns “brindes” – muito menos do que no passado. Os autocolantes estão em crise, porque nos actuais costumes políticos pouca gente está disposta a andar com o candidato na lapela. Ou qualquer outro símbolo. Só em grupo, naquilo que agora se chama “arruadas” e mesmo assim é ver as pessoas a arrancar os autocolantes, mal acaba o ajuntamento.
     As palavras de ordem são cada vez mais vazias, menos interessantes, e desprovidas de sentido e demarcação política. “Todos juntos”, “com todos”, “tudo por (nome da terra)”, “mudança”, “compromisso para mudar”, “mudança tranquila”, “pela nossa terra”, “com (nome da terra) sempre”, “(nome da terra) primeiro”, “vamos ganhar”, “juntos fazemos”, “sentir (nome da terra), “com o coração”, “com as pessoas”, etc., etc. – uma falta de imaginação total e absoluta.
     A figuração dos cartazes é igual aos reclames dos bancos e das lojas de compra de ouro. Quem anda à procura de documentação, fotos, materiais de campanhas, antes de estar com o nariz em cima de uma sede (quase sempre fechada), está sempre a enganar-se pela semelhança com os reclames em que os bancos prometem empréstimos e propagandeiam as suas contas, com uma família dinâmica e jovem na montra, e as meninas apessoadas do ouro ou do imobiliário. É tudo tão igual, que enjoa. Bem vistas as coisas, de facto, nenhuma campanha é igual à anterior, são é todas iguais hoje.
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     As  novas  listas  de  « independentes »    (-por Ricardo Alves, 20/9/2013)

       Nas eleições autárquicas de 2005 e 2009, as listas «independentes» venceram em sete câmaras municipais. Creio que o leitor mais informado se recorda dos personagens mais conhecidos, a nível nacional, por serem presidentes de câmara independentes nesses mandatos: Valentim Loureiro, Isaltino Morais e Fátima Felgueiras eram os rostos das listas independentes. Os três eram percepcionados pelos cidadãos em geral como «corruptos e demagogos», e apareciam frequentemente nos media acusados de práticas menos claras ou mesmo ilegais, e foram entretanto afastados da política pela lei de limitação de mandatos e/ou pelos tribunais. A sua «independência» era uma consequência de se terem tornado incómodos (por más razões) para os partidos.
     Nas eleições de 2013, não só os independentes poderão governar, pela primeira vez, câmaras maiores do que Gondomar ou Oeiras, como as suas principais caras já não são as de «foragidos» à justiça. Mais: em 2013 as listas independentes parecem resultar mais de cidadãos incomodados com os partidos do que do contrário. Se esta é uma evolução positiva (por evidenciar que a política não se esgota nos partidos), também explica que os partidos pareçam ter começado a tentar «instrumentalizar» as listas de independentes. O exemplo mais flagrante: a «Plataforma de Cidadania» (Lisboa) é apenas um disfarce para uma coligação da direita radical (PPM/PND/PPV). Outro exemplo: o BE apoia listas independentes em cidades da dimensão de Braga e Coimbra, onde teria certamente militantes suficientes para apresentar listas próprias. Terceiro exemplo: a candidatura de Rui Moreira (Porto) é apoiada oficialmente pelo CDS e tem dois vereadores do PSD como nº2 e nº3. Em todos estes casos, concelhias inteiras de partidos ou entenderam que a sigla prejudicaria uma candidatura, ou que tinham sido ultrapassados no terreno local.
     Finalmente, há casos (como Sintra, Oeiras, Gaia ou Matosinhos), em que as eleições autárquicas confrontam (frequentemente em duas das três listas que ficarão melhor colocadas), duas facções diferentes da mesma concelhia (PSD ou PS). São «duelos» que poderiam ser evitados se os partidos permitissem «primárias» abertas a simpatizantes (e se as direcções nacionais aceitassem os resultados...).
     De qualquer modo, o panorama geral indica que este é o primeiro ano em que as listas de independentes podem ser um sinal de como a sociedade não se revê nos partidos actuais.


