Sexta-feira, 16 de Setembro de 2011

   Enquanto falamos das migalhas há quem se prepare para distribuir o bolo 
(-por Daniel Oliveira)
Ontem o País entreteve-se a falar do corte 1712 lugares dirigentes na administração central e a extinção de 162 entidades públicas . Tudo isto diz-me pouco. Depende dos lugares e das entidades, se são úteis ou inúteis. Mas soa bem nos telejornais. Se são dirigentes, se são entidades e se são do Estado em princípio é mau, é o raciocínio no ambiente geral em que vivemos. Parece que o governo anterior cortou 1.812 cargos dirigentes superiores e intermédios e extinguiu 227 organismos públicos . E?

    A coisa pode render cem milhões de euros. É impressionante como conseguimos perder tempo com o acessório. Os cortes que a troika exige são de tal magnitude que estamos a falar de trocos para dar boas notícias. Assim parecerem benignos. Para parecer que é mesmo nas "gorduras do Estado" - adoro esta linguagem dietética, que tanta gente repete sem pensar no que está a dizer - que se está a cortar. Os cortes que a troika exige - e que quem domina a Europa e as instituições que representam os interesses financeiros defende - só podem, pela sua dimensão, ir aos três principais destinatários das despesas públicas: saúde, educação e prestações sociais. Sozinhos, eles ficam com grande parte do bolo da despesa pública.

    Podemos perder muito tempo com floreados, cargos dirigentes para aqui, despesas intermédias para acolá. O objetivo da ideologia da austeridade, que pretende tirar dos cidadãos para dar aos privados, é atacar estes três pilares fundamentais do Estado Social para os entregar a quem sabe que ali estão, por serem bens essenciais, negócios demasiado apetitosos para serem direitos universais e gratuitos.

    É nisto que temos de falar. Mas é disso que o governo e os seus ideólogos querem falar menos. Porque quando falamos de reforma, de hospital público ou de escola pública tudo fica a parecer mais feio. Custa dizer que a segurança na velhice e o direito à saúde e a uma educação decente para todos são "gorduras", não custa? Mas enquanto discutimos as migalhas há quem vá preparando a distribuição do bolo.



Publicado por Xa2 às 08:10 | link do post | comentar

4 comentários:
De .'gorduras', burocracite e beneficiados. a 16 de Setembro de 2011 às 10:17
--- Inês:
Há que considerar que talvez os ...portugueses se refiram a despesas do estilo:
reformas milionárias (às vezes a duplicar ou triplicar e somando o salário do novo cargo),
regalias que, em tempos de contenção, devem ser retiradas, fundações, PPP's . Não acha?

Os cortes na despesa têm sido feitos na educação, na saúde, etc.
Isto é, têm-se concentrado em arrasar o estado social.
Talvez a pergunta que foi feita aos portugueses devesse revelar estes pormenores que fazem toda a diferença.

---- Nightwish:
Pergunte-lhes onde querem cortar e diga-lhes o que custam os cortes.
O Zé Povinho não é muito bom a matemática. É como os Red States a queixarem-se das despesas do estado quando são os que recebem mais benefícios.

---Olympus Mons:
Não se preocupe. Este governo irá chegar à conclusão óbvia;

Como 60% da população não paga IRS
e 5% da população paga 65% do IRS, logo a solução irá passar por cobrar mais uns cobres valentes a esses 5%.

E, num país de tanta demagogia, a opção é irresistível: Os 95% vão achar óbvio que quem terá que pagar será o outro, neste caso a classe média, e o governo fará as contas óbvias porque se ganha com votos e os tais 60% a 95% são muito voto...

---- Tóni:
É preciso terminar com as mordomias e a quantidade de Chefes de tudo e mais alguma coisa que existe na Função Pública.

---- Anónimo
"O objetivo da ideologia da austeridade, que pretende tirar dos cidadãos para dar aos privados..."

"...por serem bens essenciais, negócios demasiado apetitosos para serem direitos universais e gratuitos."

Penso que o Daniel sintetiza muito bem o que está em causa e é inaceitável que o governo não assuma ao que vem, um governo que engana as pessoas é um governo criminoso.

---- Manuel:
Daniel:
Concordo que a narrativa do corte da «gordura» serve para ENCOBRIR o corte (em curso) no património do Estado, através da «oferta» das empresas públicas, mas é preciso cortar também na dita «gordura».

Pense que para um pequeno território e 10 milhões de hab. temos
um PR (16 milhões de euros gastos na Presidência), um PM e um governo de 50 membros, 12 ministérios (cada um com várias direcções-gerais desdobradas em direcções-regionais), uma AR (230 deputados),2 governos regionais com uma dezena de membros, duas Assembleias Regionais com cerca de 30 deputados cada (isto para 2 populações de 245 mil hab. cada),
5 CCR, 18 governos civis, 308 câmaras municipais, 4260 freguesias,
Exército (com muitos muitos generais e tanques camiões metralhadoras soldados...), Força Aérea (com muitos generais e aviões) e Marinha (com muitos almirantes, alguns navios e 2 submarinos),
duas forças de segurança GNR e PSP (e os seus conflitos de competências e a duplicação de comandos),
uma Justiça monstruosa (MP e Juízes, oficiais, ...), e tão pouco eficaz,
e provavelmente algo mais que me escapa.
É muita administração para tão pequena população e, especialmente, para tão débil produção
(Indústria, Agricultura – importamos 85% do que comemos – Pescas, Minas, etc.,
apenas o Turismo tem algum papel, em parte ilusório, pois o que entra por uma porta sai por outra;
se não produzimos os alimentos nem outros produtos de consumo, compramo-los para os fornecer aos turistas, saindo assim boa parte das divisas que cá nos deixam).

