De Professor e o «eduquês»... a 23 de Julho de 2010 às 11:51
Ser professor de Matemática no reino do eduquês. Um testemunho
Publicada por Ramiro Marques

É um testemunho vibrante sobre o que é ser professor do 3º CEB e do ensino secundário no reino eduquês. Tudo o que João Torgal relata é
realidade cristalina. Leiam,por favor, o texto que João Torgal publicou no blogue ''A Mesa do café'' e digam se não se identificam com quase tudo o que ele diz.

Andámos quase trinta anos a dar pancada no ensino directivo, nos métodos expositivos, nos exames e no uso da memória no processo de aprendizagem. A memória, palavra proibida, deu lugar à aprendizagem
significativa. O esforço, palavra proibida, foi substituído por actividades lúdicas. O aluno deu lugar ao aprendente. Os conteúdos passaram a chamar-se competências. E o resultado está à vista.

A retórica do eduquês tomou conta da Inspecção Geral do Ensino e da DGIDC e todos os órgãos e intervenientes de controlo pedagógico estão
contaminados por ela. Resultado: há palavras proibidas no léxico da Pedagogia.
E as escolas e os professores têm de fingir que acreditam na retórica do eduquês, plasmando-a nos relatórios de prestação de contas. A consequência foi a generalização da mentira. Do faz-de-conta. Quanto mais uma escola interioriza a retórica do
eduquês, maior é a probabilidade de obter menções de Muito Bom nas avaliações externas. E as menções de Muito Bom na avaliação externa dão quotas mais generosas de Excelente e de Muito Bom para os
funcionários e os professores. E a mentira continua contaminando todos domínios da escola.

Mais especificamente, ser professor de matemática do ensino básico (8ºe 9º anos) é essencialmente:

1. Deparar com alunos com imensas dificuldades e com uma enorme falta de bases matemáticas. Só para se ter uma noção, poucos são aqueles que sabem calcular a área de um rectângulo, quanto é “quatro ao cubo”, somar duas fracções, dizer inequivocamente quanto é 5 – 12, resolver um problema simples que envolva apenas uma subtracção ou a tabuada (o
resultado das pedagogias científicas que dizem que nada pode ser decorado e que tudo tem de ser aprendido de forma lúdica é perguntar quanto é 8×4 e dificilmente obter a resposta certa). No entanto, fruto
das medidas educativas que evitam os chumbos a todo o custo e de um facilitismo avaliativo de muitos professores que autenticamente oferecem notas para não se chatear, estes alunos vão passando de ano,
mesmo que dotados de uma ignorância profunda (só mais tarde, estes alunos irão perceber que são eles as principais vítimas deste sistema educativo facilitista e perverso). Isto está de tal forma que há exemplos na minha escola de alunos que chegam ao 5º ano sem
praticamente saberem ler nem escrever (!!!).

2. Gerir uma multiplicidade de conflitos no seio da turma, com uma quantidade grande de alunos desmotivados, desinteressados e que não
percepcionam na escola uma verdadeira utilidade prática.

3.


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