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Segunda-feira, 23 de Setembro de 2013

   Tempo  de  trilemas  (-por João Rodrigues, 21/9/2013, Ladrões de B.)

 Com o actual caminho, vejo a economia portuguesa ser arrastada por um período muito, muito longo de desemprego elevado e procura baixa. Se Portugal saísse da Zona Euro, os efeitos imediatos seriam muito duros, mas com hipóteses de uma recuperação num ou dois anos. Saber se o país quer ir numa direcção ou noutra é uma decisão política. Mas quanto mais tempo ficarmos neste pântano, mais forte será o argumento para sair (...) Temos de reconhecer que algumas dívidas não podem ser pagas. O pior que se pode fazer com elas é continuar a refinanciá-las e, através de novos empréstimos, aumentar a dívida (...) Reabilitar a democracia, de forma que seja compatível com os mercados e alguma globalização, será um dos principais desafios.
    Excertos da entrevista de Dani Rodrik ao Negócios de ontem. Dani Rodrik é um economista político convencional cada vez mais heterodoxo e criativo, um dos que já viu muito em termos de desenvolvimento e de subdesenvolvimento. A sua recente nomeação para a cátedra Albert Hirschman é o reconhecimento disso mesmo: do seu já famoso trilema da economia política internacional - Estados soberanos, pelo menos formalmente, democracia e globalização, o que na UE significa UEM, não podem coexistir, já que só podemos ter pares e agora temos o pior par - à defesa robusta da relevância económica e política do Estado-Nação ou dos controlos de capitais para bloquear parcialmente a desastrosa globalização financeira, passando pelo reinvenção dos argumentos a favor de uma política industrial determinada ou pela ideia institucionalista de que mais globalização exige mais Estado social, de que mais mercados exigem mais Estado, até porque os mercados, como gosta de dizer, não são criaturas de geração espontânea, não se auto-regulam e não se auto-estabilizam. Boas leituras.
 ----- Em 2012 Portugal pagou (só de) juros Mil Milhões € à Troika.!! ... e V.Gaspar (em 19/3/2012):  Portugal regressa aos Mercados em 23/9/2013. 

       Não  vale a  pena  esperar  pela Alemanha  (-por Daniel Oliveira, 23/9/2013)

    Disse, desde o  princípio, que as eleições na Alemanha eram indiferentes para Portugal e para a Europa. Com CDU ou SPD, nada mudará enquanto a Alemanha sentir que esta crise não lhe está a correr mal.   ... SPD e CDU têm muito poucas diferenças. É até no interior da CDU que temos ouvido velhas vozes mais lúcidas de oposição à política europeia da chanceler.

    O nosso problema não é Merkel. Não é sequer a Alemanha. É a dinâmica de repartição de poder económico e político que o euro e os tratados europeus alimentaram. Uma dinâmica de divergência económica e de subalternização das periferias que torna qualquer ideia de solidariedade europeia numa absurda ingenuidade.

    É bom convencermo-nos de uma vez por todas que não dependemos da boa vontade dos outros. Os países em crise dependem apenas da sua coragem (das suas 'mãos e cabeças'). Coragem suficiente para confrontar, enquanto o podem fazer, os países economicamente mais robustos com o beco sem saída em que a Europa se está a enfiar. E usarem as duas únicas armas que têm: serem devedores e fazerem parte de um euro que, ao mínimo sopro ou ameaça de deserção, se pode desmoronar. Não se trata de chantagem. Trata-se de um direito: o de não ser obrigado a viver com regras que os vão asfixiar e que apenas favorecem as economias mais fortes

    Se os portugueses, os gregos, os espanhóis e os irlandeses (e italianos se aliassem..., mas) não querem correr o risco de provocar rupturas europeias de que urgentemente precisam quando tudo lhes corre mal, como podem esperar que os alemães o façam quando se vão safando? Se até grande parte dos portugueses acredita que viveu acima das suas possibilidades, como hão-de os alemães acreditar que o problema é outro, mais grave e que envolve toda a Europa (tratados) e a sua moeda disfuncional?

