Quarta-feira, 30 de Setembro de 2015
Governo alterou contas da Parvalorem (que gere os activos tóxicos do BPN) para aldrabar défice de 2012
(Só da Parvalorem? Só para aldrabar o défice de 2012?)
E mentem e mentem e mentem e mentem e mentem e mentem ...
Ela não disse para martelarem os números. Só ordenou que os revissem em baixa. (-LNT #BarbeariaSrLuis)
Fraude nas contas? Subida do desemprego? Maioria absoluta logo à noite
A GOLPADA Quatro anos de truques e manigâncias.
----- Mestificações e Port. em Fanicos (-J.Martins, 365forte)
... Em 2011, já sabemos o que aconteceu: Passos prometeu que no governo não ia aumentar impostos; prometeu que não ia mexer nos subsídios; que não ia privatizar “ao desbarato” para arranjar dinheiro; que não ia cortar nos subsídios. Ao mesmo tempo, criticou os governos “sem orientação estratégica”, “sem capacidade de vender um sonho ou uma esperança para o futuro do país”, e que em vez disso deveriam “servir para ajudar o cidadão na busca da felicidade a que temos todos direito”, assumindo que não iriam "sacrificar sempre os mais desprotegidos".
Em 2015, o líder da coligação PSD/CDS já afirmava que não ia oferecer “aos portugueses um caminho de promessas fáceis, de ilusões nem de facilidades”. Contudo, uns meses depois, já veio dizer que lhe "parece de justiça e de equilíbrio que aqueles que mais sofreram sejam aqueles que também possam beneficiar do arranque da nossa economia e do crescimento do nosso país", ou seja, os mais sacrificados nestes últimos anos.
----- Sondagens e manipulação do voto (- por Sérgio Lavos, 365forte)
Esta campanha para as legislativas está a ser um paradigma no que diz respeito à influência que a comunicação social tem na opinião pública e, consequentemente, no voto. Desde a habitual falta de espaço mediático concedido aos partidos mais pequenos (sobretudo os que ainda não têm representação parlamentar) ao extraordinário acaso que é vermos dois antigos presidentes do PSD a comentar a campanha na SIC e na TVI, ocupando o prime-time nos telejornais dos dois canais (Marques Mendes chega ao ponto de escarnecer da nossa inteligência, ao gabar-se da "independência que me é reconhecida"), tem acontecido de tudo um pouco, sem que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) se pronuncie. Aliás, a avaliar pelo silêncio do organismo que deveria fiscalizar o acto eleitoral, estes acontecimentos devem ser absolutamente normais, e estarão a guardar-se para vigiar as redes sociais no dia de reflexão, acredito.
E depois há o caso das sondagens. Temos de tudo, à escolha do freguês: amostras que rondam as 300 entrevistas válidas; sondagens nas quais apenas são sondados residentes do continente com telefone fixo; contagens de voto que não têm em conta a densidade populacional de cada região e a distribuição de mandatos por círculo eleitoral (ou se têm, partem de inexplicáveis distorções); e até uma sondagem que, partindo de uma amostra com distribuição por regiões do país, extrapola os mandatos por círculo eleitoral (que não coincidem, como é evidente, com as regiões), construindo um potencial parlamento para usufruto dos comentadores, que depois discorrem longamente sobre cenários hipotéticos e pouco verosímeis. É um festim. ...
----- O eclipse eleitoral
Passos Coelho, como se nada tivesse tido a ver com o que se passou nos últimos quatro anos: nem o desemprego, nem os impostos brutais, nem a degradação dos serviços públicos, salta por cima disso. Passos consegue mesmo dizer, como se não tivesse nada a ver com isso, que todos os portugueses tiveram alguém na família que não tenha sido afectado no salário, no emprego ou na pensão. E acrescentou, condoído: "Eu tenho de tudo isso na minha família."
Passos é líder da oposição? Não. É o primeiro-ministro do
Governo que fez tudo isso em nome da dívida e do défice. Mas talvez, em época de eclipses totais, Passos tenha sido o líder de um Governo PSD/CDS e, agora, seja o chefe da coligação PàF que aparentemente não teve nada a ver com o que se passou nos últimos quatro anos. Os eclipses em Portugal são mesmo diferentes…» -
Fernando Sobral -----
Portugal invisível e o medo do abismo (via Entre as brumas...)«Esta campanha eleitoral desafia muitos padrões criados e a culpa é do sentimento mais poderoso presente na pré-campanha: o medo.
Nos estados totalitários o status quo é mantido através do medo das represálias, mas nas democracias o status quo também pode ser mantido através do medo. (...)
Por que é que quem chega a Portugal acha que o país se tornou invisível para fora? E por que é que isso nos interessa? Em primeiro lugar porque a narrativa estrangeira sobre Portugal é a de que hoje Portugal não é um problema na zona euro. Acima de tudo acha-se que não somos um país problema porque ninguém ouve falar de nós. (...)
À pergunta "e então não foi positivo os nossos problemas terem-se tornado invisíveis?" podemos responder que sim, certamente, permitiu comprar tempo mas resolveu pouco. (...)
Um quotidiano em emergência permanente equivaleu a deixarmos que o medo do abismo assentasse arraiais entre nós e que, posteriormente, a dúvida metódica sobre se não é melhor nada mudar, para que nada ponha em causa a invisibilidade dos problemas, germinasse em Portugal. (...)
O medo do abismo é certamente o que impede que nas sondagens desta campanha se entreveja a clara vitória de um partido ou de outro e, também, o facto de para muitos a opção correcta já não ser escolher um partido ou outro mas sim não ir votar.
Para sair deste clima de medo, implícito e transversal, precisaríamos que se cortasse com a instrumentalização eleitoral do medo, se falasse de verdade sobre os problemas "invisíveis" e sobre a necessidade de traçar as “fronteiras estruturais” que não serão jamais colocadas em causa, em particular, a dignidade do emprego dos jovens, o reforço da classe média e a dignidade dos reformados.
Se isso não acontecer nesta última semana de campanha então talvez as vozes que dizem que não vale a pena votar tenham efectivamente razão, pois quem quer que seja o próximo primeiro-ministro e forme governo
estará prisioneiro do medo criado ao longo destes anos e dificilmente conseguirá desfazer-se dessa herança para que se deixe de "ganhar tempo"
e passemos finalmente a "resolver problemas".» -
Gustavo Cardoso -----
O fim do pesadelo (síntese do desgoverno PSD-CDS) (-por A.Abreu, 30.09.2015, Expresso) Em 2011, a
direita concretizou finalmente o seu velho sonho de dispor de um governo, uma maioria e um presidente do seu quadrante político.
Fê-lo cavalgando uma série de
promessas que nunca fez tenções de cumprir – e que, naturalmente,
não cumpriu.
Quatro anos depois, os
desequilíbrios macroeconómicos estão muito PIOR do que há quatro anos.
A
dívida pública aumentou de 108% para 130% do PIB, a
dívida externa líquida aumentou de 82% para 105%.
A direita subiu ao poder prometendo ajustar os desequilíbrios macroeconómicos da economia portuguesa, mas
conseguiu apenas empobrecer o país, deprimindo a produção e fazendo alastrar as falências e o desemprego. Nos últimos dias, ficámos a saber que o
défice orçamental foi de -7,2% em 2014 e de
-4,7% no primeiro semestre de 2015, que o
défice externo regressou assim que o travão da austeridade foi temporariamente suspenso por motivos eleitoralistas e que a
poupança das famílias caíu para o nível mais baixo de sempre.
Défice externo, défice público, endividamento, emigração e desemprego generalizados: não houve qualquer ajustamento, apenas empobrecimento, agora momentaneamente interrompido por motivos eleitorais.
