“La abdicación es una maniobra para que la oligarquía siga en el poder” (www.ecorepublicano.es)
Ideias para um País sustentável (Visão, 5/6/2014)
--- Deixar à geração futura uma herança de orgulho
João Joanaz de Melo, Professor na Universidade Nova de Lisboa e presidente do GEOTA
Desenvolvimento sustentável significa deixarmos aos nossos netos um mundo em que eles se possam orgulhar dos seus avós. Algumas ideias concretas:
1) Apostar na eficiência energética na reabilitação urbana, indústria, transportes públicos; é um excelente meio para tornar a nossa economia mais competitiva, equitativa e amiga do ambiente, e cria mais emprego que obras públicas faraónicas;
2) Salvaguardar os fantásticos valores naturais e patrimoniais do nosso país, desde as multifacetadas paisagens naturais e humanizadas à gastronomia, à cultura ou a ícones únicos como o vale e a linha do Tua e rentabilizá-los como turismo de qualidade diferenciado;
3) Fazer uma verdadeira reforma fiscal, aliviando a carga sobre o trabalho, acabando com os subsídios perversos aos lobbies e taxando o desperdício de recursos naturais; e
4) Pensar na crise, não como uma calamidade, mas sim como oportunidade para a inovação e a eficiência. O futuro não é negro nem branco, o futuro é o que nós fizermos dele.
--- Promoção de uma alimentação sustentável, nas escolas
Susana Fonseca, Ambientalista, ex-presidente da Quercus
A ideia passa por potenciar as escolas como centros de educação, exemplos de ligação à comunidade através da transição progressiva para alimentos de agricultura biológica e de qualidade (denominação de origem protegida ou indicação geográfica protegida), nos diferentes graus de ensino.
Esta transição deverá assentar numa diversificação dos alimentos oferecidos, que respeite a sazonalidade e que promova a alternância entre proteína animal e vegetal.
Deverá ter-se particular cuidado para garantir o envolvimento de produtores de média dimensão e da produção local, recorrendo a estratégias como as seguidas em países que já estão a trabalhar nesta área (Itália, Escócia, Finlândia).
Deve ser definida uma estratégia progressiva que defina os objetivos, as metas e o calendário de implementação (por exemplo, uma década), para que o mercado possa responder.
Uma estratégia desta natureza trará óbvios benefícios para a saúde das crianças e jovens, para a sua educação alimentar e enquanto cidadãos, para o ambiente e para o desenvolvimento económico e social do País.
---Aposta no crescimento verde como oportunidade para Portugal sair da crise
Nuno Lacasta, Presidente da Agência Portuguesa para o Ambiente
O paradigma do crescimento verde ganhou força como resposta à crise económica global, porque se centra na gestão eficiente dos recursos, na inovação e na criação de emprego. Em bom rigor, o paradigma do crescimento verde aborda o "esverdeamento" da economia, não a identificação de um subsetor verde da economia. Temos hoje claro que a recuperação económica, no nosso país, se deverá fazer na base de maior exportação e valor acrescentado.
Ora, são já inúmeras as evidências de que os setores mais dinâmicos da economia nacional são setores do crescimento verde. Os Green Project Awards (GPA) 2013 confirmam isso mesmo. Os setores do turismo, energias renováveis, agricultura, mar e tecnologias de informação são aqueles que têm resistido à crise ou que até têm crescido.
Exemplos de projetos premiados pelo GPA 2013 são: vinho biológico em larga escala, da Herdade do Esporão; reaproveitamento de subprodutos da extração de azeite, da UCASUL; sistema pioneiro de gestão inteligente das perdas de água, da EPAL; fraldas 100% recicláveis, da Ecologicalkids; recibos 100% online (sem impressão), da Escrita Inteligente, etc.
