De o FMI na Grécia a 31 de Março de 2011 às 14:08
O FMI na Grécia

Não sei se conhecem o conjunto das medidas de austeridade em curso na Grécia.

Elas são duríssimas.
Mas, após uma contestação social enorme, foi a única forma dos gregos obterem os 100 mil milhões de euros de que precisavam para continuar viver com alguma normalidade.
Hoje é claro que o seu sistema económico e social era, não apenas insustentável, como também baseado em números deliberadamente falsos, para enganarem os seus credores.

Agora que também do nosso lado os credores deixaram de aceitar que todos os dias lhes ficássemos a dever cerca de 40 milhões de euros, algo de muito semelhante nos espera. Desejavelmente deveria ser o poder político a tomar tais medidas. Mas não sei se ele será suficientemente forte para, apesar da sua legimitade democrática, enfrentar o poder de todas as corporações. Se assim não for, não nos restará outra saída que bater às portas do FMI.

Aqui chegados eu defendo a adopção de medidas saneadoras das contas publicas e privadas que sejam, além de justas, eficazes e rápidas. Ou seja não sou a favor da adopção de PEC`S atrás de PEC`s. Além do inevitável arrastar do sofrimento social, o seu prolongamento no tempo cria frustações e impede que nos concentremos noutras acções fundamentais par ao nosos bem estar coletivo.

Com efeito, a par do saneamento das contas, temos de saber onde, e como criar riqueza. O grande desafio é que tal terá de ser feito com menor custo por cada dia de trabalho.
Isso passa também por alterações de mentalidade.
As corporações não podem continuar a achar que o que fazem é tão vital para o País que devem ser apenas "os outros" a sofrerem os cortes orçamentais. Pelo contrário elas deverão encontrar meios de fazerem mais com menos recursos.
Nas comparações internacionais com países semelhantes ao nosso (cf. o Expresso), nós já temos por exemplo mais polícias ou médicos por 100 mil habitantes. O mesmo se passa com a Educação, onde gastamos mais dinheiro por habitante que a maioria dos restantes países. Por outro lado os nossos gestores publicos têm regalias muito superiores aos seus congéneres internacionais.

Voltando ao caso grego, eu acho que faltam, no conjunto (indispensável) das medidas do FMI, as acções/programas que visem o crescimento da riqueza de forma sustentável (e com menos dinheiro publico).
Espero que o mesmo não se aplique no nosso País. Pois aí estará a chave do sucesso das políticas de austeridade.

Um abraço luso-grego,
Jorge

PS
Pareceu-me que as medidas gregas são relativamente justas ao penalizarem quem mais tem e ao isentarem os mais desfavorecidos. Isso é vital. Ou seja, sem que se estimule a perguiça, nunca podemos perder de vista que uma mais justa distribuição da riqueza é um sinal de civilização.
Talvez paradoxalmente a chamada crise possa contribuir para dar a devida importância àquele desiderato.
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De Medidas de Austeridade na Grécia a 31 de Março de 2011 às 14:10
Conjunto de medidas de austeridade em vigor na Grécia

1. Sector Público

Corte do subsídio de férias e natal para todos os empregados públicos que ganhem mais de 3000€/mês brutos. Quem ganhar menos de 3000€ vai receber 250€ pela Páscoa, 250€ no Verão e 500€ no Natal;
Reduzir os subsídios de 8 a 20% no sector público estado e 3% nas empresas públicas
Uniformizar todos os salários pagos pelo estado;
Congelar todos os salários do sector público até 2014.

2. Sector Privado

Chegou-se a um acordo colectivo, assinado em 15 de Julho, pelo qual os empregados do sector privado na Grécia continuam a receber o seu salário anual em 14 pagamentos (chegou a ser sugerido passar para 12 pagamentos). Não houve aumentos em 2010 e prevê-se aumentos de 1.5 a 1.7% para 2011 e 2012 – muito abaixo da inflação actual que ronda os 5.6%.
Imposição de um imposto aplicado uma única vez às empresas que tenham tido mais de 100 000€ de lucro em 2009:
· 100 000 a 300 000: 4%;
· 300 001 a 1 000 000: 6%;
· 1 000 001 a 5 000 000: 8%;
· Mais de 5 000 000: 10%.

Alargar os limites pelos quais os empregadores podem despedir funcionários:
Empresas com até 20 empregados: sem limite; Empresas com um número de empregados entre 20 e 150: até 6 despedimentos por mês; Empresas com mais de 150 empregados: até 5% dos efectivos ou 30 despedimentos por mês.
Redução das indemnizações por despedimento, que também poderão ser pagas bimensalmente;
Pessoas jovens, com menos de 21 anos podem ser contratadas durante um ano recebendo 80% do salário mínimo (592€). O pagamento da segurança social também será apenas de 80% e findo o ano de contrato têm direito a ingressar nos centros de emprego;
Pessoas com idades entre os 15 e os 18 anos podem ser contratadas por 70% do salário mínimo, o que dá 518€;
Os empregados considerados redundantes não podem contestar o despedimento a menos que o empregador concorde;
Empregados pela primeira vez, com menos de 25 anos, podem ser pagos abaixo do salário mínimo;
Pessoas que auto empregadas com OAEE (sistema de seguro para empresários em nome individual), que por qualquer motivo não tenham trabalho, são cobertos pelo seguro durante até dois anos desde que:
Tenham trabalhado um mínimo de 600 dias, mais 120 por cada dia acima dos 30 anos até terem chegado aos 4500 dias ou 15 anos de trabalho; Não estejam segurados por um seguro do sector público.
Liberalização das profissões ou sectores fechados (são aquelas profissões ou sectores que necessitam de autorizações do estado ou que estão altamente reguladas, tais como notários, farmácias, cirurgiões, etc). Esta medida não foi implementada dado que há processos a decorrer no Tribunal Europeu;
Cancelar o segundo pagamento de pagamentos de solidariedade;
Aumentar as contribuições para a segurança social em 3%, tanto para empregados como empregadores.

3. Pensões/Reformas

De notar que a reforma do sistema de pensões já tinha sido discutida muito antes da entrada do FMI, mas nunca tinha sido implementada.
A Grécia tem uma percentagem desproporcionada de população idosa, cerca de 2.6 milhões e uma população activa na ordem dos 4.4 milhões, isto para uma população total de 11.2 milhões. Isto obriga o Estado a contrair empréstimos para puder efectuar os pagamentos mensais.
A 8 de Julho do ano passado foram aprovados um conjunto de princípios depois de terem sido efectuadas mais de 50 emendas à lei. As medidas mais importantes foram:

Cortar os subsídios de férias e natal para todos os pensionistas que recebam mais de 2 500€/mês brutos. Aqueles que ganhem menos de 2500€ vão receber 200€ pela Páscoa, 200€ pelo Verão e 400€ no Natal;
Cortar os subsídios de férias e natal para todos os pensionistas com menos de 60 anos, excepto para aqueles que tenham o número mínimo de anos de contribuição, tenham menos dependentes ou estudantes com menos de 24 anos a viver na mesma casa;
Todas as pensões congeladas até 2013;
...


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