De Depressão e investim.públi: USA e Aleman a 4 de Novembro de 2011 às 10:57
A história nunca se repete?
(-por Sérgio Lavos, Arrastão, 2.11.2011)
1945.
A Europa estava em ruínas. Depois de uma guerra devastadora que apenas foi ganha pelos Aliados depois da intervenção dos EUA, os países europeus tinham regressado aos níveis económicos dos tempos da Grande Depressão.
Os EUA, o país que mais sofrera com essa crise, acabaram por recuperar, com ajuda do New Deal de Roosevelt, inspirado pelas ideias de Keynes, que basicamente passavam pelo reforço do investimento público e da redução de impostos.
Na Alemanha de Weimar, o caminho para combater a crise de 1929 foi exactamente o oposto:
contrair a economia, cortando nos gastos e no investimento público, na esperança de que o equilíbrio das contas públicas levasse ao crescimento da economia.
Estas políticas levaram a um descontentamento crescente da população, e, em 4 anos, 1933, Hitler ascendia ao poder, aproveitando o descrédito da República de Weimar, impulsionado por um populismo nacionalista e anti-semita.
Sabemos no que isto deu.
Depois da derrota de Hitler, os países ocupantes da Alemanha começaram por desmantelar a indústria e os meios de produção do país.
Mas depressa os EUA inverteram o rumo desta política.
Em 1948, começava a ser aplicado o Plano Marshall nos países europeus destruídos pela guerra iniciada pela Alemanha.
O plano consistia, muito resumidamente, na concessão de empréstimos a longo prazo e a juros baixos e também na atribuição de doacções.
Do total acumulado por todos os países, apenas cerca de 15% eram empréstimos.
O resto foi dinheiro transferido directamente dos cofres do Tesouro americano para a reconstrução da Europa (e entrada em força dos produtos, serviços e empresas americanos na Europa), para o estímulo das suas economias, para a recuperação do berço da civilização.
Sem o plano, a CEE provavelmente nunca teria nascido.
A Alemanha, durante o período em que esteve em vigor o Plano Marshall (até 1951), recebeu 1448 milhões de dólares (câmbio da época). O último pagamento dos empréstimos concedidos pelos EUA foi feito em 1971.
Mas falamos dos tempos de Harry Truman, de Konrad Adenauer, de Churchill, de de Gaulle. Com todos os defeitos que alguns deles pudessem ter, com todas as divergências políticas que pudessem eclodir entre eles,
eram sobretudos políticos com estatura, que souberam estar à altura dos acontecimentos e conseguiram em poucos anos reerguer um continente, perdoando o principal culpado da destruição, a Alemanha
- havia o perigoso precedente do castigo aplicado à mesma Alemanha após a 1.ª Guerra Mundial, e o bom senso imperou.
Agora temos Merkel, Sarkozy, Berlusconi, Barroso. Não é preciso dizer mais nada.
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O período de hiperinflação foi mais acentuado até 1923, quando havia mais instabilidade política e sobretudo económica - os alemão tiveram de pagar aos vencedores da 1.ª Grande Guerra.
Entre 1923 e 1929, a inflação não era tão acentuada e a emissõa de moeda baixou, o que levou ao período de ouro da República.
O crash de 1929 (não esqueçamos que se deveu sobretudo à especulação financeira nos EUA) acabou por arrastar a Alemanha.
O governo conservador decidiu então impôr políticas de austeridade com cortes extremos nas políticas sociais, o que provocou elevado descontentamento e a crescente popularidade do partido nazi.
E o problema do regime nazi não foi o forte investimento público, como bem sabe. Foi a sua ideologia extremista e expansionista. Hitler prometeu investimento público porque o povo estava descontente com a falta dele.
Chama-se oportunismo. E populismo.