Sexta-feira, 7 de Janeiro de 2011

 BPN - esclarecer ou não esclarecer   ( Ana Gomes )

 

     Os apoiantes do Prof. Cavaco Silva sustentam que o BPN não interessa na campanha eleitoral. Ora, é em boa parte devido ao buraco BPN que os portugueses vão sofrer em 2011 um orçamento draconiano, que inclui cortes nos salários da função publica, cortes nas pensões, cortes em benefícios sociais e que pode encurralar-nos numa recessão. Ou, como disse ontem o apoiante-mor do Prof. Cavaco Silva, o empresário Alexandre Relvas: "o vultuoso investimento no BPN pelo Estado pela sua nacionalização… será pago pelo bolso dos contribuintes".
    Esclarecer o que se passou e o que se passa com o BPN importa: explica muito do que de criminoso e errado enterrou a economia portuguesa, descredibilizou o país internacionalmente e abalou a confiança dos portugueses na banca, no Banco de Portugal, nos políticos, nos partidos políticos, nos governantes e no Presidente da República.
    Esclarecer o caso BPN implica não ser selectivo, como o Presidente da República e candidato presidencial Cavaco Silva foi, tudo centrando na gestão do BPN nacionalizado. 
    Implica dissecar os mecanismos da gestão criminosa do BPN e as responsabilidades das administradores do BPN, que incluiam vários correligionários e financiadores das anteriores campanhas presidenciais do Prof. Cavaco Silva como Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Daniel Sanches, Arlindo Cunha, Joaquim Coimbra e Abdool Vaakil. 
    Implica esclarecer como foi possível perdurar essa gestão criminosa por falta de supervisão adequada do Banco de Portugal e de ilustres economistas sempre atentos, como o ex-Primeiro Ministro Prof. Cavaco Silva – sabendo-se que já em Marco de 2001 a revista EXAME investigara e questionara o crescimento e as taxas de remuneração do BPN . 
    E implica esclarecer também, obviamente, como a nacionalização do BPN não serviu para resolver o buraco BPN, antes o agravou. E poderia qualquer nova administraçãoo, por mais competente que fosse, diminuir o buraco, tendo sido apenas nacionalizados os prejuízos do BPN e deixados de fora os activos da SLN, a empresa detentora a 100% do BPN?.
    Quanto à nacionalização do BPN, já o Presidente da Republica, candidato presidencial e excelso economista Cavaco Silva não pode alijar a sua co-responsabilidade – agora, em campanha eleitoral, questiona a competência da gestão do BPN nacionalizado e revela que teve dúvidas sobre a nacionalização, mas em 2008, quando a nacionalização ocorreu, nada questionou, nenhuma dúvida levantou, tratando de promulgar com invulgar celeridade a lei que decretou a nacionalização. 
    Ninguém pode responsabilizar o Presidente da República Cavaco Silva pela gestão criminosa e danosa do BPN, antes da nacionalização e antes de ele ser Presidente da República, embora o cidadão Cavaco Silva tivesse sido entre 2001 e 2003 accionista da SLN, sociedade detentora do BPN a 100%.
    Mas sabendo-se como a gestão criminosa BPN só pode ter perdurado até 2008 graças a protecções, cumplicidades e encobrimentos políticos (não só do quadrante PSD, sublinho), levantam-se questões legítimas sobre o papel do cidadão Cavaco Silva e do Presidente da Republica Cavaco Silva
    Ora, foi o Presidente Cavaco Silva quem nomeou Conselheiro de Estado o seu correligionário e gestor do BPN Dias Loureiro e nunca lhe retirou publicamente a confiança nesse cargo, (independente de não o poder exonerar, podia - e devia - tê-lo forçado a abdicar do cargo logo que começou a ser investigado judicialmente. 
    Ora, o mesmo Prof. Cavaco Silva, uma vez eleito Presidente da nossa República, apesar de ter em tempos feito lucros anormalmente suspeitos em acções da SLN e de ser um avisado economista, não pressentiu a anormalidade do funcionamento da SLN e do BPN e, ao que se sabe, nunca mexeu um dedo para apurar e por cobro à anormalidade/gestão criminosa/gestão danosa à solta na SLN/BPN
    E é o mesmo Prof. Cavaco Silva que continua a tomar os portugueses por parvos, ao jurar que nunca teve nada a ver com o BPN, só com a SLN, quando todos sabemos que a SLN era dona do BPN, e que não existiria SLN sem BPN, sem acesso ao crédito a rodos e aos negócios danosos feitos através do BPN. Negócios criminosos esses que todos os contribuintes portugueses terão agora de pagar, injustamente
    Voltando mais atrás, é estranho que o excelso economista, o político experimentado e o cauteloso pai-de-familia Prof. Cavaco Silva, não se tenha sentido alertado pela investigação da revista EXAME em Março de 2001 e, paralelamente com sua filha, tenha investido (ou mantido por mais dois anos) poupanças, na compra de acções da SLN, que controlava a 100% o BPN. E não as comprou como qualquer português as poderia ter comprado, porque a SLN não estava então cotada na Bolsa: comprou-as particularmente, porque tinha amigos na SLN.
    É tambem estranho que o cidadão Prof. Cavaco Silva e a cidadã sua filha tenham vendido as suas acções na SLN em Novembro de 2003, realizando um encaixe leonino de 140% do valor investido em dois anos. Estranho porque se trata de um lucro anormal, um lucro diferente do que auferiram outros investidores na SLN, um lucro suspeito porque a SLN continuava a não estar cotada na Bolsa. A suspeição resulta de se poder pensar que o Prof. Cavaco Silva e a sua filha foram excepcionalmente favorecidos nesse negócio particular. E se foram excepcionalmente favorecidos, importa saber por quê.
    É para desfazer essa suspeição objectiva e crua que o Presidente da República e também candidato presidencial Cavaco Silva tem de revelar através de quem comprou as acções da SLN, quando exactamente as comprou (antes ou depois da investigação da revista EXAME) e a quem as vendeu, bem como os respectivos contratos de compra e venda. 
    O cidadão Cavaco Silva não "fez mais nem menos do que fazem milhares de pessoas na aplicação das suas poupancas", (cito, de novo, Alexandre Relvas), porque poucos portugueses tiveram acesso a comprar acções de uma SLN não cotada em Bolsa e ainda menos portugueses terão conseguido lucros de 140% pela venda de acções da SLN fora da Bolsa.
    Se "quem não deve, não teme" (Alexandre Relvas dixit), porque é que o ainda Presidente da Republica e candidato presidencial Cavaco Silva continua a não esclarecer estas questões essenciais, relevantes e legítimas no contexto da campanha presidencial?



