As jornadas parlamentares do PS tiveram - presumo que por convite - a presença da esquerda oficial ou oficiosa do partido, tirando Manuel Alegre que já se deve achar "presidencial" de mais para estas coisas. Mas bastou quem estava: estavam Mário Soares, como é óbvio, Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso, Pedro Adão e Silva, António Costa, João Proença e até o ambíguo António Vitorino. O que vieram dizer estas figuras? Como se verá, não vieram dizer nada de prático, nem traziam um programa ou sequer uma preocupação comum. Se alguma coisa as juntava era um sentimento. Todas sabem que a política de Sócrates vai fazer, ou já fez, do PS um partido execrado em Portugal e agora andam todas timidamente à procura de evitar o inevitável ou, pelo menos, de não se comprometer em pessoa com o pior do que se prepara.
Mário Soares foi o mais radical: o que se compreende. Citando Krugman, o seu novo guia, deu a estratégia económica de Bruxelas por "obsoleta" e destinada a liquidar "o modelo europeu". Pediu mesmo uma aliança ibérica para combater o "neo-liberalismo" da "Europa", ou seja, em primeiro lugar, o da sra. Merkel e da Alemanha. O dr. Mário Soares não precisa de se importar excessivamente com a realidade. O resto desta esquerda, constrangida e triste, precisa de a reconhecer. Ferro Rodrigues, por exemplo, admitiu sem entusiasmo a necessidade da política de Sócrates. Mas tanto ele como a gente que falou a seguir não se esqueceu de acrescentar o tropo obrigatório da "equidade social". Um conceito que, de resto, nunca explicou a sério como se propunha aplicar.
0 facto é que o PS se meteu cegamente numa situação em que é obrigado a governar contra o que sempre jurou que defendia. Não se trata hoje de saber se a "mensagem cor-de-rosa" de Sócrates passa ou não passa? Ou se "passaria" melhor um "pessimismo" informado e duro, como sugeriu João Proença? Como não se trata de saber se é pura "aberração" que um Orçamento socialista, como o de 2011, inscreva "tectos" para "despesas sociais" (7100 milhões de euros), por muito que isso pareça um horrível regresso à "caridadezinha". A esquerda do PS perdeu imenso tempo com isto nas jornadas parlamentares. Só não discutiu o essencial: quer ou não quer tomar a responsabilidade da crise (para que, aliás, largamente contribuiu)? E, se não quer, por que razão se não separa de Sócrates.
Público 09-07-2010
De Anónimo a 9 de Julho de 2010 às 12:06
Desonestidades
Se um cidadão comum na vida empresarial oferecer um determinado bem com pressupostos bem definidos e após a venda estes não se confirmarem: burlou o consumidor e será civil e criminalmente punido por isso.
Mas se for um político a fazê-lo na sua actividade partidária, através de programa ou promessas eleitorais e que, após eleito não cumprir, esquecer e ou até fizer o contrário do que apregoou: burlou o cidadão do seu país, mas não terá qualquer penalização, a não ser uma eventual punição em futuros actos eleitorais, que serão rapidamente compensados por uma colocação de luxo em qualquer outro cargo político porventura internacional, quando não num lugar em administrações em empresas pública, privada ou fundações, principescamente remunerados e a bem da nação.
De . a 12 de Julho de 2010 às 11:41
Debate sim, canto coral não
Receia-se um festival de previsibilidades num colóquio que o PS, por via da sua fundação, vai promover proximamente em Lisboa.
Expoentes da ala direita do Partido, figuras do governo, especialistas da escola universitária de Lisboa que o PS transformou numa espécie de oráculo único da sua política económica e social, bem como, pelo menos, um delegado visível de um fantasma socialista europeu que se julgava já não existir, ameaçam com uma conferência. Tempero: um ou outro nome internacionalmente sonante.
A encenação pode ser vistosa, mas a pluralidade no debate interno não pode esgotar-se no círculo de notáveis que dizem as mesmas coisas em tons diferentes, com exclusão das vozes socialistas que realmente não são integráveis no coro de conformismo actualmente dominante.
