Em 1983/1984 a fome assolava o Vale do Ave e o distrito de Setúbal. Foi o tempo em que o bispo daquela diocese peninsular, onde se situa o maior porto marítimo e as melhores praias atlânticas, Manuel Martins, ergueu a voz para denunciar o aumento significativo da praga dos salários em atraso. Essa atitude veio, mesmo entre os seus, a provocar-lhe alguns dissabores e a dar-lhe o cognome de “Bispo Vermelho”. Já poucos parecem lembrar-se de tais acontecimentos. As memórias, mais uma vez, estão encurtadas.
Foram tempos que parecem regressar agora e, com maior gravidade, visto que tanto o desemprego como a fome se disseminaram, esconderam-se e generalizaram-se abrangendo todo o pais e mesmo a Europa. No mundo são factos nunca resolvidos.
Aqueles dois anos (até em termos temporais a coisa é muito mais grave e longa) 1983/1984 ficaram marcados pelas referidas situações de desemprego e de fome, que obrigaram a cortes em subsídios e a reduções salariais impostas pelas circunstâncias e reforçadas pela obrigação dos acordos estabelecidos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que impôs um agravamento extraordinário das condições de vida dos trabalhadores portugueses.
Foram tempos de bandeiras negras, que ficaram como símbolo do protesto dos trabalhadores abraços, como agora, com o desemprego motivado por falências das empresas, pelos salários em atraso, os quais chegaram a atingir mais de cem mil trabalhadores, segundo as contas dos sindicatos, e o fraco investimento em novas áreas produtivas.
Depois de em 1977 ter assinado um primeiro acordo com o FMI, Portugal recorria pela segunda ao fundo internacional para fazer apertar o cinto aos portugueses e, concordantemente, para atacar o agravamento das contas externas que, perante o disparar da factura energética devido ao primeiro choque petrolífero, a isso obrigavam.
Além do empréstimo, conseguido com o aval do FMI, dessa vez, o país viu-se obrigado, também, a vender mais de 111 toneladas de barras de ouro das suas reservas consideradas, até então, das maiores do mundo.
O que Portugal enfrentava, nessa altura como agora, era uma dívida externa a crescer, grandes dificuldades em se financiar nos mercados financeiros internacionais e uma grave deterioração das contas externas, com o agravamento consecutivo do défice das transacções correntes.
A grave situação das contas externas levou, naquele ano de 1983, à queda do Governo da AD (PSD/CDS), provocando eleições antecipadas realizadas em Abril das quais resultou uma vitória do PS, com maioria relativa, que o obrigou a um entendimento com o PSD e à constituição de um Governo de bloco central, chefiado por Mário Soares e tendo como vice-primeiro-ministro Mota Pinto.
Assim nasceu, ideologicamente, o centrão que ainda hoje parece nos governar, seja o dito exercido por um ou por outro dos referidos partidos.
Logo que tomou posse o governo que passou a designar-se de “governo do bloco central” iniciou, de imediato, conversações com o FMI, decorrendo as negociações a partir de 18 de Julho e culminando com a assinatura de um acordo, publicado em 9 de Setembro de 1983.
As medidas tomadas pelo Governo, em acordo com o FMI, assentaram em:
- Desvalorização do escudo (12% em Junho mais uma desvalorização deslizante de 1% por mês);
- Redução das taxas sobre as importações de 30% para 10% impostas pelo OE para 1984;
- Aumento drástico dos preços de bens essenciais (incluindo pão, óleos vegetais, rações para animais, leite, açúcar, adubos e produtos petrolíferos, como refere a carta de intenções) e redução dos subsídios a esses produtos;
- Congelamento de investimentos públicos;
- descida de salários reais na função pública (“servindo de exemplo para as negociações salariais do sector privado”, como assinala a carta de intenções) e congelamento de admissões de trabalhadores;
- Subida de impostos e imposição de um imposto especial sobre o rendimento - um corte de 28% no subsídio de Natal de 1983.
No ano seguinte o governo português viu-se obrigado a rever o acordo e comprometeu-se numa com novas e mais agravadas medidas como:
- Cortes no investimento;
- Redução de salários reais;
- Aumentos de preços, nomeadamente electricidade, transportes públicos, abastecimento de água, produtos petrolíferos, oleaginosas, açúcar;
- Manutenção da desvalorização do escudo em 1% ao mês.
Se a historia se repetir será a terceira vez que Portugal terá de recorrer a negociações como o FMI e a sujeitar os portugueses a medidas draconianas cujas maiores vitimas, mais uma vês, serão os sacrificados do sistema e da sociedade injusta e desonesta em que continuamos vivendo.
De Zé T. a 3 de Março de 2011 às 12:50
Dos ''mercados/BANGSTERs'' ganciosos ao ''PÃO-e-CIRCO'' desmobilizador da UNIÃO dos Cidadãos, Governos e U.E.
Com ou sem FMI+ FundoEuropeu alguns aspectos a fixar:
- Quem assina o ''acordo'' é o governo +A.R. (que o valida),que toma as decisões/medidas .