A aposta forte na eficiência de recursos, na economia de baixo carbono, na ecoinovação, na valorização do capital natural, na produção e consumo sustentáveis e na valorização dos serviços dos ecossistemas configura uma oportunidade excecional para Portugal sair da crise e se projetar como uma economia moderna e geradora de emprego.
---Estabelecer metas de sustentabilidade a nível do País, das cidades e das empresas/instituições
Pedro Norton de Matos, Organizador do GreenFest
A questão do desenvolvimento sustentável tem fundamentalmente a ver com a educação cívica dos cidadãos. Começa nas escolas e no seio familiar e prolonga-se nas empresas e outras instituições. É transversal à sociedade.
A cidadania ativa consagra o princípio segundo o qual cada indivíduo é um agente de mudança, com capacidade de transformação da comunidade onde se insere e do mundo em geral. As sociedades nórdicas são um bom exemplo, nesses domínios. A título ilustrativo, refira-se que a cidade de Copenhaga tem a visão mobilizadora de se tornar uma cidade carbon free (livre de emissões de carbono), no ano de 2025. Esse objetivo inspirador leva a que todos os projetos apresentados na Câmara cumpram esse requisito. As visões mobilizadoras e envolventes permitem um maior alinhamento para o bem comum e traduzem-se em mudanças comportamentais consistentes.
Em Portugal, deveríamos estabelecer metas no domínio dos pilares da sustentabilidade (ambiental, social e económica), a nível do País, das cidades e das empresas/instituições. Esses objetivos deveriam ser tornados públicos e passíveis de serem monitorados com métricas simples e transparentes.
Em paralelo, não esquecer que o tema da sustentabilidade implica visão e a consideração do médio e longo prazos na equação, rejeitando as aproximações redutoras do imediatismo e das crises de curto prazo. Um ditado da sabedoria oriental diz que "a melhor altura para se plantar uma árvore era há 20 anos; a segunda melhor altura, é agora". Semeemos um futuro mais sustentável, desde já.
---Pensar a sustentabilidade na sua forma integrada: económica, social e ambiental
Eugénio Sequeira, Engenheiro agrónomo e dirigente da Liga para a Proteção da Natureza
A sustentabilidade tem várias vertentes: a económica, a social e a ambiental. Para se perceber como isso é importante, é bom olhar para um exemplo concreto, como a barragem do Alqueva. Ao avançar para um projeto como aquele, seria desejável que o custo da água, de acordo com a diretiva Quadro da Água, fosse pago por inteiro e que fosse baixo. Mais do que cinco ou seis cêntimos por metro cúbico já não seria sustentável no Alqueva, o custo está estimado em 41 cêntimos. Também se esperaria que fosse sustentável do ponto de vista social. Isto significa que as produções a fazer ali deviam garantir a estabilidade e a segurança quanto às flutuações do mercado, do clima e do emprego.
Neste momento, o que há na área são plantações sazonais, como olival hiperintensivo, milho e vinha, que apenas geram empregos sazonais.
Do ponto de vista ambiental, um projeto daquela envergadura também deveria garantir que os recursos não são degradados. Não se pode plantar florestas ou regar com uma água que não dá garantias de manter a qualidade. Ora, acontece que a montante do Alqueva existem 3 milhões de habitantes.
Feitas as contas com números conhecidos, só de uso doméstico, são lançadas mais de 20 mil toneladas de sal, por ano, na barragem. A longo prazo, vai haver ali água de má qualidade, com problemas graves de salinização. No futuro, noutros investimentos como este, é preciso pensar se está garantida a estabilidade e segurança, do ponto de vista económico, se há garantias de mão de obra e emprego e se existem recursos de boa qualidade. Não basta olhar para o ambiente e para a biodiversidade.
Qual é a moral que qualquer juíz do TC pode ter para falar ou decidir os seus pareceres baseados em equidade e paridade entre os cidadãos e mediante estes dois fatores decidir da vida do País?
