Sábado, 13 de Junho de 2009

Os 26% que o PS conquistou nestas eleições colocam o partido próximo dos seus mínimos históricos de 1985 e 1987 e representam, em votos expressos – menos de um milhão –, o resultado mais baixo do PS de sempre.

Contudo, ao contrário do que costuma ser regra, o decréscimo de um dos partidos de poder (no caso o PS), não ocorreu à custa do seu mais próximo competidor (no caso o PSD). O PS tem uma votação muito baixa, mas o PSD, ganhando, cresce pouco por relação às últimas eleições nacionais (teve 31%, quando com Santana tinha tido 28%). Isto enquanto o BE e o PCP somados ultrapassam largamente a melhor votação que o PCP alguma vez teve (18% em 1979 e 1983). A menos que algo de extraordinário ocorra até Setembro, nenhum partido terá uma maioria absoluta para governar.

Estamos perante um cenário de pulverização partidária, em que se consolidaram três blocos políticos. No entanto, não apenas nenhum destes blocos tem condições para governar sozinho (PSD e CDS, mesmo que coligados, estão ainda distantes da maioria absoluta), como, simultaneamente, as condições para que venham a coligar-se estão longe de estar reunidas (a título de exemplo, ainda este fim de semana, o BE reclamava a saída de Portugal da NATO, o que serve para recordar a profundidade das rupturas que o BE tem de fazer para se aproximar do espaço da governabilidade). Além do mais, se os resultados de ontem se repetissem em legislativas, a única coligação de dois partidos suficiente para formar uma maioria seria entre PS e PSD.

Não sabemos se com as europeias o que esteve em causa foi essencialmente a mobilização de voto de protesto face a um Governo que construiu a sua imagem com um discurso de confronto às corporações e que se revelou impotente para contrariar a crise económica e o crescimento do desemprego - e que com isso desbaratou o seu capital junto da esquerda sociológica - ou se, pelo contrário, estamos perante um novo ciclo político, em que o centro-direita inverte a tendência eleitoral recente. Mas uma coisa sabemos, a pulverização partidária, a somar à crise económica e social, e, em particular, o facto de PS e PSD terem resultados conjugados particularmente baixos - só superiores à percentagem alcançada em 1985, com o PRD - é um passo para a reconfiguração do espectro partidário português. Não vejo como essa reconfiguração possa ocorrer sem pôr em causa a governabilidade do país e sem contribuir para o aprofundamento da crise que vivemos.

No fim, fica uma dúvida: os eleitores expressaram o seu protesto mas, quando estiver em causa a governação do país, voltaremos à bipartidarização ou, pelo contrário, os três blocos, que vivem de costas voltadas, vieram para ficar? [Pedro Adão e Silva, Arquivo]



Publicado por JL às 23:45 | link do post | comentar

5 comentários:
De Zé T. a 15 de Junho de 2009 às 10:41
De Zé T. a 9 de Junho de 2009 às 10:48
Excelente análise (de P.Pedroso), mas não está completa...

«... (M.Alegre) manifestar-se contrário a algumas opções do Governo liderado por José Sócrates, lamentando que as suas críticas não tenham sido ouvidas.

"Eu também sou socialista e quando um partido perde, perdem todos. Sou solidário com esses resultados, embora todas as minhas posições críticas, que infelizmente não foram ouvidas, parecem confirmadas pelos resultados" ...»

«(Medeiros Ferreira:) ...depois das locais e das presidenciais, e de quatro anos de governo de choque, não seria de esperar apoios entusiásticos em eleições como as europeias. Muito menos comparar com as eleições para o PE de 2004 tendo em conta os números da vitória da equipa Sousa Franco-António Costa quando o PS estava em pleno estado de graça na oposição ao executivo Barroso-Paulo Portas.
Ficar atrás do PSD agora significa que o PS vai deixar de ter grande parte do apoio dos interesses económicos que se colaram ao governo Sócrates até aqui. Com a vitória do PSD a direita política reaparece ...»

Por muito que o discurso mude (e não creio que mude tanto assim...), por mais que as práticas se alterem (e tb não o creio...), o PS/Governo destes dirigentes está «marcado» ...
e não creio que os manifestantes e descontentes (tradicionalmente votantes no PS, mais os descontentes militantes que se calaram, mais outros eventuais simpatizantes e apoiantes sem partido ou com ''voto útil''), até Outubro, esqueçam:
- a crise, o desemprego, o assédio no trabalho, a mobilidade especial, o novo Código de Trabalho, a 'flexi-insegurança', as novas carreiras, a nova avaliação/ SIADAP,
- o aumento da idade de reforma e a penalização pela antecipação, a perda de estatuto de funcionário público, a manipulação/acordo da UGT,
-os atropelos e ataques a todos os opositores, as 'Drens', ...
-as tropelias e falhas de transparência nas obras públicas, na economia, na banca,
- os vencimentos e regalias de nababos de certos administradores, as acumulações e reformas milionárias de alguns, as aquisições de carros topo de gama e outros luxos para políticos,
- as nomeações de 'para-quedistas' e de 'jovens assessores',
- a não-justiça, ...
- etc, etc.



De Bandarra a 15 de Junho de 2009 às 10:43

Confirmou-se
o que aqui no Luminária (e antes no PSLumiar) já vários comentadores tinham referido:

que as centenas de milhares de descontentes (talvez maioritariamente da ''classe média'', letrada e ligada ao Estado)... mais seus familiares iriam influenciar fortemente a balança eleitoral ...

e que não esqueceriam facilmente os 'ataques' que sofreram à sua estabilidade...

e até Outubro 2009 também não vão esquecer ... especialmente se o PS continuar a afirmar que vai continuar no mesmo rumo.

Se continuar no mesmo rumo (e com actores como V.Canas, S.Silva, M.J.Rodrigues, M.Pinho, 'jamé', ... Almeida Santos), o PS bem pode esquecer a governação por umas décadas, e pode ter a certeza que os seus militantes vão continuar a diminuir ... para números próximos dos do PCP !!

- olhem o exemplo do Partido Trabalhista inglês, que passou para 3º lugar !!!


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