Não tentem, nem sequer pensem
Na Edição de hoje do Diário de Notícias, no lugar onde se poderia ler uma notícia referente ao mais importante acontecimento da véspera - as manifestações de Lisboa e Porto - encontrava-se: “PSP e secretas esperam maiores tumultos desde PREC”. Como isto vinha misturado com referências às manifestações, o objectivo era induzir uma associação imediata e espontânea entre manifestações e tumultos.
Na continuação podia ainda ler-se: “Polícia e SIS já têm elementos no terreno para antecipar as acções de grupos organizados que podem criar grande agitação social. A agitação social deve crescer e pode atingir proporções nunca vistas nos últimos 30 anos. A previsão é de um grupo de comandantes da PSP, feita num relatório confidencial a que o DN teve acesso. O descontentamento popular com a crise económica faz a polícia e os serviços secretos temerem actos violentos. Por isso, já têm agentes a identificar grupos e protagonistas da contestação.”
A avaliar pela insistência com que a SIC, e se calhar outros canais, estiveram todo o dia a noticiar o mesmo, não foi só o DN que teve acesso ao “relatório confidencial”.
Estamos assim chegados ao início da execução do plano inclinado inaugurado por Passos Coelho e Portas há algumas semanas: transformar protesto em tumulto para justificar a vigilância e a repressão do protesto.
O que estão a fazer os elementos das secretas “no terreno”, além de escutar telemóveis? A preparar grupos de provocadores especialistas em transformar protestos em tumultos? O que estão a fazer alguns "jornalistas" nas redacções? A amplificar “relatórios confidenciais” lá plantados pelas “secretas”?
Esta agitação toda faz de facto temer mais actos ilegais das secretas e mais preparação de actos violentos, igualmente ilegais, por sectores das forças de segurança pouco amigos da liberdade.
(-por José M. Castro Caldas, Ladrões de bicicletas)
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O PESCOÇO CANSADO
Percorremos sofridamente os caminhos sombrios de uma comédia trágica. O governo da direita mergulha na vertigem das mais complexas equações, para apurar com rigor até que ponto é que deve apertar o pescoço do povo. A si próprio se considera corajoso por levar um pouco mais longe a violência de cada aperto. Homens graves, esguios, cinzentos e estrangeiros, analisam à lupa o grau de aperto e muito circunspectamente, com a mais fria das objectividades, concluem que o governo está a ter a coragem de ser excessivo. No entanto, à cautela, murmuram vagamente a necessidade de um pouco mais de aperto. É certo que do pescoço do povo (ou do povo, enquanto pescoço que outros apertam) nada sabem. Mas não se lhes pode exigir algo de diferente. Eles são apenas técnicos de aperto, sacerdotes frios do sacrifício dos fracos para que os fortes possam continuar tranquilamente a vampirizá-los. É claro, que sem qualquer má intenção, escravos que são da fria objectividade de alegados números, que invocam com a força com que os crentes invocam o espírito santo.
As oposições de esquerda mais radicais gritam, é certo. Mas como já gritavam antes do garrote actual, quiçá com mais energia, vão passando despercebidas. O PS discorda da intensidade do aperto, é forte na recusa da posição dos dedos, no repúdio pela brusquidão dos gestos. Murmura, quando se esperava que gritasse.
O próprio pescoço apertado, ou seja, o povo, agita-se aflito com a falta de ar, espantado com esta comédia trágica que o atinge, representada por uns quantos almofadinhas que chegaram de repente para lhes apertar o pescoço, envoltos na ingénua fleuma de quem joga ao berlinde com a vida dos outros; mas vai consentindo no garrote que o asfixia. Por enquanto...
Ninguém parece ainda suficientemente acordado para poder perguntar: “É absolutamente inevitável que o governo aperte o pescoço do povo, apenas prometendo que terá coragem de o apertar ainda mais se os oráculos loucos da finança internacional assim o ordenarem ?” Ou talvez ninguém tenha ainda perdido suficientemente a paciência para dizer: “ Tirem imediatamente a mão do meu pescoço!” Dizer ; e pegar na mãozinha do poder, arrancando-a de vez deste pescoço.