Mas a parte mais
nefasta da governação da direita não foi sequer o desastroso desempenho macroecónomico numa legislatura em que
a emigração regressou aos níveis da década de 1960 e em que o
investimento regrediu 30 anos.
Pior – muito pior - do que isso foi a forma como este governo
transformou Portugal num país muito mais desigual e muito menos decente para benefício de uns poucos.
Como repercutiu sobre
os mais pobres e a classe média a maior parte dos impactos da crise, ao mesmo tempo que o
número de milionários não cessava de aumentar.
Como
alterou o IRS, reduzindo o número de escalões, de modo a torná-lo deliberadamente
menos progressivo e mais propenso ao aumento da desigualdade.
Como colocou a generalidade dos trabalhadores a
trabalhar mais horas por dia e mais dias por ano a troco de salários mais baixos, de modo
a transferir rendimentos para os detentores de rendimentos de capital.
Como
cortou pensões e retirou apoios sociais aos mais pobres, aos desempregados, aos reformados e aos pensionistas.
Como
atacou e esvaziou a saúde e a educação públicas, comprometendo o presente e o futuro dos portugueses.
Como
aumentou a carga fiscal de forma inícua e injusta, agravando brutalmente o
IRS e o IVA ao mesmo tempo que
reduzia o IRC.
Como
privatizou quase tudo o que havia para privatizar – resta a Caixa Geral de Depósitos e pouco mais – por montantes irrisórios, fazendo com que os portugueses sejam adicionalmente
penalizados enquanto consumidores em resultado dos aumentos dos preços de bens e serviços essenciais.
Felizmente, existe hoje uma ampla maioria social – de dois terços, a fazer fé nas sondagens – que
se opõe a que o país continue a ser devastado desta forma em benefício das elites. É fundamental que esta maioria social se mobilize no próximo Domingo, contribuindo para que o actual governo se transforme rapidamente numa lamentável recordação.
O
sonho da direita revelou-se o pesadelo da maioria dos portugueses.
Quatro anos depois, está nas mãos desta mesma maioria
pôr fim ao pesadelo.
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Terça-feira, 29 de Setembro de 2015
Era só para LEMBRAR. Vamos VOTAR.
(via Entre as Brumas) Voto útil (por Sérgio Lavos, 365Forte, 21/9/2015)
À medida que nos vamos aproximando das eleições, vai crescendo a pressão para o voto útil. É assim em todas as eleições, e é previsível que nestas seja bastante maior, tendo em conta a incerteza sobre o vencedor e a proximidade entre PS e Coligação PàF. Nos media, diariamente as fúteis discussões sobre o acessório tenderão a deixar de parte o essencial – as ideias e as propostas dos partidos.
A pressão para o voto útil é a segunda parte de uma estratégia dos media (em conluio com os partidos maiores) que deixa de fora da campanha os pequenos partidos, os que não têm representação parlamentar. Depois de duas eleições consecutivas (as Autárquicas e as Europeias) sem cobertura televisiva, as estações televisivas partiram para a negociação com os partidos numa posição de força e conseguiram quase tudo o que pretendiam, a começar pela liberdade editorial (inalienável) e a acabar, na prática, no fim da obrigatoriedade de mostrar a campanha de todos os partidos (a que, de resto, a Constituição obriga). O Livre/Tempo de Avançar viu o seu programa cidadão aprovado praticamente sem qualquer cobertura televisiva (a excepção foi uma curta peça que passou na SIC-Notícias). Como ninguém prometeu despir-se na convenção, não estavam lá câmaras para filmar o acontecimento.
Numa democracia parlamentar, cada deputado eleito vale por si. O poder legislativo emana dos deputados, não de outro órgão qualquer. Como tal, valerá tanto um deputado eleito por um partido pequeno como por um partido grande. Mais: na prática, como sabemos, um deputado eleito por um partido pequeno acaba por produzir mais do que muitos dos que se sentam nas últimas filas dos maiores partidos, os deputados que apenas estão lá para aprovar acriticamente Orçamentos de Estado e leis polémicas. A liberdade de voto, que deveria ser a essência de uma democracia parlamentar representativa, é na realidade inexistente, sobretudo nos partidos do centro (e no centralista PCP).
O voto útil (tal como ele é entendido na generalidade) acrescenta muitas vezes inutilidade e redundância. Se somarmos a este facto a distorção (do nosso sistema eleitoral) provocada pela existência de círculos e pelo método de Hondt (que na prática significa que um partido pequeno precise de muitos mais votos para eleger um deputado do que um partido grande), percebemos que votar útil enfraquece a representatividade eleitoral. Começa no acto inicial, o da escolha do voto – votar de forma negativa, apenas para que um partido não ganhe eleições, retira algum valor ao voto – e acaba no resultado final, quando olhamos para uma Assembleia da República repleta de deputados que estão ali apenas para servirem os seus interesses e os do partido, e não os dos cidadãos que os elegeram.
Fortalecer a democracia passará sempre pelo reforço do poder dos cidadãos. ... O voto consciente do cidadão é, na realidade, o verdadeiro voto útil.
-------------(comentários):
--... se eu desejar simplesmente livrar-me do presente Governo, ou seja, dado o sistema eleitoral vigente é muito mais fácil com o meu voto eleger um dos deputados de 'amen' do PS do que um deputado do Livre. Nesse sentido, o voto dito útil é de facto muito mais útil. Pode ser injusto, mas é verdade... porque ... na maioria dos círculos eleitorais, pequenos e com poucos apoiantes, o voto num pequeno partido é um voto desperdiçado, 'inútil' porque não chega para eleger deputados ... já num círculo único (nacional) ou num círculo com concentração de apoiantes, o voto num partido pequeno é bem útil.
-- Eu sempre achei que o voto mais útil é aquele feito no partido que mais se aproxima do nosso ideal político. Com esse voto, sabemos que haverá mais possibilidades das nossas ideias serem defendidas no parlamento. Acho que nunca votei "útil", sempre votei em quem mais acreditava e não em quem poderia tirar um partido do poder.
-- O (apelo ao) voto útil é chantageante. Coloca-nos injustamente perante uma abdicação em nome de um bem "maior" induzidos pelo sentimento de culpa. Levado ao absurdo é intolerável e destruidor da individualidade e da noção de democracia. O voto tem que ser merecido por quem o pede e sentido por quem o dá. ...
-- Se existe uma maioria sociológica de esquerda no País, negoceiem, entendam-se. Dividam os méritos caso resulte e as culpas caso não resulte. É isso a politica. Coliguem-se para tentar governar, a sério.
--... não acredito que o voto possa mudar o que quer que seja. Hoje a politica é um circo de "fait divers" e a maioria dos políticos são (comprados ou) impotentes de mudar o que quer que seja.Os poderes fácticos (alta finança, media, lobbies,... UE, troika) são muito mais poderosos e condicionam o que se discute e o que se faz. ... As envolventes externas e internas deixam uma margem muito pequena para o poder legislativo (e para o executivo e para a Democracia!). É um tecto que conduz à menorização do voto e da cidadania. Sinto-me menos cínico e conformista não votando. Já não sinto esse apelo ilusório.
--...Na medida em que as (não-) escolhas políticas nos afectam a todos, a abstenção é uma abdicação parcial do exercício da cidadania (que não se esgota no voto), deixando que outros decidam o seu presente e futuro...!! Francamente, no largo espectro partidário de partidos representados na AR (ou com chances de elegerem deputados), não há mesmo ninguém de quem esteja próximo (mesmo não tendo a mesma opinião em tudo)?! Como pode esperar que as ideias que defende sejam alguma vez implementadas se não se dá ao trabalho de apoiar quem o poderia representar? Se é que realmente defende alguma coisa ...
