Terça-feira, 6 de Dezembro de 2011

Depressão

[ Quem me ajuda a ter um emprego ?  Eu não quero caridade . ]
Paul Krugman remete para o artigo clássico de Irving Fisher, publicado em 1933 na revista Econometrica, intitulado «The Debt-Deflation Theory of Great Depressions», disponível na net e a que já tinhamos várias vezes feito referência neste blogue. É um texto claro e que identifica alguns dos mecanismos possíveis de interacção perversa entre o sobrendividamento e a deflação:

 «Temos então o paradoxo que, atrevo-me a afirmar, é o maior segredo da maioria, senão de todas, as grandes depressões: quanto mais os devedores pagam mais eles devem».

    O fardo da dívida aumenta em termos reais à medida que os preços caem, entre outros factores, como resultado do próprio esforço dos devedores para se desfazerem apressadamente dos activos e produtos que detêm por forma a fazer face aos compromissos previamente assumidos. A insolvência generaliza-se, graças também à quebra dos rendimentos.

    Na ausência de políticas económicas de relançamento, que superem a descoordenação mercantil e travem esta engrenagem, o contrário do que tem sido feito com as políticas de austeridade, o desemprego não cessará de aumentar. É a era da depressão. O euro será uma das suas vítimas.

                                   

Recapitalizações há muitas

Ler Octávio Teixeira, Recapitalizar a banca sim, favorecer os banqueiros não: "O sistema bancário é 'o coração que faz circular o sangue da economia'.
   Assim, o sistema bancário é um efectivo bem público (...) Não é admissível que o Governo, por vontade própria e com o apoio dos ultraliberais BP e BCE, invista 12 mil milhões e se proponha assumir o papel de um accionista cego, mudo e surdo, de um accionista que o não é.
   A proposta do Governo, que os bancos arrogantemente ainda consideram pouco, não é uma efectiva participação do Estado no capital dos bancos. É, isso sim, a injecção nos bancos de volumosos dinheiros públicos para beneficiar os interesses e a gula insaciável dos banqueiros."
 

Herr Passos Coelho

       "Quando os países são indisciplinados e colocam em risco outros, é natural que os que geriram bem as suas economias e emprestam dinheiro queiram receber garantias em como o que emprestam será bem utilizado. Esse governo económico que precisamos de construir na Europa é essencial para que a Europa possa ser solidária. (..) “Era bom que, aqueles que contribuíram por acção ou omissão para esta dívida e esta ilusão, tivessem a humildade de reconhecer que a culpa do que se está a passar em Portugal não é do senhor Sarkozy, nem da senhora Merkel, nem da Europa. Foi de todos quantos prosseguiram um modelo de desenvolvimento que não era realista nem ajustado nem justo.” Passos Coelho

     Passos Coelho, ministro alemão para os assuntos portugueses, insulta o povo português com gosto reiterado. Mas devemos perdoá-lo: não conhece a história do século XX e está sinceramente convencido  que esta crise era evitável à escala da intervenção nacional. Até Merkel tem mais pudores (e neurónios). 
               A austeridade liberta 
Não sabemos exactamente quando, mas houve um momento em que o discurso do governo substituiu a convicção ideológica na austeridade pela presunção moral do castigo.
    Ninguém desdiz as malfeitorias de aproveitamento e esbanjamento dos sucessivos governos PS/PSD, mas há algo que deve ficar claro: Passos Coelho não tem que se arrogar a emissário de um Deus castigador, tampouco insinuar que agora cabe ao povo português sofrer pelos desmandos dos seus governantes. Agracedecemos, portanto, que o discurso do sofrimento merecido fique acoitado nas fantasias pessoais de cada qual e que não seja usado como insulto para tantos que padecem imerecidamente as consequências de uma crise que é, em larga medida, internacional e sistémica.                  (-por Bruno Sena Martins)


Publicado por Xa2 às 13:35 | link do post | comentar

2 comentários:
De Tal DESIGUALDADE já não é País, é MALís a 6 de Dezembro de 2011 às 14:25

Portugal é o país com mais desigualdades do mundo desenvolvido

«Portugal continua a ser um dos países com maiores desigualdades do mundo desenvolvido, com um fosso acentuado na distribuição dos rendimentos, e o mais desigual entre as economias europeias, revelou esta segunda-feira a OCDE.» [CM]

Parecer do Jumento:
E depois de o Gaspar aplicar a sua receita não só estaremos fora dos desenvolvidos como em termos de desigualdades estaremos ao nível do Burundi.


