15 comentários:
De -Mig.Portas: Portugal, U.Europeia,...- a 24 de Junho de 2011 às 12:37
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Aceitar discutir uma imposição externa a três semanas da eleições é aceitar o protectorado da troika. As razões eram racionais, mas foi uma decisão insensível ao que as diferentes componentes da nossa base de apoio desejavam. Com razões diferentes, os segmentos mais radicalizados queriam que nós fossemos à troika dizer "vão-se embora" e os sectores preocupados com a crise desejavam todas as oportunidades para mitigar as malfeitorias que se anunciavam e nem uns nem outros compreenderam a nossa decisão. A nossa decisão foi culturalmente arrogante e sobrestimou a capacidade de indignação da sociedade portuguesa e subestimou o medo em que a sociedade mergulhou com os níveis de desemprego e insegurança que a atingiram. Em todas as cabeças há indignação e revolta e uma dose de fatalidade e de medo. Nós não conseguimos perceber esse equilíbrio.

As pessoas não vêem o BE como parte da solução. Como pode ele contribuir para uma mudança política?

Isso inscreve-se no novo quadro político. Como tudo na vida, a política só costuma pôr as questões que pode resolver. Nós entrámos numa era dos credores, que comporta a possibilidade real de mudança de regime, através, por exemplo, da incorporação de um tecto máximo ao endividamento na Constituição. Ou seja, constitucionalizar um determinado tipo de política económica, qualquer que seja o governo eleito. Aquilo que caracteriza esta era dos credores é que quem manda não são os representantes dos credores, mas os próprios credores. Hoje o FMI e o BCE são os nossos maiores credores e a política transformou-se numa assembleia de credores em período de insolvência. Este regime em que os credores determinam a política do empréstimo que fazem. Eles não estão a dar dinheiro, estão a emprestar. Isto cria uma mutação em que as decisões se tomam fora das estruturas eleitas, e estas sufragam as decisões sob chantagem financeira. O segundo problema é que há uma maioria de direita no governo, na presidência e no parlamento. E o terceiro elemento é que numa dessas instituições essa maioria é alargada pelo PS, que subscreveu o memorando da troika. Isto significa que parte da oposição está sequestrada pela maioria de direita. É a partir desse contexto de desequilíbrio na correlação de forças no parlamento que na minha opinião se põe a obrigação do Bloco de repensar toda a sua táctica política. A grande razão para uma convenção é esta necessidade. Por isso não a defendo antes de mais um ano. Precisamos de perceber a nova realidade. Mais que ajustar contas com os resultados eleitorais, é preciso traçar o caminho para a frente.

E esse ajustamento pode ser o quê?

Duas coisas: rua e capacidade de protesto. Lançar movimentos, dando-lhes plataformas para além dos sindicatos, e por outro lado uma táctica política determinada no sentido de abrir brechas no chamado campo da troika. O país não tem nenhuma vantagem em ter um Partido Socialista sequestrado pela política do memorando. Debilitar o campo da troika e da direita deve ser o nosso objectivo político. É preciso tratar o PS de uma forma distinta na linguagem e no diálogo. Deve-se conseguir criar um campo social e político que nos liberte da troika.

Mas existe uma alternativa real à política económica da troika?

O BE tinha a proposta da renegociação da dívida. A renegociação apenas implica a resposta, de preferência à escala europeia, para resolver o problema da dívida pública sem hipotecar as possibilidades de crescimento. Mas o problema do défice externo não está resolvido. A Europa está numa situação em que os caminhos se bifurcam. A ortodoxia ultraliberal que tem como eixo o Banco Central Europeu que quer tudo automático em termos de coordenação económica e de punições e, por outro lado, quer a política dos resgates porque já se transformou ele próprio no primeiro credor da dívida grega e portuguesa. Portanto, o BCE tem um problema de recapitalização, porque está intoxicado de títulos da dívida que não vai receber. Está a impor aos países uma forma de ser ressarcido pelos títulos que andou a comprar porque esteve a financiar a banca privada com empréstimos a 1%, com que depois a banca privada comprava títulos de dívida com juros muito mais altos, entregando como garantia os mesmos ao próprio BCE. Neste momento, o presidente do Eurog..


De Um bom exemplo. a 24 de Junho de 2011 às 12:39
Miguel Portas
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Neste momento, o presidente do Eurogrupo e Angela Merkel estão em conflito aberto com o BCE. Os estados que estão a emprestar e que sabem que é necessário reestruturar a dívida para fugirem à inevitabilidade de emprestar mais para receberem o que pagaram antes. Esta discussão vai decidir o futuro da Europa.

Teve um cancro. Isso alterou a sua vida e a forma como vê até o seu empenhamento político?

Sim, quem tem um cancro tem um cancro. Não vale a pena pensar que não tem. Mais cedo ou mais tarde aparece. Por outro lado, isto é uma doença crónica, há muito mais gente com a doença do que pensamos. O que relativizou a minha vida foi ter a ideia que do cancro muitas vezes se morre. Isso corresponde a uma baliza de sorte e exige algum cuidado. A gente tem cancro não por razões hereditárias, mas pelo modo como vivemos. A brincar costumo dizer que o meu cancro é de esquerda, porque o cancro de direita é que é o hereditário. Isto significa que uma pessoa na sua vida particular não deve fazer a vida que levava antes, deve fazer algo para a emendar, fazer mais do que deixar de fumar. Isto relativiza todos estes dramas de que andamos a falar. Isso também pesa. Junto o útil ao agradável: o BE tem excelentes soluções de direcção sem ser eu, e eu também preciso de mudar de vida.

O Miguel tinha uma excelente relação pessoal com a Ana Gomes. As declarações dela sobre o seu irmão Paulo Portas mudaram essas relações?

Alteraram. Infelizmente alteraram. Enquanto me lembrar não me esqueço. A Ana Gomes é uma mulher com excelentes qualidades, uma das características que tem é que é uma desbocada e desta vez passou os limites. É a vida, tenho pena, mas é assim.
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