7 comentários:
De Obediência cega... a 8 de Julho de 2010 às 15:52
Bons alunos (!?)

Disseram-nos que ser bons alunos era desmantelar todas as formas de proteccionismo nas trocas intracomunitárias e foi o que fizemos,
fomos tão bons alunos que Cavaco Silva às voltas com um pico inflacionista até decidiu antecipar o fim do período de transição nas trocas de produtos agrícolas sem consultar o sector nem se preocupar com as consequências,
bastou uma reunião onde até estive presente em representação do então secretário de Estado Oliveira e Costa (cruzes canhoto!) para de uma penada acabar com a protecção de que os nossos agricultores ainda beneficiavam.

Disseram-nos que ser bons alunos era construir auto-estradas que permitissem aos camiões transportar rapidamente os produtos que importamos e foi o que fizemos, pode-se chegar a Espanha num instante, a mesma Espanha que poucos anos antes evitava construir infra-estruturas rodoviárias que facilitassem o acesso à fronteira portuguesa.

Disseram-nos que ser bons alunos implicava liberalizar mercados onde haviam monopólios públicos e apressámo-nos a privatizar as empresas públicas
mesmo sabendo que uma boa parte do capital dessas empresas seria adquirido por investidores estrangeiros o que colocaria sectores estratégicos para a economia nacional a serem geridos em função dos interesse de accionistas cujo único critério é o da oportunidade bolsista.

Disseram-nos que para sermos bons alunos só poderíamos embalar fruta bonitinha e toda do mesmo tamanho e assim fizemos, abandonámos as variedades genéticas nacionais, muitas delas extintas ou em vias de extinção
para passarmos a comprar sementes e plantas que dão frutos muito bonitinhos, calibrados mas sem sabor, em nome da qualidade passámos a comer feijão verde com sabor a relva e sem sumo.

Disseram-nos que para sermos bons alunos teríamos de ser muito limpinhos e o Sr. António Nunes mandou os seus ninjas encerrar todos os negócios que não fossem limpinhos e pôr termo a todas as tradições que violassem os critérios de higiene definidos pelos insípidos burocratas de Bruxelas.
Acabou-se a matança do porco, em troca compramos grandes pacotes de costeletas de porco espanholas embaladas em mega embalagens familiares.

Disseram-nos que para sermos bons alunos deveríamos implementar um plano de austeridade
sempre que o comissário Joaquín Almunia acordar mal disposto e é o que temos feito, sempre que o comissário franze o sobrolho aumentamos os impostos e/ou tramamos os funcionários públicos.

Fomos tão bons alunos que até tivemos direito ao nome no quadro de honra para orgulho de Cavaco Silva,
o problema é que somos bons alunos tesos, sem capacidade de intervenção na nossa economia e proibidos de intervir em função de objectivos estratégicos nacionais.

Os objectivos do país, dizem-nos pessoas como Pedro Passos Coelho, devem ser os definidos pelos mercados,
o bem-estar das nossas populações não deve depender do Estado Social mas sim aferido pelos lucros das empresas amigas que devem substituir o Estado.

Esta do bom aluno lembra-me uma velha anedota:
uma comadre tinha uma amiga que andava com amantes ricos e lhe exibia os carros, casacos de peles e outros luxos que lhe ofereciam os amantes ricos, até que a outra se queixou que o padre Zé só lhe dava santinhos.
Neste processo de integração europeia Portugal faz o papel da nossa amiga, somos bons alunos mas na hora de distribuir a imensa riqueza gerada pelo processo de integração europeia só levamos santinhos,
no fim até nos dizem que é por sermos parvos, por não termos sabido aproveitar as oportunidades,
até temos por aí uns artistas que andaram anos a ver a forma como poderiam enriquecer à custa da miséria alheira e agora acusam o país de não ter feito o trabalho de casa.
Isto é, fizemos tudo em nome dos mercados mas o resultado não dependia das aulas mas sim do TPC.

Afinal não fomos bons alunos, esquecemo-nos de fazer os TPC.

http://jumento.blogspot.com/2010/07/bons-alunos.html


De Zé das Esquinas o Lisboeta a 9 de Julho de 2010 às 10:10
Grande e oportuna reflexão.
É que a memória dos portugueses é curta e anda para aí muito político e economista a falar e a opinar como se não tivessem responsabilidades, pelo menos morais, sobre toda esta situação que atravessamos. E, infelizmente, os portugueses não se lembram que são estas personagens que directa e indirectamente, por acções activas ou contemplativas, fizeram com que chegássemos a este caos como país viável.
E não estou a referir-me só aqueles 'palhaços' que aparecem nas televisões. Também estou a referir-me a alguns que postam e comentam aqui no Luminária e que desempenharam cargos relevantes nos partidos do poder e foram, por exemplo, deputados da nação.
E agora 'falam' como meninos de coro, iluminados, só referindo as partes 'boas' onde dizem que participaram, das liberdades e democracias, que já podemos falar, etc., esquecendo-se que foram também co-responsáveis políticos no que hoje temos de pior.


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