-- A cantilena do voto útil tem servido o rotativismo PSD-PS (o centrão), com graves perdas para a Democracia. Agora (em vez de coligações e acções/medidas conjuntas) criam-se partidos, só porque alguém decide querer um partido que seja seu, mas sem alicerces no povo nem capacidade de mobilização eleitoral, ... o resultado só pode ser dividir e enfraquecer a esquerda (dos muitos idealistas e rivais) para a direita (mais prática) continuar a reinar...
-- ...No dia seguinte às eleições o mundo não passa a girar ao contrário e os que mandam não vão ser outros. Vão continuar a ser os mesmos. Os que pressionam e compram aqueles que estão em lugares políticos de poder. É por isso que estas eleições são importantes, não para saber se ganha a continuidade ou a alternância da continuidade. O que importa é que aqueles que não sei deixam pressionar nem comprar pelos que mandam aumentem a sua influência na Assembleia da República. É esse o verdadeiro voto útil.
Maioria absoluta ? Não, muito obrigada
Porque não deveria haver maioria absoluta. «Governe a PAF ou governe o PS,
enquanto a União Europeia, com a actual organização e relação de forças políticas, não quiser ou não puder, não haverá verdadeiro progresso económico em Portugal mas apenas crescimento ou depressão sazonal, numa variação que oscilará ao sabor de interdependências financeiras em que os interesses económicos portugueses são secundarizados ou cruamente ignorados. É um destino errático, uma pura lotaria que decide o destino de dez milhões de almas. (...)
É preciso começar um caminho que, certamente de forma lenta e ponderada, comece a alterar aos poucos esta situação de colonato a que ficámos reduzidos para um dia ser eliminada a excessiva dependência externa em que capitulamos a nossa energia criadora.
O primeiro passo parece-me lógico: impedir que uma maioria absoluta volte a dar-nos um governo que não precisa de dar explicações ao país e tenha, apenas, de dar explicações à União Europeia.»
Diz a Fitch que… (Mariana Mortágua) «É interessante ler o que diz a Fitch (agência de notação financeira), nem que seja como forma de compreender e antecipar o comportamento/pensamento de quem, de facto, tem mandado no nosso país: só não há medidas orçamentais adicionais porque estamos em período eleitoral. Acontece, e isto já sou eu a falar, que as eleições vão passar, e tanto PS como PSD/CDS se comprometeram com as metas do défice estrutural estabelecidas no Tratado Orçamental.»
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Voto Útil (5)
A sua qualidade [do governo] de cobrador sem fraque tornou-se tão evidente, que a Comissão Europeia (essa entidade que só toma pretensas decisões quando o caos lhe bate à porta) veio agora, em plena campanha eleitoral, mostrar que tem o verbo fácil, mesmo quando não tem a mínima noção do que está a dizer.
Ou seja, Portugal, com o alto patrocínio da Comissão Europeia, vai reabrir a caça aos gansos, o célebre ensinamento do ministro das Finanças de Luís XIV, Jean-Baptiste Colbert: "A arte da tributação consiste em depenar um ganso para conseguir o maior número de penas com a menor quantidade possível de assobios." Os gansos, no caso, são os portugueses (e principalmente os da classe média, trabalhadores por conta de outrem, aqueles que não podem fugir aos impostos através de offshores, 'planeamento fiscal' e 'esquemas criativos'.). Como já eram antes desta nova descoberta da CE e de quatro anos de austeridade e do "enorme aumento de impostos" de Vítor Gaspar. E, pelos vistos, vão continuar a ser.» - Fernando Sobral
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Segunda-feira, 28 de Setembro de 2015
Aproxima-se mais um ato eleitoral. E mais uma vez temos à disposição eleitoral o que vou chamar de mais do mesmo.
Mais do que saber em quem votar, sei em quem não vou votar, E passo a explicar:
Porque não vou votar na coligação "PàF":
Porque não quero mais do mesmo.
Isto é não gostei da governação que tivemos nestes últimos quatro anos. E não me estou a referir sequer às diferenças entre o que tinham prometido e que não fizeram ou ao que fizeram precisamente o contrário do que tinham prometido.
Estou a referir-me á credibilidade (ou falta dela) que os personagens me merecem para serem os governantes do meu país.
Qual é o percurso académico ou empresarial que têm quer PPC ou PP? Em que se distinguiram ou o que fizeram de relevante na sociedade portuguesa para se acharem dignos de se candidatarem a tão prestigiado e responsável cargo governativo de PM ou vice-PM de Portugal?
A um conhecemos uns cargos numas as empresas de duvidosa transparência e não sabemos o que por lá fez para além de receber os honorários, já para não referir esquecimentos fiscais. Mas reconhecemos que muitas dessas referências laborais passaram pelo apadrinhamento segundo consta de uma pessoa, Ângelo Correia, um conhecido lobista e antigo ministro da Administração Interna de má memória.
Ao outro conhecemos-lhe uma passagem pela imprensa onde as primeiras páginas e as denúncias políticas que fizeram manchetes interessantes com temas e abordagens em que com o seu posterior passado político e, na mesma linha editorial seria ele próprio que faria parte dessas primeiras páginas.
Poderia ainda acrescentar que tirando pequenas coisas os quatro anos que tivemos deles como rosto da governação, aumentámos a despesa do Estado e empobrecemos o País pela venda ao desbarato de empresas estratégicas que eram um garante de soberania nacional.
Porque não voto no PS:
Vou começar da mesma forma da anterior: Porque não quero mais do mesmo.
Isto é não gostei de ver as mesmas figuras de à oito anos que contribuíram de forma direta e indireta para o descalabro nas contas deste país e que por essa desastrosa governação liberal em que renegando a sua origem política e partidária a que pertenciam permitiram, pela essa má conduta governativa, que a coligação PSD/PP tivesse chegado ao poder.
Sei que mudou o líder, mas não sei se foi para melhor. Isto porque a metodologia usada para tomar o poder do partido, foi para mim (que nem apreciava a atuação de A. J. Seguro), uma mostra de um caráter (ou falta dele) que não gostei e em que determinados momentos até me incomodou (muito). Considero que foi um assalto ao poder sem olhar a meios ou às pessoas. Não me pareceu ser por ter motivos políticos essenciais à melhoria do PS mas apenas por mera ambição pessoal (e oportunismo). Pergunto: quem atua assim entre pares como será quando for com outros e no exercício do poder?
E poderia continuar ainda na senda anterior: Qual é o percurso académico ou empresarial que tem A. Costa? O que fez de relevante fora da atividade política ou partidária para lhe reconhecermos mérito para ser PM deste Portugal e de todos nós? Onde se destacou na vida para além dos cargos que exerceu saltitantemente pela mão do PS? Quem é este ser para além do percurso partidário?
Porque não voto no CDU ou no BE:
De imediato permito-me referir que não reconheço as estas duas coligações interesses governativos. Como muito bem referiu Ricardo Araújo Pereira e Catarina Martins confirmou, estão lá (AR) para conviver. Para mandar uma «bocas» a que chamam de oposição. E quanto muito serem mais ou menos incomodativos para quem governa a fim de se justificarem perante os seus eleitores, familiares e quem sabe, a si próprios, pelo facto de ali estarem. Exceção feita a pequenas causas/lobbies em temas referentes a minorias marginais.
Não me refiro especificamente e propositadamente às outras forças presentes ao ato eleitoral porque o sistema os «escondeu» dos debates e da notoriedade, mas sempre que por acaso tive oportunidade de os ouvir, fiquei com a nítida sensação que mais valia não os ter ouvido... isto com honrosas e pontuais exceções.
E por último, porque discordo do sistema eleitoral no seguinte:
- Porque é que os votos brancos e nulos não se fazem representar em lugares vazios na AR?