Vou dar um exemplo:
- Existe uma lei que permite aos juízes do TC reformarem-se com 10 anos de serviço e 40 de idade, ou 12 anos de serviço e qualquer idade. è legal porque está na lei, mas, para mim, não deixa de ser obsceno.
-Mais, sabem quem votou essa lei? Os deputados da AR, claro... mas com os votos favoráveis do PS, PSD, e CDS... E ainda, sabem quem estva entre entre deputados? Julgo não errar se afirmar que estavam António Vitorino e Assunção Esteves.
E se vos disser que pouco tempo depois estes dois personagens foram nomeados para o TC? E estão reformados baseados nessa lei que eles proprios criaram? Não acham tudo isto pelo menos, imoral?
Onde estão aqui as equidades e as paridades?
Então o 25 de abril não foi feito para dar igualdade aos portugueses nos direitos e nos deveres?
Desculpem-me se estou a «ver» mal e se estou «enganado» nesta minha reflexão.
Mas alguma coisa aqui me deixa indignado e descriminado. É que eu para me reformar tenho de trabalhar até aos 66 ou será 67 anos e para não ter penalizações nas verbas a receber terei de ter pelo menos 40 anos de descontos. Será que aqui o TC não vê nenhuma inconstacionalidade na Constituição Portuguesa? Aguardo os vosso sábios comentários e opiniões.
Qual é o teu valor de mercado, mãe? (-
Desculpa escrever-te uma pequena carta, mas estou tão confuso que pensei que escrevendo me explicava melhor.
Vi ontem na televisão um senhor de cabelos brancos, julgo que se chama Catroga, a explicar que vai ter um ordenado de 639 mil euros por ano na EDP, aquela empresa que dava muito dinheiro ao Estado e que o governo ofereceu aos chineses.
Pus-me a fazer contas e percebi que o senhor vai ganhar 1750 euros por dia. E depois ouvi o que ele disse na televisão. Vai ganhar muito dinheiro porque tem o seu valor de mercado, tal como o Cristiano Ronaldo. Foi então que fiquei a pensar. Qual é o teu valor de mercado, mãe ?
Tu acordas todos os dias por volta das seis e meia da manhã, antes de saíres de casa ainda preparas os nossos almoços, passas a ferro, arrumas a casa, depois sais para o trabalho e demoras uma hora em transportes, entra e sai do comboio, entra e sai do autocarro, por fim lá chegas e trabalhas 8 horas, com mais meia hora agora, já é noite quando regressas a casa e fazes o jantar, arrumas a casa e ainda fazes mil e uma coisas até te deitares quando já eu estou há muito tempo a dormir.
O teu ordenado mensal, contaste-me tu, é pouco mais de metade do que aquele senhor de cabelos brancos ganha num só dia. Afinal mãe qual é o teu valor de mercado? E qual é o valor de mercado do avozinho? Começou a trabalhar com catorze anos, trabalhou quase sessenta anos e tem uma reforma de quinhentos euros, muito boa, diz ele, se comparada com a da maioria dos portugueses. Qual é o valor de mercado do avô, mãe? E qual é o valor de mercado desses portugueses todos que ainda recebem menos que o avô? Qual é o valor de mercado da vizinha do andar de cima que trabalha numa empresa de limpezas?
Ontem à tardinha ela estava a conversar com a vizinha do terceiro esquerdo e dizia que tem dias de trabalhar catorze horas, que não almoça por falta de tempo, que costumava comer um iogurte no autocarro mas que desde que o motorista lhe disse que era proibido comer nos transportes públicos se habituou a deixar de almoçar. Hábitos!
Qual é o valor de mercado da vizinha, mãe? E a minha prima Ana que depois de ter feito o mestrado trabalha naquilo dos telefones, o “call center”, enquanto vai preparando o doutoramento? Ela deve ter um enorme valor de mercado! E o senhor Luís da mercearia que abre a loja muito cedo e está lá o dia todo até ser bem de noite, trabalha aos fins de semana e diz ele que paga mais impostos que os bancos?
