A pouca coisa e a coisa do costume
por Daniel Oliveira
Com o Partido Socialista amarrado ao memorando da troika e ao suicidio económico de políticas recessivas, Francisco Assis e António José Seguro não tinham, no fraquíssimo debate de ontem, na SIC Notícias, nada para dizer sobre o País.
Restou a Europa. Bom tema.
E o que os dois defenderam, da emissão de eurobonds ao aumento do orçamento da União, subscrevo por baixo.
Só lamento que não bata certo com o euroconformismo que dominou o partido, incluindo estes dois candidatos, nos últimos anos. Basta recordar a recusa do PS em debater o trágico Tratado de Lisboa para perceber que acordaram tarde para o beco sem saída em que a Europa se enfiou.
Pior: não estou seguro que este súbito sentido crítico em relação aos caminhos da UE não seja mais do que uma fuga para a frente perante a sua própria ausência de discurso sobre políticas de Estado. Suspeito que, regressados ao poder, voltem a defender a tese do "bom aluno europeu".
Sobraram, no debate de ontem, duas coisas: as diferenças de estilo e as propostas para a vida interna do PS.
Quanto ao estilo, e apesar de tudo o que me afasta do candidato a derrotado, a coisa é óbvia:
Assis é mais estruturado, mais corajoso e mais denso. António José Seguro exibiu, neste debate, um confrangedor vazio político. E é pena. O PS precisava, como contraponto ao socratismo mais elaborado de Assis, de algo mais do que o refugo do guterrismo.
Quanto à questão interna, tivemos, de um lado, um remendo à crise dos partidos, e do outro um namoro ao aparelho.
Ao propor a realização de primárias para a escolha dos candidatos autárquicos do PS, com a participação de simpatizantes, Assis revelou ousadia (talvez já tenha pouco a perder) e demonstrou que tem consciência da captura dos partidos de poder por parte de pequenos interesses locais e nacionais.
Mas achar que, dando voto aos simpatizantes, se resolve o problema é não perceber de onde vem o divórcio entre os partidos e os cidadãos. A coisa é mais profunda. E só se resolve com política.
No dia em que os partidos que, por razões históricas, estão em condições de conquistar o poder, forem verdadeiras alternativas um ao outros, é provável que os cidadãos se envolvam mais. Quando as pessoas sentirem que o seu envolvimento na vida de um partido pode mudar a vida do País e não apenas mudar a vida de quem quer nele fazer carreira talvez achem que vale a pena entrar numa sede para escolher candidatos.
O PS só deixará de ser uma mera federação de interesses quando quiser mesmo ser mais do que isso. E é nas propostas que tem para o País que isso se verá. Não se viu isso ontem da parte de nenhum dos candidatos.
E sejamos justos com os militantes do PS: não foram apenas eles que escolheram durante anos Fátima Felgueiras ou Mesquita Machado. Foram os eleitores que confirmaram demasiadas vezes essas escolhas. A falta de exigência está longe de ser um exclusivo dos militantes partidários.
Às críticas de Assis à falta de vitalidade política na vida interna do PS - que é extensível a todos partidos -, Seguro respondeu com apelos ao clubismo acrítico. Enquanto Assis dizia o que qualquer cidadãos medianamente informado sabe Seguro pedia-lhe para não denegrir o PS. Como se reconhecer as fragilidades de um partido fosse uma qualquer pulhice que se lhe faz.
Ou seja: a proposta de Assis é pouca coisa, a resposta de Seguro é a mesma coisa de sempre. Falso: ele quer um laboratório de ideias. Parece-me excelente. Podia ir lá buscar uma ou duas, para dar algum conteúdo aos seus "valores". Pequenas que fossem. Já aqui o escrevi:
Assis será, pelas suas convicções ideológicas desistentes, um erro. Seguro será um intervalo. Até o PS escolher, se conseguir, um líder capaz de contrariar a crise de identidade que o PS vive.
De ..Refundar o Partido e a Política.. a 13 de Julho de 2011 às 13:15
.Partido Socialista, Primárias e ...
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------1- Debate SG PS
Agradecido ao Sr. Luís por este novo convite, desta vez para acompanhar o debate dos dois candidatos a Secretário-Geral do Partido Socialista.
