9 comentários:
De ..Novo ciclo para a Esquerda.. a 12 de Julho de 2011 às 15:54
Novo ciclo

...Se a sua articulação permitiu a afirmação de um partido plural, o poder desproporcionado que têm acaba por limitar o exercício da democracia participativa e procedimentos de renovação de quadros sem cooptações ou quotas informais. Para que não haja dúvidas, o Manifesto assume plenamente a sua parte de responsabilidade neste tipo de práticas e na cultura que lhe está associada.

6. Para lidar com a diversidade que nos fez capazes de atrair gente com percursos tão diferentes, o Bloco construiu uma direcção coesa que soube evitar conflitos estéreis. Mas, passados 13 anos, e ante um ciclo político qualitativamente novo, a renovação da equipa dirigente apresenta-se como um processo inevitável e inexorável. Ela deve ser realizada de forma sustentada e em unidade. E terá consequências na democracia que praticamos, porque a herança da fundação deixa de ser fonte de legitimação.

7. Para lidar com o facto da sua militância ser demasiado reduzida, o Bloco foi mantendo uma apreciável abertura ao exterior, protegendo-se dos instintos sectários e autosuficientes, naturais em todas as organizações. Nesta atitude, que é também uma cultura, a direcção foi muitas vezes decisiva. Acreditamos que esta responsabilidade deve passar a ser assumida de forma mais plena por todo o partido.

8. Para lidar com a fragilidade dos movimentos sociais e com o papel hegemónico que o PCP detém no movimento sindical, o Bloco procurou soluções criativas. Os seus activistas valorizam as comissões de trabalhadores e nos sindicatos a unidade com vários sectores independentes das orientações mais ortodoxas. Onde os movimentos sociais são mais frágeis e os problemas mais recentes, procuramos soluções mais informais. Mas, no seu conjunto, o calcanhar de Aquiles do Bloco é a sua insuficiente radicação social. Demasiadas vezes temos dificuldade em ouvir, nem sempre integramos novas experiências e até se “inventam” movimentos onde eles não existiam, sem cuidar de lhes dar espaço para crescerem fora de tutelas. Seja como for, mesmo em tempos de crise económica, o Bloco deve continuar a envolver-se em todas as lutas emancipatórias, recusando a falsa dicotomia entre temas “maioritários” e “fracturantes”.

Uma ampla aliança social e política

9. Nascemos para contrariar um bloqueio à esquerda, marcado por um PS desistente das alternativas e tantas vezes protagonista da agenda neoliberal, e um PCP fechado numa perspectiva estritamente resistente. A nossa relação com estes dois partidos não tem estado isenta de equívocos. Dispensamos posturas sectárias em relação ao PCP. Mas com a mesma convicção rejeitamos qualquer tipo de mimetismo político em relação a este partido. Esta clareza é essencial para que o Bloco chegue a muitos dos que nunca viram no Partido Comunista a resposta para as suas ansiedades e desejos. Recusamos igualmente o ponto de vista daqueles que gostariam de ver o Bloco como um “CDS da esquerda”, disponível para ser muleta do Partido Socialista em troca de lugares no poder. Isto não nos deve impedir de manter uma interlocução privilegiada com todos os socialistas cuja acção política se afaste da capitulação perante a hegemonia neoliberal. Este ponto de vista é o único que tem em conta a crise de identidade que a social-democracia atravessa em toda a Europa.

10. A nossa política de alianças não nos deve afastar de qualquer um dos sectores do “povo de esquerda” em nome de proclamações de princípio. Qualquer ilusão de autosuficiência está derrotada à partida. Não desistimos da construção da “esquerda grande”, por difíceis que tenham sido os primeiros ensaios. Temos a humildade de saber que essa esquerda de transformação e com ambição maioritária não se esgota nem se esgotará no espaço do Bloco de Esquerda.

11. A fraquíssima implantação local e autárquica do Bloco é outro dos seus principais problemas. É necessário construir uma nova visão sobre o poder autárquico. Por ser aquele que, estando mais próximo das populações, mais facilmente põe à prova a capacidade dos nossos eleitos fazerem diferente. Por ser aquele que, mais liberto de clivagens ideológicas e históricas, permite construção de alianças à esquerda e de relações de confiança na base. Não ...