Que enorme valor de mercado deve ter! O primo Zé que está desempregado, depois da empresa onde trabalhava há muitos anos ter encerrado, deve ter um valor de mercado enorme! Só não percebo como é que com tanto valor de mercado vocês todos trabalham tanto e recebem tão pouco! Também não entendo lá muito bem – mas é normal, sou criança – o que é isso do valor de mercado que dá milhões ao senhor de cabelos brancos e dá miséria, muito trabalho e sofrimento a quase todas as pessoas que eu conheço!
Foi por isso que te escrevi, mãe. Assim, a pôr as letrinhas num papel, pensava eu que me entendia melhor, mas até agora ainda estou cheio de dúvidas. Afinal, mãe, qual o teu valor de mercado? E o meu?
O que não se contou de Tiananmen e da R.P. China
Tiananmen foi o canto do cisne de um movimento de trabalhadores e estudantes – ao todo pensa-se que 100 milhões em mais de 300 cidades – que nas ruas da China, durante três anos, colocaram nas ruas a questão do poder e se enfrentaram com a burocracia do PC da China.
A propaganda ocidental conseguiu, com algum sucesso, resumir Tiananmen a um protesto numa Praça de Pequim, levado a cabo por estudantes, que reivindicavam a abertura ao Ocidente e foram brutalmente reprimidos pelo PC da China. Como sempre, uma mentira tem de ter parte de verdade para ser engolida pelas pessoas.
Tiananmen é o momento mais dramático de uma situação pré-revolucionária que se abriu na China em 1986 e se encerrou em 1989 com a dramática repressão sobre estudantes e trabalhadores levada a cabo por um sector do Partido Comunista da China.
As reformas de Deng Xiaoping, no início dos anos 80 – conhecidas como as quatro modernizações (agricultura, indústria, investigação cientifica, exército) –, geraram uma oposição entre os trabalhadores, estudantes e intelectuais. O «socialismo de mercado» (e«um país 2 sistemas económicos») criava profundas divisões entre as zonas especiais e a China costeira e o mundo rural: um trabalhador chinês do campo podia ir trabalhar numa fábrica da costa com um passaporte especial, mas não podia aí residir ou levar a família ou colocar os filhos na escola, o que ainda hoje se passa na China. A mercadoria «trabalhador» estava a construir a China que deu o salário da globalização e permitiu aos países imperialistas (importadores e investidores na "deslocalização industrial» para a China) acumular capital de uma forma espantosa durante os anos 80 e 90 do século XX. Era o maior exército industrial de reserva do Mundo. A inflação e a crescente «desigualdade social», nas palavras do historiador Massimo Salvadori, e a justa luta pela liberdade, contra a ditadura imposta pela burocracia do Partido Comunista, levaram um sector da população a enfrentar-se com o Governo e abriu-se uma crise dentro do PC da China, que em 1986 levou à substituição de Hu Yaobang no cargo de secretário-geral do partido. Esta substituição gera manifestações gigantescas em toda a China. Crises sucedem-se nesses três anos sem que o Governo consiga controlar a situação. Ao lado, a URSS desmoronava-se (com Gorbatchov), confirmando o prognóstico de Trotsky nos anos 30: ou havia uma revolução contra a burocracia ou uma restauração bárbara do capitalismo.
Em Abril de 1989, a morte de Hu Yaobang é o rastilho. Para lhe prestar homenagem, os estudantes escolhem a Praça de Tiananmen, e a 17 de Abril começa a ocupação da Praça. Começam por ser 20 mil estudantes, rapidamente passam a 100 mil estudantes e trabalhadores. Em 22 de Abril, dia do funeral, e apesar de proibida a manifestação, mais de 200 mil pessoas estão na Praça. Denunciando a corrupção do PC, exigem igualdade, boas condições de vida, liberdade. Quando há muita gente na rua, dizia Che Guevara, algo de bom se passa.