Mas a verdadeira pluralidade não existe. De facto, o PS, ora resmungando, ora sorrindo, mas sempre num passo triste e conformado, vai fechando os seus próprios horizontes.
Arrepiemos caminho. Abra-se um debate verdadeiro, para ir mesmo ao fundo das coisas, onde caibam vozes que não sejam apenas versões orquestrais diferentes das melodias de sempre. Não persistam nessa mastigação, no essencial justificativa, da ideologia dominante, entrecortada por assomos dispersos, inconsequentes e cada vez mais raros de uma identidade perdida.
Olhem para os desastres políticos, por intermédio dos quais, a terceira via e seus próximos quase arrasaram o socialismo europeu. Tenham a humildade de reconhecer que a insistência, dos que têm hegemonizado a IS e o PSE, numa via que tem vindo a destruir, país após país, a força dos socialistas europeus, não pode continuar, sob pena de nos deixarmos envolver numa espiral de decadência, paralela à que reduziu os comunistas europeus a uma força residual e simbólica.
Passemos pois além de cerimónias que, querendo-se assemelhar a verdadeiros debates, arriscam-se a não ser mais do que encenações de propaganda, durante as quais se procura enfeitar as previsibilidades mansas, com duas ou três figuras de prestígio internacional, que assim acabam por não serem mais do que um pouco de pimenta num cozinhado insosso.
Postado por Rui Namorado, em ''o grande zoo'',
De só agora PS... quer virar prá esquerda ? a 12 de Julho de 2010 às 12:30
Paulo Pedroso apela ao PS para não desistir de ter aliados à esquerda
Público, 06.07.2010 - Por Maria José Oliveira
O ex-ministro socialista alertou hoje que é necessário “desbloquear” a esquerda democrática em Portugal. E isso passa por ter aliados à esquerda e por “alternativas sólidas aos governos de maioria absoluta”.
Pedroso defende que o PS se deve reaproximar dos movimentos sindicais (Nuno Ferreira Santos)
Na primeira sessão das jornadas parlamentares do PS, que hoje terminam, na Assembleia da República, Paulo Pedroso fez um discurso de auto-crítica que se centrou na necessidade de o PS se reaproximar dos movimentos sindicais e de não ter receio de procurar entendimentos à sua esquerda.
“O PS tem de carregar o peso das medidas sozinho ou em ‘coligação Europa’, que, no caso português, se manifestou na constituição do Bloco Central, entre 83 e 85”, afirmou, lançando depois o desafio aos socialistas: “Não temos aliados à nossa esquerda que percebam os dramas que o país enfrenta, mas não podemos desistir de os ter.”
E argumentou: “Para desbloquear a esquerda democrática portuguesa é preciso também que haja alternativas sólidas aos governos de maioria absoluta”, referindo depois que este apelo não se dirige apenas ao PS, mas também aos restantes partidos da esquerda (Bloco e PCP) “para que aceitem o princípio da realidade, a opção europeia do país, para que sejam capazes de gerir as lideranças e saber o que é necessário”.
Momentos antes, Paulo Pedroso tinha alertado para os efeitos prejudiciais do distanciamento do PS em relação ao movimento sindical, chegando mesmo a afirmar que não iria provocar o “embaraço” de perguntar quantos deputados estiveram ou estão ligados a sindicatos.
“Temos de revisitar a nossa agenda sindical”, disse, realçando a importância da actuação dos sindicatos numa democracia de mercado.
De . a 12 de Julho de 2010 às 12:33
« Cuidado que vêm aí os neoliberais ! »
Ao fim de cinco anos a ser a ala esquerda do neoliberalismo, José Sócrates descobre-se subitamente um defensor do «Estado Social» e até do «Estado Providência» (maiúsculas no original), e que «não contem [com ele] para pôr o neoliberalismo na Constituição». Pois não: as parcerias público-privado nos hospitais; a queda dos impostos sobre a banca; o combate à crise pelo corte de prestações sociais; a «desestatização» da escola pública; as privatizações - todas estas foram medidas neoliberais dos governos socráticos que não necessitaram de revisões na Constituição para serem aplicadas. Mas quando vê os seus ex-companheiros da JSD Portas e Coelho a carregarem no acelerador, Sócrates pisca o olho à esquerda.