A solução é racionalizar e identificar os estrangulamentos (educação, formação profissional, justiça, etc.) para que desenvolvamos a produção (especialmente de produtos transaccionáveis) e captemos os investimentos.

Só assim teremos recursos para sustentar os progressos na Saúde, e noutros campos, antes que o retrocesso anule tudo.

Para além de, esta BUROCRACITE só torna as nossas vidas um INFERNO.
Experimente construir uma casa ou fazer obras que impliquem licenças, alvarás, etc. ou abrir um restaurante... depois verá.

Outra coisa é acreditar que este governo irá racionalizar e cortar no desnecessário, não servindo este discurso para esconder outras agendas, como p. ex.
as escolas públicas sofrerão cortes, mas não os contratos de associação com os colégios privados....


De ..Nação governada pró MAL .. a 16 de Setembro de 2011 às 15:07
Eles falam, falam, falam, mas só anunciam desgraças


Este é o problema que temos. Cortar daqui, tirar dali, sacar mais, mas quando se lhes pergunta para quê, em vez de demonstrarem ser para melhorar, respondem sempre que é para evitar males maiores. Uma Nação destinada ao mal, maior ou menor, é a ambição desta gente.

Matam a inteligência, a criatividade e a esperança. Embrulham tudo isso em papel pardo para que se não perceba ao que vêm.

Ou não sabem mais, ou só conhecem o que já está sabido. (ou estão ao serviço de ...)

Qualquer dia temos o caldo entornado !

LNT, [0.381/2011]


De Privatizar a Presidência de pasto verde. a 27 de Setembro de 2011 às 14:19
E não se pode 'privatizar' a Presidência da República?

E para que se inteirem:

45 mil são os euros por dia para a Presidência da República, nas contas do Palácio de Belém.

Assim descobriu o DN que a Presidência da República custa 16 milhões de euros por ano (163 vezes mais do que custava Ramalho Eanes), ou seja, 1,5€ euros a cada português (uma bagatela para os tempos que correm!)...

Dinheiro que, para além de pagar o modesto (digo bem!) salário de Cavaco, sustenta ainda os seus 12 assessores e 24 consultores, bem como o restante pessoal que garante o funcionamento da Presidência da República.

A juntar a estas despesas, há ainda cerca de um milhão de euros de dinheiro dos contribuintes que todos os anos serve para pagar pensões e benefícios aos antigos presidentes (o que não tá mal).

Os 16 milhões de euros que são gastos anualmente pela Presidência da República colocam Cavaco Silva entre os chefes de Estado que mais gastam em toda a Europa, gastando o dobro do Rei Juan Carlos de Espanha (oito milhões de euros) sendo apenas ultrapassado pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy & Madame Carlita (112 milhões de euros) e ainda pela Rainha de Inglaterra Isabel, que custa 46,6 milhões de euros anuais.

112 milhões € 46,6 Milhões € 16 Milhões € 8 Milhões €

Aníbal Cavaco Silva, vem-nos dizer que :

"os sacrifícios são para ser 'distribuídos' por todos os portugueses"...

(...? E não se pode 'privatizar' a Presidência da República ?...)


De Modos de fazer/enganar a 16 de Setembro de 2011 às 10:49
--fixem:
-- PREMAC - - Plano de Redução e Melhoria da Administração Central do Estado
(o anterior era PRACE, e o seguinte será ...?... )
-- falta o PREMAR (para a Adm. Regional), o PREMAL (para a Adm. Local), e ...

------------------------------------------------------
1712, o número milagreiro das pérolas


Só duas coisitas porque estou cheio de trabalho mas não quero deixar a página de hoje em branco.

Relacionam-se com os fantásticos números ontem anunciados (e hoje já publicados) pelo nosso Primeiro referentes ao "corta",
salvo erro qualquer coisa ligada à poupança resultante de extinção de 1712 chefias (gosto especialmente da particularidade das unidades) e de 162 entidades públicas (na verdade 137 e parece não ser ainda desta que extinguem a Presidência do Conselho).

A primeira coisita diz respeito às chefias.
Só para lembrar que na Administração Central do Estado, grande parte das chefias, principalmente a nível de Chefe de Divisão,
recebem pelos seus lugares de origem uma vez que o vencimento do topo de carreira é superior ao de Chefe de Divisão.
Façam lá essas contas como deve ser, não vão ter uma grande surpresa quando fizerem as contas da poupança.
E, já agora, espero que esses cortes não sejam do género de, ao eliminar o número de Chefes de Divisão e Directores de Serviços, fazer criar lugares com a fórmula mágica "com equivalência remuneratória a Chefe de Divisão, ou a Director de Serviços".

É que essa já é velha e, p.e., já foi anteriormente utilizada em organismos que fizeram o milagre de diminuir as chefias em quase 80% (coisa que causa grande impacto na AR e na CS)
mas, bem vistas as coisas, passaram a ter mais chefes (em termos remuneratórios) do que tinham antes da redução.

A segunda coisita, ainda aproveitando a hora do almoço, diz respeito à extinção de "entidades públicas" sem especificar o tipo de entidades.
Não vale contabilizar aquelas que já só existem no papel, ou aquelas outras em que, p.e, ao fundir três entidades numa só se passa a ter um conselho directivo com mais dirigentes de topo do que os que havia antes da fusão.

LNT, [0.378/2011]


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