Terça-feira, 12 de Janeiro de 2010
Uma vantagem da crise foi livrar-nos da petulância dos economistas liberais. Eles, que nos anos 90 sonhavam um mundo perfeito comandado pelo Mercado, que apregoavam as vantagens do Estado mínimo, que viam como crime a injecção de moeda pelos bancos centrais, que apontavam como modelo a Islândia e a Irlanda, que achavam seguros os negócios do Lehman Brothers, calaram-se e esconderam-se quando viram tudo isso ruir numa crise que não souberam prever.

Quando apareciam, envergonhadamente, era para pedir a salvação dos bancos e felicitar os governos que o faziam. Já aceitavam a injecção de dinheiro, achavam bem a nacionalização dos bancos e que os Estados se endividassem para os salvar. Até pediam ética na actividade económica, chegando a criticar os ordenados milionários e a existência de offshores.

Foi assim que os bancos foram salvos e a sua crise acabou. Mas continua a crise das empresas a quem eles cobram juros elevadíssimos, aumentando, por arrasto, o desemprego. O problema já não é dos bancos, mas sim dos governos que perdem receita e gastam na protecção social. Mas o pior é que estão aí de novo os economistas em todo o seu esplendor.

E o que dizem eles agora? O mesmo que há 10 anos, quando glorificavam a Islândia e a Irlanda: que o Estado não se pode endividar e, como perde receita e aumenta a despesa, só lhe resta vender-se. Vender-se, a começar pelas escolas e hospitais, dizem eles. A mim, dá-me vontade de dizer que nos livrem dessa gente. O seu receituário já fez mal que chegue.

[J.L. Pio Abreu, Psiquiatra]


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Publicado por [FV] às 11:22 | link do post | comentar

11 comentários:
De grosso da DÍVIDA externa é PRIVADA a 14 de Janeiro de 2010 às 09:46
Os défices de uns são os excedentes dos outros

Terminou há pouco programa Contas à Vida na TVI24 horas, conduzido pelo jornalista António Perez Metelo, com a participação dos ex-Ministros Braga de Macedo e Pina Moura e, esta semana, com o João Rodrigues.

O debate andou essencialmente à volta de dois temas – as tensões de política macroeconómica que se vivem na zona euro e a questão das contas públicas em Portugal.

O João disse aquilo que temos dito neste blog:

1) que a arquitectura da gestão macroeconómica na UE não permite fazer face a crises que afectam assimetricamente os estados membros;

2) que os discursos sobre os défices externos das economias periféricas esquecem que eles são espelho dos excedentes de outros países, pelo que os dois problemas têm de ser vistos em conjunto;

3) que é um erro, por sinal nada ingénuo, confundir o défice externo com a política orçamental em Portugal, já que o grosso da dívida externa é privada - e, já agora, indissociável do processo de construção da UEM; e

4) que a retórica recorrente que culpabiliza cada economia em dificuldade e não o regime de gestão macroeconómica da UEM pelas crises conduz a um estado permanente de austeridade e à erosão do estado social.

Pina Moura surpreendeu-me pela fraqueza dos seus argumentos. Ao afirmar que não é um problema a Europa não ser uma zona monetária óptima, pois esta será um resultado do próprio processo de integração, ignora não apenas os custos de ajustamento como a ausência de factos que corroborem aquela afirmação.
E ao sugerir que a UE saberá encontrar formas de melhorar gradualmente a deficiente arquitectura económica, persiste na ilusão que dominou grande parte da social-democracia europeia (como e o João aqui discutimos em detalhe) – a de que é possível obter os consensos, previstos nos Tratados, entre os governos dos 27 estados membros para introduzir as mudanças necessárias (e.g., um orçamento comunitários com funções de estabilização, a harmonização da fiscalidade directa, o fim dos paraísos fiscais, a coordenação das políticas sociais e laborais, etc.). Sinceramente, não consigo perceber se se trata de um acto de fé (as coisas vão melhorar, só podem melhorar) ou de ocultação deliberada das implicações da UE na sua versão actual. Vindo de quem vem, ignorância não é concerteza. mas os argumentos não são convincentes.

Publicada por Ricardo Paes Mamede em 14.1.10 , Ladrões de bicicletas.


De Zé das Esquinas o Lisboeta a 14 de Janeiro de 2010 às 10:42
"Vindo de quem vem, ignorância não é com certeza"...
Repare que Fé, vindo de quem vem não é com certeza, a não ser 'má fé'.
Mas, vindo de quem vem, também já nada me admira.


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