De Educarrota a 23 de Junho de 2010 às 23:49
O "GADGETISMO"
Por Santana Castilho *
Com esta desumana fórmula de gerir escolas, ...
A dúvida assalta-me a cada nova acometida:
a sucessão das etapas desagregadoras da educação nacional foi planeada à distância? Olho para os protagonistas e logo rejeito.
Mesmo para urdir estrategicamente a maldade mais odiosa é necessária uma inteligência que não possuem. Actuam à bolina e move-os um só desígnio:
embaratecer o custo do trabalho honesto de muitos para enriquecer uns tantos, protegidos pela burqa da legalidade podre que corrói o país.
Anima-os uma cultura: o "gadgetismo" bacoco. Suporta-os o sonambulismo cívico da nação.
Aos Magalhães, aos quadros interactivos e a toda a corte de gadgets electrónicos, enganosos salvadores da ignorância que floresce, acrescentam-se agora os gadgets pedagógicos e organizacionais do momento:
a learning street e os megagrupamentos de escolas.
Sob os auspícios da Parque Oculta, dizem-me que José Trocado executa o comando de José Trocas-Te:
um megagrupamento de escolas por concelho.
Exagero ou não, tanto faz. Facto é que as direcções regionais iniciaram a fusão dos agrupamentos existentes.
Trata-se de arrebanhar crianças de tenra idade, retirá-las do seio familiar contra a vontade dos progenitores e abandoná-las numa comunidade de milhares de alunos com idades que vão até aos 18 anos (apontam os 3000 como limite, mas com a credibilidade que lhe conhecemos, só eles sabem onde a loucura os pode deter).
Perfilam-se surreais ligações administrativas e pedagógicas de escolas separadas por dezenas de quilómetros, com projectos educativos tão idênticos como a velocidade e o toucinho.
Adivinham-se os inerentes megagrupamentos de docentes e a megamobilidade dos ditos, com o primeiro tempo da tarde a quilómetros do local onde leccionaram de manhã.
Tudo caucionado pela crise económica, pela grilheta limitativa do calendário das presidenciais e pelo jogo dos pequenos interesses dum bloco central envergonhado.
Com esta desumana fórmula de gerir escolas, a decantada qualidade do ensino deteriorar-se-á ainda mais.
Desaparecerá a gestão de proximidade que o acto educativo não pode dispensar. O que restava da pedagogia cederá passo ao centralismo administrativo que, sendo já mau, agora fica gigantescamente deplorável.
O caciquismo vai refinar-se, a burocracia expandir-se e a indisciplina aumentar.
Não esperem que se aprenda mais ou que o abandono e o insucesso escolar diminuam.
Só florescerá a aldrabice das estatísticas e a crista dos galos que permanecerem nos poleiros.
Toda a lógica gestionária, entronada há apenas um ano como a (e sublinho o artigo definido) solução, já vai de arrasto, directores às urtigas, órgãos dos agrupamentos às malvas.
Não é exequível qualquer projecto educativo com tais loucos ao leme.
Não são criminosos no sentido penal do termo. Mas são hediondos criminosos pedagógicos.
Não só escaqueiraram o que encontraram, como deixam armadilhado o caminho dos que se seguirem, que outra alternativa não terão senão voltar a virar tudo do avesso, salvo se forem tão insanos como eles.
O sistema educativo não aguenta tamanha instabilidade. Tudo o que possa ser sério e válido é visceralmente incompatível com este tumulto.
Para fazer o que a nação reclama que seja feito, quem se seguir tem que se alicerçar num diálogo social e num pacto político que gere estabilidade à volta do que é estruturante. Doutra forma o sistema soçobra.
Percebo bem que os portugueses se preocupem com a bancarrota.
Não entendo que não reajam à "educaçãorrota". Depois de lhes sacrificarem os filhos, ainda não se dispõem a defender os netos?
O ano lectivo vai terminar de forma grotesca.
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De gadgetismo, eduquês e irresponsáveis a 23 de Junho de 2010 às 23:53
O "GADGETISMO"
Por Santana Castilho *
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De fanfarronada em fanfarronada, os sindicatos foram ao tapete:
cederam na aberração da avaliação do desempenho;
aguardam com a paciência dos desistentes um estatuto de carreira por promulgar que, em boa verdade, só muda as moscas;
assistiram ao sacrifício dos contratados e ao adiamento de tudo o que libertasse os professores da escravidão em que caíram.
Pactuaram quando tinham que ser firmes.
Persistiram no erro quando puderam reconhecê-lo.
E, não contentes, espadeiraram contra os que estavam do seu lado, cegos pela ganância de não partilharem o protagonismo das negociações eternas.
Cabe aos professores rejeitarem vigorosamente o papel de simples sujeitos-mercadoria que o "gadgetismo" irresponsável lhes reserva, impondo-lhes, como se desejo seu fosse, toda a sorte de porcaria perniciosa.
Mas não cabe só aos professores.
É tempo do novo responsável do PSD dizer ao que vem.
Dizer claramente se sustenta a dissimulada mas escandalosa privatização do Ministério da Educação, que o polvo da Parque Escolar vai sorvendo;
dizer, com urgência, se acompanha ou não a subalternização da sala de aula e a substituição do ensino pelo entretenimento atrevido e ignorante do "eduquês" pós-moderno de Teresa Heitor;
dizer, sem dar espaço às habituais tergiversações do PSD, se, uma vez no Governo, porá fim à terraplanagem selvagem da identidade e da cultura das escolas portuguesas;
mais que dizer, mostrar, numa palavra, ele que tanto se detém nos labirintos da economia e da globalização, que interiorizou as razões pelas quais as multinacionais do Ocidente procuram os alunos da China, da Coreia do Sul e da Índia.
*Professor do ensino superior. s.castilho@netcabo.pt
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