De Reflectir, ouvir, melhorar, unir, colabo a 12 de Julho de 2011 às 15:57
Novo ciclo

... Não conseguimos afirmar-nos neste terreno porque nos faltam quadros intermédios. Faltam-nos quadros intermédios porque não temos implantação autárquica. Só a dinamização de verdadeiros projectos políticos que aliem desenvolvimento local e dinâmicas de transformação social, serão capazes de gerar alianças com militantes de esquerda e cidadãos independentes comprometidos com o bem estar das populações. Por aqui se deve começar a desatar este nó. As próximas eleições autárquicas, pela profunda renovação do poder local que a limitação de mandatos vai implicar, devem marcar um novo ciclo no tipo de intervenção local e eleitoral do Bloco de Esquerda.

12. O Bloco deve ter para o poder autárquico uma estratégia de alianças semelhante à que pratica nas causas sociais e políticas. Sem preconceitos nem clarificações forçadas, o Bloco deve trabalhar com todos os que, em cada momento, estejam dispostos a trilhar caminho em comum para objectivos concretos que dêem corpo a alternativas locais claras ao programa neoliberal. Os activistas do Bloco devem ser um factor de unidade e convergência, sem tentativas de afirmação partidária inúteis, e no domínio das políticas de território, devem promover a cidadania organizada e o envolvimento de homens e mulheres sem partido. É da forma exemplar com que trabalharmos com os outros que poderemos recuperar capacidade de atracção e novos activistas.

Renovar e “descorrentizar” o Bloco

13. Para abrir este novo ciclo na acção do partido é fundamental iniciarmos um outro na nossa vida interna. Começando por estimular uma mais activa participação democrática dos aderentes na vida do partido. Dando às estruturas intermédias mais poder e autonomia (desde logo na política local e autárquica, onde as estruturas nacionais devem ter apenas um papel corrector em casos de claro desvio a valores fundamentais para o partido). Procedendo a alterações estatutárias – por exemplo, na organização e funcionamento das convenções – que contrariem a cristalização de correntes e tendências e dêem ao partido maior capacidade para fazer um debate construtivo e livre. O Bloco tem os próximos anos para se reinventar da base para o topo como projecto politico unitário, capaz de envolver muito mais aderentes em função dos seus próprios interesses.

14. Defendemos um processo de “descorrentização” do partido. O facto de pertencermos, nós próprios, a uma corrente, não nos inibe de defender com toda a convicção esta posição. Consideramos que as correntes que deram origem ao Bloco, e que se têm coordenado no espaço da “maioria”, constituíram um ganho para o partido. Mas o que se revelou uma vantagem tem vindo, progressivamente, a transformar-se numa dificuldade. As correntes da maioria devem encontrar na formação a sua vocação. De forma articulada deveriam dar início a um processo em que os seus activistas se auto-inibem de concertar posições fora dos próprios órgãos do bloco. É nesse processo que o Fórum Manifesto se empenhará a partir deste Encontro.

15. Independentemente dos contributos diversos e diferenciados que cada um de nós deu e continuará a dar em todos os momentos deste debate interno, este é o contributo colectivo de um espaço de reflexão e intervenção politica que, com outros procurou, com erros e acertos, dar vida à mais importante esperança que a esquerda portuguesa recebeu na última década – o Bloco de Esquerda. Sabemos que a alternativa ao debate franco e sem tabus é a falta de clareza na divergência e a falta de arrojo nas soluções. É nos momentos difíceis que os partidos testam a sua vitalidade democrática. E é para ajudar a reforçar o Bloco que aqui estamos. Perante a crise que vivemos em Portugal e na Europa, toda a esquerda vai precisar do Bloco. E o Bloco vai precisar de toda a esquerda.

Pelo Conselho Geral do Fórum Manifesto:
Ana Drago, António Chora, Daniel Oliveira, Marisa Matias, Rogério Moreira, João Rodrigues, José Gusmão, José Manuel Pureza, Jorge Nascimento Fernandes, Maria Emília Costa, Maria José Espinheira, Maria José Vitorino, Margarida Santos, Miguel Cardina, Miguel Portas, Tiago Ivo Cruz e Vítor Sarmento


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