- Porque é que os partidos e coligações não apresentam os seus governos, ministros e pastas, quando estão em campanha eleitoral? Antes pelo contrário, os chamados partidos do poder quando diretamente questionados sobre quem será o seu ministro das Finanças, da Economia ou da Justiça, recusam-se a responder. Estão portanto a pedir-me a mim e a todo o eleitorado um voto «às escuras»... ou de confiança. E desde quando é que a confiança é uma coisa que se dá de «mão beijada»? A confiança conquista-se ao longo dos tempos e habitualmente perde-se em segundos.
Intencionalmente não referi os programas partidários, porque parto do princípio que não são para cumprir. E isto porque a história recente assim o provou. Aos partidos bastaria cumprirem as políticas que lhes estão inerentes na sua formação ideológica. Ao PM eleito bastaria definir e fazer cumprir aos seus ministros nas areas a que lhes dizem respeito a prática dessas diretrizes políticas. E daí ser tão importante sabermos atempadamente e em campanha quem acompanharia na governação o candidato a PM.
Até porque de gente vulgar e sem notoriedade da vida nacional a liderar o meu Portugal já estou farto e cansado.
E porque quando não se candidatam os melhores do país à governação sabemos de antemão que será eleito gente ordinária.
E quando gente vulgar atinge o poder só podemos esperar uma governação vulgar.
E no limite poderia referir que quando o «povo» chega ao poder não estamos verdadeiramente em democracia, mas numa «ditadura do proletariado» dos tempos contemporâneos.
E muito mais poderia escrever para justificar porque apenas referi em quem não vou votar.
Mas uma coisa é certa, no dia 4 de Outubro lá estarei na mesa de voto para exercer o meu direito (e dever) não deixando que sejam só os outros a decidir o que pretendo para este País.
Domingo, 27 de Setembro de 2015
----- Um esquerdista, uma publicação radical *
Porque é que o centro-esquerda, de modo geral, não beneficia das falhas dos seus adversários políticos?
A principal razão reside na sua absorção das políticas (neoliberais) do centro-direita, que remontam há quase três décadas: a aceitação de acordos de livre comércio (e TTIP), a desregulamentação de tudo e, na zona euro, das regras orçamentais vinculativas e da versão mais extrema de independência do banco central no mundo inteiro. Eles são completamente indistinguíveis dos seus adversários (...) Quando a zona euro foi construída foi com alicerces neoliberais. Lembro-me de um proeminente político social-democrata que tinha orgulho em saber de cor todas as regras do Tratado Europeu. Ninguém questionou se as regras faziam sentido (...)
Será que os partidos de centro-esquerda teriam um melhor desempenho se se voltassem de novo para a esquerda? A eleição de Jeremy Corbyn como líder do Partido Trabalhista britânico pode anunciar essa mudança. Mas a Grã-Bretanha não está vinculada ao consenso da zona euro. Aí basta apenas uma mudança de governo para mudar a política, enquanto na zona euro seria necessária uma alteração do Tratado - ou, mais provavelmente, uma revolução. Está longe de ser evidente que os atuais partidos de centro-esquerda vão aparecer como agentes de mudança. Eu suspeito que não. - * Wolfgang Munchau, editor associado na área de assuntos europeus, Financial Times (traduzido no DN). (-por João Rodrigues, 24.9.15, Ladrões de B.)
----- Um pequeno país com a nossa estrutura produtiva não beneficia de uma moeda forte, e esta é a melhor razão para sair do Euro, com ou sem orçamentos equilibrados. Note-se que a Dinamarca e a Suécia, países (da U.E.) muito mais desenvolvidos que nós, não aderiram ao Euro porque os seus eleitorados quiseram manter esse atributo essencial da soberania que é a emissão de moeda. ...De facto, sem política monetária independente, não podemos seguir outro modelo económico que aquele que nos é imposto pelo BCE/CE, onde essa política é decidida. ... o que é curioso é verificar-se que muito pouca gente na nossa Direita parece preocupada com a perda de Soberania e Autonomia que isto implica ... ou seja, a Direita Portuguesa tornou-se simplesmente ultra-capitalista neoliberal, mais nada. Como de costume, a única coisa que o Conservadorismo quer conservar são os privilégios (e se possível, expandi-los).
----- Memória (XIV) (-N. Serra, Ladrões de B.)
«Não foram só os 3,9 mil milhões que Passos perdeu. Perdeu também um bom argumento: a principal vitória do governo era ter controlado o défice. Mas o défice de 2014 ficou exactamente igual ao de 2011. O défice está igual ao que estava há quatro anos. E fartámo-nos de cortar e de aumentar impostos. Mas Passos Coelho parece não estar preocupado com esta situação: "Trata-se portanto apenas de uma contabilização estatística, que não tem qualquer efeito".
Ou seja, quando é para cortar pensões: «Eh pá, desculpem lá mas tem que ser, por causa do défice... O défice é um número importantíssimo! Não posso aparecer na Alemanha com um défice destes... Só porque vocês querem receber salários, ou lá o que é...".
Quando é para tapar buracos de bancos: "O défice? O défice? Isso é uma contabilização estatística... Quer dizer, é um número... Não vamos estar aqui a chatear-nos por causa de um número...".
... Isso é tudo muito bonito, mas, «Novo Banco, Velho Défice» (A imperdível história de uma resolução, em dez actos, a ver na íntegra)
----- Antevisão da política económica pós-4 de Outubro (-R.P. Mamede)
Há algum tempo que ando a dizer que os discursos optimistas sobre a economia portuguesa
têm como prazo de validade o dia das eleições. As notícias recentes sobre as contas públicas e sobre as contas externas permitem perceber bem do que estou a falar.
Ontem ficámos a saber que o
défice orçamental em Julho atingiu 4,7% do PIB. Hoje ficámos a saber que Portugal
regressou aos défices externos no segundo trimestre de 2015. Nada disto é inesperado nem (na minha perspectiva) completamente negativo.
Em termos simples, a explicação para a evolução registada é esta: o governo resolveu aligeirar a austeridade no início deste ano (e nós sabemos porquê), o que se reflectiu num aumento do défice orçamental e do consumo privado. Por sua vez, o aumento do consumo fez com que as importações crescessem, deteriorando assim o saldo das contas externas.
O motivo pelo qual afirmo que esta evolução não é completamente negativa é que
só será possível a economia portuguesa crescer o suficiente para criar emprego em condições nos próximos anos se a pocura interna crescer (é o que tento mostrar no cap. 4 de "
O Que Fazer Com Este País"). Para que tal aconteça temos de estar dispostos a aceitar défices públicos e externos maiores do que o actualmente previsto.
Agora vêm
as más notícias: mesmo que um aumento dos défices público e externo face ao que está previsto não seja um problema para a economia portuguesa (pelo contrário), são exactamente aquilo que
as instituições europeias e o FMI não querem para Portugal. Ora, qualquer um dos partidos que se perfila para governar o país nos próximos tempos mostra muito pouca
vontade para pôr em causa o que a tutela externa nos diz para fazer. Em resumo: com grande probabilidade, a seguir às eleições
teremos uma nova vaga de austeridade orçamental e de contenção dos salários, com consequências negativas para o crescimento da economia e do emprego.
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Sexta-feira, 25 de Setembro de 2015
O INE publicou o valor do défice orçamental de 2014. Com o dinheiro injectado no Novo Banco, o défice fica nos 7,2% do PIB. Em 2011, o défice foi de 4,2%. Os contribuintes comuns andaram anos a fazer sacrifícios para salvar bancos privados, tanto os nacionais como os estrangeiros, que especulam sobre a dívida do Estado português. Os bancos privados continuam a afundar a economia nacional, mas foi no Estado Social que o actual Governo cortou, chamando-lhe "gorduras do Estado". A imagem revela a forma execrável como o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas (com a cumplicidade de Cavaco Silva) favoreceram o Novo Banco, para adocicar a futura venda da empresa. As eleições estão à porta. Votem contra a Direita, que governa para os bancos, penalizando as pessoas.
