Vem tarde, é ambíguo, mas pode ajudar
(-por JM Castro Caldas)Um grupo de figuras centristas (a maior parte ex-eurocontentes) escreveu uma carta aberta aos lideres da zona euro.
Vem tarde. Quando as coisas se tornam demasiado arriscadas, há sempre alguns entusiastas dos ‘desportos radicais’ que pensam duas vezes. Esse momento chegou.
É ambíguo. Insiste na ‘disciplina fiscal’ sem especificar se se trata da regra estúpida que é sempre violada na primeira recessão ou de alguma coisa mais inteligente que compreende que o défice é “uma variável endógena”.
Pode ajudar. Sobretudo quando defende:
1) uma tesouraria comum que angarie fundos para a zona euro como um todo;
2) uma estratégia que produza em simultâneo a convergência e o crescimento económicos (porque o problema da dívida não pode ser resolvido sem crescimento):
3) que o euro precisa de uma solução europeia (a busca de soluções nacionais só pode levar à dissolução).
"A crise do euro necessita de uma solução imediata. As medidas actuais são insuficientes e tardias e estão a precipitar a agitação financeira global. O euro está longe de ser perfeito, como esta crise teve oportunidade de mostrar. Mas a resposta é solucionar os seus defeitos em vez de permitir que debilite e, talvez, destrua o sistema financeiro global.
Nós, cidadãos europeus preocupados, solicitamos aos governos da zona euro que concordem no princípio de que é necessário um acordo legalmente vinculativo que: 1) estabeleça uma tesouraria comum que angarie fundos para a zona euro como um todo e assegure que os estados-membros aderem a uma disciplina fiscal; 2) reforce a supervisão e a regulamentação comuns, bem como garanta os depósitos feitos na zona euro; e 3) desenvolva uma estratégia que produza em simultâneo a convergência e o crescimento económicos, porque o problema da dívida não pode ser resolvido sem crescimento.
Enquanto um acordo legalmente vinculativo está a ser negociado e ratificado, os governos da zona euro devem entretanto capacitar a Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF) e o Banco Central Europeu (BCE) para cooperarem no esforço de controlar a crise. Estas instituições poderão então garantir e, eventualmente, até recapitalizar o sistema bancário e permitir aos países em dificuldades refinanciarem a sua dívida, dentro de limites acordados, a praticamente custo zero através da emissão de títulos do tesouro que podem ser redescontados no BCE.
Solicitamos às legislaturas dos países da zona euro que reconheçam que o euro precisa de uma solução europeia. A busca de soluções nacionais só pode levar à dissolução".
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A Europa está em coma. Dá-se-lhe uma aspirina.
(-por Daniel Oliveira)
Assustado com a queda da Grécia para o abismo e com a eminência da entrada da Itália e da Espanha no grupo dos leprosos, o Conselho da Comissão Europeia alterou os termos da "ajuda" financeira a Portugal e à Irlanda, baixando as taxas de juro e estendendo os prazos de maturidade dos empréstimos. Também ontem a troika anunciou que a sexta tranche do plano de "assistência" que está a matar a Grécia será libertada.
Parecem ser boas notícias. Para nós, mesmo vindo tarde, são. Só que continuamos a travar uma epidemia do século XXI com mezinhas do século XIX. A Europa chega sempre tarde demais e sem os medicamentos necessários para atacar a doença.
O problema da Europa é muito mais profundo do que a crise de cada País. Perante as dimensões desta crise, o Fundo Europeu de Estabilização Financeira, mesmo com um novo funcionamento e mais recursos, serve de muito pouco. Não podemos continuar à espera, sempre que há alguma coisa a fazer, que os políticos alemães e o seu tribunal constitucional se entendam. A Europa não pode continuar refém dos ciclos políticos da Alemanha. É que a incapacidade dos alemães perceberem o que está em causa não está a pôr em perigo apenas a Europa. Está a atirar o Mundo para um cataclismo económico.
Basta pensar no que foi o princípio dos problemas na Grécia, ver o tempo que se demorou a reagir, e como teria sido tudo bem mais fácil e barato se a intervenção fosse decidida e imediata, para perceber como a Europa tem um Ferrari (o euro) com um motor de uma Famel (as instituições europeias).
A Europa precisa de um governo económico. Mas um governo económico não se resume, como parece estar agora em voga, a instituir sanções mais pesadas para quem não cumpra os limites do défice (que, como se sabe, nunca foram aplicadas aos países do diretório). Um governo económico só existe com um orçamento europeu digno desse nome, com a emissão de títulos da dívida europeus, com a mudança do estatuto do Banco Central Europeu e com políticas fiscais e financeiras comuns. E tudo isto exige a união política que a Europa tem recusado. O problema da lógica dos "pequenos passos" é que, com a união monetária, a Europa caminha sempre demasiado devagar para a rapidez que o euro exige. E este desfasamento entre a união monetária e a união política está a criar perversões insustentáveis. Não é possível dar pequenos passos com uma perna e enormes saltos com a outra. Tão simples como isto.
Para que isto seja possível é necessário que a Alemanha perceba que não se pode ter Sol na eira e chuva no nabal. Não se pode ter uma moeda continental desenhada ao gosto dos seus interesses nacionais. Não se pode ter as vantagens de uma moeda competitiva e ficar a salvo do contexto económico da Europa e dos atrasos estruturais das periferias. Não se pode ter o mercado dos pequenos e não ter as consequências da destruição da sua capacidade produtiva. Ou a Alemanha e a França aceitam que estão integradas na Europa, com Estados que não têm a sua pujança económica; que as taxas de juro decididas pelo BCE devem ter em conta a conjuntura europeia, e não apenas a dos seus países; e que não é possível continuar a crescer à custa da contração do consumo e das importações de produtos dos restantes países europeus; ou então mantêm as suas soberanias intocadas, sem as vantagens de estarem integradas num espaço de centenas de milhões de consumidores, e regressam ao marco e ao franco.
Não se trata aqui de descobrir vilões e inimigos externos. Trata-se de aceitar o óbvio: a crise do euro muda tudo para a Europa. Feito o balanço, o euro foi, em geral, negativo para as economias periféricas, com menos argumentos competitivos e por isso mais penalizadas por uma moeda demasiado forte para a sua realidade económica. E foi excelente para as economias mais fortes. Ou as coisas se invertem um pouco e os países do diretório aceitam que também têm de se sacrificar para salvar esta moeda, ou mais vale desistir desta aventura. Porque à medida que a crise alastra a toda a periferia engrossa o exército de europeus com vontade de desistir da União. E aí, sabem os alemães informados, a economia germânica tem os dias contados. Ela foi a que mais lucrou com o euro e com a União. Ela será a que mais perderá com o seu fim. Ou a Europa se refunda ou definha. E com ela uma boa parte do Mundo.
Claro que se se continuar a impor a ideia de que a crise resulta do despesismo de uns quantos países e não é uma crise estrutural de uma moeda mal concebida nada de relevante se fará. Os eurocratas e os troikocratas continuarão a dedicar-se com todo o zelo à supervisão do comportamento orçamental dos malandros do sul enquanto a Europa se afunda. Põe-lhe um termómetro na boca e dão-lhe aspirinas a ver se o cancro já melhorou. Acrescentam austeridade à austeridade, porque é assim mesmo que aprenderam nos manuais. Acabarão por rever a matéria com o cadáver europeu nos braços.
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