Quando o fizer , os numerólogos engravatados da finança internacional esvaziar-se-ão como um balão furado, porque o povo está previsto na sua obscura ciência como vítima e não como sujeito. Essa é, aliás, uma das limitações dos teóricos do garrote que suportam o actual governo; e talvez uma das causas que os impede de compreender que o caminho que seguem os vai levar, forçosamente, ao mesmo tempo que ficcionam em vão uma saída para a crise, a praticarem uma perigosa sementeira de tempestades.
(-por Rui Namorado, OGrandeZoo)
De Podia ter sido pior !?-desenganem-se. a 3 de Outubro de 2011 às 11:42
Podia ter sido pior
A cultura portuguesa gosta da fórmula: Podia ter sido pior!
Uma pessoa é atropelada numa passadeira, perde um olho, três dentes e uma perna e não faltará alguém para dizer:
Podia ter sido pior!
Uma outra perde o emprego, não consegue pagar a prestação da casa, mas ainda assim consegue não ir dormir para baixo de uma ponte e haverá sempre alguém que diga:
Podia ter sido pior!
Outra espatifa um automóvel, morre-lhe a família toda menos um e alguém lhe dirá: Podia ter sido pior!
A isto acresce o complemento:
Resigne-se, tenha paciência!
É com base neste caldo de cultura que se faz saber que a electricidade vai aumentar 30% e vai ser mais cara 17% de IVA,
para depois, usando a fórmula do engano, se informar que não, que não será nada disso e que, embora o país esteja em recessão,
os ordenados não tenham tido aumentos e nalguns casos até tenham baixado, a inflação seja a mais alta dos últimos anos e que a Eléctrica portuguesa continua a gerar lucros chorudos,
o aumento da electricidade vai ser só de 5% mais os tais 17% de IVA, coisa de nada, coisa para resignação e paciência, até porque podia ter sido pior.
LNT, [0.415/2011]
De (in)Justiça, Fisco, Corrupção, Políticos a 4 de Outubro de 2011 às 11:37
Os incorruptíveis contra os políticos
(-por Sérgio Lavos, Arrastão)
Nos anos 20 e 30, o crime organizado tomou conta de Chicago e de outras cidades americanas, aproveitando, inicialmente, a lei seca, e depois o clima de instabilidade provocado pela Grande Depressão.
Os grandes chefes da Máfia viveram durante anos a fio em impunidade, estabelecendo um reino de medo e corrupção onde a lei não conseguia chegar.
Setenta anos depois, estamos em Portugal.
O país embarcou numa crise perpétua - económica, financeira, moral.
As instituições que deveriam ser os pilares da democracia - a Assembleia e o Governo, a Justiça e a Presidência da República -
foram corroídas até à medula por jogos de interesses, num corropio de políticos,
ora lutando pelo melhor lugar numa empresa dependente do Estado,
ora beneficiando novos e velhos amigos em negócios que envolvem decisões governamentais.
Autarcas condenados pela Justiça não acabam na prisão.
Empresários corruptos e corrompidos contam com a cumplicidade de advogados e de um sistema judicial lento e apodrecido para ir adiando ad nauseam julgamentos e execuções de sentenças.
O povo esse, está sereno.
Está sereno porque tem medo de perder tudo o que comprou com os créditos concedidos durante os bonançosos anos 90.
Um medo que não nasce da violência bruta, como acontecia na América das décadas 20 e 30, mas de uma vontade de manter um nível de vida que se vê ameaçado. (o MEDO de perder o emprego)
O Governo ajuda, veiculando através da polícia ameças menos do que vagas aos prováveis contestários deste estado de coisas.
Os media vivem estrangulados pelo poder económico que os detém;
a liberdade de imprensa foi substituída por um simulacro.
Vivemos num mundo em que os jornais e as televisões parecem dizer toda a verdade, quando apenas são correntes de transmissão de poderes mais altos do que eles.
Os poucos jornalistas independentes definham nas redacções, incapazes de contornar aquilo que lhes é mais imediato:
a necessidade de manterem os seus empregos.
Um cenário de catástrofe?
