Aqui no LUMINÁRIA, provavelmente, nem sempre nos darão a atenção que julgamos merecida, muita presunção da nossa parte, claro está. Mas, será que darão ao mais destacado “Senador” da nossa democracia, Mário Soares, que na sua habitual e mais recente crónica no DN afirma, entre outras importantes reflexões que “Para o PS português, é o momento, também, de fazer uma reflexão aprofundada. Para dar um novo impulso à sua participação na vida política (independentemente do Governo), com mais idealismo socialista e menos apparatchik, mais debate político e menos marketing, mais culto pelos valores éticos e menos boys que só pensam em ganhar dinheiro e promover-se, enfim, mais voltado para o futuro e menos para o passado. É que um PS dinâmico, pluralista e voltado para o futuro - que a sociedade civil respeite e admire - faz falta a Portugal e ao Governo.”
É um momento já algo tardio. Muitos vícios, maus hábitos e corrupção a rodos se poderiam e deveriam ter evitado se o agora desígnio sugerido por Mário Soares se não tivesse perdido de vista e sempre tivesse sido uma prática, de um partido dito socialista que sempre deveria ter pergaminho por tais princípios. Todavia, sempre valerá mais tarde que nunca, se é que é desta vez. Quem acreditará?
A dado passo escreve que “...Na verdade, há aqui um problema, que a crise global tornou claríssimo, e que é preciso resolver, quanto antes, para que a União Europeia saia da paralisia e da crise em que tem vivido. É que a União Europeia está dividida: entre os Estados da Zona Euro e os Estados que não pertencem ao euro e vêem a União como um simples mercado de livre-câmbio. Ora, os dirigentes europeus, maioritariamente conservadores, têm-se recusado a ver esta realidade e procedem como se não existisse.”
E aponta como sair dessa crise afirmando que “Como tenho escrito, só vejo uma maneira: estabelecer que os Estados que não pertencem ao euro não têm de ter voto nas questões que se referem à moeda única, nem podem travar o avanço do projecto da União, em domínios como: a construção europeia do futuro; uma Europa cidadã e política, com uma identidade social própria (que, reconheça-se, faz a inveja do mundo); regras claras e obrigatórias para todos os Estados-membros da Zona Euro, no plano não só financeiro mas também económico, fiscal, social e ambiental; com regimes eleitorais e datas comuns quanto às eleições, não só para o Parlamento Europeu mas também para os respectivos parlamentos nacionais.”
Porque será que os políticos, actualmente no poder nos vários países da União Europeia, não têm tão elevado grau de lucidez? É que se o tiverem não têm feito dele o uso devido, saiam do marasmo, em que se deixaram cair, e tomem medidas, para bem desta mesma Europa, dos cidadãos que nela habitam, do mundo e de voz mesmos. Tenham alguma auto-estima.
De A Europa condiciona o resto . a 4 de Fevereiro de 2011 às 13:40
SOARES É FIXE !
[Publicado por AG, CausaNossa]
Podemos ocasionalmente não coincidir numas miudezas plebeias, mas a minha concordância com a magistral análise de Mário Soares sobre
para onde vai a Europa, e
para onde devem ir o socialismo democrático e
os socialistas portugueses,
é total !
É para ler, reler, meditar e recomendar o artigo
"A EUROPA CONDICIONA O RESTO"
que Mário Soares publicou anteontem 1.2.2011 no DN.
( em : http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1772050&seccao=M%E1rio%20Soares&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco&page=-1 )
De 'Senador' M. Soares a 4 de Fevereiro de 2011 às 13:47
1. A União Europeia começa a dar ténues sinais de mudança. Na semana em curso, os líderes europeus vão reunir-se no Conselho Europeu, para debater os problemas da energia e da inovação. Mas, informalmente, irão também abordar o problema do reforço do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), para defesa do euro e para conter o apetite devorador dos mercados especulativos. É um começo.