A situação passou mais ou menos despercebida nos noticiários: em tempo recorde, a maioria de Direita forçou a aprovação da moldura legal que isentou o Novo Banco de pagar 85 milhões de euros em impostos. Ou seja, a maioria parlamentar que suporta o Governo das "contas certas" e que quer cortar no Estado Social, alegando que não é sustentável, é a mesma maioria que acabou de dar uma borla de 85 milhões de euros a um banco, tendo inventado à pressa uma lei para que tal tenha sido possível. Quando a oposição pediu uma análise técnica que permitiria calcular o valor perdido pelo Estado com esta borla, a maioria de Direita, a tal que suporta o Governo das "contas certas", chumbou essa análise. Resumindo:
a maioria parlamentar e o Governo de Direita que perseguem contribuintes comuns, por dívidas fiscais de alguns cêntimos, acabou de dar uma massiva borla fiscal de 85 milhões de euros a um banco. E o país continua impávido e sereno. Surpreendentemente, ainda há quem vote na proposta política destas pessoas. (!!) Estamos atentos?
SE QUER VOTAR CONTRA UMA POLÍTICA DE DE ROUBO DA CLASSE MÉDIA, DOS REFORMADOS E PENSIONISTAS, DO DESEMPREGO E DA MENTIRA SISTEMÁTICA, VOTE CONTRA a COLIGAÇÃO do PàF (PPD/PSD+CDS/PP) e dos CORRUPTOS; NÃO SE ABSTENHA NO PRÓXIMO DIA 4 de OUTUBRO.
VOTE EM CONSCIÊNCIA, vote contra a Direita PaFiosa PORQUE COMO OS RESULTADOS DO INE DEMONSTRAM, PORTUGAL ESTÁ MUITO PIOR QUE EM 2011 E OS PORTUGUESES MAIS POBRES !
VOTE NA DIGNIDADE, NA HONRA DAS PESSOAS E NOS PARTIDOS QUE POSSAM ASSEGURAR-LHE MAIS POSSIBILIDADES DE TRABALHO, MAIOR JUSTIÇA SOCIAL E MELHORES POSSIBILIDADES DE ACESSO À SAÚDE, ENSINO E LHE POSSAM ASSEGURAL UMA REAL SEGURANÇA SOCIAL.
SE, POR INFELICIDADE, NOSSA VOLTASSEM A CONFIAR NESTA MAIORIA DE MENTIROSOS, OS PRÓXIMAS MEDIDAS A TOMAR SERÃO, NÃO TENHAM A MÍNIMA DÚVIDA, AS PRIVATIZAÇÕES DA SEGURANÇA SOCIAL, DO ENSINO, DA SAÚDE e de todos os bens e recursos que são/ devem ser púbicos !!!
NÃO ESQUEÇA TODAS AS FALSAS PROMESSAS DO CAMPEÃO DA MENTIRA, PASSOS COELHO E companhia.
NÃO SE ABSTENHA, PORQUE EM DEMOCRACIA O VOTO É A ARMA DO POVO !!! É o único meio de MUDAR e afastar BURLÕES e MALFEITORES.
------------ Votar esquerda ou direita ?
Com mais ou menos promessas e detalhes, nas próximas eleições confrontam-se dois modelos distintos de governação para o nosso País:
--- o da Direita (PSD-CDS, ...) neoliberal, que implica a continuação das políticas de captura do Estado pela alta finança e grandes lobies, com a destruição do Estado Social
- degradar e privatizar educação, saúde e segurança social públicas,
- mais desemprego, emigração, privatizações e 'rendas'/PPP para 'amigos',
- e mais impostos para os contribuintes do costume (classe média e trabalhadores por conta de outrem ) -
--- ou o do Centro-Esquerda/ Esquerda ( PS, BE, PCP, ...)
- que propõe um caminho diferente, de rigor e responsabilidade nas contas públicas e decisões político-económicas,
- com prevalência para o crescimento da economia que garanta o desenvolvimento e a manutenção de várias conquistas sociais
- e a manutenção de bens e recursos estratégicos na área pública (nacional, municipal, ...).
As próximas Eleições são decisivas:
- é tempo de ser cidadão consciente e activo na vida política;
- é tempo de não deixar que outros (com interesses diferentes e até menos capazes ...) decidam por nós.
VOTA. Vota de modo consciente.
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Terça-feira, 22 de Setembro de 2015
O Governador do Banco de Portugal (BdP) defendeu hoje que a comunidade não pode segurar ou dar garantias permanentes a quem arrisca nos investimentos bancários, sublinhando a importância de aumentar a literacia financeira.
"Quando as pessoas esfregam as mãos com alto rendimento não se perguntam nunca qual é o risco que está associado e, naturalmente, o risco anda associado: alto rendimento, alto risco", disse Carlos Costa, acrescentando que a "comunidade não pode segurar" ou "dar uma garantia permanente àqueles que assumem risco".
Nota: Estou de acordo. Apenas diria de forma mais direta: Quando ganham com os investimentos, ganham eles. Quando perdem, perdemos nós. Estou farto destas "indignações"...
Segunda-feira, 21 de Setembro de 2015
«Mais do mesmo ?» - por Manuel Loff
«(...) Mais de um milhão de desempregados. Desrespeito geral pelo valor do trabalho. Com um dos salários mínimos mais baixos da Europa, a proporção de trabalhadores portugueses a receberem-no quase duplicou entre 2011 (11,3%) e 2015 (19,6%). 25% das mulheres é o que recebe! Depois de meio século, desde os anos 50, a cortar lentamente a distância salarial do resto da Europa, Sócrates e Passos fizeram-nos retroceder quinze anos.
Em 2008, o “custo total da mão de obra em Portugal” correspondia apenas a 47,8% da média da Zona Euro e a 43,7% da da Alemanha. Em 2013, esta proporção caíra para apenas 40,8% da média da Zona euro e 36,7% da da Alemanha. O aspirador de riqueza que se instalou no Ministério das Finanças, que tira dos pobres e da classe média para dar aos bancos (BPN, Privado, BES, …), sugou, entre 2010 e 2015, quase 7 mil milhões de euros das pensões, a que se juntam quase 9 mil milhões de “remunerações base” dos funcionários públicos (cálculos de E. Rosa, in www.eugeniorosa.com, 4.3, 11.6 e 10.8.2015). É a própria OCDE que assegura que “a pobreza cresceu de 17.9% para 24.7% entre 2009 e 2012”, aumentando “sobretudo entre a população em idade ativa, bem como entre as crianças e os jovens. Entre os menores de 17, quase um terço estava, em 2012, abaixo do [nível] de pobreza.” Para cúmulo, numa sociedade sujeita a este nível de stress social, a proporção de desempregados a receber subsídio tem diminuído consistentemente, ao mesmo tempo que “os 400 mil beneficiários do RSI em janeiro de 2010 se reduziram quase para metade até março de 2014, incluindo a perda do RSI para mais de 50 mil crianças e jovens.” Em síntese, “as reformas [introduzidas pelo Governo] tornaram os pobres mais pobres” (J. Arnold, C.F. Rodrigues, Reducing Inequality and Poverty in Portugal, OCDE, 17.8.2015).(...)» (aqui) (-publicado por vítor dias ) --- A UGT sempre no seu melhor ! : Aviso à navegação e mais não digo.
O país onde em 4 anos o
nível de vida das famílias regrediu para níveis da década de 90 do século XX; o país onde em 4 anos o combate à pobreza regrediu uma década; o país onde em 4 anos a economia regrediu 30; o país onde
em 4 anos a emigração regressou a níveis dos anos 60 do século XX; o país mais desigual da União Europeia
não deve, não pode, votar em mais ninguém que não
na coligação PSD/ CDS contra o risco de deitar tudo o que em 4 anos foi conquistado e adquirido a perder.
