14 comentários:
De Estimular a economia e... a 28 de Janeiro de 2010 às 10:09
Tiago Tavares disse...
Caro Jose'

Não terá sido bem assim, e nem sequer foi totalmente defendida, mas a frase de abrir buracos para estimular a economia - ou, especificamente nessa citacao, o emprego - foi escrita por Keynes na Teoria do Emgrgo, Juros, e Moeda. Como tao acerrimo defensor das ideias de Keynes julgava que tinha ja lido o livro. Certamente que as suas leituras de Keynes nao terao ficado apenas pelos manuais de macroeconomia dos anos 50.

José M. Castro Caldas disse...
Tiago,
Diga-me onde… diga-me onde… Em que página?
Pronto vá lá eu digo-lhe o que o Keynes realmente escreveu na Teoria Geral (Capítulo 16):
"To dig holes in the ground," paid for out of savings, will increase, not only employment, but the real national dividend of useful goods and services. It is not reasonable, however, that a sensible community should be content to remain dependent on such fortuitous and often wasteful mitigations when once we understand the influences upon which effective demand depends.”

É bem diferente da historieta que se conta em muitos cursos de economia, não é?

Além disso por uma razão misteriosa que eu desconheço fez de mim um “acérrimo defensor das ideias de Keynes”.
Porquê?
E o Tiago é acérrimo defensor das ideias de algum economista morto ou gosta de pensar pela sua cabeça?

João Dias disse...

As desigualdades sociais têm a ver muito, mas muito mais com mecanismos artificiais e, diga-se, injustos do que pela fé inabalável da meritocracia.
A meritocracia é termo bonito para promover a disputa entre os que trocam trabalho por salário (o gajo do lado faz sempre muito menos do que nós) mas muito pouco razoável para quem quer perceber as verdadeiras razões das disparidades económicas.

É bonito dizer que o Sr. Doutor recebe mais que o "gajo das obras", contudo, não explica nada em relação às disparidades sociais. Aliás, toda gente sabe que quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro (diria um astuto e rico indivíduo com a 4ª classe).

A questão está no poder, na propriedade, na riqueza que vem antes do 25 de Abril (link), no trabalho que paga impostos e na especulação que não paga, na cumplicidade dos estados nação e entidades supranacionais com a opacidade do sistema financeiro e crime organizado, na desresponsabilização dos detentores detentores dos meios de produção, na desresponsabilização dos proprietários, no facto de serem os trabalhadores a pagarem com desemprego e baixos salários uma economia deficiente e baseada em ciclos especulativos de oferta procura...

A tese da meritocracia não resiste à realidade nem à teoria...mas a fé também não se costuma autoquestionar muito, mas devia.


De Meritocracia e (não) oportunidades. a 28 de Janeiro de 2010 às 10:15
Miguel Rocha disse...
Bruno Silva,

Essa conversa das pessoas que são pobres ou são mal pagas porque querem ou não merecem mais já cansa...e é anacrónica....

Você quer-me convencer de que o facto do filho do Belmiro de Azevedo ser filho de quem é não tem influência na posição que ele ocupa neste momento?
Eu não lhe estou a tirar o mérito...longe disso...Acho que fez bem em aproveitar a oportunidade que teve...e teve mérito nisso...

Aliás, aposto que em certas ocasiões o filho acompanhava o pai ao escritório e via-o a trabalhar em casa com uns papéis, e via-o a ler, etc...

Os filhos tendem a imitar os pais...o que acontece é que o filho de Belmiro (epah, não me lembro do nome dele) foi crescendo habituando-se a reforços positivos em relação à qualificação e à familiarização com coisas como empresas (funcionamento interno, ambiente) ou seja, ele foi-se habituando a aprender o que se fazia numa empresa..e interiorizou formas de agir e reagir....

Transpondo para a realidade portuguesa: a maior parte das pessoas têm baixa qualificação e poucos hábitos de leitura....os respectivos filhos não têm um contexto social nem cultural para serem incentivados a ler ou a levar o seu processo de aprendizagem até muito longe...porque não notam no que isso lhes poderá ajudar...

Neste contexto compreende-se muito bem o que o Plano Nacional de Leitura queria atingir....

Pessoalmente falando, os meus pais têm a 4ª classe antiga...e o único estímulo que eu tive para ler foi quando uma tia minha me ofereceu um livro, nos meus 10 anos, no caso, "Uma aventura no Verão" para ser concreto...ou seja, foi-me dada uma oportunidade e eu aproveitei-a...

e li o livro...foi assim que ganhei o gosto pela leitura...na escola as notas eram bastante boas até por não dar erros de português (lá está: a influência da leitura), e posso dizer que me licenciei por causa desse livro.
Foi decisiva essa oportunidade. E hoje em dia leio bastante e tenho uma mente bastante curiosa...o que me faz ainda ter mais vontade de estudar.

