Quarta-feira, 26 de Janeiro de 2011

Um inquérito de resultados, muito, questionáveis

O Projecto Farol* encomendou uma sondagem de opinião que conclui(?) aspectos interessantes como seja o facto de 94% dos inqueridos desconfiarem das classes políticas; 90% desconfiarem do governo; 89% desconfiarem dos partidos; 84% desconfiarem da Assembleia da República; 76% desconfiarem dos tribunais; 75% desconfiarem dos sindicatos e igual percentagem desconfiarem da administração pública.

Quero afirmar aqui que eu não fui inquirido, o que teria aumentado tais percentagens de desconfianças além de que, também, acrescentaria a desconfiança nos empresários em pelo menos 98% e dos banqueiros em 99,9%, visto que, tanto uns como outros, são dos mais abusivamente bem pagos deste país e ao nível mundial e responsáveis pela actual situação de crise económica e social em que nos encontramos.

O curioso, em tal inquérito, é o facto de 78% dos portugueses inqueridos (não conheço ao certo qual foi o universo, entre os mais de 10 milhões, de inquiridos) que desconfiam do Estado acham, simultaneamente, que essa mesma entidade, impessoal, é o mentor da competitividade e do desenvolvimento económico.

Igualmente interessante é, também, o facto de 54% dos que têm má opinião do Estado acharem que ele tem a obrigação de apoiar iniciativas de empreendedorismo e apoiar a criação de emprego que aos detentores dos lucros empresariais mais competiria fazer.

Estranho (será?), também, o facto de tal inquérito não abordar a questão de que em Portugal, nos últimos quinze anos, se evoluiu perigosamente, para um estado social de profundas clivagens, entre os que tanto recebem e os que tudo perdem, permitindo-se níveis remuneratórios e leques salariais a raiar o absurdo e a vergonha.

*Comissão Executiva: Daniel Proença de Carvalho (Chairman), António Pinho Cardão, Belmiro de Azevedo, Jorge Marrão, José Maria Brandão de Brito, Manuel Alves Monteiro. Relatores: Ricardo Morais, Rosa Borges, Teresa Anjinho.

Lendo o manifesto de lançamento do “Projecto Farol” verifica-se que o mesmo está ligado à empresa de auditoria Deloitte, dado que o mesmo se inicia com o seguinte parágrafo: “A Deloitte comemora esta ano 40 anos de actividade em Portugal. Foi entendimento dos seus responsáveis assinalar a data com o lançamento, muito recentemente, de um Think Tank, designado Deloitte Circle. O primeiro trabalho a ser levado a cabo por esse Think Tank é designado Projecto Farol, cujo lançamento e respectivas linhas força são hoje dados a conhecer através do presente documento.” Esse documento é um manifesto.

A Deloitte, como quase toda a gente sabe, embora tenha parcerias de cooperação em projectos de solidariedade social, nomeadamente com a Unicef e AMI, também tem alguns pés de barro e telhados de vido, ou não fosse ela de origem inglesa, país que serve de lança americana no coração da Europa para tudo o que sejam estratégias de crescimento económico.

Concluindo, não á ponto sem nó nem são servidos almoços de borla. 


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Publicado por Zé Pessoa às 00:09 | link do post | comentar

2 comentários:
De Zé T. a 26 de Janeiro de 2011 às 09:56
Post pertinente e excelente análise .

Para quem ainda tivesse algumas dúvidas sobre os ''estudos'' que por aí se fazem

(: com premissas erradas ou deficientes;
com métodos altamente duvidosos mas bem ''embrulhados'' em requintado/ requentado palavreado pseudo-científico e neologismos modais;
com alguns cabeças ou nomes sonantes a emprestar-lhes/vender-lhes ''credibilidade'';
com resultados/ conclusões encomendadas/pagas, ao serviço de alguém ou promotoras de determinadas ideias, políticas, opiniões, comportamentos...)

Parabéns Zé Pessoa.


De Farol da Direita a 26 de Janeiro de 2011 às 11:42
Este ''Farol'' só ilumina para a Direita ou só 'avisa' quem vem ou está na Direita.


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