António José Seguro (AJS) v. Francisco de Assis (FA)
Vamos lá a ver se me safo.
(- Jiminy Cricket, em A Barbearia do sr.Luís, 12.7.2011)
2- Debate SG PS
(FA) - As questões de estilo. Não vou discutir a pequena política mas já agora aqui vai: Blá ... tiveste mais umas décimas do que eu... blá. Isso do Passos Coelho não foi o que disse. O que disse foi que estavas mais perto do Passos Coelho do que eu.
(AJS)- As questões de estilo. Não gostei do que disseste sobre a parecença com Passos Coelho, mas estamos aqui para tratar de assuntos de interesse.
3- Entrou-se no debate sobre a crise e os assuntos relacionados com o acordo da TROIKA.
(AJS)- Se fosse PM estaria a trabalhar na Europa, a discutir e a procurar caminhos para resolver a actual situação.
(FA) – Enquadramento da actual situação europeia. Nada sobre o que estaria a fazer se fosse PM.
4- Abrir o PS
(AJS)- Reformulação dos métodos de trabalho do PS. Envolver os militantes para depois envolver os simpatizantes e os eleitores.
(FA) – Burocracia. Os não militantes vão às sedes do PS, declaram que querem votar, se necessário apresentam uma declaração de honra... (ficou por esclarecer se seria necessário o reconhecimento notarial).
5- A minha opinião.
Ficou provado que o debate público não resultou e em alguns aspectos até foi redutor. Muito por culpa de (FA) a pequena política saltou para cima da mesa. Contabilizaram-se pequenas vitórias. Não se acrescentou valor às ideias. As sessões com os militantes têm sido muito mais ricas.
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De .. a 13 .7.2011
''... Veja-se o que se passa dentro dos partidos, sejam eles à esquerda ou à direita, nas instâncias europeias e internacionais.
Um verdadeiro deserto de ideias e de práticas com vista a reais mudanças de práticas e de atitudes.
Se outros o não fizeram façamo-lo nós '' (- Zé Pessoa)
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«Coop.e COLIGAÇÃO de Cidadãos/Militantes. »
Muitas ideias já existem ... o que é preciso é serem aplicadas, com ou sem algum ajustamento e melhorias contínuas...
As vontades e as práticas (e / dos 'agentes') é que precisam de ser alteradas para que se chegue a consensos/ colaboração,...
- Por base de trabalho deve estabelecer-se um (conjunto de) mínimo denominador(es) comum ...
- por objectivo final temos 'the sky is the limit',
- por objectivo médio ou curto temos pequenas melhorias a fazer em quase tudo,
- por meios temos a liberdade a pluralidade cívico-democrática, a que se podem juntar alguns conhecimentos e recursos (preferencialmente de baixo custo e fácil manuseio: como a internet, com e-mails/sms, blogs/páginas, ...).
como exemplos na política partidária:
- porque não criar uma estrutura simples e pequena (depois aberta a outros, tipo ''coligação de membros efectivos e eventuais'') que agregue vontades e possa desempenhar várias funções ?
tipo:
. movimento/associação cívica/ Clube de Opinião / Cibersecção partidária/ Corrente de Opinião partidária / ...
. com os mesmos membros (nucleares/efectivos e outros eventuais) ...
. usando uma mesma plataforma de comunicação blog/página +lista de e-mails+ lista de tels/sms, ...
. com estatutos muito simples mas versáteis e um núcleo reduzido de princípios e algumas 'bandeiras' eventuais (ou sem elas, deixando para cada momento a eventual e livre adesão ou não, de cada membro)...
. aproveitando uma série de documentos e recursos existentes em vários sitios... para promover/difundir as nossas ideias (base, como grupo; e outras como pessoais), moções, ... e apoiar, rápida e eficazmente, listas/candidatos a congressos, orgãos, autarquias, ...
...
Zé T.