E estamos nisto. (via derTerrorist)
Sexta-feira, 18 de Setembro de 2015
Portugal, aluno modelo? (R.Namorado, OGrandeZoo, 16/9/2015)
É este título interrogativo que encabeça um texto sobre a situação atual do nosso país que acaba de ser publicado no número de setembro do magazine francês, Alternatives Economiques. (nº349 – setembro de 2015). São seus autores, Sandra Moatti e Alexis Toulon.
No seu início, pode ler-se a seguinte frase destacada:” Portugal retomou o crescimento e libertou-se da troika, mas o seu endividamento público e privado, continua colossal e a sua economia muito frágil”.
Dele vou traduzir a segunda parte desse texto, tecendo depois alguns comentários acerca do respetivo conteúdo. Atentemos no texto que mostra como é grande o embuste com que a direita quer enganar os portugueses, através de uma propaganda mentirosa e desonesta. Eis o extrato que referi, cujo subtítulo é significativamente, Enormes fragilidades
“Menos punitiva do que para a República da Grécia, a cura deixou no entanto marcas profundas sobre no tecido económico e social. O investimento afundou-se 35% desde 2008. A taxa de desemprego subiu até aos 17,5% em janeiro de 2013 e atinge ainda 12,4% em junho de 2015, e 31,6% entre os menores de 25 anos. Um refluxo que se explica em boa parte pela emigração massiva: mais de 100.000 portuguese deixam o país em cada ano desde o início da crise, em maioria jovens diplomados, e a população ativa recuou 350.000 pessoas entre 2008 e 2015. Os bancos, no entanto recapitalizados, continuam frágeis, como o mostrou o resgate do Banco Espírito Santo em 2014 e o falhanço do Banco Comercial Português nos testes de resistência do banco central Europeu (BCE) em outubro passado.
E se enfim a atividade económica arrancou a partir do segundo trimestre de 2014, fê-lo em bases frágeis. No primeiro trimestre de 2015, a produção portuguesa continuava mais de 7% aquém do seu nível do início de 2008 e mesmo abaixo do seu nível de 2001. Com um setor industrial que continua a representar 20% do PIB e os salários que baixaram 5,3% entre 2010 e 2014, o país reencontrou realmente uma certa competitividade custo: uma hora de trabalho portuguesa custa 9,80 euros, todos os encargos considerados, contra 14,40 euros na Grécia. O que permitiu dopar as exportações, nomeadamente, no seio da união Europeia. Mas a produtividade da mão-de-obra continua ela também muito fraca: um trabalhador gera apenas 17,10 euros por hora trabalhada, contra 20 euros na Grécia e 32 ao nível da União.
Portugal continua a depender fortemente da indústria com fraco valor acrescentado, como é o caso do têxtil, que representa 10% das suas exportações. O nível de educação dos portugueses continua a ser um dos mais baixos da Europa: somente 43% dos mais de 25 anos concluíram o ensino secundário (contra 68% na Grécia e 76% no conjunto da União). Uma situação que a crise degradou ainda mais com os cortes orçamentais que amputaram um investimento público já pouco elevado, bem com as despesas com a educação.
Contrariamente às economias grega ou espanhola, a economia portuguesa não tinha tido nenhum “boom” antes da crise ela tinha vegetado durante toda a primeira parte dos anos 2000. Beneficia hoje da energia e de um euro não caros enquanto a política activa do BCE faz baixar os custos de financiamento. Mas o crescimento continua demasiado frágil para permitir que os agentes económicos se desendividem. Portugal é com efeito um dos países da União onde o endividamento total é mais pesado. Ele representa 486% do PIB, bem mais do que os 364% da Grécia ou dos 321% da média da zona euro. A dívida pública de Portugal que , como na Grécia, continuou a crescer com a ação da troika, passou de 111% do PIB em 2011 para 129% em 2014. Mas a das famílias é também colossal, 120% do PIB, tal como a das empresas não financeiras que é de 237%.
Apesar disto, o país conseguiu escapar às garras da troika em maio de 2014 e o seu Estado financia-se a taxas historicamente baixas: menos de 3%. Mas, mesmo baixas, as taxas de juro pagas pelos agentes económicos continuam superiores à taxa de crescimento dos seus rendimentos, e num tal contexto o peso das dívidas não pode baixar. Tal como a Grécia, Portugal precisará de um política de investimento massivo e de um apagamento da dívida para que a sua economia verdadeiramente recupere. Aquando das tensões surgidas nos últimos meses por causa da situação grega, a taxa das obrigações portuguesas voltou a subir. Antes de voltar a descer depois do acordo de julho passado. Se o Grexit tivesse ocorrido, todos sabemos que Portugal seria o que viria a seguir na lista.”
Comentário:
Este excerto mostra quão descarado é o embuste assumido pelos partidos da direita que formam o atual governo, quando ficcionam um país viçoso e economicamente saudável graças aos seus méritos imaginários. A coligação que nos governa é um desastrado grupo de capatazes do capital financeiro, cuja agenda neoliberal segue docilmente, não sem que se tenham desgraçadamente aprimorado num fatal excesso de zelo que muitos e muitos portugueses pagaram duramente. Para se desembaraçarem da sombra do servilismo perante interesses estrangeiros, os do capital financeiro internacional, vestiram-se de um nome – disfarce, usando o nome de Portugal para esconderem quanto dele se têm afastado.
O gang do grande capital internacional (/"os mercados"/ "bangsters"), onde se destaca o FMI, o BCE, as agências de 'rating'/ notação financeira, as 'offshores', a alta burocracia da União Europeia e os principais dirigentes do PPE/direita, com especial destaque para os alemães, comporta-se como se Portugal estivesse a respirar saúde com as mesmas motivações que antes o levaram a ficcionar desastres e a construir uma ameaça de bancarrota. Os alegados mercados ajudam à festa, mostrando bem o que realmente os move. Dispostos a “salvar” países, na estrita medida em que tal seja necessário para “salvar” bancos, vestem a pele de credores, mas verdadeiramente apenas usam essa posição para impor políticas e agravar sujeições.
A sua 'generosidade', em face de um “status quo” económico-social que permanece desastroso, só tem paralelo na sua intransigência hostil, quando deram à troika o papel de garante da aplicação de uma política de direita (não só antipopular como antinacional) que em democracia os portuguese nunca teriam aceitado. Os seus dóceis mandatários que nos governaram nesta ultima legislatura são agora levados ao colo, mas não entram pela porta principal, continuando a servir as bicas aos senhores.
Não enxotar de vez esta coligação de criados de libré do grande capital financeiro, pode suscitar os aplausos da Sr.ª Merkel ou do afogueado Camarão britânico, mas arrastará o nosso país para o risco de um colapso civilizacional. Se o soubermos ler, é isto que nos mostra o texto acima transcrito.
--------- A Volkswagen vista da Grécia (via Entre as Brumas...., 27/9/2015)
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Quinta-feira, 17 de Setembro de 2015
--- Esquisitices (10/9/2015, Entre as brumas...)
(
e nós aceitamos ser gozados ?!!)«
Um prejuízo é um prejuízo. Não evaporou ao sol do Verão, não voa com o vento do Outono, não se afogará na chuva do Inverno. Um prejuízo paga-se. Perde-se. Hoje, amanhã ou depois. Estes, aqueles ou nós. Se o processo do
Novo Banco foi abortado porque a venda traria um prejuízo de pelo menos dois mil milhões de euros (o Público fala em três mil milhões), reabilitá-lo para vender até à primavera não fará florir proveitos no lugar de perdas.
