A dieta , por Daniel Oliveira
O Estado é gordo.
É isto que temos ouvido vezes sem conta. Tantas vezes dito por gente que, de uma forma ou de outra, viveu quase sempre à sombra dele. Como os católicos não praticantes, só se lembram de Deus na hora do sufoco.
Agora, que vai haver cortes a sério, é que vamos tirar a prova dos nove.
Veremos se o sector privado vai finalmente gastar qualquer coisa que se veja em investigação e desenvolvimento quando não tiver as universidades públicas para fazer esse trabalho.
Quero ver se as empresas começam a usar a lei do mecenato à cultura porque isso lhes dá prestígio.
Quero ver se em vez de mamarrachos encomendados a engenheiros do gabarito de José Sócrates vai haver encomendas dos privados a arquitetos que não destruam a paisagem.
Quero ver os hospitais privados a tratarem do que é caro e dá prejuízo.
Empresas a apagar fogos. A garantir escolas economicamente acessíveis.
E quero ver os privados a contratar as pessoas mais qualificadas deste país.
É que não é por acaso que a média salarial no Estado é mais alta do que no privado. Grande parte dos mais escolarizados é para lá que vai. A maioria das empresas, em Portugal, prefere o que é barato e descartável.
Agora sim, vamos poder ver as maravilhas do Estado mínimo que nos andam a vender há anos.
Quando faltarem polícias na rua, não resmungue.
Quanto não houver meios para combater os fogos, não se indigne.
Quando as escolas e cresces fecharem, as universidades se transformarem em depósitos ainda mais inúteis e não houver gente qualificada para trabalhar em lado nenhum, sorria.
Quando fecharem os centros de saúde e comprar medicamentos para ficar vivo for um luxo, não se apoquente.
Morra sabendo que o Estado sempre foi o culpado de todos os nossos males. E maravilhe-se com a sua elegância depois de uma boa dieta.
O que me espanta, o que sempre me espantou, é haver tantos, entre os que devem à maternidade pública o seu nascimento seguro, à escola pública quase tudo o que sabem, à universidade pública a sua ascensão social e cultural, ao Estado a sua segurança e ao hospital público a sua sobrevivência, a pedirem o seu emagrecimento.
Uns são apenas egoístas:
garantida que está a sua condição, os outros que façam pela vida. Outros são só parvos.
Esses vão ver agora como elas mordem.
Publicado na edição de 23 de Outubro do Expresso
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