De .. Clube v. Corrente ou Líderes v. Pares a 13 de Julho de 2011 às 13:24
(Clube de Política e Corrente de Opinião. )
O FANTASMA DA MARGEM ESQUERDA
Num sentido apelo de António Fonseca Ferreira (AFF), dirigido aos elementos da Corrente de Opinião Esquerda Socialista ( COES) à qual pertence, para que se empenhassem a fundo no apoio a António José Seguro, integrando as suas listas, li há pouco a seguinte frase:
"Muito em sintonia com o que nós – Clube Margem Esquerda e Corrente de Opinião Esquerda Socialista – vimos defendendo e pelo qual temos lutado persistentemente, em condições difíceis, nos últimos seis anos:
reorganização, democratização e modernização do Partido, um processo de profunda regeneração, um processo de refundação".
Esta frase obriga-me a um esclarecimento.
O AFF pode falar em nome da COES, com a qual nada já tenho a ver, e dizer o que lhe apetecer.
Mas não pode falar em nome do Clube Político Margem Esquerda (ME), pela simples razão de que tal clube não se reúne há vários anos, não tendo, antes disso, delegado, nem em AFF nem em ninguém, a legitimidade para o representar ou se expressar em seu nome publicamente.
Ora, se nunca me passou pela cabeça investir-me a mim próprio na qualidade de intérprete fiel da medida em que os socialistas, que fizeram parte da Margem Esquerda, se reconhecem nas posições assumidas posteriormente pela COES, também não reconheço, nem ao AFF nem a qualquer outro camarada, legitimidade para o fazer.
De facto, por exemplo eu, acho que a COES se desviou do caminho que a ME percorreu e por isso saí dessa corrente .
E, certamente, não estarei sozinho nessa posição, como não estive sozinho nessa saída.
Aliás, a maior parte dos actuais membros da Esquerda Socialista nem sequer alguma vez pertenceu à Margem Esquerda;
e basta ler o manifesto identificador da ME e a mais recente moção de orientação, apresentada pela COES no congresso do PS, para se perceberem as diferenças.
Portanto, enquanto se não reunirem de novo os membros do Clube Político Margem Esquerda, para que se possa apurar o que realmente pensam,
ninguém tem LEGITIMIDADE para dizer o que o clube pensa ou não pensa, sobre qualquer assunto;
ou para atrelar a ME a quaisquer outras entidades, ficcionando uma identidade de posições entre elas, mesmo que essas iniciativas tenham nascido do clube.
De facto, eu, tal como certamente vários outros membros fundadores da ME, não temos a mais remota intenção de nos comportarmos como se esse clube nos tivesse pertencido apenas a nós, mas não estamos dispostos a consentir que outros se comportem como se isso ocorresse com eles.
E muitos membros fundadores da ME, tal como eu, nada têm já a ver com a COES, considerando que esta corrente, na sua fisionomia actual, tem muito pouco a ver com aquele clube.
Alíás , quando sairam da COES, em Abril passado, todos os seus elementos de Coimbra, eles disseram o seguinte:
" Pela nossa parte, estamos a elaborar um documento político que projecte no presente o que de essencial é a herança ideológica e política da “Margem Esquerda”, para, com base nele, constituirmos um novo clube político ou uma nova corrente de opinião dentro do PS".
Assim, pelo menos, esses socialistas não consideram que a COES continue a correspoder a uma continuidade efectiva e completa do caminho trilhado pela ME, senão não teriam achado necessário sair dela para trilharem esse caminho.
Continuo a achar bem que todos os antigos membros da desactivada Margem Esquerda, possam no futuro cooperar entre si, quando pensem dever fazê-lo.
Mas não ficarei de braços cruzados, perante qualquer tentativa unilateral de se invocarem as posições assumidas pela ME, modelando-as de modo a podê-las aproximar artificialmente daquilo que alguém possa ter feito (ou que alguém possa ter passado a pensar), já depois da Margem Esquerda ter entrado em hibernação.
(-por Rui Namorado, OGrandeZoo, 12.7.2011)
De ..Refundar o Partido e a Política.. a 13 de Julho de 2011 às 13:20
(-de Zé T. a 5 de Julho de 2011)
O comentador não está a ver bem...
Vamos esclarecer, outra vez:
1- Assis e Seguro vão para eleições (seguindo o 'manual' existente) sem existir um Congresso prévio de reflexão geral ... e mesmo o debate entre candidatos só agora é que parece vir a ter lugar...
2- Assis compromete-se pelas Primárias (abertas a não militantes, ...) e Seguro referiu qualquer coisita pouco explícita sobre Primárias.