    Não vale a pena esperar que Hollande exista. Esperar que os italianos se afundem e obriguem a Europa a acordar. Não vale a pena, como todos sabemos, esperar que Durão Barroso nos explique porque era a sua ida para a Comissão Europeia tão importante para Portugal. Não vale a pena esperar que os mercados nos achem credíveis porque somos disciplinados. Não vale a pena esperar por um prémio de bom comportamento, quando esta crise não é um castigo por mau comportamento.

    Não vale a pena esperar. Se a única posição que podemos realmente influenciar (a do nosso governo) continuar a ser obediente e temerosa, morreremos em silêncio. Se continuarmos a deixar que o governo venda Portugal fora de portas como um exemplo de sucesso das políticas de ajustamento, como podemos esperar que os outros percebam que por aqui se está a destruir um País?    Não será seguramente o eleitor alemão, legitimamente preocupado com os seus salários, no seu emprego e na sua economia, a pensar numa crise distante que ele nem percebe bem até que ponto é dramática. Uma crise que lhe dizem que está a ser resolvida com o seu dinheiro. Se até nós, que somos as principais vítimas desta crise, acreditamos que andamos a viver com o dinheiro dos outros, como podemos esperar que os alemães percebam o que se passa aqui? Se nós, que estamos como estamos, elegemos Passos Coelho, porque raio havia o eleitor alemão, que está bem melhor, de não eleger Merkel?



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Sábado, 21 de Setembro de 2013

Dando voz ao programa dos sociais-democratas (coligados com os liberais, centristas), o Rei Guilherme anunciou ontem o fim do Estado Social na Holanda. Será substituído pela "sociedade participativa", o que passa, na prática, por cada um se desenrascar sozinho. Traduzido por miúdos, o governo holandês vai fazer um corte de seis mil milhões de euros nas despesas públicas. Espera-se que o desemprego suba e que o poder de compra dos holandeses caia 0,5%. Os social-democratas holandeses chegaram ao poder com um discurso contra a austeridade. Uma sondagem da televisão pública diz que 80% da população é contra estes planos governamentais. E, como tem sido habitual na Europa, eles avançarão na mesma.

Faço notar que não há falta de dinheiro na Europa. Pelo contrário, há enormes excedentes que explicam, aliás, como consegue a Alemanha financiar-se a juros negativos. O que há na Europa, em toda a Europa, é a vitória de uma agenda ideológica e dos interesses financeiros que se apoderaram dos principais centros de poder e que sonham com a privatização de todas as funções sociais do Estado. Não espanta que essa vitória venha pela mão de governos social-democratas. Gerhard Schroeder fez mais no ataque ao Estado Social e na contração dos salários dos trabalhadores alemães (o que contribuiu decisivamente para a crise do euro) do que Angela Merkel alguma vez sonhou. Foram os governos socialistas e social-democratas, e não a direita, que construíram o essencial das regras de uma moeda única disfuncional. E, em todos os países europeus onde têm recuperado o poder, não o usaram para travar esta loucura. François Hollande limita-se a anunciar, como um tonto, o fim da crise do euro. Na esperança de não ter de chegar a fazer realmente alguma coisa do que prometeu. Nem um rasgo de coragem se vislumbra na generalidade dos partidos socialistas e social-democratas europeus. O PS português incluído.

O papel que os partidos social-democratas desempenham e desempenharam, nas duas últimas décadas, na destruição do Estado Social e na desregulação económica e financeira é o mais inacreditável gesto de traição de um movimento político à sua própria história. Transformados em meras federações de interesses, os partidos socialistas e social-democratas não estão apenas a enterrar o Estado Social. Estão a enterrar a esperança na democracia, que depende de uma alternativa a este caminho (a confiança nos políticos e no governo atingiu, na Holanda, como em tantos outros países, mínimos históricos). E estão, afinal de contas, a enterrar-se a si mesmos. O comunismo morreu com a queda do muro de Berlim. A social-democracia morreu com esta crise financeira.