Não, a profecia Maia diz que apenas para o ano a brincadeira acaba, e não há razões para achar o contrário.
Mas quando chegamos ao ponto de criminosos condenados pedirem o afastamento de um juiz inconveniente ao processo em que estão envolvidos, chegámos a Chicago.
Quando loucos quase diagnosticados continuam a estrebuchar contra tudo e todos e ninguém os cala, chegámos aos tempos da lei seca.
Relembre-se:
(o famoso mafioso Al Capone não foi apanhado pela Justiça americana em décadas de banditismo, corrupção, assassínios, extorsão, terror, ...)
Al Capone acabou por ser apanhado e condenado por fuga ao fisco (pelos todo-poderosos inspectores do ''IRS'', o fisco americano).
Não é um acaso:
qualquer Estado chega mais depressa ao dinheiro dos impostos do que a tudo o resto.
Contudo, nem isso podemos esperar de Portugal.
A decadência deste povo peninsular não é um estado de espírito.
De . contra Empobrecimento / Austeridade... a 3 de Outubro de 2011 às 14:26
A Democracia Contra a Crise...
Ontem, 1 de Outubro, o povo saiu à rua, em Lisboa e no Porto, em nome da luta contra o empobrecimento!
A manifestação, cuja mobilização foi sintomática em relação ao sentir generalizado das pessoas que, entre informação, contra-informação, medos e preconceitos, não reconhecem alternativas execuíveis e credíveis ao poder instituído mas sabem que a estratégia em curso é demolidora para as suas condições de vida,
foi, contudo, reduzida às "manchetes" com que a comunicação social classificou a iniciativa, relevando não o facto em si mas, isso sim,
o dispositivo policial preparado pelas autoridades para enfrentar a contestação social, suscitando o medo de manifestação popular, sob a capa de uma ameaça velada... é pena!
Neste momento, Governos, Populações e Comunicação Social deviam unir-se para pressionar a mudança económica e política,
ao invés de assumirem a subserviência temerosa que de nada adianta e apenas reforça a ineficácia das lógicas contemporâneas do poder dominante...
esperariamos outra coisa? Talvez... uma vez que, para além do movimento de indignação que correu o mundo europeu e médio-oriental ao longo do ano em curso (e voltará a ter expressão, entre nós, no próximo dia 15 de Outubro),
até em Wall Street são mais de 2.000 (entre eles Noam Chomsky, Susan Sharandon e Michael Moore) os
que se manifestam contra a austeridade enquanto resposta à crise (ler AQUI)...
Paula Fitas, ANossaCandeia
De Contra o EMPOBRECIMENTO e as INJUSTIÇAS a 3 de Outubro de 2011 às 14:35
. Contra o Empobrecimento... (e as injustiças )
Mais do que nunca -ou talvez como sempre!, os dias que correm, justificam as causas... para que as vozes se não calem perante a descrença e o ritmo inexorável das dinâmicas que os poderes imprimem à realidade!...
Não, não se trata de corporativismo ou de uma persistência em actos de fé que, por vezes, parece associada à regular manifestação das forças mobilizadoras das massas;
trata-se de uma forma de exercício de cidadania - a mesma que tem dado corpo e expressão às exigências sociais e aos direitos das pessoas.
Hoje, Outubro de 2011, no contexto das crises internacional, europeia e nacional, face à evidência do descalabro de reformas e contra-reformas assentes na repetição cega do mesmo princípio (o da austeridade),
não será demais a afirmação colectiva da consciência cívica e política dos caminhos a que conduzem os processos, os fins e os meios que as forças dominantes continuam a adoptar... como se não houvesse alternativas!
E há!... houvesse a coragem política de por elas se optar e a força social capaz de as exigir!
"Contra o Empobrecimento!" é uma causa justa, nacional, europeia e internacional que devemos entender como apelo desinteressado (independentemente do uso que dele possa ser feito!) à participação, à unidade e à solidariedade, sem fronteiras ou preconceitos!... antes que seja tarde demais!
(-por Ana Paula Fitas, ANossaCandeia http://anapaulafitas.blogspot.com/2011/10/contra-o-empobrecimento.html#comments )
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