3- Aqui, no Luminária e em outros locais(OGrandeZoo, ...), muitos militantes expressaram ser a favor de Primárias (para todas as candidaturas), mas ... creio que a maioria não aceita/não gosta nada
(de fazer o papel de 'palhaços' ou moços de recado, porta-bandeiras ou batedores de palmas ...):
3.a-. que não-militantes/ não-filiados (''simpatizantes'' a registar...) tenham os mesmos direitos (de voto...) que os militantes.
3.b-. que se vá para eleições sem se fazer o prévio debate, reflexão e responsabilização pela situação em que estamos
. (as coisas não acontecem por acaso, ... e não reflectir não responsabilizar é o mesmo que esconder a cabeça na areia , por o lixo debaixo do tapete e voltar a cometer os mesmos erros ... com os mesmos agentes/personagens ...).
3.c-. que as práticas (e regulamentos...e ...) não sejam alteradas, depois de auscultados/referendados pelos militantes.
4.a- A existência de candidaturas /apoios para eleições internas é uma opção legítima e pró-activa, em nada contrária (mas antes a par) às críticas e propostas feitas ao que vai sucedendo no Partido.
4.b- A outra posição também existente no partido é a de auto-afastamento e abstenção de concorrer/apoiar/ participar... deixar de pagar quotas, deixar de estar filiado... e, ao mesmo tempo, continuar as críticas (pertinentes muitas vezes ... com propostas, menos vezes)
e esperar que as coisas mudem ... por via do trabalho/militância de outros ou por obra e graça do espírito santo...
5.a- Quem quiser continuar a ser socialista/social-democrata e cidadão de pleno direito creio que tem o dever de participar (tentar mudar) tanto no Partido (este ou outro) como na Polis.
5.b- Quem quiser ser apenas ''cidadão-mandado'' fique sentado, queixe-se enquanto lhe deixarem ... e espere que lhe tragam as sopas... se ...
Zé T.
De Entalados .... e mais do mesmo a 13 de Julho de 2011 às 14:25
Como alguém já por aqui, no LUMINÁRIA, escreveu “Os socialistas continuarão a estar entalados” entre o nada e o coisa nenhuma, no que a “refundação” possa dizer respeito.
Os socialistas, enquanto eles próprios quiserem assim continuar, continuarão a andar entalados entre os controladores do aparelho e as copulas que, mais ou menos com estes de braço dado, conduzirão o partido com o objectivo único de obtenção de poderes, mais ou menos partilhados, mandando às ortigas a ideia de que um partido constitui um meio para, de forma democrática, se obter o poder de governação para o colocar (um e outro) ao serviço da comunidade e do país em vez de se colocar ao serviço de interesses próprios de pessoas ou grupos, inclusivamente do egoístico interesse do próprio partido.
Uma vez terminado o congresso o que se lhe vai seguir será mais do mesmo, para mal do país, dos portugueses e do Partido Socialista.
De .PS : (re) Fundidos... até ao Fundo !! . a 13 de Julho de 2011 às 17:44
Admito-o... sou partidariamente masoquista !
Sou um dos 8.000 que ainda paga quotas (mínima: 12€ por ano)...
porque considero que só fazendo parte (com direito a voto...) é que posso tentar mudar o partido...
e porque tenho cá uma fezada (...) que quando o nº de 'militantes'/pagantes' chegar aos 2.000 (menos do que os 'bloquistas esquerdistas'),
então conseguirei juntar um grupo de Socialistas/SocialDemocratas e fazer uma revolução interna (ou ''golpe de estado mental e aparelhístico'')... isto é, fazer a tal refundação que M.Soares também advoga.
Mas, acreditem, estes 2 candidatos (e a maioria da sua 'entourage') não me convencem... nem as suas práticas, nem os 'debates' nulos na Tv e 'zerados' a nível interno..., nem os seus programóides, ... nem os apelos patéticos... nem os acríticos aparelhados 'candidatos a delegados' (de qualquer um deles) e que há um mês atrás apoiavam incondicionalmente/credulamente o anterior SG.
Se não aparecer outro candidato... vou à secção e voto NULO.
Mas tenho remorsos ...
já não consigo ler e reciclar toda a m... que me enviam, com que enchem a caixa de correio, do telemóvel e do e-mail.
