Quarta-feira, 25 de Novembro de 2009

Cinco anos passados, muita contestação depois e muito desgaste para as várias partes, os indícios de que a avaliação de professores regressará ao ponto onde se encontrava em 2005 são manifestos.

Se assim for, a conclusão só pode ser uma: muito barulho para nada.

Convém recordar algumas coisas. Em primeiro lugar, os professores estiveram em guerra por causa da avaliação, mas, muito provavelmente, esta foi um pretexto para mitigar a verdadeira causa da luta: a divisão da carreira docente, com a criação do "professor titular" (o que colocava fim às progressões automáticas, limitando o acesso aos níveis salariais mais elevados, e confrontava a natureza horizontal da carreira). Depois, os professores são a maior classe profissional da administração pública e mais de metade dos cerca de 140 mil está nos escalões mais bem remunerados - a massa salarial consome 80% do orçamento, correspondendo a 3% do PIB; ao que acresce que, se nada for feito, o ritmo de crescimento da despesa com salários consumirá todos os recursos disponíveis para a política educativa.

Neste contexto, o governo tem pouca margem de manobra negocial, por força dos sucessivos recuos (com a assinatura do memorando de entendimento e com as alterações mais recentes no estatuto da carreira docente), e essencialmente porque é minoritário.

Há hoje basicamente três cenários. Um optimista, que assenta no pressuposto que os professores já perceberam que a avaliação é um adquirido, com uma categoria na carreira onde não chegam todos e estão empenhados em tornar exequível o modelo de avaliação já em prática. Um segundo em que é criada a ilusão de que tudo irá mudar, ou seja, são criadas expectativas nas escolas, que depois, caso sejam defraudadas, farão regressar a contestação, mas de modo ainda mais intenso. Finalmente, o cenário que parece em vias de se concretizar: o governo precisa tanto de um acordo que vai ceder em questões inegociáveis.

A questão será, por isso, saber até onde é que vai o recuo. Todos os partidos defendem o acesso ao topo da carreira sem restrições. Resta saber se as negociações em curso acabarão apenas com o nome "professor titular" ou se, mudando o nome, se mantém o acesso limitado ao último escalão da carreira. Esta é a primeira linha de fronteira, mas há outras: o prolongamento dos horários e as aulas de substituição.

No fim, fica uma certeza. Cinco anos passados, muitos erros na gestão política e na aplicação do modelo de avaliação depois, preparamo-nos para voltar ao lugar em que nos encontrávamos em 2005, mas em piores condições. Ou seja, a carreira de professor continuará a beneficiar de um estatuto excepcional, o que limita os recursos financeiros para o investimento na escola pública. A inabilidade do anterior governo é, em parte, causa desta situação. Agora, como se não bastasse, todos os partidos preparam-se para assumir a sua quota parte de responsabilidade.

[Arquivo, Pedro Adão e Silva]



Publicado por JL às 00:01 | link do post | comentar

1 comentário:
De Zé da Burra o Alentejano a 25 de Novembro de 2009 às 14:35
Valeu a pena fazer greve e manifestações. Os professores vão conseguir e todos os partidos da oposição estão unidos pela mesma causa, POR ISSO O ACTUAL GOVERNO ps " IRÁ CEDER. Depois de aceite a carreira única falta agora acabar com a famigeradas "cotas". O combate irá certamente centrar-se agora aí: Os EXCELENTES, BONS, REGULARES E MAUS PROFESSORES não podem ser avaliados por cotas pré-estabelecidas sem que uma parte seja deles seja injustiçada. Assim sendo também seria legítimo estabelecer cotas de valor para os Senhores Ministros mesmo antes daqueles tomarem posse (O Sr PRIMEIRO MINISTRO JÁ SABE que tantos por cento irão ser EXCELENTES; outra percentagem pré-estabelecida serão BONS; e outra ainda serão SOFRÍVEIS).

Quanto aos restantes trabalhadores atingidos nos seus direitos pelo anterior Governo, será bom que reparem quem ainda se lembra deles, DE QUALQUER MANEIRA, PARABÉNS AOS SENHORES PROFESSORES!


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