Por: Daniel Oliveira [Expresso]

 

Nota pessoal: Diz Daniel Oliveira que a social-democracia morreu. Pergunto eu, e a democracia-social? Também já morreu?
É que lembro-me que há uns anos Mário Soares, enquanto líder do PS, dizia que o seu partido não era socialista (era preciso na época afastar-se do "esquerdismo marxista" que a palavra "socialista" trazia e ainda, encontrar um espaço ideológico que distinguisse o PS, por do PPD/PSD e por outro do PCP) e o termo que o então líder do PS usou foi que o distinguia do PPD/PSD era que este era social-democrata enquanto o seu PS era democrata-social.

Portanto reforço a pergunta: E a democracia-social? Também morreu? Ou nunca existiu e que houve sempre em Portugal foram dois partidos políticos com nomes diferentes mas com a mesma ideologia e políticas idênticas que disputavam entre si a alternância no poder? E com os tempos e o andar da carruagem não teremos agora os mesmos dois partidos, com políticas liberais ou neoliberais, a disputar o mesmíssimo poder de sempre, continuando a fazer o mesmo, com habilidosas palavras e promessas diferentes?



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Sexta-feira, 20 de Setembro de 2013

           Premonições  de  Natália  Correia ... 

  "A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".
     ... "Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".

    "... E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".
   "Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".
   "Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"
   "As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade (agora União) Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, o Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos (1%) e muito pobres.

    A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir".
    Natália Correia - Fajã de Baixo, S.Miguel, 13.9.1923 — Lisboa, 16.3.1993. (citações  retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta).

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«Por todo o lado se anunciava o regresso da troika a Portugal... Mas, na verdade, ela nunca de cá sai. Da educação à saúde, dos salários às pensões, novos e velhos, todos sentimos na pele a sua presença, em cada momento das nossas vidas. ... - A troika mata ...   (-por Rita Veloso, 5Dias)

     Declarada a morte da social-democracia  e do Estado social      (-por Daniel Oliveira)

   Dando voz ao programa dos sociais-democratas (coligados com os liberais, centristas), o Rei Guilherme anunciou ontem o fim do Estado Social na Holanda. Será substituído pela sociedade participativa, o que passa, na prática, por cada um se desenrascar sozinho. Traduzido por miúdos, o governo holandês vai fazer um corte de seis mil milhões de euros.  Espera-se que o desemprego suba e que o poder de compra dos holandeses caia para os 0,5%. Os social-democratas holandeses chegaram ao poder com um discurso contra a austeridade. Uma sondagem da televisão pública diz que 80% da população é contra estes planos governamentais.

     Faço notar que não há falta de dinheiro na Europa. Pelo contrário, há enormes excedentes que explicam, aliás, como consegue a Alemanha financiar-se a juros negativos. O que há na Europa, em toda a Europa, é a vitória de uma agenda ideológica e dos interesses financeiros que se apoderaram dos principais centros de poder.  Não espanta que essa vitória venha pela mão de governos social-democratas. Gerhard Schroeder fez mais no ataque ao Estado Social e na contração dos salários dos trabalhadores alemães (o que contribuiu decisivamente para a crise do euro) do que Angela Merkel alguma vez sonhou. Foram os governos socialistas e social-democratas, e não a direita, que construíram o essencial das regras de uma moeda única disfuncional. E, em todos os países europeus onde têm recuperado o poder, não o usaram para travar esta loucura. François Hollande limita-se a anunciar, como um tonto, o fim da crise do euro. Na esperança de não ter de chegar a fazer realmente nada do que prometeu. Mas a agenda social-democrata nesta crise resume-se a fazer o oposto do que anunciam quando estão na oposição. Nem um rasgo de coragem se vislumbra na generalidade dos partidos socialistas e social-democratas europeus. O PS português incluído.