Realmente, tanto o Presidente Sarkozy como a Chanceler Merkel apressaram-se a dizer, contra a política até agora seguida, peremptoriamente (cito): "que não deixariam cair o euro". Ainda bem. Mas houve uma nuance importante relativamente à Chanceler alemã. Acrescentou: "o problema não é do euro mas, sim, das dívidas soberanas". O que - note-se - não é exacto, porque é através das dívidas soberanas que os especuladores querem destruir o euro, objectivo final dos mercados. Como o primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, compreendeu desde o início, quando propôs, com perfeito conhecimento de causa, que era preciso criar obrigações europeias para defender os Estados em dificuldades e, assim, conter os ataques especulativos ao euro e, em consequência, assegurar a continuidade do projecto europeu. Ou seja: a unidade e a solidariedade entre os Estados-membros da Zona Euro, tendo uma visão concertada quanto ao seu progresso futuro. Evitando as recessões - e o desemprego - que ameaçam vários Estados da União. Ainda ontem o banqueiro Ricardo Salgado voltou a apelar nesse sentido.
Na verdade, há aqui um problema, que a crise global tornou claríssimo, e que é preciso resolver, quanto antes, para que a União Europeia saia da paralisia e da crise em que tem vivido. É que a União Europeia está dividida: entre os Estados da Zona Euro e os Estados que não pertencem ao euro e vêem a União como um simples mercado de livre-câmbio. Ora, os dirigentes europeus, maioritariamente conservadores, têm-se recusado a ver esta realidade e procedem como se não existisse.
Como sair dela? Como tenho escrito, só vejo uma maneira: estabelecer que os Estados que não pertencem ao euro não têm de ter voto nas questões que se referem à moeda única, nem podem travar o avanço do projecto da União, em domínios como: a construção europeia do futuro; uma Europa cidadã e política, com uma identidade social própria (que, reconheça-se, faz a inveja do mundo); regras claras e obrigatórias para todos os Estados-membros da Zona Euro, no plano não só financeiro mas também económico, fiscal, social e ambiental; com regimes eleitorais e datas comuns quanto às eleições, não só para o Parlamento Europeu mas também para os respectivos parlamentos nacionais.
Reparem os meus leitores apegados a velhos preconceitos: os melindres e as preocupações quanto às soberanias nacionais pertencem ao passado. Num mundo globalizado, em que a América do Norte, os colossos emergentes e os que estão para o ser são cada vez mais fortes, a União Europeia, para sobreviver, como grande potência multi-estadual na cena internacional tem de estar unida e ter mecanismos de decisão rápidos. Assim, as soberanias, no quadro da União, são - e devem ser - partilhadas, tendo princípios comuns e obrigatórios para todos: a igualdade dos Estados-membros e a unidade e a solidariedade entre todos. É o que nos exige o século xxi, e temos de o perceber. Porque o dilema é fácil: ou a União toma medidas urgentes neste sentido, ou entrará numa irremediável decadência. É por isso necessário que a Alemanha compreenda rapidamente que, por mais rica que seja, isolada não representa nada em relação aos colossos emergentes. E ainda que com uma Europa desintegrada, a Alemanha será vista como um factor de desconfiança pelos Estados europeus e perderá muito do potencial de produção de riqueza que hoje tem. Visto que as suas exportações para os outros países europeus cairão a pique...
É tempo, pois, que todos os Estados da União compreendam o que a crise global nos está a sugerir e procedam em conformidade. Não esqueçamos os ensinamentos da História e como a Alemanha nazi nos conduziu à Segunda Guerra Mundial.
2. A Europa, dos anos da Rev....
De . a 4 de Fevereiro de 2011 às 13:49
...
2. A Europa, dos anos da Revolução dos Cravos, era governada pela família do socialismo democrático, ou, como dizíamos, do socialismo em liberdade (socialistas, social-democratas e trabalhistas) e pela família democrata cristã, que era essencialmente europeísta e partidária da doutrina social da Igreja. Contudo, estas duas famílias político-ideológicas, depois do colapso do comunismo e do advento do neoliberalismo americano, deixaram-se converter pela "terceira via" e pelo domínio dos mercados, tendo por único valor o dinheiro, em vez das pessoas, de acordo com os sinais do tempo. Resultado: a maior parte dos partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas perderam o poder - para governar à direita são melhores e os conservadores - e os partidos democratas-cristãos, com raras excepções, esqueceram a doutrina social da Igreja e transformaram-se em partidos populares, situando-se na extrema-direita do espectro político. Ambas as famílias perderam a influência que tinham e, em certos países europeus, pura e simplesmente desapareceram. Foram os anos em que os politólogos americanos proclamaram o "fim da História" e o "desaparecimento das ideologias" (à excepção, claro, da neoliberal).