Acontece que não consegui até agora arranjar trabalho de acordo com as minhas qualificações e o que vejo é que pessoal que têm pais que têm empresas conseguem mais facilmente emprego qualificado...
claro, eles sentem-se mais confortáveis porque têm experiência prática que deve ser um elemento sinalizador bastante importante para as empresas reduzirem a informação assimétrica na sua fase de recrutamento....
os meus pais são trabalhadores dependentes...

Claro que nem tudo se explicará por aqui mas é decisivamente um factor...
Aliás, mais preocupante do que isto, é ter constado à alguns anos através de um inquérito, que a maior parte dos alunos da minha Universidade tinham pais que tinham qualificações superiores à dos meus....

Posso admitir que foi um choque para mim porque não fazia a menor ideia....o que isto significa em última instância é que a mobilidade social é baixíssima e a estratificação social mantém-se não porque as pessoas necessariamente o queiram mas porque todos os factores levem a isso...

Mas lá está, as oportunidades têm de existir para que uma pessoa as possa aproveitar....acontece que em Portugal são poucas e vão baixando à medida que vamos descendo nas classes sociais....

Só existe uma variável actualmente capaz de baralhar este meu raciocínio (ou não)...chama-se: Cunha...


De Poder, Mérito (?) e mobilidade social a 28 de Janeiro de 2010 às 10:19
Zé Miranda disse...

Fiz um post sobre a meritocracia há algum tempo atrás em
http://profundaignorancia.blogspot.com/2009/12/isto-tem-que-ser-economia.html
"As desigualdades sociais de partida são reproduzidas e aumentadas pelo mercado.

O Estado Social ao estabelecer como um direito, independente da capacidade económica de cada um, o acesso de todos à Saúde e à Educação, surge como um instrumento para diminuir as desigualdades e igualizar ligeiramente as oportunidades para todos de uma vida decente.

Os defensores da meritocracia pretendem uma sociedade que premeie o mérito.
Mas esse mérito não tem em conta de onde partem as pessoas. Por exemplo:
alguém que faça uma investigação importante, ou que chegue ao topo de uma empresa e que nunca tenha tido dificuldades económicas na sua família, tenha a sorte de ter pais com niveis de escolaridade altos, tenha a sorte de ter em casa uma boa biblioteca, tenha a sorte de poder ter tido todos os livros e documentários e filmes e tudo o mais que lhe tenha ajudado a exercitar o pensamento,
essa pessoa terá tanto mérito como alguém que cresceu numa familia de reduzido capital económico e cultural mas que chegou a concretizar a mesma investigação ou chegou ao topo da mesma empresa?
Claro que não.

Portanto, a desigualdade sociais de partida reproduzem-se no mercado de trabalho tanto mais quanto mais elitista for o ensino.

O Estado Social, de forma a igualizar em parte o sistema capitalista selvagem e explorador que temos, atribui como direito a saúde e a educação, impõe impostos progressivos para que quem tenha mais contribua com mais para esses direitos, abrindo espaço ao exercicio da democracia.
Porque uma sociedade capitalista, meritocrática, burguesa e profundamente desigual e sem um Estado que preencha minimamente todas essas lacunas é uma sociedade não democrática -
porque na verdade, não temos todos o mesmo acesso aos melhores empregos, não temos todos o mesmo acesso aos bens e serviços, não temos todos a mesma voz, não temos todos o mesmo poder.

E sim: isto também é Economia."


De em Ladrões de Bicicletas... a 28 de Janeiro de 2010 às 10:26
Bruno Silva disse...
Caros,

Eu não critiquei o estado social, só critico os seus limites!
E quando já se chega a um escalão de 42% de tributação da riqueza produzida por um determinado indivíduo, um aumento disso soa-me a tudo menos a "justiça".

Não queria de todo começar o já gasto debate da tributação progressiva.

Caro Miguel Rocha, para existirem mais oportunidades tem de haver mais investimento privado, o qual tem vindo a descer dia após dia, os motivos disso, dava uma longa conversa...

Outro ponto: Não posso nem devo eu ter o direito de construir algo que possa deixar aos meus filhos? A crítica a isso mostra bem que a esquerda só se preocupa cegamente com a "desigualdade" e não com o estado efectivo de quem está na base. Mas isto dava outra longa conversa.. Recordo apenas Milton Friedman, citando Thomas Jefferson: "A society that puts equality ahead of freedom will end up with neither equality nor freedom"

28.01.2010


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