     O papel que os partidos social-democratas desempenham e desempenharam, nas duas últimas décadas, na destruição do Estado Social e na desregulação económica e financeira é o mais inacreditável gesto de traição de um movimento político à sua própria história. Transformados em meras federações de interesses, os partidos socialistas e social-democratas não estão apenas a enterrar o Estado Social. Estão a enterrar a esperança na democracia, que depende de uma alternativa a este caminho (a confiança nos políticos e no governo atingiu, na Holanda, como em tantos outros países, mínimos históricos). E estão, afinal de contas, a enterrar-se a si mesmos. O comunismo morreu com a queda do muro de Berlim. A social-democracia morreu com esta crise financeira.

              Permanecer no euro é  o  suicídio  da  nação  (-por Jorge Bateira)

              O  fardo  e  a  farsa   (-por Alexandre Abreu)

     A devastação e desagregação da sociedade portuguesa são evidentes e terríveis. Mas mesmo em termos estritamente macroeconómicos, o programa de “ajustamento” implementado pelo governo e pela troika tem sido, pura e simplesmente, uma calamidade.
     ...  ...   Tudo isto com o objectivo ... o governo tenha mais tempo para prosseguir a sua agenda neoliberal e para que se complete a ‘grande substituição’ da titularidade da dívida pública portuguesa, a fim de que a factura da reestruturação seja paga pelos contribuintes europeus e não pelo sector financeiro.     Um governo a sério estaria a negociar a forma de remover este fardo. Este governo, fingindo negociar, não faz mais do que encenar uma farsa.


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Só nestas "coisitas" o país reduziria a despesa em 2 mil e100 milhões de €uros.!!  mas há mais :

  ...(entretanto) o ministro alemão das Finanças informou que o seu país "despendeu com a crise das dívidas soberanas 600 milhões de euros, todavia, em contrapartida, já lucrou  41 mil milhões de euros graças à queda dos juros da sua própria dívida" (e aos juros agiotas cobrados aos países "resgatados").   ... e os lacaios (fantoches) portugueses que nos (des)governam  querem continuar a impingir-nos mais monstruosidades, a coberto da Merkel/Troika/mercados ...  cabe-nos correr com eles o mais depressa possível.



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Terça-feira, 17 de Setembro de 2013


    Salas, salas e salas, sem professores. (turmas com 28, 30, 32 alunos !!) Centenas de crianças para dois ou três auxiliares. Esta é a escola de Nuno Crato, cheia de incentivos à iniciativa privada (subsídios, cheque-ensino, ...). ... já poucos pais podem colocar os seus filhos em escolas privadas (que, 'aflitas', fazem forte lobby no Governo e começam a fazer 'saldos'...).

         Mitos do cheque-ensino: «a supremacia das escolas privadas» (II) (-por Nuno Serra)

    A ideia de que, em Portugal, o ensino público tem um peso tão esmagador que quase impede a existência do ensino privado associa-se à ideia, também ela falsa - e recorrente nos argumentos dos defensores do cheque-ensino - de que as escolas privadas são melhores que as públicas (como supostamente demonstraria, por exemplo, a diferença obtida nos rankings de resultados dos exames nacionais).
       ... Nele se demonstra que - ao contrário da ideia que se procura propagar - a suposta supremacia das escolas privadas não resulta de uma espécie de «código genético» deste sector de ensino, mas antes de uma clara «natureza de classe» (selecção económico-social), que explica a sua aparente vantagem comparativa (e que é - mesmo assim - apenas marginal).
    Mas quer então isto dizer que se for removida a diferença de origem social dos alunos nada passa a distinguir as escolas públicas das privadas? Não necessariamente. Uma parte da explicação para os distintos resultados escolares tendencialmente obtidos deve-se também ao facto de os estabelecimentos de ensino privado serem em regra de menor dimensão, muitos deles com turmas constituídas com um menor número de alunos e com um funcionamento orgânico mais definido e consolidado. O que deveria obrigar a cessar, de imediato, todas as medidas que instauram o caos e degradam intencionalmente a escola pública.