Mas o mundo é feito de mudança, como escreveu Camões, num soneto célebre, e as circunstâncias, por mais contraditórias que pareçam, impõem-nos transformações inesperadas. É o que penso estar a acontecer com a crise global que nos afecta. Está a obrigar, pela força das coisas, a União Europeia, sem o desejar, a mudar de paradigma de desenvolvimento, para usar a expressão do Presidente Obama.
Não falarei, naturalmente, da família democrata-cristã, a que não pertenço. Mas tão-só da família socialista, a que me sinto, apesar de tudo, ligado. E a situação é simples: ou muda de comportamento - e compreende as inquietações do tempo presente e dá respostas às necessidades dos trabalhadores, dos desempregados e dos desfavorecidos - ou perde a sua razão de ser. Não para dar lugar ao radicalismo de esquerda, como alguns pensam, que está duas ou três décadas mais atrasado do que o socialismo democrático (sejam comunistas, trotskistas ou anacrónicos maoistas), mas antes para beneficiar uma espécie nova de populismo de direita, que é muito perigoso, justamente pela sua ausência de ideologia e de valores éticos...
Julgo, assim, que socialismo democrático vai ter uma nova oportunidade, se souber renovar-se e adaptar-se às mudanças de hoje: nos domínios da ciência, das tecnologias, da informação, do trabalho, da educação para todos, dos direitos individuais e colectivos e dos próprios Estados, nas suas relações com a sociedade e as pessoas.
O mundo está em rapidíssima transformação, como todos os dias verificamos pelas notícias que nos chegam em catadupa. A União Europeia, das democracias e dos Estados de direito, tem vindo a perder o norte, nos últimos anos, sem compreender as mudanças, uma vez que os seus dirigentes, por falta de coragem, não as querem ver, instalados como estão no conservadorismo dominante. Mas a crise global está aí, a corroer o prestígio europeu, o que representa, para todos nós, europeus, um enorme e terrível desafio.
Chegou, pois, a hora do socialismo democrático se repensar, reflectindo colectivamente sobre o que representa ser hoje socialista, não só em palavras, mas, sobretudo, no domínio das realizações e dos comportamentos. Despir-se, definitivamente, da ganga do conservadorismo neoliberal, descobrir novos horizontes sociais que dêem esperança às pessoas, retomando os valores éticos, dignificando o trabalho e valorizando as transformações sociais necessárias e possíveis, num mundo em mudança acelerada, repito. Nas sociedades europeias, é indispensável e urgente lutar para a erradicação da pobreza, nomeadamente dos emigrantes, que são quem mais a sente, mas também para reduzir fortemente as inaceitáveis desigualdades sociais que existem, principalmente nos Estados periféricos, como Portugal, bem como a precariedade do trabalho.
É certo que os partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas têm vindo a ficar anquilosados, como as próprias organizações internacionais a que pertencem: a Internacional Socialista - quem a viu e quem a vê! - e o Partido Socialista Europeu. É preciso reagir e ...
De . a 4 de Fevereiro de 2011 às 13:51
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É preciso reagir e insuflar-lhes uma rajada de ar fresco que os obrigue a empunhar a bandeira dos valores éticos e ideológicos, que são os seus, com aquela ponta de utopia necessária para que as sociedades avancem. A família socialista é, hoje, indispensável para o avanço institucional da União Europeia, de modo que esta possa ocupar o papel que merece na cena internacional.
Para o PS português, é o momento, também, de fazer uma reflexão aprofundada. Para dar um novo impulso à sua participação na vida política (independentemente do Governo), com mais idealismo socialista e menos apparatchik, mais debate político e menos marketing, mais culto pelos valores éticos e menos boys que só pensam em ganhar dinheiro e promover-se, enfim, mais voltado para o futuro e menos para o passado. É que um PS dinâmico, pluralista e voltado para o futuro - que a sociedade civil respeite e admire - faz falta a Portugal e ao Governo.
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