Quarta-feira, 27 de Abril de 2011

37 anos depois do 25 de Abril vivemos um dos piores momentos da nossa democracia. Anos de alheamento da realidade e de incompetência pura e simples conduziram-nos a um ponto de endividamento, público e privado, terrível. Passámos décadas a fazer construções, com betão, cimento e asfalto, como se fossemos todos meninos a construir Legos sem querer saber do dia de amanhã. Demos todos os direitos por adquiridos, mas fugimos quando ao longe ouvimos dizer que também há deveres. A pesadíssima factura está aí e vai ser dura de pagar.

Os políticos cá da terra seguiram exactamente o mesmo rumo que os demais: irresponsabilidade regada com um despudorado apego ao poder. Com os aparelhos partidários e as campanhas eleitorais sustentados durante anos pelas grandes construtoras (no pais) e até pelas médias e pequenas (nas autarquias), os políticos da praça comprometeram o futuro em troca de licenças e adjudicações de obras.

Fizeram-se auto-estradas paralelas umas às outras, imaginaram-se projectos gigantescos mas não se cuidou de mais nada. Pelo contrário, aceitaram-se, em troca dos dinheiros comunitários para as auto-estradas, imposições que liquidaram a nossa agricultura e a nossa pesca. Como sempre os empregos criados nas grandes obras foram voláteis e desapareceram. A indústria portuguesa tornou-se menos competitiva e centenas de fábricas fecharam. Hoje em dia produzimos muito menos e estamos muito mais dependentes do exterior. Portugal tornou-se um país de serviços subalternos e não tratou de cuidar do futuro – este é o legado da classe política ao fim de quase quatro décadas.

Talvez fosse altura de olharmos bem para os candidatos e ver o que fizeram. Talvez fosse bom olhar para estes seis anos de Sócrates e ver como era o país antes, e como é agora. Talvez fosse bom recordar todas as promessas que Sócrates fez e que negou logo a seguir às eleições. E talvez fosse bom dar-lhe uma pesada derrota eleitoral. É a única paga possível para o que ele nos fez. A democracia serve para usar o voto para pôr na rua quem governou mal.

Manuel Falcão [Jornal Metro]



Publicado por [FV] às 21:58 | link do post | comentar

4 comentários:
De Zé T. a 28 de Abril de 2011 às 13:19

. Há CULPADOS e há culpados em GRAUS diversos - o racional e justo seria impedir/resolver os erros ou falhas do sistema e que os culpados mais graves fossem incriminados (para vários existe já moldura penal, basta ''alguém'' querer accionar a sério o processo, e tendo consciência que isso iria ''partir vidros em todas as 'casas''), penalizados e, de algum modo, a sociedade beneficiasses com isso.

. Da generalidade dos cidadãos portugueses, da Culpa cívico-política ''escapam'' alguns poucos ... os que participam/ram cívica e politicamente na sociedade portuguesa :
- votando em algum partido (eventualmente criticando e mudando de opinião/ voto ao longo destes 25 anos)
- concorrendo em listas de algum partido ou movimento cívico e fazendo propostas ...
- os eleitos que defendem/ram o interesse colectivo/geral da população (mesmo que contra a disciplina partidária porque a sua razão e consciência o dita)...
- os que exercem cargos ou funções com isenção técnica, sem manipulação de informação ou documentos, sem corrupção nepotismo tráfico de influências, ...

Serão poucos ou muitos? Não está em causa o número, mas os agentes os actos e o seu grau de responsabilidade ...


De Zé das Esquinas, o Lisboeta a 28 de Abril de 2011 às 13:41
Eu entendo o que quer dizer.
Mas não concordo como generaliza e baralha a actuação do exercício da política com exercício da cidadania.
O amigo parte de um princípio que para mim é perverso.
Que todos os cidadãos têm a obrigação de participar e exercer funções na ppolítica do país em que vivem (o que desde já discordo) e mais, o amigo diz, que todos somos culpados de como o regime funciona, uns por acção outros por omissão. Mesmo que, como agora diz, que haja culpas diferentes.
Eu entendo, mas continuo a discordar.
O que eu quero dizer é que eu posso ser simpatizante de um clube, mas não tenho que obrigatoriamente ser sócio e participar nas acções dele. Mas permo que eu defendo é que posso ter opinião do clube e de como ele se comporta dentro e fora de campo, sendo simpatizante ou sócio ou até mesmo ~sendo de outro clube. Mas o que o amigo aqui afirma é que todos tendo ou não clube preferido independentemnte de ter ser sócio ou mero simpatizante, somos todos culpados da forma como os clubes funcionam no País.
Parta mim isso não encaixa. A isso eu chamo de «baralhar e dar de novo». para mim não dá. Não alinho.
«Tenho o direito de opinar sobre tudo o que se passa na Terra porque não vivo em Marte».
Mas não me sinto responsável (ou culpado) por tudo (de bom e de mau) que se passa na Terra apenas pelo facto de cá viver. OK?


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