Quinta-feira, 3 de Fevereiro de 2011
Aqui no LUMINÁRIA, provavelmente, nem sempre nos darão a atenção que julgamos merecida, muita presunção da nossa parte, claro está. Mas, será que darão ao mais destacado “Senador” da nossa democracia, Mário Soares, que na sua habitual e mais recente crónica no DN afirma, entre outras importantes reflexões que “Para o PS português, é o momento, também, de fazer uma reflexão aprofundada. Para dar um novo impulso à sua participação na vida política (independentemente do Governo), com mais idealismo socialista e menos apparatchik, mais debate político e menos marketing, mais culto pelos valores éticos e menos boys que só pensam em ganhar dinheiro e promover-se, enfim, mais voltado para o futuro e menos para o passado. É que um PS dinâmico, pluralista e voltado para o futuro - que a sociedade civil respeite e admire - faz falta a Portugal e ao Governo.”
É um momento já algo tardio. Muitos vícios, maus hábitos e corrupção a rodos se poderiam e deveriam ter evitado se o agora desígnio sugerido por Mário Soares se não tivesse perdido de vista e sempre tivesse sido uma prática, de um partido dito socialista que sempre deveria ter pergaminho por tais princípios. Todavia, sempre valerá mais tarde que nunca, se é que é desta vez. Quem acreditará?
A dado passo escreve que “...Na verdade, há aqui um problema, que a crise global tornou claríssimo, e que é preciso resolver, quanto antes, para que a União Europeia saia da paralisia e da crise em que tem vivido. É que a União Europeia está dividida: entre os Estados da Zona Euro e os Estados que não pertencem ao euro e vêem a União como um simples mercado de livre-câmbio. Ora, os dirigentes europeus, maioritariamente conservadores, têm-se recusado a ver esta realidade e procedem como se não existisse.”
E aponta como sair dessa crise afirmando que “Como tenho escrito, só vejo uma maneira: estabelecer que os Estados que não pertencem ao euro não têm de ter voto nas questões que se referem à moeda única, nem podem travar o avanço do projecto da União, em domínios como: a construção europeia do futuro; uma Europa cidadã e política, com uma identidade social própria (que, reconheça-se, faz a inveja do mundo); regras claras e obrigatórias para todos os Estados-membros da Zona Euro, no plano não só financeiro mas também económico, fiscal, social e ambiental; com regimes eleitorais e datas comuns quanto às eleições, não só para o Parlamento Europeu mas também para os respectivos parlamentos nacionais.”
Porque será que os políticos, actualmente no poder nos vários países da União Europeia, não têm tão elevado grau de lucidez? É que se o tiverem não têm feito dele o uso devido, saiam do marasmo, em que se deixaram cair, e tomem medidas, para bem desta mesma Europa, dos cidadãos que nela habitam, do mundo e de voz mesmos. Tenham alguma auto-estima.
De . a 4 de Fevereiro de 2011 às 13:49
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2. A Europa, dos anos da Revolução dos Cravos, era governada pela família do socialismo democrático, ou, como dizíamos, do socialismo em liberdade (socialistas, social-democratas e trabalhistas) e pela família democrata cristã, que era essencialmente europeísta e partidária da doutrina social da Igreja. Contudo, estas duas famílias político-ideológicas, depois do colapso do comunismo e do advento do neoliberalismo americano, deixaram-se converter pela "terceira via" e pelo domínio dos mercados, tendo por único valor o dinheiro, em vez das pessoas, de acordo com os sinais do tempo. Resultado: a maior parte dos partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas perderam o poder - para governar à direita são melhores e os conservadores - e os partidos democratas-cristãos, com raras excepções, esqueceram a doutrina social da Igreja e transformaram-se em partidos populares, situando-se na extrema-direita do espectro político. Ambas as famílias perderam a influência que tinham e, em certos países europeus, pura e simplesmente desapareceram. Foram os anos em que os politólogos americanos proclamaram o "fim da História" e o "desaparecimento das ideologias" (à excepção, claro, da neoliberal).