Publicado por Xa2 às 07:07 | link do post | comentar

5 comentários:
De Compromisso claro vs Não esclarecer a 7 de Janeiro de 2011 às 12:06
Campanha presidencial: quem teme esclarecer?
[Publicado por AG, CausaNossa]

... seguir na TV os programas de comentário político em que participam espectadores. Inevitavelmente o tema era a incidência BPN na campanha presidencial. Curiosamente, os defensores do Presidente Cavaco Silva afanavam-se a rejeitar a “campanha negra”, dizendo que o que era preciso era debater os desafios políticos e económicos que se colocam ao país.

Ora, não faltam oportunidades para os candidatos esclarecerem as suas posições sobre esses desafios. Como o “Inquérito do PUBLICO aos candidatos presidenciais”, que aquele jornal vem publicando.
No de hoje, pergunta-se:
“O Servico Nacional de Saude tem um défice estrutural crónico. Promulgaria um diploma que propusesse a abolição da expressão “tendencialmente gratuito” quanto aa prestação de cuidados de saúde?”

Manuel Alegre responde:
“A Constituicao da Republica consagra o direito a protecção da saúde ‘através de um serviço universal e geral e, tendo em conta as condições economicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito’.

O combate ao défice do SNS tem de se fazer pelos ganhos de eficacia, pela inovação, pelo combate ao desperdício e pelo rigor na gestão (…) Usarei todos os poderes presidenciais para impedir a descaracterização do SNS.(…) E se algum governo, seja ele qual for, ou alguma maioria parlamentar, seja de quem for, puser em causa o SNS, tal como esta consagrado na Constituicao, eu veto”.

O ainda Presidente e recandidato Cavaco Silva responde assim:
“O Presidente da Republica não deve pronunciar-se antecipadamente sobre propostas legislativas, nomeadamente de alteração constitucional, pois so assim estará acima das lutas partidárias e so assim impedira ser dado como parte no combate político”.

Ora, bolas, Senhor Presidente Cavaco Silva!
Quem esclarece e quem não esclarece, afinal?

