Durante meses, José Sócrates foi escutado e tudo o que conversou com Armando Vara está agora nas mãos de uma dúzia ou duas de portugueses. São agentes da PJ, procuradores, juízes e jornalistas. São pessoas de quem o primeiro-ministro está refém. Ele sabe, como sabemos todos, que a qualquer momento partes das conversas que manteve podem tornar-se públicas. E tanto faz que as escutas tenham sido ilegais, no que a ele diz respeito, como existir um segredo de justiça para respeitar.
Os avisos estão dados, com umas pingas que caíram no CM e no Sol. Há quem tenha o relato de todas as conversas e esteja disponível para o passar aos jornalistas, fazendo valer a justiça da rua, onde a dos tribunais parece não poder julgar.
Imaginemos até que nada do que faz partes dessas conversas acabará por se tornar público. Continuarão a existir uma dúzia ou duas de pessoas que sabem, de trás para a frente, o que disse Sócrates sobre a TVI, o presidente da República, os seus adversários políticos e tudo o mais que lhe ocorresse dizer numa conversa com um amigo. No segredo da amizade, o que tiver dito de pouco vale, mas nos corredores do poder pode ser insustentável.
Mas o pior até já está feito. O que Sócrates tiver dito está gravado e não pode ser desmentido, mas o que possa significar o que disse não terá defesa possível se a lei determinar que as escutas são nulas e, portanto, o Supremo der ordem para as destruir.
O primeiro-ministro está também refém do tipo de comunicação que fizerem os agentes da Justiça. E o que se tem visto até agora é demasiado confrangedor.
Verdade ou mentira, o que a Procuradoria e o Supremo têm passado para a opinião pública é a ideia de que pode haver matéria com relevância criminal. É absolutamente necessário esperar pelos esclarecimentos do senhor procurador. Uma palavra sua pode ser suficiente para crucificar politicamente o primeiro-ministro mais citado em polémicas de que há memória.
Bem diz o presidente do Supremo que é preciso mudar o modo como se faz a investigação em Portugal, pensando talvez em retirar alguma da autonomia ao Ministério Público. Mas o país precisa também que se mude muita coisa no modo como se julga em Portugal e no modo como as polícias de investigação queimam na praça pública quem não conseguem levar a tribunal por falta de provas.
Desta vez, sabemos que as polícias tiveram todos os meios possíveis e imaginários para investigar esta teia, não deveria ser perdoável que o processo ruísse por azelhice jurídica de quem tem que fazer tudo dentro da lei para condenar nos tribunais quem for culpado. Só que, às vezes, até parece que os investigadores só querem construir casos nos jornais. É mais fácil e pode ser feito a coberto do anonimato que se vende como investigação jornalística.
Convinha que as montanhas não continuassem a parir ratos. Se assim for é preciso deixar de generalizar sobre a culpa da classe política no fenómeno da corrupção e começar a responsabilizar as polícias e o Ministério Público pela incompetência demonstrada nestes casos, que valem novelas na comunicação social, mas não servem para condenar ninguém nos tribunais.
[Jornal de Notícias, Paulo Baldaia]
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