Em muitas situações, a deriva dogmática alimenta-se, paradoxalmente do que, à primeira vista, poderia parecer o seu antídoto mais eficaz: a razão.
O título do presente artigo bem poderia servir como uma apressada definição de dogmático. Definição que destaca, de entre os diferentes traços que convergem na figura, o de que o dogmático nunca se reconhece a si mesmo como tal. Talvez porque (interessadamente?) tende a confundir dogmatismo com fanatismo, que é a atitude característica de quem se liga às suas ideias ou princípios com tanta veemência como falta de espírito crítico, e isso faz sentir-se ao dogmático como imune a essa imputação.
O que caracteriza o dogmático não é tanto o facto de que não está disposto a debater, como a forma em que planeia o debate. Repare que digo “forma” porque no fundo, em certo sentido, poderíamos considerar que está claro: o dogmático entende que o conjunto das suas opiniões não admite contradição nem controvérsia (de facto é assim que surge definido no dicionário da Língua portuguesa da Porto Editora:” diz-se da pessoa que não admite contradição; peremptório nas suas opiniões). Sem dúvida, ao contrário do fanático, não aceita que a sua inflexibilidade seja devida a nenhuma abdicação da sua capacidade reflexiva, nem crê que a ausência de toda a dúvida deva atribuir-se á adesão a dogma algum, mas apenas que, ao contrário, tende a interpretar a própria firmeza como prova inequívoca da solidez das teses que defende.
Em que se reconhece então o dogmático? Desde logo em que, visto que não pode enclausurar as discussões com nenhum recurso do tipo: “Até aqui podíamos chegar!” “mas você, por quem me tomou?”, “nesse caso, terminamos!” (ou outras modalidades de morte súbita do debate com as quais os fanáticos de qualquer sinal obstruem a possibilidade de que sejam colocadas em questão as suas mais profundas convicções) acostumaram-se a recorrer a um tipo de estratégia, em aparência mais respeitosas com as regras do jogo da livre discussão, mas orientado a um único fim, a saber: o de desactivar as críticas.
Em alguma ocasião propus descrever o dogmático como aquele tipo que, a qualquer objecção que se coloque, responde sempre e sem qualquer vacilação “mais a meu favor”. Pretendo assinalar com esta descrição que, ainda que o próprio dogmático esteja acostumado a ignorá-lo, este procedimento em última análise poderia ser alvo de críticas dele mesmo. Popper, quem em reiteradas ocasiões, assinalou que o traço mais característico das doutrinas metafísicas (especialmente as inspiradas na doutrina hegeliana), é precisamente o facto de que são capazes de neutralizar qualquer elemento eventualmente falsificador da sua doutrina, dar-lhe a volta, fazê-lo jogar a seu favor e convertê-lo em prova da sua verdade.
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