Quinta-feira, 7 de Outubro de 2010

Não aos chicos-espertos!
Não aos chicos-espertos vindos da estranja, ainda que falem bom português, tentar ensinar aos tontos dos portugueses que o necessário é o que o Governo está a propor; e calam tudo quanto ao que o Governo esbanja!
Não aos que dizem que Portugal não precisa do FMI – que diz Portugal precisar de cortar na despesa – e logo se agarram como náufragos à OCDE – será mesmo a OCDE ou um amigo de ocasião? – quando esta aparece a dizer que devem ser aumentados os impostos!
Não aos que associam o corte na despesa do Estado apenas às despesas com a Saúde e a Educação, quanto há tanto onde cortar!
Não às ameaças veladas de abandono da governação, pensando assim suscitar nos cidadãos um assustador sentimento de orfandade!
Não às cortes dos Reis Sol que temos por aí em profusão!
Não aos institutos e fundações e assessores e consultores e fiscais e relatores e parentes e amigos e camaradas e simplesmente conhecidos que mamam despudoradamente o suor dos portugueses recolhido nos impostos!
Não aos desmandos das empresas públicas onde o dinheiro – nosso, não deles – tem menos valor do que as lentilhas!
Não aos salários astronómicos de gestores públicos que apenas sabem endividar-nos!
Não aos automóveis topo de gama a pavonearem-se por essas ruas sempre que os presidentes dos institutos e das fundações, os assessores, os consultores, os fiscais, os relatores, os amigos, os camaradas ou os simplesmente conhecidos precisam de ir ali à esquina comprar rebuçados para a tosse ou a última edição do Expresso!
Não às indemnizações chorudas aos fugitivos do barco (e das responsabilidades que seguramente têm), mesmo no caso de sendo deles a iniciativa!
Não à luta pelo Poder que despreza os remédios que, sem dúvida, temos!
Não à incompetência governativa que encontrou na crise internacional um argumento – e apenas um argumento – para mascarar a sua incompetência, como provam a crise internacional que já lá vai e a nossa que se aprofunda!
Não à admissão de mais, um só que seja, funcionários públicos!
Não aos impostos escondidos na factura da EDP, na factura da água, no tabaco, na gasolina (oh! Na gasolina!), nas portagens das SCUTS, nos automóveis; queremos saber a cada momento todos os impostos que pagamos!
Não ao confisco que aumentar os impostos sobre a última área onde ainda é possível fazê-lo com garantias de cobrança – as casas das pessoas – representará!
Não aos governos que, sucessiva e apressadamente, estão a liquidar o Estado Social, por mais juras que façam de que estão a defendê-lo!
Não a um Estado glutão, comilão, devorador, permanentemente esfomeado, sustentador da preguiça, mais do que isso, promotor da preguiça, um Estado impiedoso, injusto e, por isso, indigno de compreensão!
Não ao politicamente correcto pelo qual escorregamos em direcção ao abismo!
Não aos que, subitamente, deixaram de acreditar na capacidade do Povo para resolver qualquer crise política e recusam artificiosamente entregar ao Povo a sua resolução!
Não aos que, sejam eles quem forem e estejam em que cargo estiverem, preferem assistir a uma morte lenta no charco da estabilidade política, em vez de sujeitar o país a uma sangria violenta que possa fazer voltar rapidamente a saúde!
Não aos hipócritas que dizem por aí “estamos muito mal” e logo acrescentam “mas portemo-nos bem, porque se não nos portamos bem ainda é pior”!
Não aos iluminados, mas daltónicos, ex-gerentes do passado!
Não aos senadores da República para quem tudo está bem se quem “lá” está são os “nossos” e que no passado não hesitaram, por muito menos, em sair à rua para derrubar governos tanto ou mais legítimos que o actual e seguramente muito mais competentes!
Não à legitimidade do “25 de Abril” e da “liberdade” de que alguns parecem arvorar-se, quais cadáveres ambulantes nos trilhos de um sombrio futuro!
Não a poetas sonhadores que, da realidade, pouco mais entendem do que o lugar do sol poente; mas que não sabem ser aí o Oeste, logo desconhecendo onde está o Norte!
Não aos editores do passado que recriam agora os tempos da Primeira República!
Não a este alvoroço diário que, tirando-nos todos os bens, nos retira ainda a tranquilidade moral de sabermos que quem está a trabalhar para vencer as dificuldades é sério!
Não aos Partidos Políticos a funcionarem deste jeito; encontrem outro, porque se persistirem neste, não escapam à classificação de serem o cancro da Democracia!

***

A minha alma sonha dizer SIM a alguém, a alguma coisa. A algo que acenda uma réstia de esperança para o resto dos meus dias. Penso que é um sentimento comum a este Povo ordeiro, cordato, quase prazenteiramente sofredor quando tem esperança, ao qual pertenço. Um Povo que, por séculos de escuridão, tem tendência para embarcar mais na nave da retórica balofa do que na razão plena. Um Povo a quem querem fazer acreditar que o “25 de Abril” lhe deu a palavra, quando assim não foi. Desde 1789 que a palavra é do Povo. O “25 de Abril” apenas devolveu ao Povo a palavra que o comportamento dos gestores dos primeiros quinze anos da República – tão parecido com o dos próceres de agora – havia conduzido à sua mutilação. Sonho dizer SIM e apenas encontro razões para dizer NÃO.
O pensamento politicamente correcto está a matar-nos o futuro. Mas nenhum dos personagens da nossa vida colectiva, política, social, parece entendê-lo. É necessária uma revolução do pensamento. É necessário exigir a verdade e falar a verdade. Porque, se assim não for, não estará longe o dia em que uma legião de abandonados na praça pensará em uníssono: “mas porque raio havia de suceder-nos aquilo dos Cravos?

Por Magalhães Pinto, em VIDA ECONÓMICA, em 30/9/2010


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Publicado por [FV] às 22:32 | link do post | comentar

1 comentário:
De DD a 10 de Outubro de 2010 às 23:09
Por causa de textos deste é que eu não compro o jornal "Vida Económico" nem qualquer outro à exceção do Expresso.
Este é um texto de propaganda política próprio de um folheto de campanha eleitoral para ser distribuido gratuitamente à saída do Metro. Não merece o meu dinheiro, tal como a imprensa escrita não merece nem recebe os dinheiros de um mercado que deixou de existir.
Todos os dias viajo duas vezes no Metro e nunca vejo alguém a ler um jornal comprado, apenas vejo os gratuitos como o Destak e o Metro que também dou uma vista de olhos para logo deitar fora, mas nunca para chão. Tenho sempre o cuidado de os colocar no local próprio para os papéis.


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