- As medidas serão sempre e cada vez mais custosas, e a ''doer'' mais para uns do que para outros (sendo claro que os que nada têm, nada perdem; os que têm muito têm formas de o esconder sob esquemas ''legais'' de fuga ao fisco ou em empresas/contas offshores;
restam os pagantes, aqueles que têm alguma coisa - classe média e suas subclasses, principalmente os trabalhadores por conta de outrém, os a ''recibo verde'', os reformados, os pequenos empresários, naquela parte do negócio em que não puderem fugir ao fisco).
- Os ''mercados'' i.e. os especuladores, os ''BANGSTERS'' (gangsters e piratas financeiros), vão continuar a querer ganhar mais dinheiro e vão continuar a especular, comprar e vender, a jogar /alimentar o seu ganancioso vício sanguinário,
seja com títulos de ('tesouro' de) estados ''soberanos'', seja com 'bonds'/obrigações, seguros, moedas ( € £ $ ...), metais, petróleo, alimentos, medicamentos, guerras ... não tendo em consideração éticas, políticas, povos, estados, ...
- Os ''mercados/bangsters'' são piores que vampiros, sem pátria nem lei ... e fazem sangue, sangue, sangue, dor, dor, dor, ... enquanto ninguém se LHES OPÔR com força suficiente.
- E é aqui que verdadeiramente se deve atacar (pois os ''remendos''/pensos'' dos PEC, austeridades e empréstimos, não curam a ferida e levam-na à gangrena !!), mas para isso é necessário muita força/vontade política, é necessária Diplomacia e UNIÃO, especialmente daqueles que mais são atingidos pela ''crise'' dos ''Bangsters/mercados'' e pela Injustiça.
- União no Mundo (ONU, CS, OCM, ...) e/ou nos grandes blocos regionais OCDE, União Europeia, G20, G8, ...
- União nos países/estados da UE, principalmente os mais atingidos da 'Eurolândia' e os que o irão ser a seguir: GIPS + Itália, Bélgica,...+ Bálticos, Leste, ...
- União dentro de cada país (em torno de partidos/ movimentos/ sindicatos/ associações cívicas, independentes, eleitores...) que exijam políticas e medidas que favoreçam o Emprego e a Comunidade, que combatam os ''mercados/Bangsters'', os ''offshores'' e a fugas ao Fisco, a Fraude, a Corrupção, o Nepotismo e a falta de Transparência, ... e a Injustiça.
- União dos cidadãos em torno das grandes questões político-económicas, rejeitando quem os quer anestesiar com ''pão-e-circo'', com tricas, com técnicas esquemas particularismos/ preciosismos desmobilizadores e de desunião.
De «Ajuda externa » é RUÍNA, Liquidação ! a 3 de Março de 2011 às 14:16
Sorria, você vai ser LIQUIDADO
(... F M I ... )
por Daniel Oliveira (via Arrastão)
É cada vez mais provável a vinda do FMI e do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEE). Falo com muita gente que me diz: "talvez eles sejam capazes de arrumar esta casa".
Na televisão, chama-se a esta possibilidade de "resgate" e "ajuda externa".
Não deixa de ser comovente como o desespero se agarra a qualquer ilusão.
Não é difícil perceber o que nos vai acontecer.
Basta olhar para a Grécia. Basta olhar para a Irlanda.
Qual resgate? Qual ajuda externa? Basta olhar para o rasto de destruição que a intervenção do FMI deixou há alguns anos na Argentina.
A receita, sempre igual, sejam quais forem as circunstâncias e o lugar, raramente deixa o doente melhor. Só que neste caso, junta-se a fome à vontade de comer. O tempero que a União Europeia junta ao prato que o FMI costuma servir é veneno ainda mais forte.
Resume-se a isto:
ajudamos-te a pagar a tua dívida até da tua economia não sobrar pedra sobre pedra.
E quando o teu credor estiver a salvo e descansado - sim, o FMI e a Europa estão a resgatar o credor, não o devedor - tratarás tu da tua sobrevivência.
O FMI não é, nunca foi, um seguro de vida para economias periféricas em crise.
FMI e FEE apenas garantem que o moribundo paga até ao limite das suas forças.
Emprestam, apenas um pouco abaixo do mercado - mas ainda a juros especulativos - para garantir que tudo será pago sem renegociações,
única solução que poderia salvar as economias periféricas que estão a ser atacadas pelo jogo com as dívidas soberanas.
Os mercados vão ficar descansados? Sim.
Ficaram descansados quando a Irlanda aceitou o seu suicídio económico para salvar, com dinheiros públicos, bancos provados falidos pelas suas próprias aventuras.
Ficam descansados, não por confiarem na nossa economia, que ficará desfeita.
Mas porque sabem que vai haver quem nos obrigue a pagar, mesmo que isso signifique a nossa ruína.
Era assim que se fazia com as epidemias: deixava-se morrer o doente bem longe dos que estavam saudáveis.
Não vamos ser resgatados.
Vamos ser isolados e espoliados para continuarmos a pagar juros indecentes.
Como a Grécia foi. Como a Irlanda foi. Olhem para elas. Vejam como estão felizes.
Há portugueses que suspiram de alívio?
Aventurados sejam os pobres de espírito...
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