Segunda-feira, 14 de Março de 2011

Sócrates cai / Sócrates não cai

Fiz, com um meu amigo, uma aposta de um jantar para quatro e, neste caso, não há empates ou ganha ele e perco eu, ou será ele a perder e eu quem ganhará. Dois dos quatro ganham sempre, qualquer que sejam o resultado da aposta e o pagante da mesma. É o que resulta de ser testemunha.

O motivo da dita refrega é, simultaneamente, simples e complicado. O meu amigo apostou em como Sócrates não chega até ao fim do ano como Primeiro-ministro, eu arrisquei o inverso.

Não hajam duvidas que tenho, quase, tudo contra mim, mas, arrisco e como diz o Mourinho “não atiro a toalha ao chão logo nas primeiras dificuldades”.

Tenho contra mim, a continuada incapacidade e muita incompetência por parte da maioria dos governantes terem, reiteradamente, falta de rigor nas contas e muita displicência na redução de gastos supérfluos e de aplicação discriminada de más políticas na (quase sempre aos mesmos) dos sacrifícios para reduzir o deficit. Veja-se o sequito de ministros e assessores nas deslocações inaugurativas ou anunciadoras de obras, é só esbanjar erário público;

Tenho contra mim, o facto dos governos recorrerem, sistematicamente, às mesmas “manigâncias” orçamentais de rebuscar onde podem e, por vezes, onde não deveriam poder, verbas de fundos de pensões alheias como quem varre para debaixo do tapete e empurra para o futuro responsabilidades não assumidas no presente. O arrecadar de fundos de pensões de empresas e sectores de actividade (PT, CGD, banca...) é não resolver os problemas actuais e agrava-los no médio prazo;

Tenho contra mim, o eventual acelerar da carteira de privatizações em tempos de crise, em tempos que só os combustíveis e poucos mais produtos vêm o preço aumentado. A venda de quaisquer bens publicos, nas presentes circunstâncias e em tempos de retracção económica, será sempre um mau negócio para o Estado;

Tenho contra mim, a má vontade dos especuladores financeiros e dos credores internacionais a cobrar juros, da divida soberana, escandalosamente usurários;

Tenho contra mim, a opinião pública e publicada, assim como o descontentamento dos cidadãos e eleitores, sem saberem para onde se virar e em quem possam confiar;

Tenho contra mim, os baronetes que gravitam em torno do PSD, tendo como barão-mor o D. Ângelo de Correia a exigirem rápidas eleições antecipadas, tal é a cede de apanhar empresas e sectores de actividade ainda em controlo do Estado, numa anunciada carteira de privatizações;

Apenas tenho (e é muito) a meu favor (será mesmo a meu favor?) o facto da crise ser, efectivamente, muito grave associada a circunstancia da não existência de políticos e de políticas com credibilidade e alternativa aceitáveis;

Tenho a meu favor, a convicção de que, nas actuais e presentes circunstâncias, quer os lideres como o próprio partido oposicionista e da habitual alternância na aplicação de idênticas e mais graves políticas não quererem queimar as luvas nas fogueiras que agora se encontram ateadas. Das outras três forças partidárias, dignas desse substantivo, o que lhes restará são as feiras, as moções de rua e as moções de censura/ternura na Assembleia da República.

O chato de tudo isto é ter de esperar até ao fim do ano para comer o tal jantar.

Ele há coisas...



Publicado por Zé Pessoa às 00:03 | link do post | comentar

2 comentários:
De Zé das Esquinas, o Lisboeta a 14 de Março de 2011 às 09:46
Sócrates não tomará a iniciativa de sair.
Só sai se for empurrado.
Até pode pedir para ser empurrado. Até pode «mandar-se» para o chão e dizer que foi empurrado...
Mas a isso não se chama sair, chama-se cair.
Nenhum ditador sai de livre e espontânea vontade... mas isso são só semelhanças, não é?
Mas ainda há outras formas recentes de «sair», se bem me lembro, a que se poderá chamar de «fugir»...


De DD a 14 de Março de 2011 às 22:09
A obrigatoriedade prática de reduzir o défice para 4,6% este ano, 3% em 2012 e 2% em 2013 não agrada mesmo nada às oposições porque se Sócrates cair, outro governo terá de tomar medidas de redução de despesas para chegarmos aos tais 2% e no interregno eleitoral os juros devem subir para 12 a 15%.
O BCE não dá a ajuda necessária emitindo moeda como fez nos primeiros anos do Euro e proporcionando créditos a juros extremamente baixos. Se não tivesse feito isso, a banca nacional não ia buscar dinheiro lá fora e o Estado também nada. A poupança interna teria sido incentivada, mas à custa do mercado nacional e, provavelmente, com um desemprego maior, a não ser que o esforço em exportar mais tivesse sido iniciado muito antes. É curioso que o Jerónimo já prometeu uma Moção de censura , mas está a cometer o mesmo erro do BE , está a atacar o PSD e a ligá-lo as políticas do PS como se a necessidade de dinheiro fosse uma política passível de escolha e decisão.
Assim, o PCP está a dizer ao PSD para não votar a sua Moção porque não lhe agrada substituir o Sócrates pelo Passos e, como já escrevi, não está disponível para negociar com o BE uma ampla coligação eleitoral com um programa alternativo ao do PS. Um programa para ir buscar o dinheiro à banca com impostos gravosos e aos mais ricos com a ameaça de nacionalizar as suas empresas. Com a extrema esquerda no poder, os mercados deixavam mesmo de emprestar ou condicionavam totalmente a político do novo governo.
Portugal tem de encontrar um caminho em que possa ter uma política económica sem depender do estrangeiro.
Não sei como? Nem sei se alguém sabe como sem grandes sacrifícios.


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