De .Élites e política em Portugal - Eça Q. a 23 de Novembro de 2011 às 13:55
Eça de Queirós sempre actual e Verdadeiramente impressionante !!!
“Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição.
Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias;
ali dominam as más paixões;
ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade;
ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos;
ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo;
em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos;
há a tristeza e a miséria;
dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio.
A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se.
Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.
À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...)
todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.”
Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora” (1867)
Política de acaso, política de compadrio, política de expediente
«Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.» Eça de Queiroz
«Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa.» - O conde de Abranhos, Eça de Queiroz
------ Portugal e a Grécia (… 139 anos depois … !!!)
"Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia:
a mesma pobreza, a mesma indignidade política,
a mesma trapalhada económica,
a mesmo baixeza de carácter,
a mesma decadência de espírito.
Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal"
(in As Farpas) Eça de Queirós, em 1872 !!!
----- Portugal e a crise
- “Que fazer? Que esperar?
Portugal tem atravessado crises igualmente más:
- mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito.
Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem; - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela política.
De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura.”
Eça de Queirós, in “Correspondência” (1891)
“ … somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados … “
“Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo:
tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência.
A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente.”
In “Citações e Pensamentos” de Eça de Queirós».
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José Maria de Eça de Queirós
Povoa de Varzim - 25 de Novembro de 1845
Paris - 16 de Agosto de 1900