O movimento permaneceu e em 17 de Maio, quando da visita a Pequim do líder soviético Mikhail Gorbachev, uma multidão sai às ruas, respondendo aos apelos dos estudantes. No dia 18, cerca de 1000 estudantes entram em greve de fome e o Governo decreta o estado de sítio. Em 24 de Maio os estudantes criam um quartel-general de defesa da Praça Tiananmen. Há uma luta entre os estudantes que querem permanecer na Praça e os que acham que se deve começar a dialogar com o Governo. No dia 28 de Maio, há em todo o Mundo manifestações a favor da luta de Tiananmen. A revolta conta nas suas fileiras com trabalhadores, sindicalistas, intelectuais, jornalistas. O Governo decide mandar o Exército reprimir. E o Exército de Pequim recusa-se a fazê-lo…
O massacre ignorado
Com urgência, o Governo manda vir para Pequim tropas do Exército de Libertação Popular de outros locais. A história dos exércitos rurais usados para derrotar as revoluções das cidades repete-se desde a Comuna de Paris. Mas a população à entrada de Pequim, aos milhares, faz barricadas e impede a entrada do Exército em Pequim. A 2 de Junho, o povo obriga os soldados a recuar. Mas a 3, à noite, os tanques avançam. Há inúmeros mortos, ninguém sabe bem quantos, de trabalhadores esmagados pelos tanques ou mortos a tiro nas avenidas que dão acesso a Tiananmen. O maior massacre, conhecido entre os trabalhadores por Massacre de Pequim, ocorre longe de Tiananmen, e das câmaras de televisão, como lembram George Black e Robin Munro no livro Black Hands of Beijing: Lives of Defiance in China’s Democracy Movement: «O alvo principal não eram os estudantes, mas os trabalhadores dos subúrbios de Pequim que se revoltaram contra as duríssimas condições de trabalho e de vida impostas pela abertura ao mercado dos anos 70.» Brendan O’Neill confirma, num artigo escrito para o The First Post, que a maioria das vítimas foram «trabalhadores dos subúrbios de Pequim».
Na madrugada de 3 de Junho e no dia 4, o Exército avança e começa a disparar, fazendo, pensa-se, mais de 1500 vítimas, a maioria não estudantes, e entre eles vários elementos do PC da China que se opunham às reforma de Deng e que saíram às ruas para defender os estudantes e a revolução.
O movimento terá tido manifestações, greves e impacto político em cerca de 300 cidades da China e envolvido 100 milhões de chineses.
A política é confundida pelo som das palavras. Tiananmen em chinês quer dizer a Porta da Paz Celestial. Em Tiananmen o PC da China dizia estar a lutar contra uma clique de «contra-revolucionários». Os trabalhadores e estudantes eram descritos como querendo uma liberalização económica e democrática. Mas a derrota de Tiananmen abriu a China ao capitalismo mais selvagem de sempre, pela mão dos «ortodoxos» do PC da China. Tiananmen foi, hoje podemos com certeza dizê-lo, o ponto alto da contra-revolução que restaurou o capitalismo na China dirigida pela burocracia do PCC, auxiliada por um Exército que se chamava de «libertação». Derrotados foram os trabalhadores que quando saem à rua, quer o digam ou não, colocam sempre esta questão chave: «de quem é o poder».
O Ocidente «chocado» agradeceu à China por ter criado as condições que abriram portas a que hoje um chinês monte um computador a troco de uma tigela de arroz. Esse é o significado histórico de Tiananmen. A condenação formal não passou de uma vénia que o Ocidente foi obrigado a fazer, já que às suas portas, na Europa, tinha uma revolução ainda mais poderosa em curso, com o desmoronamento da URSS.