PS: não sei por quanto tempo aguentarei...
talvez até a 'boyada' do PSD/CDS e os arautos/defensores dos 'mercados' liberalizados e do 'Estado mínimo' (privatizador do património/ lucros Públicos) me surpreenderem positivamente.
De Zé T. a 13 de Julho de 2011 às 18:46
- MUDAR o PS ou deixá-lo AFUNDAR-se ?!
Crítica pertinente de RN e de DC (no Luminária, 7.7.2011).
«NÃO HAVERÁ MAIS PS PARA ALÉM DOS CANDIDATOS A SECRETÁRIO-GERAL?
“Pelo menos nalguns distritos, é tal o peso dos pequenos poderes locais instalados, entre os apoiantes de Seguro, que só uma fé inexplicável nos pode fazer acreditar que por essa via se chegue a qualquer mudança de fundo no PS.”, escrevia há um certo tempo, Rui Namorado, no seu blog “O Grande Zoo”.
...
«...delegados ao Congresso da Federação são eleitos pelos militantes inscritos nas secções de residência e de acção sectorial da área da Federação, com base em programas ou moções de orientação política.”
Isto é, se os militantes se não reconhecerem em nenhum dos candidatos terão de escolher entre serem hipócritas ou ficam impedidos de ir ao congresso reportar as suas opiniões e reflexões....»
PS tem de mudar regulamento e prática de Candidaturas e Delegados aos Congressos.
Este modelo é redutor seguidista, limitando a liberdade dos militantes/representantes eleitos apresentarem as suas ideias/propostas/críticas e intenção de voto, pois ''amarra-os'' a uma posição prévia de apoio a 1 candidato/moção.
De .Políticos, Transparência e Competência. a 23 de Novembro de 2011 às 14:02
«
Gastar é Fácil
(-por Manuel Falcão, Metro, 22.11.2011)
... no caso do PS, a situação das finanças partidárias é caótica ...
... muitos dirigentes (e administradores)... geram mais despesa do que a receita que conseguem obter.
... o grande problema de muitos políticos é que o dinheiro que usam (e de que abusam), não é deles - seja no partido, seja no Estado.
... o resultado é sempre o mesmo: aumentar taxas, impostos (nas empresas é: aumentar preços, as margens de lucro, as comissões, esmagar fornecedores, ...), inventar forma de ir buscar mais dinheiro ao bolso dos contribuintes (e consumidores ...).
... o mais chocante é a forma como alguns (ex-)políticos centraram a sua actividade empresarial privada exclusivamente em actividades especulativas (, intermediação e lóbi) e em obtenção de contratos de favor (concessões públicas, 'parcerias público-privadas', rendas, subsídios e isenções).
Uma democracia, para funcionar, precisa de (cidadãos, empresários e) políticos (activos mas) competentes, sérios e dedicados à causa pública. Nos últimostempos têm sido raros.
»
Zé T.
De .Élites e política em Portugal - Eça Q. a 23 de Novembro de 2011 às 14:03
Eça de Queirós sempre actual e Verdadeiramente impressionante !!!
“Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição.
Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias;
ali dominam as más paixões;
ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade;
ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos;
ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo;
em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos;
há a tristeza e a miséria;
dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio.
A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se.
Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.
À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...)
todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.”
Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora” (1867)
Política de acaso, política de compadrio, política de expediente
«Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.» Eça de Queiroz
«Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa.» - O conde de Abranhos, Eça de Queiroz
------ Portugal e a Grécia (… 139 anos depois … !!!)
"Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia:
a mesma pobreza, a mesma indignidade política,
a mesma trapalhada económica,
a mesmo baixeza de carácter,
a mesma decadência de espírito.
Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal"
(in As Farpas) Eça de Queirós, em 1872 !!!
----- Portugal e a crise
- “Que fazer? Que esperar?
Portugal tem atravessado crises igualmente más:
- mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito.
Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem; - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela política.
De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura.”
Eça de Queirós, in “Correspondência” (1891)
“ … somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados … “
“Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo:
tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência.
A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente.”
In “Citações e Pensamentos” de Eça de Queirós».
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José Maria de Eça de Queirós
Povoa de Varzim - 25 de Novembro de 1845
Paris - 16 de Agosto de 1900
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