Este processo foi um fracasso. Foi para o lixo. Começa-se de novo. E, sem explicar nada do que se passou, volta a prometer-se tudo sobre o que se vai passar. Se as perdas com processos judiciais se concretizarem nos tribunais, o custo vai para o Fundo de Resolução: esses prejuízos serão pagos pelos demais bancos. Se o Novo Banco vende activos, fica com o prejuízo das vendas e ficará um banco mais pequeno. Se o capital é reforçado com obrigações, o Novo Banco poderá ter de pagar taxas de juro altas para atrair investidores privados, que por sua vez assumem o risco. Ou então, como alvitra o economista Ricardo Arroja no blogue O Insurgente, talvez “este empréstimo obrigacionista possa vir a ser de longo prazo convertível em capital do Fundo de Resolução, e por conseguinte do Novo Banco”: os outros bancos acabariam accionistas do Novo Banco. Vê? Não é alquimia, é matemática. O prejuízo, que é sempre um prejuízo, vai ser redistribuído de outra maneira. Pelo mesmo Banco de Portugal. Com um novo governo. Com que banca? Como explicámos no Expresso Diário, o BCP e o BPI desvalorizaram 40% nos últimos três meses. Em grande parte por causa do Novo Banco. Maria Luís Albuquerque diz que era melhor que tivesse sido vendido (no i). Passos Coelho diz que o processo "não tem nada que ver com eleições". O PS (citado pela Renascença) qualifica o cancelamento da venda como “um dos maiores fracassos” do Governo.
Como escreveu ainda ontem o Ricardo Costa, já percebemos que nos contaram um conto de crianças. E esse é talvez o maior problema: a falta de transparência no processo. Evitou-se um BPN, como nota Helena Garrido no Negócios. Mas não evitámos um prejuízo. O banco nasceu Novo. Era um banco bom. Alguém lhe há de pegar. Para já, pega a administração. A conta faz-se em 2016.
Ainda bem que o Facebook vai passar a ter botão “Não Gosto”.» - P.Santos Guerreiro.
--- 4/10 Eleições AR: a esquerda e o voto. (Dica 132, JLopes, 11/9/2015)
«Para derrotar a direita e gerar uma dinâmica favorável a um governo de esquerda que fure as lógicas da maioria absoluta, do bloco central ou dos acordos do PS com a direita, o fator decisivo é o crescimento do voto à esquerda do PS, em concreto, a dimensão eleitoral do conjunto PCP e Bloco de Esquerda. Nenhum outro resultado nos aproxima mais de uma viragem à esquerda porque nenhum outro contribui mais e melhor para mudar a favor da esquerda a relação de forças com o PS. Nestas eleições, a disputa da esquerda faz-se com o PS e não entre si. Aliás, esse é um dos equívocos do Livre/TdA.»
--- 1660 milhões de razões para o PS não reduzir as pensões. (F.Louçã) «O gráfico ao lado, sempre com as contas do próprio PS, apresenta os efeitos de duas medidas, comparando os valores: o que a segurança social deixa de receber porque é reduzida a TSU paga pelos patrões (2550 milhões) e o que a segurança social deixa de pagar com o congelamento das pensões (1660 milhões).
As pensões são “sagradas”. Mas o PS anuncia-nos que as vai reduzir em 1660 milhões de euros durante o mandato, ou seja, tirar um mês a cada um destes pensionistas. E que entrega aos patrões 2550 milhões de euros da segurança social.
A “palavra dada tem que ser honrada”. Pois tem.»
«O facto de haver esta eleição é só por si um testemunho de como o mundo e as ideias podem mudar, mesmo quando o nevoeiro deixa a ilha isolada. E chama a atenção para o facto de já não haver socialistas, gente que propõe o socialismo (/social democracia) como alternativa ao capitalismo, nos outros partidos socialistas (/sociais democratas).»
--- A propósito de reestruturações da dívida (14/9/2015, Entre as brumas...)«A Assembleia Geral das Nações Unidas votou por uma ampla maioria os "
princípios gerais" relativos a reestruturações de dívidas soberanas, propostos pela Argentina e G77 + China. O tema proporciona vários debates.
Por um lado, os promotores da iniciativa mostram-se satisfeitos com 136 votos a favor, 42 abstenções e 6 negativos. Naturalmente, os votos negativos são nada menos do que dos EUA, da Grã-Bretanha, da Alemanha, do Japão, do Canadá e de Israel e os EUA têm poder de veto nas instituições financeiras internacionais. Além disso, são o país onde os detentores de obrigações especulativas da Argentina, os fundos abutre, conseguiram apoio judicial e sentença final contra a Argentina por 1.600 milhões de dólares. A isso há que acrescentar os encargos impostos por não ser cumprida a exigência legal dos EUA, já que é a Argentina que reconhece a possibilidade de litigar contra um país numa sede externa, neste caso em de Nova Iorque.
Por outro lado, a resolução não é vinculativa e será válida apenas para o futuro, pelo que não atinge as questões específicas que actualmente preocupam a Argentina no
conflito com os fundos abutre e com a justiça dos Estados Unidos. A resolução permite pensar e discutir a viabilidade operacional das disposições e, ainda mais, o alcance daquilo que foi aprovado pela ONU e quem são os beneficiários. Enquanto o texto é
inspirado nos direitos soberanos dos países devedores, a resolução confirma essencialmente os
direitos dos credores. Esses direitos nunca são postos em causa, deixando de lado
uma reivindicação socialmente generalizada, que se baseia nas auditorias ou investigações sobre a dívida para definir a sua legitimidade ou falta dela, incluindo o carácter odioso das mesmas.»
Texto na íntegra aqui.--- Não gosto ! :
"Já não há países/ estados (soberanos), mas apenas realidades económicas e financeiras globais", ... com 'offshores', bolsas, bancos e corporações; recursos ambientais e públicos a privatizar; lucros a embolsar por accionistas/ administradores; perdas a 'socializar' por pequenos fornecedores, clientes, colaboradores e contribuintes; e políticos, eleitores e papalvos, a comprar/vender, ameaçar/assediar, alienar e escravizar. (ver + 'tags': Estado-capturado , ...)
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Quinta-feira, 10 de Setembro de 2015
As duas abstenções (12/8/2015, J.Vasco, Esquerda Republicana)
Existem fundamentalmente duas
formas diferentes de abstenção. Uma é a abstenção com raiz no desleixo. Outra é a abstenção com raiz na revolta. Naturalmente, isto é uma simplificação um pouco grosseira, mas peço ao leitor que me acompanhe.
Embora sejam motivações completamente diferentes e opostas, é comum que ambas coexistam em maior ou menor grau em vários abstencionistas. Ou pelo menos, assim o revelam: se o abstencionista motivado unicamente pela revolta dificilmente vai esconder a sua atitude num suposto desleixo, o contrário já se torna bastante comum - o abstencionista motivado pelo desleixo preferirá justificar a sua atitude numa
suposta revolta contra os políticos "todos iguais". A
abstenção motivada pelo desleixo é mais comum quando as coisas correm bem. A economia está a crescer, as desigualdades não são excessivas, a criminalidade está sob controlo, existem oportunidades. Algumas pessoas sentem algum grau de aversão ao conflito natural na política, e desgostam do facto de que qualquer opinião que tenham vai sempre encontrar opositores descontentes. Sentem desconforto em discutir assuntos, principalmente quando se sentem menos informados, e acabam por correr o risco de passar vergonhas quando eles são discutidos. Como evitam falar sobre esses assuntos, acabam por ter menos motivação para se informarem a seu respeito, numa espécie de ciclo vicioso. Sentem que o facto dos políticos "não se entenderem" mostra que muitos deles são desonestos, mas não se arriscam a pronunciarem-se sobre quais - preferem dizer que são todos.