Também à China se colocava a velha questão de Trotsky: ou a revolução ou a restauração bárbara e impiedosa do capitalismo. Sem se enfrentarem com os burocratas que crescem na sua própria classe, os trabalhadores estão condenados a derrotas, à paz dos cemitérios.
O homem do tanque
Na madrugada de 4 de Junho, um homem desconhecido, na Avenida da Paz Eterna, perto de Tiananmen, pequenino e magro, segurando sacos de plástico nas mãos, pára em frente a uma coluna de tanques. O da frente tenta evitá-lo. Ele não sai da frente. Consegue subir e falar com o condutor do tanque. Conta-se que lhe terá dito: «Não matem mais o meu povo.» Foi depois levado: ninguém sabe ao certo se por militares, se por amigos. E ninguém até hoje sabe do seu paradeiro. - Publicado originalmente em Revista Rubra nº 6
Protesto e massacre de há 25 anos (via Der Terrorist)
Ainda há heróis (-por P.Correia, 04.06.14, delito de opinião)
. No coração da remota China muçulmana, a população turcófona continua a ser remetida para guetos nos subúrbios: os melhores empregos e as melhores habitações cabem à etnia han, dominante no conjunto do país. Só existe igualdade na lei, não existe na prática: os uígures são tratados como cidadãos de segunda na sua própria terra.
Recordo as expressões festivas nos rostos de muitos chineses semanas antes, dias antes, quando toda a esperança parecia possível.
Recordo as figuras dos principais dirigentes estudantis, imagens que galvanizaram toda uma geração – jovens como Wang Dan, Chai Ling e Wuer Kaixi, que viriam a ser perseguidos e forçados ao exílio (os que não foram fuzilados ou encerrados em "campos de reeducação").
Recordo a euforia popular que rodeou a chegada à capital chinesa em meados de Maio, para uma visita oficial, de Mikhail Gorbatchov, o homem que se preparava para derrubar a cortina de ferro e servia de inspiração ao ansiado derrube da cortina de bambu.
Recordo também a mobilização de uma vasta força repressiva, composta por 300 mil soldados mandatados para estancar a revolta. Recordo a proclamação da lei marcial por Deng Xiaoping (que só viria a ser levantada em Janeiro de 1990) e o afastamento do líder do partido, Zhao Ziyang, acusado de ser excessivamente brando pelos falcões da ditadura e condenado a partir daí à morte civil e à reclusão doméstica com carácter vitalício.
Recordo o silêncio de chumbo nos dias subsequentes ao massacre.
Recordo sobretudo o impressionante instantâneo daquele homem sem rosto nem nome, de braços nus, enfrentando uma sinistra fileira de tanques, imortalizado pelo clique da máquina fotográfica de Stuart Franklin. Símbolo máximo da dignidade humana perante a força bruta - há 25 anos em Pequim, hoje no Xinjiang que teima em ser diferente.
Quando ouço dizer à minha volta que já não existem heróis, lembro-me sempre daquele homem sem medo. Que outro nome haveremos de dar-lhe senão esse – o de herói?
A luta pelo socialismo (parte II) (-
No PS, prossegue animado o grande debate de ideias. Diz um apoiante de Seguro: «A minha ideia é que se nos dividimos agora, espera-nos o triste destino do PASOK [8%] e do PS francês, que já nem chega aos 14%! E lá se vai o meu lugarzito! O PSD e o CDS não parecem melhor, mas com o mal deles posso eu bem.»
Retorque um apoiante de Costa: «Pois eu tenho ideia que com o Seguro esse é o nosso futuro. Com o Costa pode ser que ainda sobre alguma posta.»
Como dizia alguém, os filósofos têm apenas interpretado o País de diferentes maneiras; o que importa, porém, é dar um jeitinho.
Não esmoreçam, camaradas. O País conta convosco. A luta continua!