De .velho ''Estado 'Tecnovismo'' ultra-libe a 6 de Dezembro de 2011 às 14:38
Não ao gasparismo e a outros ismos

Há alguns dias o Otelo disse que hoje seria mais fácil fazer um 25 de Abril e foi o alvoroço nacional que se viu, à direita ouviram-se os habituais guinchinhos de gente que só defende a democracia quando é do seu interesse,
a Procuradoria-Geral apressou-se a ler e reler as declarações em busca de um crime e até o Mário Soares descansou o povo dizendo que por vezes o Otelo é um totó.

Ontem António Ribeiro Ferreira, director de um “i” que cada vez mais se tenta assumir como o jornal do regime,
apelou à ditadura num editorial inflamado onde se colocava o Gaspar num pedestal acima do de Oliveira Salazar e parece que ninguém se incomodou.
O jornalista chega ao ponto de afirmar que “Portugal não tem tempo a perder com formalismos próprios de gente rica”
Sendo esses formalismos próprios de gente rica a própria democracia.

É um editorial que vale a pena ler pela ajuda que pode dar para entendermos os tempos que vivemos e os riscos que corremos se persistirmos em aceitar todos os sacrifícios em nome da austeridade e com medo da troika.

Há quem nos queira servir a ditadura numa colher que devemos engolir sem saborear nem pestanejar senão vão buscar a troika.
Como o jornalista chega a elogiar no seu artigo inflamado a coisa chegou ao ponto de o Gaspar já estar autorizado a humilhar um ministro em plena reunião do Conselho de Ministros.
Aquilo que deveria ser reprovável é exibido no jornal “i” como um motivo para prescindirmos da ditadora em favor das decisões do Gaspar.

Vivemos tempos de mentira, o ministro das Finanças goza com o parlamento e um dia destes faz-se representar pela auxiliar que um seu antecessor costumava encarregar de lhe comprar preservativos.

O governador do Banco de Portugal já se dirige aos deputados como se estivesse numa taberna a falar de futebol.
E não há um único ministro ou deputado em todo aquele hemiciclo que venha em defesa da honra da Assembleia da República e dos valores da democracia.

Enquanto a ministra italiana é incapaz de conter as lágrimas quando divulga medidas de austeridade,
a imagem do nosso ministro das Finanças e do primeiro-ministro é a de gozo, o seu semblante mais frequente é o do sorriso e da gargalhada.

O debate político não passa de um jogo de mentiras, inventam-se desvios colossais, escondem-se os excedentes, inventam-se ordens ada troika, no país com maiores injustiças sociais do mundo desenvolvido

o governo recorre à mentira para impor uma reengenharia social que visa a DESTRUIÇÃO da CLASSE MÉDIA com o objectivo de expropriar a sua riqueza para entrega-la aos mais RICOS.

Portugal não precisa de ''salvadores'', o modelo de desenvolvimento imposto pelo miserabilismo de Vítor Gaspar é precisamente o mesmo que o país já experimentou com Oliveira Salazar,
as soluções para a actual crise são decalcadas do programa de Salazar enquanto ministro das Finanças.
Não admira que se comecem a ouvir vozes de elogio a este novo velho Estado Novo do Vítor Gaspar (''a bem da nação'')!!

É preciso dizer não ao FASCISMO venha ele DISFARÇADO de um cruzado do cristianismo ou de um TECNOCRATA a mando do BCE,
a democracia não é incompatível com a boa gestão das contas públicas, os portugueses sabem debater os seus problemas e não precisam de mentiras para que sejam impostas soluções.

A uma política assente em jogos de mentiras e que adopta medidas inconstitucionais é uma política ilegítima e o governo que a pratica torna-se um governo ilegítimo.

(-por Jumento em 6.12.2011)


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