Paciência. Com ele, já ninguém acredita. Com outro, que tirasse as devidas consequências ao nível das alianças partidárias, talvez.
Publicado por Ricardo Alves, esquerda-republicana
De . a 13 de Julho de 2010 às 16:23
Duas iniciativas do PS
por MÁRIO SOARES, 13.7.2010, DN, http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1616986&seccao=M%E1rio Soares&tag=Opini%E3o - Em Foco
1. Na passada semana, o PS realizou duas iniciativas que fizeram mobilizar o partido - dirigentes, militantes e eleitores simpatizantes - para as tarefas que o esperam, nos próximos meses. Ambas tiveram em conta a crise europeia, que não dá grandes mostras de abrandar. É um problema sério. A razão é simples.
Os dirigentes europeus, nos tempos difíceis que correm, não querem ver a realidade. Isto é:
a necessidade prioritária de manter e desenvolver o modelo social europeu - o nosso máximo e legítimo orgulho -, lutando contra as desigualdades sociais, a pobreza, o desemprego e o trabalho precário, para que as respectivas economias não entrem em depressão, como já há indícios e começa a acontecer.
E também para que o mal-estar que daí resulta não degenere em confrontos violentos.
E só depois - mas em segundo lugar - reduzir os deficits externos e o endividamento, público e privado, como sugere o Banco Central Europeu, influenciado pelo economicismo neoliberal.
Por que razão a ordem de prioridades deve ser esta, como, aliás, ensinam alguns economistas prémios Nobel?
Porque as pessoas devem sempre contar mais do que os orçamentos e os deficits.
São, de resto, as pessoas que fazem funcionar as economias reais e não os números ou as empresas de ranking.
Por outro lado, há, obviamente, que fazer cortes e reduções drásticas no despesismo inútil:
do Estado, ministério por ministério - e em todos os órgãos de soberania -
mas também nas regiões autónomas e nas autarquias.
Por aí vai-se muito do erário público, com resultados mais do que duvidosos e que nem sempre são, claramente, de primeira necessidade, nem sequer transparentes.
Importa ainda fiscalizar o despesismo
dos bancos e das grandes empresas,
para que os Estados não tenham de lhes acudir, outra vez, em desespero de causa, como se passou num passado recente.
Não o esqueçamos ! Nem aos dirigentes responsáveis da crise que continuam impunes...
Acabar com os paraísos fiscais, as grandes especulações, e regular,
em termos europeus, as finanças e as economias virtuais da União Europeia são outros dos objectivos prioritários para evitar a decadência da Europa,
face aos países emergentes, aos Estados Unidos/Canadá, ao Japão, em sérias dificuldades, e a outros blocos económicos que se desenham, numa economia que cada vez é mais global e desregulada.
O PS teve um Governo maioritário de quatro anos e tal e nas últimas legislativas ficou apenas com uma maioria relativa, o que faz a sua diferença.
Como tem sucedido, frequentemente, aos partidos que alcançam o Governo, os seus dirigentes ocupam-se do Governo e tendem a esquecer, um pouco, o partido que os apoia.
Com o PS, esta quase regra repetiu-se.
Daí que, numa perspectiva difícil, seja importante, direi mesmo decisivo, mobilizar o partido, insuflar-lhe confiança e ideologia e, sobretudo, explicar com clareza, a todos os militantes, pedagogicamente, qual a estratégia que vai ser seguida e porquê.
Há pouco tempo para isso:
um ano, aproximadamente. Mas, se o fizer, o PS está ainda a tempo de ganhar as próximas eleições legislativas, as que verdadeiramente contam para o futuro do PS e do País.
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