A evolução político-jurídica da União Europeia ao longo das últimas três décadas tem correspondido a uma verdadeira constitucionalização do neoliberalismo. Do Acto Único Europeu ao Tratado de Lisboa, com passagem por Maastricht e Amesterdão, as peças foram sendo gradual mas inexoravelmente colocadas no lugar: mercado único, mobilidade do capital, concorrência fiscal, pressões múltiplas no sentido da privatização, liberalização e flexibilização do mercado de trabalho. Sempre que necessário, atropelando a vontade dos povos.( e os direitos dos trabalhadores.)
Esta neoliberalização da União Europeia tem sido prosseguida com especial intensidade nos países que aderiram à União Económica e Monetária. Sob um manto diáfano de cosmopolitismo, modernidade e redução dos custos de transacção, escondia-se na verdade uma ofensiva de classe e um mecanismo de divergência entre Estados. Quer uma quer o outro decorrem da necessária acumulação de excedentes no centro e défices na periferia que resultam da impossibilidade de recurso à desvalorização cambial. Isto, claro, num contexto adicionalmente caracterizado pela ausência de mecanismos de transferência orçamental com uma dimensão minimamente significativa e pela grotesca imposição da intermediação bancária entre o BCE e os Estados.
A divergência entre Estados resulta da impossibilidade de assegurar o equilíbrio externo e a estabilização macroeconómica na periferia por outra via que não a austeridade perpétua - algo que, após uma década de endividamento, se tornou agora evidente. A ofensiva de classe decorre do facto do mecanismo de ajustamento tornado obrigatório ser a compressão dos salários directos e indirectos: enquanto que a desvalorização cambial afecta todos os rendimentos (de trabalho e de capital) de forma transversal, a 'desvalorização interna' implica necessariamente uma alteração na repartição funcional do rendimento em favor do capital e detrimento do trabalho, a par do desmantelamento dos serviços públicos de que os mais pobres dependem muito mais fortemente.
Mas o ADN neoliberal da União Económica e Monetária introduziu ainda, porventura inadvertidamente, uma tendência latente para a estagnação generalizada, pois constitui o exemplo mais acabado da contradição central do neoliberalismo. A desigualdade na distribuição do rendimento constrange a procura no mercado de bens e serviços (ao mesmo tempo que provoca bolhas especulativas em sucessivos mercados financeiros); e o único mecanismo que neste contexto permite introduzir dinamismo na procura - o endividamento privado e público -, uma vez levado até ao limite, não pode ser renovado devido ao mandato anti-inflaccionário do BCE.
O resultado de tudo isto é o que está à vista: desigualdade em máximos históricos, um lastro gigantesco de dívida privada e pública, periferias condenadas ao subdesenvolvimento, domínio absoluto da finança, estagnação generalizada (, destruição da classe média e aumento da pobreza). Sem que se vislumbre a possibilidade de políticas que invertam estas tendências porque, e este é um aspecto crucial, a constitucionalização do neoliberalismo significa que o próprio leque de políticas possíveis, a nível nacional ou europeu, está decisivamente constrangido. Todos os determinantes fundamentais de que tenho vindo a falar estão blindados em tratados cuja alteração exige uma impossível coordenação entre Estados com interesses e ritmos políticos divergentes.
Perante tudo isto, e com maior ou menor percepção dos mecanismos subjacentes, os cidadãos europeus sentem o ataque de que são alvo e revoltam-se, legitimamente, contra uma União Europeia que hoje em dia não promete mais do que o subdesenvolvimento. Infelizmente, como estamos agora a assistir pela Europa fora, os partidos anti-democráticos e xenófobos são quem está a ocupar mais rapidamente este espaço político, subvertendo estas legítimas aspirações. Se o campo democrático não assumir rapidamente que esta União Europeia, e sobretudo este Euro, têm mesmo de ser desmantelados para que uma Europa solidária e de progresso possa ser reconstruída, são sombrias as nuvens que se erguem no horizonte. (-por Alex. Abreu, 2/6/2014, publicado no Expresso online)
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