Mas o mundo é feito de mudança, como escreveu Camões, num soneto célebre, e as circunstâncias, por mais contraditórias que pareçam, impõem-nos transformações inesperadas. É o que penso estar a acontecer com a crise global que nos afecta. Está a obrigar, pela força das coisas, a União Europeia, sem o desejar, a mudar de paradigma de desenvolvimento, para usar a expressão do Presidente Obama.
Não falarei, naturalmente, da família democrata-cristã, a que não pertenço. Mas tão-só da família socialista, a que me sinto, apesar de tudo, ligado. E a situação é simples: ou muda de comportamento - e compreende as inquietações do tempo presente e dá respostas às necessidades dos trabalhadores, dos desempregados e dos desfavorecidos - ou perde a sua razão de ser. Não para dar lugar ao radicalismo de esquerda, como alguns pensam, que está duas ou três décadas mais atrasado do que o socialismo democrático (sejam comunistas, trotskistas ou anacrónicos maoistas), mas antes para beneficiar uma espécie nova de populismo de direita, que é muito perigoso, justamente pela sua ausência de ideologia e de valores éticos...
Julgo, assim, que socialismo democrático vai ter uma nova oportunidade, se souber renovar-se e adaptar-se às mudanças de hoje: nos domínios da ciência, das tecnologias, da informação, do trabalho, da educação para todos, dos direitos individuais e colectivos e dos próprios Estados, nas suas relações com a sociedade e as pessoas.
O mundo está em rapidíssima transformação, como todos os dias verificamos pelas notícias que nos chegam em catadupa. A União Europeia, das democracias e dos Estados de direito, tem vindo a perder o norte, nos últimos anos, sem compreender as mudanças, uma vez que os seus dirigentes, por falta de coragem, não as querem ver, instalados como estão no conservadorismo dominante. Mas a crise global está aí, a corroer o prestígio europeu, o que representa, para todos nós, europeus, um enorme e terrível desafio.
Chegou, pois, a hora do socialismo democrático se repensar, reflectindo colectivamente sobre o que representa ser hoje socialista, não só em palavras, mas, sobretudo, no domínio das realizações e dos comportamentos. Despir-se, definitivamente, da ganga do conservadorismo neoliberal, descobrir novos horizontes sociais que dêem esperança às pessoas, retomando os valores éticos, dignificando o trabalho e valorizando as transformações sociais necessárias e possíveis, num mundo em mudança acelerada, repito. Nas sociedades europeias, é indispensável e urgente lutar para a erradicação da pobreza, nomeadamente dos emigrantes, que são quem mais a sente, mas também para reduzir fortemente as inaceitáveis desigualdades sociais que existem, principalmente nos Estados periféricos, como Portugal, bem como a precariedade do trabalho.
É certo que os partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas têm vindo a ficar anquilosados, como as próprias organizações internacionais a que pertencem: a Internacional Socialista - quem a viu e quem a vê! - e o Partido Socialista Europeu. É preciso reagir e ...
De . a 4 de Fevereiro de 2011 às 13:51
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É preciso reagir e insuflar-lhes uma rajada de ar fresco que os obrigue a empunhar a bandeira dos valores éticos e ideológicos, que são os seus, com aquela ponta de utopia necessária para que as sociedades avancem. A família socialista é, hoje, indispensável para o avanço institucional da União Europeia, de modo que esta possa ocupar o papel que merece na cena internacional.
Para o PS português, é o momento, também, de fazer uma reflexão aprofundada. Para dar um novo impulso à sua participação na vida política (independentemente do Governo), com mais idealismo socialista e menos apparatchik, mais debate político e menos marketing, mais culto pelos valores éticos e menos boys que só pensam em ganhar dinheiro e promover-se, enfim, mais voltado para o futuro e menos para o passado. É que um PS dinâmico, pluralista e voltado para o futuro - que a sociedade civil respeite e admire - faz falta a Portugal e ao Governo.
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