     Não é incompetência, é método /é intencional (-por João Galamba, 16/9/2013)

        O processo de degradação da escola pública a que Nuno Crato tão afincadamente se tem dedicado serve um propósito e deve ser analisado em termos dos seus objectivos estratégicos.   A balbúrdia que tem sido o início do ano lectivo, a paragem de grande parte do investimento e requalificação da rede escolar, a supressão de actividades extra-curriculares, etc, não são problemas a resolver, são a prova de que tudo o que Nuno Crato andou a dizer durante anos corre um sério risco de se tornar verdadeiro. Verdadeiro, como é evidente, por acção deliberada do próprio Nuno Crato, que, assim, pode tranquilamente colher os frutos do seu desinvestimento e dizer que sempre teve razão.

     A degradação deliberada da escola pública permite, entre outras coisas, vender o cheque-ensino como a palavra da salvação: ‘não gostam da escola pública que eu estou a (des)construir? Têm bom remédio: vão para a escola privada. Eu pago'.

 

     Na saúde, na educação e na segurança social, a acção da direita mais fanática - a que olha para tudo o que é público como um mal - tem como objectivo estratégico da direita degradar o funcionamento destas instituições para, depois de executado o projecto, poder dizer que sempre teve razão.     (e privatizar ao desbarato, para 'os amigos'/ élite oligarquica, e para obter 'comissões', 'tachos', rendas, ... e continuar a 'sugar' os cidadãos e trabalhadores, feitos semi-escravos).     Sim, o SNS é só para os desgraçados; sim, a escola pública não presta; e, sim, a segurança social não só não garante pensões, porque o Estado não respeita o princípio da confiança, como até está falida.   Dos governantes espera-se que identifiquem os problemas e que, depois, os resolvam.   Mas os ideólogos da direita não pensam assim.   Os problemas devem ser deliberadamente criados, para, assim, se confirmar os preconceitos deste (des)Governo.
     E quais são os preconceitos da direita que actualmente ocupa o poder? É simples: o Estado Social não é um instrumento transformação democrática da sociedade, mas é - ou melhor, deve ser - uma forma de institucionalização da caridade(zinha). Por outras palavras, ao Estado cabe cristalizar o que existe e acudir, caritivamente, aos desprotegidos. Tudo o que ameaça este projecto deve ser alvo de um combate sem quartel.

     Quando se qualifica e se investe na escola pública e, assim, se atrai as famílias da classe média; quando a segurança social institucionaliza a solidariedade intergeracional, reduz a pobreza dos idosos e paga pensões a todos os reformados; e quando o SNS melhora a qualidade dos seus serviços e trata cada vez melhor a saúde dos portugueses, a direita vê em tudo isto, não um sinal de progresso, mas uma ameaça ao seu ideal de sociedade.

     Quando a direita critica o Estado não está a descrever o que existe, mas sim a tornar público o seu projecto político: desfazer, destruir e degradar a esperança que muitos, teimosamente, continuam a depositar no Estado como principal instrumento de transformação democrática das sociedades. Essa esperança, que o 25 de Abril tornou possível em Portugal, é o monstro que a direita que tragicamente nos governa quer abater.



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Publicado por [FV] às 16:18 | link do post | comentar

Hoje é em Coimbra

    «Para reagir à crise é preciso compreendê-la. Este livro ajuda-nos a entender o que mais importa. Este livro mostra-nos também que não há resposta à crise sem escolhas difíceis: sair da austeridade e do memorando, ou insistir cada vez mais no mesmo; renegociar a dívida, ou perder tudo para pagar até o último cêntimo; aceitar o euro tal como existe sem fazer perguntas, ou preparar saídas».  José Castro Caldas, economista e investigador do CES.
    «A recusa da opressão, da desvalorização económica e da destruição social faz-se com ideias e com ação coerente. E com opções claras. Este é um livro de análise profunda, pensamento original e propostas mobilizadoras. Há, pois, alternativas.»  José Reis, economista e Professor Catedrático da FEUC.
    «Este livro é também um tributo ao exercício da cidadania e da cooperação (sim, há mais mundo do que o do «empreendedorismo» e da «competição»… e funciona). Uma cidadania que não é efémera, antes visando um duplo futuro: o da capacitação para a acção que imponha uma sociedade decente e o do legado documental de um livro que será, como me disse um leitor a quem só li o índice, um testemunho para as próximas gerações de que, “no meio disto tudo, não éramos todos parvos”.»  Sandra Monteiro, directora do Le Monde diplomatique (edição portuguesa).
     Dos comentários ao livro, que é hoje lançado em Coimbra a partir das 18h00 na Sala Keynes (Faculdade de Economia). Apresentação a cargo de José Reis e Daniel Oliveira, com a presença dos autores João Rodrigues e Nuno Teles. Estão todos convidados.
    Entretanto, Octávio Teixeira, um dos economistas que há mais tempo identificou as consequências negativas da UEM e de outros arranjos neoliberais para o nosso país, fez uma generosa menção ao livro na sua rubrica da Antena 1

