Sexta-feira, 25 de Junho de 2010

Hipocrisia, oportunismo e proxenetismo regionalista

Vale a pena reflectir sobre os argumentos utilizados por alguns autarcas para justificar as borlas nas auto-estradas, são um bom exemplo da leviandade e hipocrisia da nossa classe política que põe a luta pelo poder acima de quaisquer interesses nacionais. Porque não aplicar a todos os domínios da sociedade os argumentos utilizados para justificar as borlas nas SCUT.

Vejamos, por exemplo o argumento usado por Macário Correia, um político a quem há muitos anos vaticinava um futuro mediano como controleiro de uma organização de extrema-esquerda e agora preside à CM de Faro eleito pelo PSD. Argumenta o autarca que se a auto-estrada de Huelva é à borla a Via do Infante também o deve ser. É um argumento do tipo meada pois puxando a ponta em Vila Real de Santo António só acaba no último quilómetro de auto-estrada que tenha sido construído. Como explicar a um estrangeiro que só tem auto-estrada gratuita até Ferreiras e quando virar no sentido de Lisboa esbarra com uma portagem?

Seguindo esta lógica tudo o que fosse à borla do lado de Espanha também o seria deste lado, não sucedendo o inverso pois nunca ouvi um político espanhol usar o argumento no sentido inverso. Curiosamente este argumento é usado por um senhor que em tempos era autarca de Tavira e que quando os preços dos combustíveis subiu decidiu abastecer a frota automóvel da autarquia nas estações de serviço de Ayamonte. Temos portanto um alto responsável que defende que a Via do Infante deve ser gratuita mas na horas de pagar impostos prefere ir pagá-los a Espanha.

Pois é, os outros que lhe paguem a auto-estrada!

Ouvi um outro senhor autarca justificar as SCUT como o pagamento de uma dívida ao interior, como se pelo facto de ter nascido no litoral tenho uma quota parte de uma dívida aos que nasceram no interior. Bem, por esta lógica apetece-me perguntar se o tal autarca defende que em relação às populações do interior que ficam a mais de cem quilómetros da auto-estrada mais próxima o pagamento da tal dívida seja feita, por exemplo, em géneros. Por exemplo, quanto não deverá o país do litoral aos habitantes de Mértola ou de Alcoutim? No caso da Ilha do Corvo teríamos que dar a cada habitante um Ferrari mais uma viagem semanal em excutiva para passarem férias nas Bermudas!

E o que dizer de um autarca que gosta de assumir uma postura responsável e de quem se dizia que iria ser o futuro primeiro-ministro eleito pelo PSD e que agora faz apelos subtis à revolta do Norte? Este senhor acha que a sua região é uma excepção, ali todas as borlas se justificam e se for necessário até deve haver um TGV para que a viagem entre o Porto e Lisboa demore menos quinze minutos.

O que seria deste país se todos os autarcas de regiões que recebem muito menos do que o Porto dos impostos pagos pelas outras regiões fizessem apelos à revolta das populações? Barrancos já se tinha passado para o outro lado da fronteira, Vila Nova de Milfontes pediria para ser uma autarquia da Região Autónoma da Madeira e para chegarmos a Vila Real de Santo António teríamos de ir até Espanha pela auto-estrada de Évora para entrarmos no Algarve pela ponte do Monte Francisco, tanto quanto sei entre Lisboa e aquela região do Algarve não há nenhum concelho que tenha menos motivos para se revoltar do que o Porto.

A verdade é que tirando algumas excepções muito localizadas onde as SCUT fazem sentido o que estes senhores querem promover é o proxenetismo nacional, querem o mais possível dos impostos que os outros pagam, já que o país se está a afundar aproveitam-se deste modelo municipalista quase feudal para “sacarem” o mais possível para as suas regiões e assim assegurarem futuras vitórias eleitorais.

É uma combinação perigosa entre hipocrisia e oportunismo e proxenetismo regionalista.

Jumento


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Publicado por Xa2 às 00:07 | link do post | comentar

9 comentários:
De Zé T. a 25 de Junho de 2010 às 12:23

1- Ninguém devia pagar por passar nas vias públicas (sejam estas Auto-estradas, SCUTs, IPs, ICs, ENs, EMs, avenidas, ruas, caminhos, praças, largos, ...).

2- Havendo necessidade... de dinheiro e não chegando os impostos gerais... devem pagar todos os cidadãos que usem/ beneficiem de serviços ou bens públicos.

3- Se não pagarem os cidadãos que usam/ beneficiam ...
quem pagará serão todos os outros contribuintes, ...

mesmo aqueles que têm rendimentos muito mais abaixo do que essa média regional/local,...

mesmo aqueles que não usam essa via/ bem/ serviço público, ...
porque não podem, porque não têm automóvel, porque usam transporte colectivo, porque não querem ou não precisam ...
- o que é uma injustiça ainda maior !


De aproveitam os q. + têm . a 30 de Junho de 2010 às 09:28
Isenções
[-por Vital Moreira]

Não vejo nenhuma razão para a proposta de isenção de portagens nas actuais SCUT para os municípios com rendimento per capita abaixo da média nacional.

Primeiro, quem utiliza as autoestradas não é a população em geral, mas sim os donos de veículos motorizados.
Os proprietários de BMW residentes em municípios pobres não merecem tratamento diferente dos residentes em municípios ricos.

Segundo, por essa mesma razão deveriam ser isentos também os municípios pobres atravessados por todas as autoestradas e não somente os atravessados pelas SCUT.
Não há nenhuma razão para discriminar, por exemplo, contra os municípios alentejanos pobres atravessados pelas duas auto-estradas dessa região...


De . a 1 de Julho de 2010 às 12:14
Requiem pelas SCUT

[Publicado por Vital Moreira]

Finalmente, o Governo aceita introduzir portagens em todas as SCUT. Sob pressão da necessidade, o bom senso triunfa.
Nada como uma boa crise financeira para fazer vingar o que há muito se impunha. É o fim do conceito das SCUT nas autoestradas, que nunca deveria ter sido inventado.
Quantos milhões inglórios e quantas desigualdades territoriais custaram estes privilégios rodoviários!

PS - Resta abandonar a ideia das isenções pessoais e municipais, que só criam desigualdades em relação às autoestradas tradicionais, onde elas não existem.


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