Terça-feira, 19 de Abril de 2011

Passaram trinta e cinco na passada terça-feira desde que em 12 de Abril de 1976 os habitantes de Ferrel se rebelaram contra a possibilidade de aí se construir a primeira central nuclear portuguesa, como recordou a Gazetas das Caldas.

A existência de uma fractura sísmica na zona de Ferrel juntou-se aos restantes argumentos contra os perigos da energia nuclear.

Nessa altura os defensores do nuclear sublinharam os progressos tecnológicos verificados, que em sua opinião tornavam segura a opção pelo nuclear.

Passados anos, o trágico acidente nuclear, ocorrido em 26 de Abril de 1986, em Chernobyl, veio demonstrar que a segurança afirmada era manifestamente exagerada.

Posteriormente os defensores do nuclear passaram, de novo, ao ataque. O seu grande argumento consiste no enorme desenvolvimento tecnológico que se verificou desde Chernobyl que teria tornado ainda mais seguras as centrais nucleares. A sucessão de trágicos acontecimentos que se têm verificado no Japão, veio demonstrar, com clareza, as ameaças que a opção nuclear implica para a vida, segurança e saúde dos cidadãos.

Como sublinhava o Expresso: “…mais de um mês depois do terramoto e do tsunami (…) o nível de alerta da catástrofe de Fukushima Daiichi passou de cinco para sete, devido à quantidade de produtos radioactivos já libertados na atmosfera”, que corresponde ao máximo da escala de segurança, “o que significa simplesmente que a situação está fora de controle, à semelhança do que aconteceu em Chernobyl e que não se podem ainda prever as consequências da actual situação. Ninguém ignora que são invulgares as situações de desastre natural que contribuíram para esta situação. Também não podemos ignorar a evolução tecnológica, a cooperação científica e tecnológica que se tem verificado para apoiar os responsáveis japoneses, nem o elevado nível de organização social que se verifica no Japão. Apesar disso e do tempo já decorrido a situação permanece com a gravidade que se conhece.

Não foi, por acaso, que Angela Merkel mandou encerrar um conjunto de centrais nucleares e que tantos milhares de cidadãos promovem no Facebook uma campanha contra a utilização do nuclear a nível da Europa exigindo um referendo sobre esta matéria. Portugal está numa posição privilegiada, porque os governos socialistas de José Sócrates não só têm recusado a opção pelo nuclear, como têm estimulado o desenvolvimento das energias renováveis (eólica, fotovoltaica) e da energia hídrica.

Portugal é hoje um exemplo a seguir, um país em que o consume de electricidade renovável proveniente dos pequenos produtores descentralizados é maior do que o das grandes centrais térmicas a carvão e a gás natural. Neste momento de depressão, provocada pela crise da dívida soberana, é fundamental ter consciência que esta é uma marca de desenvolvimento sustentável baseado em fontes alternativas de energia. É verdade que a produção de energia renovável tem sido subsidiada por todos nós através das facturas de electricidade, mas os subsídios estão a diminuir e deixarão de existir a partir de 1029.

Não se pode ignorar, além disso, que a aposta nas renováveis tem diminuído a nossa dependência energética e os gastos na compra de energia ao exterior, tendo permitido gastar menos 800 milhões de euros na importação de energia em 2010.

Também não podemos ignorar as conclusões de uma simulação de um acidente nuclear como o de Fukushima, realizada na Escola Prática de Engenharia do Exército, em Tancos, um acidente em Portugal. Segundo o Público, de 17/04/2011l, concluiu-se que a radioactividade chegaria a 12 mil Km2, afectaria 1,6 milhões de pessoas em 48 horas, dos quais 1671 teriam de receber cuidados de saúde.

Os riscos e os custos da energia nuclear têm sido sistematicamente subestimados. É lamentável que só acidentes como o de Fukushima obriguem a opinião pública a tê-los em conta. Nesta matéria é sintomática a forma como se esquecem no dia-a-dia os riscos e os custos do armazenamento dos resíduos nucleares.

É significativo, que no mesmo jornal, Carlos Pimenta, ex-Secretário de Estado do Ambiente, recorde que uma fuga grave de radioactividade na central nuclear espanhola de Almaraz, o tenho levado nessa altura a quase ordenar o corte do abastecimento de água a Lisboa. Por tudo isto devemos recordar a revolta dos habitantes de Ferrel e saudá-la, bem como o facto dos governos socialistas de José Sócrates, como já referimos, terem sempre apoiado o desenvolvimento das energias renováveis e recusado a opção pelo nuclear.

José Leitão [Inclusão e Cidadania]



Publicado por JL às 00:00 | link do post | comentar

1 comentário:
De Zé T. a 26 de Abril de 2011 às 11:17

É importante relembrar ...
os PERIGOS do Nuclear
em acidentes nas centrais e em resíduos tóxicos-radioactivos ''armazenados''? a libertar DOENÇA /deformidades e morte num raio de muitos Kilómetros e durante Milhares/milhões de anos !!

Não ao Nuclear !!


Comentar post

MARCADORES

administração pública

alternativas

ambiente

análise

austeridade

autarquias

banca

bancocracia

bancos

bangsters

capitalismo

cavaco silva

cidadania

classe média

comunicação social

corrupção

crime

crise

crise?

cultura

democracia

desemprego

desgoverno

desigualdade

direita

direitos

direitos humanos

ditadura

dívida

economia

educação

eleições

empresas

esquerda

estado

estado social

estado-capturado

euro

europa

exploração

fascismo

finança

fisco

globalização

governo

grécia

humor

impostos

interesses obscuros

internacional

jornalismo

justiça

legislação

legislativas

liberdade

lisboa

lobbies

manifestação

manipulação

medo

mercados

mfl

mídia

multinacionais

neoliberal

offshores

oligarquia

orçamento

parlamento

partido socialista

partidos

pobreza

poder

política

politica

políticos

portugal

precariedade

presidente da república

privados

privatização

privatizações

propaganda

ps

psd

público

saúde

segurança

sindicalismo

soberania

sociedade

sócrates

solidariedade

trabalhadores

trabalho

transnacionais

transparência

troika

união europeia

valores

todas as tags

ARQUIVO

Janeiro 2022

Novembro 2019

Junho 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

RSS