Todos os anos - diz a revista Science et Vie de Julho - 350 milhões de hectares de vegetação são atingidos por incêndios, sendo que 150 a 250 milhões de hectares referem-se a florestas tropicais.
Os espaços queimados permitem a rápida ocupação do terreno por espécies vegetais ou animais sobreviventes e a floresta retoma o seu ciclo de crescimento algumas semanas depois, dado que nuns casos a raízes não foram afectadas e rapidamente da parte mais baixa dos troncos começam a emergir ramos novos. Um incêndio produz a esterilidade do solo até uns 5 a 10 cm de profundidade e o vento veicula sempre um vasto conjunto de insectos, cuja matéria orgânica fertiliza num instante os solos. A chamada chuva de insectos do fim do verão e outono pode atingir os 90 kg por hectare.
A camada cortical externa dós troncos de árvores oferecem um isolamento térmico suficiente para evitar a morte da espécie em causa.
A biodiversidade nunca foi posta em causa pelos incêndios, pois a natureza é capaz de ocupar com novas espécies os espaços deixados livres por outras. A natureza não conhece o equilíbrio; há sedmpre espécies dominantes que impedem a vida de outras. Acontece com as árvores de grande porte que dominam um dado solo, evitando que aí outras espécies possam sobreviver.
De qualquer modo e apesar da mundialização dos incêndios, estes não deveriam ter lugar em tal magnitude. Em muitos países sabe-se que os incendiários querem pôr a sua terra no mapa, ou antes, na televisão e noutros casos tratam-se de pastores para quem a floresta impede a formação de prados naturais para alimentar os seus animais.
Em Portugal verificámos dois acidentes pirotécnicos a demonsytrar que as fábricas estão a trabalhar em força na produção de foguetes para as típicas festas organizadas nas aldeias pelos emigrantes de retorno estival. Com o tempo seco e quente, nada melhor para atear fogos que os foguetes e bombas pirotécnicas. A própria comercialização do material pirotécnico deverá ser proibida no verão.
O mapa mostra que não há um problema português de fogos florestais, mas mundial e que nem tem muito a ver com as mudanças climáticas.
Estive recentemente em Hamburgo e na costa báltica alemã com um calor tremendo. As águas do Báltico estavam tão quentes como as do Algarve, mas recordo também que entre o 28 de Julho e o 3 de Agosto de 1943 a temperatura em Hamburgo foi igualmente da ordem dos 34 a 36ºC, pelo que os ingleses aproveitaram o calor e a seca para bombardear a cidade com bombas incendiárias de gasolina gelificada e fósforo, provocando um tal incêndio que destruiu mais de 80% da cidade e matou para cima de 250 mil civis sem atingir os grandes bunkers de cimento armado onde eram construídos os submarinos e onde se refugiaram os engenheiros e operários..
Não venho aqui escrever sobre o protocolo assinado há uns meses pelos ministros da Administração Interna, do Trabalho e da Agricultura para que mil desempregados pudessem trabalhar juntamente com autarquias e outros organismos na limpeza da floresta e que não foi cumprido. Não venho aqui escrever sobre aquilo que o Governo pode ou não fazer mais para evitar que os incêndios destruam o melhor que temos no nosso país, que é a floresta. Não venho aqui escrever sobre as memórias que guardo dos passeios por Vilarinho das Furnas, dos banhos tomados nas cascatas do rio Homem, dos garranos que correm pela serra do Gerês, dos bois que por ali pastam, dos lobos que se ouvem ao longe e dos marcos miliários que sinalizam a estrada romana que outrora ligava estas pequenas povoações à Galiza. Não venho aqui escrever sobre a paz que a natureza nos transmite quando a procuramos para nos encontrarmos a nós próprios. Não venho aqui escrever sobre a importância de educarmos os nossos filhos a respeitar o meio ambiente e a olharem para as árvores e para os rios como se fossem o pilar das suas próprias vidas. Não venho aqui escrever sobre a necessidade de haver mais educação para a cidadania nas escolas. Não venho aqui escrever sobre as campanhas de alerta para a protecção da natureza que deviam ocupar mais espaço nas televisões, nos jornais, nas rádios e em cada um de nós. Não venho aqui escrever sobre os anónimos, voluntários e tantos cidadãos invisíveis que se preocupam com o que os outros massacram. Não venho aqui escrever sobre a revolta que devia provocar em todos nós o facto de a prevenção ser a única arma que pode evitar a destruição da fauna e da flora e de vermos que ninguém faz nada e que muito poucos se indignam. Não venho aqui escrever sobre um movimento que nasceu em defesa da Arrábida e das praias em seu redor por ver que o lixo e a desertificação ameaçam uma das mais fantásticas reservas de vegetação mediterrânica da Europa. Não venho aqui escrever sobre os plásticos, os restos de entulho, as latas, as garrafas, sofás velhos, pneus, colchões, fraldas descartáveis e tudo o mais inimaginável que encontramos todos os dias num qualquer pinhal deste país. Não venho aqui escrever sobre a utilização da floresta para o turismo ecológico que está tão de moda no mundo inteiro. Não venho aqui escrever sobre o nemátodo do pinheiro, uma doença que faz com que Portugal esteja de quarentena na exportação de madeira (olhem para os pinheiros, vejam como secam e conservam essa grande dignidade de morrer de pé!). Não venho aqui escrever sobre nada que todos não saibamos, mas esta é uma das armas que tenho para tentar defender o que é de todos.
Por MARIA DE LURDES VALE, no DN de hoje
De
DD a 15 de Agosto de 2010 às 20:23
A limpeza das matas e campos é de todo impossível na realidade prática. Claro, na teoria dos textos tudo é possível. Mesmo com mil desempregados ou mais.
A mundialização do fogo significa que não há neste aspecto um problema português, uma negligência portuguesa, uma malvadez portuguesa ou seja o que for. Há sim um fenómeno repetido suscessivamente em todas as latitudes, quadrantes e hemisférios do Mundo.
Quaisquer que sejam as causas, o Estado é chamado a intervir com mais pessoal, mais viaturas, helicópteros, aviões, etc. Não há aqui espaço para redução de despesas como não há noutros sectores.
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