    "Só pagamos a dívida se quisermos" :     Entrevista do Alexandre Abreu à Visão, sobre o livro

      No canal Q  :  Eureka!  É capaz de haver Alternativas de Esquerda .

 .

    Um jornal com princípios, meios e fins : Le Monde diplomatique - edição portuguesa

  Face ao estaleiro ideológico que tomou conta de Portugal e da Europa, a esquerda tem de arrojar um projecto político verdadeiramente alternativo com viabilidade para poder ser concretizado. Um projecto que defina à partida o tipo de sociedade e de economia que ambiciona para o país, estabelecendo, posteriormente, os meios e os instrumentos mais adequados para o atingir.
    Renato Carmo, Os fins da esquerda, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Setembro de 2013.


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Segunda-feira, 16 de Setembro de 2013

   Um  Banco  Europeu  Independente - ao  Serviço  dos  Cidadãos !

    Afinal há quem perceba que, na gestão e operacionalidade do sistema financeiro que regula a sociedade global, a filosofia empresarial das instituições bancárias pode ter uma vocação efetivamente funcional, legítima mas, ética e respeitadora dos contextos sociais em que se desenvolve... é o caso do Banco TRIODOS... que ainda não abriu delegações no nosso país mas que vale a pena conhecer: AQUI... Um Banco Europeu Independente!... porque:"(...) Não nos devemos ficar pelo protesto. Façamos alguma coisa: banca, ética, sustentabilidade, responsabilidade e rentabilidade social, economia real, transparência e ecologia podem ser termos compatíveis. Banco Triodos.(...)".   

      Do Salário Mínimo Europeu a uma Europa Para Todos, Já!  (-por Ana Paula Fitas, 6/9/2013)

Um salário mínimo europeu é a ideia defendida pelo Primeiro-Ministro francês (LER AQUI)  ... A questão, justa, fundamental, inesperada e extraordinariamente oportuna nos tempos que correm, foi colocada incluindo a formulação que passo a destacar:
 "(...) Quando se paga quatro euros a um trabalhador na agricultura, como nos podemos alinhar? Tem que haver um mínimo de decência, pagar corretamente aos trabalhadores, não há razão para assalariados a duas velocidades", disse. (...)".
    Afinal, talvez a ideia de uma Europa Social não esteja perdida... e é por isso que não podemos baixar os braços!... até que haja, também, um subsídio europeu de desemprego ou até que haja pleno emprego! Um mundo melhor é possível... e se o passado o comprova, o futuro continuará a demonstrá-lo! ...
    Cabe-nos, a cidadãos e políticos, exigir e construir uma sociedade mais justa e um modelo de empregabilidade capaz de garantir a dignidade das condições de vida para todos!... A senda do combate pela ideia universal de uma Humanidade capaz de ultrapassar os condicionalismos que para si própria criou, é um caminho interminável que há que continuar a percorrer, com coragem, tenacidade e convicção, na defesa de modelos de crescimento e desenvolvimento sustentável que, em igualdade de oportunidades, direitos e deveres, podem salvaguardar a Humanidade da barbárie... apesar das crises, dos retrocessos, dos terrores, das ameaças e dos medos... A Liberdade está, realmente, apesar das aparências!, ao nosso alcance... Avancemos, pois !


Publicado por Xa2 às 14:10 | link do post | comentar

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