Quem quer esclarecer os portugueses e quem teme esclarecê-los sobre esse tema fundamental que ee o financiamento do SNS?


De Izanagi a 7 de Janeiro de 2011 às 19:04
Que Manuel Alegre seja um ignorante em questões legais ainda se poderia aceitar. Mas já não a Ana Gomes.
Mas… Alegre enquanto candidato a Presidente da República, deveria conhecer a Constituição da República Portuguesa, tanto mais que se for eleito Presidente terá que jurar respeitar a CRP.
Acontece que a garantia do SNS ser tendencialmente gratuito, está expresso na CRP e a sua alteração implica uma revisão constitucional aprovada por dois terços dos deputados e quando isso acontece o PR não tem poderes para vetar a alteração. Manuel Alegre não poderia nunca vetar a alteração, porque em Portugal ainda não se vive num regime ditatorial.
Esta é a qualidade dos políticos que temos. Lamentavelmente também uma grande fatia de militantes de partidos políticos ( alguns até insuspeitos) perderam a capacidade de raciocinar, logo de criticar e converteram-se em FUNDAMENTALISTAS, onde a adoração do dogma a tudo se sobrepõe



De Ladrões à porta... a 7 de Janeiro de 2011 às 12:09
A raposa a guardar as galinhas...
[Publicado por AG, CausaNossa]

Está tudo maluco e não apenas o PSD que propôs, mas também o PS que concordou?

Que credibilidade terá a certificação das contas publicas se a presidência do Grupo de Trabalho encarregue de as fiscalizar estiver entregue a quem presidiu durante dez anos ao conselho fiscal do caso de polícia que é o BPP?

Ai, o Prof. António Pinto Barbosa é um homem sério, impoluto, dizem-me!
Será.
Mas também comprometedoramente cego, surdo e mudo.

----------------------------------
Banca desgovernada?

Se um dos principais estrangulamentos que a crise provoca na nossa economia resulta das restrições de financiamento por parte da Banca às PMEs portuguesas, que são as que mais emprego asseguram,

se as empresas a privilegiar no crédito que ainda é concedido deviam ser as empresas (com as PMEs à cabeça) que produzem bens exportáveis,

como admitir que um consórcio liderado pelo banco público CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS, vá financiar em mais de 250 milhões de euros projectos imobiliários de Luis Filipe Vieira, segundo noticia o PUBLICO de hoje?.


De .juristas/barões/negociantes/comentadors a 7 de Janeiro de 2011 às 12:19
António Vitorino com pista própria

António Vitorino está incomodado com o caso BPN marcar a campanha eleitoral.
É próprio destes grandes quadros políticos terem ideias muito próprias, sobretudo quando lhes trazem benefícios á pista própria em que correm sobretudo no domínio dos negócios
(como administradores/ consultores/ juristas de grandes empresas, como 'empresários' e intermediadores de grandes negócios públicos e como grandes lóbistas no parlamento, no governo, ...).
É o caso.
Não há que hostilizar o bloco central, pois sem ele há negócios prejudicados.

António Vitorino poderia ter sido mais transparente e dizer claramente que não apoia Alegre.
O que disse na SIC notícias é claro mas as pessoas nem sempre atingem. Onde pretendeu Vitorino chegar ao dizer: "esta eleição poderia ter sido mais disputada - com outro candidato nomeadamente do PS?

Etiquetas: António Vitorino, Desencontros, Manuel Alegre
# posted by Joao Abel de Freitas, PuxaPalavra


De Izanagi a 8 de Janeiro de 2011 às 13:45
Escreve Vasco Pulido Valente no Público:
"António Vitorino lamenta que o PS não tenha escolhido um candidato melhor; quer ele dizer na dele, mais moderado.
Concordo inteiramente com esta previsão de Vitorino, um homem que é, pelo menos, muito esperto e muitíssimo amigo dos seus interesses."

O 2º parágrafo de Vasco Pulido Valente vem de encontro ao retrato que faço de Vitorino, retrato que é partilhado por muitos militantes do PS. Contudo, muitos desses militantes, acéfalos, mudam de opinião desde que seja coincidente com a da Direcção do PS. Em muitos momentos Vitorino mostrou que o seu interesse se sobrepõe ao interesse do PS, e contudo há militantes que continuam a venerá-lo.
Vá lá saber-se porquê?


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