Sábado, 28 de Novembro de 2009

José Pacheco Pereira escreveu inúmeras páginas contra a tentação tão portuguesa de denegrir a função política e que cede às mais básicas pulsões populistas, tendo servido de fermento à ditadura. José Pacheco Pereira escreveu inúmeras páginas sobre a necessidade de introduzirmos racionalidade no debate político português, evitando as infiltrações extremistas susceptíveis de corroer o nobre mas frágil edifício institucional da democracia.

Pensava nisto enquanto concluía que não podia ser o mesmo Pacheco Pereira aquele que se desgrenhava no ecrã à minha frente, atirando argumentos cheios de carga emocional e populista para a fogueira da discussão na Quadratura do Círculo. Fogueira que praticamente só ele alimenta, na permanente tentativa de falar em cima dos restantes intervenientes, procurando a todo o passo travar-lhes o raciocínio. É um Pacheco Pereira que parece sempre à beira do delito passional, agarrado a duas ou três teses férreas das quais não se demove um milímetro em função dos argumentos alheios, o que no fundo inviabiliza qualquer debate. Lobo Xavier, nas raras vezes em que o companheiro de mesa lhe permite falar, é muito mais hábil na defesa dos pontos de vista que interessam ao PSD para se firmar como eficaz partido de oposição. António Costa mal consegue juntar duas frases sem ser de imediato atropelado pela torrente verbal de Pacheco, ao melhor estilo das reuniões gerais de alunos de há várias décadas. Carlos Andrade parece todo o tempo investido da ingrata missão de procurar reduzir o ruído que este irreconhecível Pacheco Pereira provoca em estúdio, olhando nervosamente para o cronómetro, com a angústia do guarda-redes antes do penalti.

O "debate", nesta Quadratura, é nulo: tudo se esgota no incessante martelar das teclas de Pacheco, cada vez mais prisioneiro das suas obsessões, cada vez mais transfigurado pelo ódio cego a José Sócrates. E nestes instantes vou sentindo uma irreprimível nostalgia do Pacheco antigo, que nos mandava tomar as devidas precauções contra o frenesim populista, inimigo desbragado dos "políticos" e de todo o debate travado em moldes racionais. Nada a ver com esta penosa reencarnação do outrora ilustre pensador, tão mal representado pelo seu sósia, que parece desdizer hoje tudo quanto o Pacheco original dizia outrora.

[Delito de Opinião, Pedro Correia]



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