Estas pessoas não estão preocupadas em mudar o sistema, e até poderiam encarar com grande desconfiança quem o quisesse fazer. Não é tanto porque um dia na praia ou no jardim lhes seja mais apetecível que ir às urnas que não votam: é porque
preferem evitar ter de "tomar partido", e falar sobre o assunto. Podem não o reconhecer sequer perante eles próprios (e até afirmar o contrário com indignação), mas no fundo, bem no fundo, acham que as coisas não estão muito mal, e certamente
o seu esforço é melhor empregue
investido na sua vida pessoal, que
a zelar pelo bem comum.
A
abstenção motivada pela revolta é mais comum quando as coisas correm mal. A
economia está em crise, as desigualdades são gritantes, as oportunidades são escassas, e por vezes o crime e a violência estão a aumentar. Parece claro para algumas pessoas que a "democracia representativa" falhou, e que outro sistema diferente a deve substituir. Assim, responsabilizam os problemas sociais naqueles que alimentam este sistema que os causa. Pelo contrário, eles não querem alimentar este sistema que tantas injustiças e tanto mal tem causado. Não é tanto porque um dia na praia ou no jardim lhes seja mais apetecível que não votam: é por uma questão de princípio. Não raras vezes, apelam a que outros lhes sigam o exemplo: não se limitam a dizer que os políticos são todos uns bandidos, querem fazer algo a esse respeito, e esse algo começa por ser uma recusa em votar. Embora existam excepções, é comum que estejam relativamente bem informados, e não têm medo de hostilizar outras pessoas com as suas opiniões algo radicais. Querem mudar o status quo, querem mudar o mundo, mesmo que isso implique alguns sacrifícios.
A abstenção motivada pelo desleixo é perniciosa?
Depende. O
desleixo, a falta de informação, a falta de reflexão, a falta de acompanhamento serão tendencialmente perniciosos - os políticos que
resultam de um eleitorado desleixado são
mais incompetentes e menos íntegros do que aqueles que resultam de um eleitorado informado, atento, interventivo. Nesse sentido,
quanto mais desleixo mais abstenção e pior qualidade da democracia. Temos aqui uma retroacção negativa: se os políticos são mais competentes a abstenção por desleixo aumenta, e a qualidade dos políticos diminui, e vice-versa. O sistema tende para uma estabilidade relativa.
No entanto, para um determinado nível de desleixo fixo, a abstenção é a melhor opção.
Se alguém não está informado e atento, então o ideal é que se informe, que reflicta, que debata, etc. Não o fazendo, melhor será que não vote. Sou contra o voto obrigatório primeiramente por uma questão de princípio (acho uma tremenda violação da liberdade individual forçar alguém a votar), mas também acho que tende a piorar a qualidade da democracia, ao forçar os "desleixados" a depositar na urna um voto que não é "em consciência".
A abstenção motivada pela revolta é perniciosa?
Depende. A abstenção motivada pela revolta é estratégia mais contra-producente que alguém pode seguir. Assim,
a abstenção motivada pela revolta é benéfica para o status quo, e prejudicial para todos aqueles que o querem transformar radicalmente - em particular estes abstencionistas.
O abstencionista motivado pela revolta acredita que ao não votar está a evitar "alimentar o sistema", mas isso
só seria uma estratégia eficaz caso a esmagadora maioria (>95%?) da sociedade tivesse a mesma vontade de o alterar radicalmente. Mas se fosse esse o caso, as eleições não corresponderiam ao desapontamento constante daqueles que desejam mudanças mais profundas. Pelo contrário: longe de "tirar oxigénio" ao sistema, o abstencionista motivado pela revolta está com a
sua recusa em votar a aumentar o poder relativo daqueles que querem preservar o status quo face aos que querem ver mudanças mais significativas.
Pior ainda, o
abstencionista pode com a sua inacção facilitar a vida aos que querem fazer mudanças que impossibilitem que o sistema mude, mesmo quando as pessoas tiverem vontade que tal aconteça. Exemplos concretos: imaginemos que alguns partidos pretendiam
dar mais poderes às polícias secretas, aumentar a vigilância sobre os cidadãos, limitar o direito a manifestações ou à liberdade de expressão, aumentar os poderes do aparato militar com o pretexto da luta contra o terrorismo, tornando o conceito mais abrangente ao ponto de abarcar aqueles que têm opiniões mais radicais face ao status quo. Não é muito difícil de imaginar... É fácil de compreender que o abstencionista motivado pela revolta não tem sobre estas questões uma opinião igual à da restante população: tendo uma maior vontade de mudar o status quo tenderá a ver de forma mais negativa todas estas tentativas securitárias de evitar mudanças. Ao não votar está a facilitar a vida a quem quiser implementar estas mudanças.
Ao
não votar, fortalece o status quo, o que por sua vez aumenta o seu descrédito face à ideia de que a democracia representativa possa alterá-lo. Isso aumenta o grau de abstenção por revolta, o que por sua vez favorece ainda mais o status quo. Temos aqui uma retroacção positiva, que nunca resulta no fim da democracia representativa -
resulta antes numa democracia de má qualidade, estanque, com desigualdades, injustiças, corrupção e cinismo. Tendencialmente uma democracia mais "musculada", à medida que os conflitos sociais se agravam.
Faz sentido acreditar que a democracia representativa não é o sistema ideal. Mesmo que possa ser o sistema adequado para a nossa sociedade (será?), parece-me desejável que a sociedade evolua a tal ponto que o actual sistema de organização social se torne obsoleto.
No entanto, mesmo para quem quer desenvolver um esforço no sentido de mudar os fundamentos da nossa sociedade, e para quem acredita que o essencial da mudança futura não passa pelo actual sistema político-partidário, estou convencido que
o voto é uma ferramenta à sua disposição, e não a usar um verdadeiro tiro nos pés - uma cumplicidade inadvertida para com as forças do status quo, ao colocar à margem do processo eleitoral precisamente aqueles com mais motivação para se lhe oporem.
------
---J.Vasco:
A razão pela qual o voto branco não pode "sancionar" o sistema é precisamente o facto de não se saber em que sentido é que o sistema deve ser alterado. A forma de sancionar o status quo é promover alterações, mas se ninguém procura materializar essas alterações, então ninguém cria as alternativas cuja falta lamentam - e quando alguém o faz, poucos estão atentos para dar força e apoio.
Eu compreendo o voto em branco por parte de quem não se sente representado por nenhum partido, mas pergunto-me se essas pessoas realmente têm atenção e dão força a pequenos partidos e projectos. Eu próprio já ponderei (e não ponho de parte no futuro) o voto em branco, mas para não ser uma estratégia contraproducente, ela deve ser mesmo usada como último recurso. E não se pode dizer que partidos como o BE e PSD sejam "muito semelhantes no fundamental".
Continua a existir muita abstenção, e até muitos apelos à abstenção. E nos últimos tempos suponho que a abstenção "desleixada" tenha diminuído, e a abstenção "revoltada" tenha aumentado (tendo em conta a evolução da situação económica e social).
---J.Santos:
...Mas se o voto em branco não permite perceber qual a natureza do protesto, permite ao menos que a classe política perceba que uma fracção dos cidadãos se dá ao trabalho de ir votar em branco (por razões que podem ser díspares, claro). Como diz, a abstenção nem sequer permite tal coisa, ela pode até indicar que se está satisfeito com o actual estado de coisas.
P.S. Tem razão o M.M., a Lei Eleitoral de Eleição do PR diz o seguinte (nesta era do Google só mete o pé na boca quem é muito preguiçoso): Artigo 10º - Critério da eleição
1 — Será eleito o candidato que obtiver mais de metade dos votos validamente expressos, não se considerando como tal os votos em branco.