Sexta-feira, 9 de Julho de 2010

As jornadas parlamentares do PS tiveram - presumo que por convite - a presença da esquerda oficial ou oficiosa do partido, tirando Manuel Alegre que já se deve achar "presidencial" de mais para estas coisas. Mas bastou quem estava: estavam Mário Soares, como é óbvio, Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso, Pedro Adão e Silva, António Costa, João Proença e até o ambíguo António Vitorino. O que vieram dizer estas figuras? Como se verá, não vieram dizer nada de prático, nem traziam um programa ou sequer uma preocupação comum. Se alguma coisa as juntava era um sentimento. Todas sabem que a política de Sócrates vai fazer, ou já fez, do PS um partido execrado em Portugal e agora andam todas timidamente à procura de evitar o inevitável ou, pelo menos, de não se comprometer em pessoa com o pior do que se prepara.

Mário Soares foi o mais radical: o que se compreende. Citando Krugman, o seu novo guia, deu a estratégia económica de Bruxelas por "obsoleta" e destinada a liquidar "o modelo europeu". Pediu mesmo uma aliança ibérica para combater o "neo-liberalismo" da "Europa", ou seja, em primeiro lugar, o da sra. Merkel e da Alemanha. O dr. Mário Soares não precisa de se importar excessivamente com a realidade. O resto desta esquerda, constrangida e triste, precisa de a reconhecer. Ferro Rodrigues, por exemplo, admitiu sem entusiasmo a necessidade da política de Sócrates. Mas tanto ele como a gente que falou a seguir não se esqueceu de acrescentar o tropo obrigatório da "equidade social". Um conceito que, de resto, nunca explicou a sério como se propunha aplicar.

0 facto é que o PS se meteu cegamente numa situação em que é obrigado a governar contra o que sempre jurou que defendia. Não se trata hoje de saber se a "mensagem cor-de-rosa" de Sócrates passa ou não passa? Ou se "passaria" melhor um "pessimismo" informado e duro, como sugeriu João Proença? Como não se trata de saber se é pura "aberração" que um Orçamento socialista, como o de 2011, inscreva "tectos" para "despesas sociais" (7100 milhões de euros), por muito que isso pareça um horrível regresso à "caridadezinha". A esquerda do PS perdeu imenso tempo com isto nas jornadas parlamentares. Só não discutiu o essencial: quer ou não quer tomar a responsabilidade da crise (para que, aliás, largamente contribuiu)? E, se não quer, por que razão se não separa de Sócrates.

 

Público 09-07-2010


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Publicado por Izanagi às 11:39 | link do post | comentar

5 comentários:
De só agora PS... quer virar prá esquerda ? a 12 de Julho de 2010 às 12:30

Paulo Pedroso apela ao PS para não desistir de ter aliados à esquerda
Público, 06.07.2010 - Por Maria José Oliveira
O ex-ministro socialista alertou hoje que é necessário “desbloquear” a esquerda democrática em Portugal. E isso passa por ter aliados à esquerda e por “alternativas sólidas aos governos de maioria absoluta”.
Pedroso defende que o PS se deve reaproximar dos movimentos sindicais (Nuno Ferreira Santos)

Na primeira sessão das jornadas parlamentares do PS, que hoje terminam, na Assembleia da República, Paulo Pedroso fez um discurso de auto-crítica que se centrou na necessidade de o PS se reaproximar dos movimentos sindicais e de não ter receio de procurar entendimentos à sua esquerda.

“O PS tem de carregar o peso das medidas sozinho ou em ‘coligação Europa’, que, no caso português, se manifestou na constituição do Bloco Central, entre 83 e 85”, afirmou, lançando depois o desafio aos socialistas: “Não temos aliados à nossa esquerda que percebam os dramas que o país enfrenta, mas não podemos desistir de os ter.”

E argumentou: “Para desbloquear a esquerda democrática portuguesa é preciso também que haja alternativas sólidas aos governos de maioria absoluta”, referindo depois que este apelo não se dirige apenas ao PS, mas também aos restantes partidos da esquerda (Bloco e PCP) “para que aceitem o princípio da realidade, a opção europeia do país, para que sejam capazes de gerir as lideranças e saber o que é necessário”.

Momentos antes, Paulo Pedroso tinha alertado para os efeitos prejudiciais do distanciamento do PS em relação ao movimento sindical, chegando mesmo a afirmar que não iria provocar o “embaraço” de perguntar quantos deputados estiveram ou estão ligados a sindicatos.

“Temos de revisitar a nossa agenda sindical”, disse, realçando a importância da actuação dos sindicatos numa democracia de mercado.


De . a 12 de Julho de 2010 às 12:33
« Cuidado que vêm aí os neoliberais ! »

Ao fim de cinco anos a ser a ala esquerda do neoliberalismo, José Sócrates descobre-se subitamente um defensor do «Estado Social» e até do «Estado Providência» (maiúsculas no original), e que «não contem [com ele] para pôr o neoliberalismo na Constituição». Pois não: as parcerias público-privado nos hospitais; a queda dos impostos sobre a banca; o combate à crise pelo corte de prestações sociais; a «desestatização» da escola pública; as privatizações - todas estas foram medidas neoliberais dos governos socráticos que não necessitaram de revisões na Constituição para serem aplicadas. Mas quando vê os seus ex-companheiros da JSD Portas e Coelho a carregarem no acelerador, Sócrates pisca o olho à esquerda.


Paciência. Com ele, já ninguém acredita. Com outro, que tirasse as devidas consequências ao nível das alianças partidárias, talvez.
Publicado por Ricardo Alves, esquerda-republicana


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